Não deixa de ser extraordinário que, a acreditar na imprensa portuguesa - o que está a ficar cada vez mais difícil - o Sr Schauble se tenha empenhado tanto a convencer os comissários a votar contra as sanções a Portugal e a Espanha, sem ter conseguido convencer o do seu próprio país. É que, no fim, a favor das sanções, apenas restaram o inevitável Dombrovskis (Letónia), um inevitável finlandês (Katainen), uma sueca da nova vaga (Cecilia Malmstrom) e o seu compatriota Gunter Oettinger.
Afinal não houve sanções, o que deixou muita gente desiludida. Com o que é que esta gente haverá agora de se entreter?
Não havia jormal, nem comentador que não fizesse a sua aposta nos milhões que haveria que entregar a Bruxelas. E quando se começava a reparar que por cá não se falava noutra coisa, em contraste com Espanha, onde o tema nem era assunto, lá apareceu ontem o El País também nas apostas, e a deixar muita gente feliz. Ao que pareceu...
Quem está inconsolável é o Sr Dijsselbloem. Nem o Sr Schauble o consegue consolar...
A saga das sanções continua. Esgotado todo o material de propaganda, sem mais nada à mão - não que tudo corra às mil maravilhas, apenas porque, apesar de tudo e de todos os esforços em contrário a geringonça lá vai andando, saltando obstáculos e cumprindo metas - a entourage pafista agarra-se às sanções da Europa. Já nem lhes importa que já toda a gente saiba que o incumprimento a sancionar é todo seu. Do seu Passos Coelho, da sua Maria Luís, do seu Paulo Portas, e da sua saída limpa. Nem lhes importa que venham as próprias instituições europeias desmenti-los...
No fim de semana que deixamos para trás, a notícia era o congelamento dos fundos europeus. Nada mais que 16, como se vê na primeiria página do Público, de ontem.
E como se viu em praticamente toda a imprensa. E na televisão. A Europa desmentiu, disse que era tudo mentira. Mas ninguém lhe deu muita atenção. E, no Público, nem sequer foi notícia. Foi olimpicamente ignorada!
Não sei se o presidente Marcelo não deveria chamar hoje mais gente a Belém. Se o objectivo é pôr alguma ordem na casa, não sei ... não!
Perante a impossibilidade de continuarem a fazer de conta que as sanções, que desejam e de que precisam para a sua sobrevivência política, se não devem à sua governação, falhada em toda a linha, as eminências do anterior governo dizem, agora, a culpa é do actual governo. Não porque seja responsável por elas, mas porque não se soube defender delas, conforme concluiram a Maria Luís e a Assunção.
O que, para a secretária do Sr Schauble, era até muito fácil. "Tecnicamente" muito fácil nas palavras desse génio das finanças.
Tão fácil quanto mandar palpites. Coisa para que a competência técnica, a ética e o sentido de Estado de Maria Luís chegam. Não dão é para mais!
A comeptência prova-se. Não se insinua por trás do fracasso...
...Tal como não há "almoços grátis", também não há sanções zero.
Até podem ser a cara do Presidente Marcelo, sempre pronto a quadrar o círculo. Até podem assentar tão bem a Centeno como o cachecol. Mas não há disso. Nem mesmo as sanções-incentivo, que lembraram ao Sr Schauble (todo um manual de filosofia política nesta ideia da odiosa personagem) antes de passarem pela cabeça de muito boa gente ...
Acabadas as emoções, arrumado o futebol, os cachecóis e as bandeiras, e com o ECOFIN, por fim, não a pôr fim, mas a pôr zero nas sanções, poderemos agora ir de férias?
Não vamos descansados, que as coisas não estão para tanto, mas ... vá lá, deixem-nos ir de férias... Mesmo que em sobressalto permanente, sem saber bem como vamos acordar de cada sesta... Mas vamos com este sabor a campeão, com os éteres da bebedeira ainda a baralharem-nos a cabeça. E sempre são mais uns dias em que não pensamos como os alemães, coitados, se preocupam connosco. Nem quanto é que nos vai calhar dos 150 mil milhões de euros que o maior banco deles precisa.
