Ao 48º dia ultimam-se os preparativos para a batalha pelo Donbass, que determinará o destino próximo da guerra. Até aqui os russos acumularam derrotas, e deixaram cair todos os objectivos. Resta-lhes o Donbass. É agora o objectivo político e militar que resta a Putin. É aí que joga agora o seu futuro político e pessoal. Tem aí o seu tudo ou nada desta guerra. Por isso substituiu o comando militar, entregando-o ao mais sanguinário dos seus generais - Alexander Dvornikov, com provas dadas na Síria -, e por isso aí começou concentrar todos os recursos ao longo das últimas duas semanas. E por isso estamos à porta dos mais terríveis horrores da guerra, onde as perdas humanas se sobreporão agora à destruição já imposta à Ucrânia.
Putin falhou todos os obectivos de guerra. Não será no Donbass, mesmo que não o falhe também, que evitará o fracasso do seu projecto expansionista imediato. Só mais tarde veremos se terá também falhado o seu objectivo primeiro de destruir a Europa, e a União Europeia, em particular
Começou por se dizer que, com a invasão da Ucrânia, Putin tinha unido o ocidente e tinha reforçado a União Europeia e a NATO. A União Europeia surgia unida nas sanções - mesmo sem se falar na Hungria, de Órban, o ditador reeleito há uma semana, e autêntico cavalo de Tróia de Putin na UE - e decidida como nunca a reforçar o orçamento da defesa. Não da União, que a não tem - não pode ter, nem se vê quando poderá vir a ter -, mas dos países membros, para os reclamados mínimos dos 2% do PIB.
Não foi tanto assim que aconteceu. Na realidade a unidade foi retórica, e nas sanções foram mais as vozes que as nozes. A União Europeia, e em especial a Alemanha, não dispensaram o gás e o petróleo russo, e continuaram objectivamente a financiar a máquina de guerra russa. Poderiam - e deveriam - não o ter feito, e provavelmente Putin não teria já recursos para o que se vai seguir no Donbass. Cortar integralmente os negócios com a Rússia teria sido o decisivo contributo para pôr termo à guerra, mas a Alemanha, e grande parte de outros países, não o quiseram.
Um embargo real (da Europa) às exportações de petróleo e gás da Rússia, permitiria pôr fim ao conflito em menos de dois meses, revelou ontem Andrei Illarionov, ex-assessor económico de Vladimir Putin. Paul Krugman, num artigo no New York Times no passado fim de semana, demonstrou como a Alemanha podia cortar as importações de gás da Rússia, quantificando essa medida numa simples quebra de 2,1% no PIB alemão. Uma quebra - digo eu - que é praticamente 1/3 da que a Alemanha impôs a Portugal com a austeridade da troika, é que é incomparável com a de 25% provocada no PIB grego, que a mesma Alemanha impôs à Grécia nessa altura da crise das dívidas soberanas, há 10 anos.
A Alemanha não quer perder 2% no seu PIB para resolver uma guerra, em que tem responsabilidade - pela forma como tratou Putin, e na forma como, cega pelo interesse económico, lhe entregou a sua dependência energética - mas, de um momento para o outro, decidiu romper com o seu estatuto de país desarmado e gastá-lo em defesa.
Em matéria de sanções, o que sobra em palavras, falta em actos. Na militarização é exactamente o contrário, para gáudio do maior negócio do mundo, o do armamento. Mas não é só para a indústria militar que o momento soa a música, é também para os nacionalismos de extrema direita que Putin tem alimentado pela Europa. A França, como se está a ver na disputa presidencial que teve no domingo a primeira volta, poderá evitar para já a chegada da extrema direita ao Eliseu. Mas, como também se está a ver, isso não está longe, e é hoje pouco menos que inevitável. A Alemanha, a maior potência económica europeia, até aqui desarmada, vai tornar-se também uma potência militar, e basta que a sua extrema direita - o AFD - ganhe corda para ficarmos arrepiados.
O anúncio que esta guerra está a unir a Europa que o main stream pôs a circular não é apenas mais uma notícia francamente exagerada. É mais uma mentira de guerra. Nunca Putin, que há duas décadas tenta destruir a União Europeia, esteve mais perto de o conseguir. Aconteça o que (lhe) acontecer até ao fim da guerra!
