A moda italiana
Sem surpresa - todas as sondagens, há muito, o davam por certo - o partido de extrema-direita "Irmãos de Itália" ganhou a eleições italianas, e Giorgia Meloni, a discípula de Steve Bannon, será a primeira mulher a chefiar um governo em Itália.
Ainda não são conhecidos os resultados finais oficiais, mas deverão desviar-se muito dos apontados 26% ao partido da seguidora de Mussolini que, somados aos 8,9%, de Matteo Salvini - da Liga, antes Liga do Norte, até aqui o principal rosto da extrema direita italiana -, e aos 8% da Força Itália, de Silvio Berlusconi, garantem a maioria absoluta e a governação à extrema direita, e mais uma dor de cabeça para a Europa.
Depois da Hungria e da Polónia, agora a Suécia e a Itália. Depois, provavelmente, a França. E eventualmente a Espanha ... neste processo de normalização da extrema-direita há muito em curso, que culmina no rótulo de "centro-direita" que todos os media colaram a este resultado eleitoral em Itália.
Na maioria dos jornais e televisões em Portugal (ainda não vi o que vai pela Europa e pelo mundo) a notícia é que o "centro-direita" ganhou em Itália. Alguns - poucos - lá introduzem a expressão "extrema" para classificar a solução vencedora como coligação de centro e extrema-direita. Não nos dizem onde encontram o centro na tríade Meloni, Salvini e Berlusconi, e apressam-se a revelarem-nos uma Giorgia Meloni inteligente, capaz, moderada e tolerante. Quando nem um só desses atributos nos salta à vista.
A globalização, a descrença nas instituições e a desilusão com os políticos que as dirigem, lavraram o campo para a extrema-direita. A guerra e a inflação fertilizaram-no, e agora é vê-la crescer.
No passado não se soube, ou não se quis, mondá-la. Isolá-la. Agora normaliza-se a partir de Itália. E sabe-se do potencial da moda italiana!