O bullying continua. O anúncio das sanções é adiado todos os dias. Para o próximo mês, a próxima semana, o próximo dia... submetendo o país a uma exposição diária que desgasta e mina a sua credibilidade externa até à sua irreparável destruição.
Em poucos dias, semanas, meses o país deixará de estar em condições de assegurar o seu financiamento, vendo-se obrigado a, com um novo resgate financeiro, voltar a franquear as portas à política do não há alternativa ditada pela toda poderosa nomenklatura de Bruxelas, com o regresso ao poder dos súbditos do Sr Schauble.
Estes, os súbditos do Sr Schauble, que falharam tudo e em toda a linha, mas sempre de cócoras ao seu lado a lamber-lhe o dito cujo, vão fazendo os seus números de autêntico circo. Tanto dizem que escrevem umas cartas a implorar clemência, como que, com eles, nada disto se passaria. Para, no fim, rematarem que se houver sanções a culpa é do governo. Mais e pior: que só haverá sanções se o governo o quiser!
Paralelamente, e sempre sem qualquer referência ao lume (nada) brando em que Bruxelas está a fritar o país, através da guarda avançada espalhada pelas televisões, jornais e blogues, vão explicando que tudo está a correr dentro da mais transparente normalidade: com um défice orçamental de 3,2%, Portugal continuou sujeito ao procedimento por défice excessivo, e por isso sob vigilância das instituições europeias. Que é tão só isso que está a acontecer, com a agravante - continuam eles - que o governo recusa medidas adicionais para cumprir a meta dos 2,2% de défice que se propõs. E que o resto é com o Tratado Orçamental, que Portugal negociou e ratificou e que Comissão Europeia tem por função fazer cumprir.
Não é - evidentemente - nada disto. Se assim fosse, as sanções pelo défice excessivo em 0,2 pontos percentuais em 2015 - da responsabilidade das políticas definidas por Bruxelas, e da sua execução pelo seu governo - teriam que ter sido aplicadas no momento próprio. E é demasiado evidente que não cumprir com o objectivo dos 2,2% não é incumprir com a meta dos 3%, que todas as previsões conhecidas dão por claramente atingível.
Já para não falar da França. Nem de todos os países - são todos, incluindo a Alemanha - que estão a violar o sagrado, mas monstruoso,Tratado Orçamental. Nem do Brexit. Nem da destruição do ideal europeu ás mãos da direita radical agrupada - e reforçada - no PPE.
Decididamente o poder europeu apontou as baterias para Portugal. A Grécia já era... Agora a chantagem virou-se para cá. Ultrapassa a chantagem, é bullying o que os extremistas que mandam na Europa estão a fazer.
Tão surreal quanto as ameaças europeias, é que Passos Coelho e Maria Luís aproveitem esta escalada de prepotência para fazer prova de vida. Para, de bandeira portuguesa na lapela, mostrarem de que lado estão!
Nenhuma dúvida: se ela fosse ministra não se falaria em sanções. Enquanto foi ministra, cumprindo tudo, nunca atingiu objectivo nenhum. E nunca se ouviu falar em sanções, antes pelo contrário, falou-se de saída limpa.
Não mudou muita coisa: continuou a ser ela mesma a não atingir os objectivos. Só que já não é ministra...
Parecendo que não, tem toda a razão, a senhora. Era público e notório que o Sr Schauble tinha um fraquinho por ela...
Bruxelas não vai aplicar sanções por violação da meta do défice de 2015: Espanha oblige. O tal que Passos Coelho diz que é de 3%, porque varreu o Banif para baixo do tapete. O tal, que com o BES, deixaram que nos rebentassem nas mãos para não perturbarem a famosa saída limpa...
Acho que já se percebe por que é que Passos e Maria Luís, e com eles o resto da corte, vibram mais com esta notícia que o próprio governo. E por que é que escreveram e telefonaram...
Entretanto, e como não dá ponto sem nó, a Comissão Europeia aperta o défice para este ano. Para 2,3%, com mais 700 milhões de austeridade. E lá volta o tal plano B.
António Costa chuta para canto: Qual plano B qual carapuça, o défice que tem no orçamento é já inferior - 2,2%. Pois, o problema é executá-lo. Mas isso só se vê lá mais para a frente... Embora se note já.
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