À segunda semana a guerra sobe de tom. A Putin já não basta alvejar hospitais, creches e habitações. O seu ministro dos negócios estrangeiros, o não menos abominável Sergei Lavrov, declarou que "a III guerra mundial só pode ser nuclear" e, para explicar o que queria dizer, a Rússia atacou a central nuclear de Zaporizhia, a maior da Europa.
A partir daqui os dados estão irreversivelmente lançados, e deixa de ser razoável esperar algum tipo de sentido de responsabilidade do Kremlin. Só resta agir!
Não. Ao contrário do que vamos ouvindo, não está feito o que poderia ser feito. O que está feito é a Alemanha a negar que tenha apreendido o mega-iate do oligarca russo Alisher Usmanov, depois dessa apreensão ter ontem sido notícia. É a Europa a continuar a receber gás russo. É o gás natural liquefeito (GNL) estar fora do embargo - como se começou por pretender deixar de fora, no sentido inverso, os bens de luxo -, e estar, a esta hora, a ser recebido em Sines o navio Vladimir Vizenavio, de bandeira de Hong Kong, proveniente de Sabetta, no norte da Rússia.
É necessário e urgente, a partir da ONU e da correlação de forças aí estabelecida na Assembleia Geral de anteontem, que o embargo comercial seja total, sem excepções. Congelar, de facto e não com anúncios seguidos de desmentidos, todos os bens dos oligarcas russos. Fechar todos os espaços aéreos. E fechar todas as embaixadas, com a expulsão todos os diplomatas e o corte de relações diplomáticas com o regime de Putin.
Tudo, custe o que custar!
Depois disto, sim. Digam que está feito o que poderia ser feito!
Mesmo que ainda fique por fazer o que Kasparov propõe que seja feito: emissão de passaportes ucranianos a todos os pilotos da NATO que aceitem combater as tropas russas em aviões vendidos à Ucrânia por 1 euro, com as insígnias ucranianas!
Não deixa de ser extraordinário que, a acreditar na imprensa portuguesa - o que está a ficar cada vez mais difícil - o Sr Schauble se tenha empenhado tanto a convencer os comissários a votar contra as sanções a Portugal e a Espanha, sem ter conseguido convencer o do seu próprio país. É que, no fim, a favor das sanções, apenas restaram o inevitável Dombrovskis (Letónia), um inevitável finlandês (Katainen), uma sueca da nova vaga (Cecilia Malmstrom) e o seu compatriota Gunter Oettinger.
Afinal não houve sanções, o que deixou muita gente desiludida. Com o que é que esta gente haverá agora de se entreter?
Não havia jormal, nem comentador que não fizesse a sua aposta nos milhões que haveria que entregar a Bruxelas. E quando se começava a reparar que por cá não se falava noutra coisa, em contraste com Espanha, onde o tema nem era assunto, lá apareceu ontem o El País também nas apostas, e a deixar muita gente feliz. Ao que pareceu...
Quem está inconsolável é o Sr Dijsselbloem. Nem o Sr Schauble o consegue consolar...
A saga das sanções continua. Esgotado todo o material de propaganda, sem mais nada à mão - não que tudo corra às mil maravilhas, apenas porque, apesar de tudo e de todos os esforços em contrário a geringonça lá vai andando, saltando obstáculos e cumprindo metas - a entourage pafista agarra-se às sanções da Europa. Já nem lhes importa que já toda a gente saiba que o incumprimento a sancionar é todo seu. Do seu Passos Coelho, da sua Maria Luís, do seu Paulo Portas, e da sua saída limpa. Nem lhes importa que venham as próprias instituições europeias desmenti-los...
No fim de semana que deixamos para trás, a notícia era o congelamento dos fundos europeus. Nada mais que 16, como se vê na primeiria página do Público, de ontem.
E como se viu em praticamente toda a imprensa. E na televisão. A Europa desmentiu, disse que era tudo mentira. Mas ninguém lhe deu muita atenção. E, no Público, nem sequer foi notícia. Foi olimpicamente ignorada!
Não sei se o presidente Marcelo não deveria chamar hoje mais gente a Belém. Se o objectivo é pôr alguma ordem na casa, não sei ... não!
Perante a impossibilidade de continuarem a fazer de conta que as sanções, que desejam e de que precisam para a sua sobrevivência política, se não devem à sua governação, falhada em toda a linha, as eminências do anterior governo dizem, agora, a culpa é do actual governo. Não porque seja responsável por elas, mas porque não se soube defender delas, conforme concluiram a Maria Luís e a Assunção.
O que, para a secretária do Sr Schauble, era até muito fácil. "Tecnicamente" muito fácil nas palavras desse génio das finanças.
Tão fácil quanto mandar palpites. Coisa para que a competência técnica, a ética e o sentido de Estado de Maria Luís chegam. Não dão é para mais!
A comeptência prova-se. Não se insinua por trás do fracasso...
...Tal como não há "almoços grátis", também não há sanções zero.
Até podem ser a cara do Presidente Marcelo, sempre pronto a quadrar o círculo. Até podem assentar tão bem a Centeno como o cachecol. Mas não há disso. Nem mesmo as sanções-incentivo, que lembraram ao Sr Schauble (todo um manual de filosofia política nesta ideia da odiosa personagem) antes de passarem pela cabeça de muito boa gente ...
Acabadas as emoções, arrumado o futebol, os cachecóis e as bandeiras, e com o ECOFIN, por fim, não a pôr fim, mas a pôr zero nas sanções, poderemos agora ir de férias?
Não vamos descansados, que as coisas não estão para tanto, mas ... vá lá, deixem-nos ir de férias... Mesmo que em sobressalto permanente, sem saber bem como vamos acordar de cada sesta... Mas vamos com este sabor a campeão, com os éteres da bebedeira ainda a baralharem-nos a cabeça. E sempre são mais uns dias em que não pensamos como os alemães, coitados, se preocupam connosco. Nem quanto é que nos vai calhar dos 150 mil milhões de euros que o maior banco deles precisa.
O bullying continua. O anúncio das sanções é adiado todos os dias. Para o próximo mês, a próxima semana, o próximo dia... submetendo o país a uma exposição diária que desgasta e mina a sua credibilidade externa até à sua irreparável destruição.
Em poucos dias, semanas, meses o país deixará de estar em condições de assegurar o seu financiamento, vendo-se obrigado a, com um novo resgate financeiro, voltar a franquear as portas à política do não há alternativa ditada pela toda poderosa nomenklatura de Bruxelas, com o regresso ao poder dos súbditos do Sr Schauble.
Estes, os súbditos do Sr Schauble, que falharam tudo e em toda a linha, mas sempre de cócoras ao seu lado a lamber-lhe o dito cujo, vão fazendo os seus números de autêntico circo. Tanto dizem que escrevem umas cartas a implorar clemência, como que, com eles, nada disto se passaria. Para, no fim, rematarem que se houver sanções a culpa é do governo. Mais e pior: que só haverá sanções se o governo o quiser!
Paralelamente, e sempre sem qualquer referência ao lume (nada) brando em que Bruxelas está a fritar o país, através da guarda avançada espalhada pelas televisões, jornais e blogues, vão explicando que tudo está a correr dentro da mais transparente normalidade: com um défice orçamental de 3,2%, Portugal continuou sujeito ao procedimento por défice excessivo, e por isso sob vigilância das instituições europeias. Que é tão só isso que está a acontecer, com a agravante - continuam eles - que o governo recusa medidas adicionais para cumprir a meta dos 2,2% de défice que se propõs. E que o resto é com o Tratado Orçamental, que Portugal negociou e ratificou e que Comissão Europeia tem por função fazer cumprir.
Não é - evidentemente - nada disto. Se assim fosse, as sanções pelo défice excessivo em 0,2 pontos percentuais em 2015 - da responsabilidade das políticas definidas por Bruxelas, e da sua execução pelo seu governo - teriam que ter sido aplicadas no momento próprio. E é demasiado evidente que não cumprir com o objectivo dos 2,2% não é incumprir com a meta dos 3%, que todas as previsões conhecidas dão por claramente atingível.
Já para não falar da França. Nem de todos os países - são todos, incluindo a Alemanha - que estão a violar o sagrado, mas monstruoso,Tratado Orçamental. Nem do Brexit. Nem da destruição do ideal europeu ás mãos da direita radical agrupada - e reforçada - no PPE.
Decididamente o poder europeu apontou as baterias para Portugal. A Grécia já era... Agora a chantagem virou-se para cá. Ultrapassa a chantagem, é bullying o que os extremistas que mandam na Europa estão a fazer.
Tão surreal quanto as ameaças europeias, é que Passos Coelho e Maria Luís aproveitem esta escalada de prepotência para fazer prova de vida. Para, de bandeira portuguesa na lapela, mostrarem de que lado estão!
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