De repente, um estudo financiado e divulgado por uma entidade privada - a Fundação Francisco Manuel dos Santos, da Jerónimo Martins, de um dos prinicpais grupos económicos nacionais, mesmo que com sede na Holanda, para dar a volta aos impostos - diz que a idade da reforma deve passar para os 69 anos de idade, e lá se volta a falar da sustentabilidade da Segurança Social.
E lá volta toda a gente a lembrar-se que a longevidade continua a subir e a taxa de natalidade a descer, o que dá em diminuição da população activa e num processo acelerado de envelhecimento. Que quer dizer cada vez menos gente para pagar as reformas de cada vez mais gente.
E sempre que alguém pensa nisto encontra a solução: aumenta-se a idade da reforma. A Fundação Francisco Manuel dos Santos não fez melhor. Não inventou nada, não diz nada que ninguém não diga sempre. Falou em aumentar para 69 anos de idade para atingir a reforma, como toda a gente tem feito até chegar aos sessenta e seis e tal que vigoram actualmente. E daqui a um ano falar-se-á em 70. E depois em 75, oitenta, e por aí adiante...
Numa altura em que se fala de economia digital e de robotização, em que está em curso um acelerado processo de substituição da mão de obra por máquinas, muito mais eficientes, percebe-se que se tem que pensar em reduzir, e não aumentar, o tempo de trabalho humano. E que tem que pensar-se é na transformação do paradigma social em economias cada vez mais dinâmicas e produtivas. E percebe-se que a propagandeada proposta da Fundação Francisco Manuel dos Santos não só não faz sentido como não resolve nada. Mas compreende-se!
Compreende-se que quem não esteja muito interessado na transformação do paradigma insista em nada resolver. E lance coisas para entreter.
As preocupações de Maria Luís com a sustentabilidade da Segurança Social são legítimas. É coisa que a todos deve preocupar... Não é aí que está o problema. O problema é que estamos em plena campanha eleitoral, onde o governo é tudo menos anjinho. Onde o governo se sente como peixe na água... e onde não dá ponto sem nó.
O problema é que as preocupações de Maria Luís são outras. Não são tanto com a sustentabilidade da Segurança Social que, também ela, não se preocupa muito em descapitalizar. O convite que a ministra dirigiu ao PS não é, evidentemente, ingénuo. É para simplesmente desbaratar a já de si descredibilizada proposta do PS para reduzir a TSU a empregados e empregadores. É para capitalizar, mas em votos, a tão pouco sustentável proposta do PS. E é para acentuar um dos princípios básicos da frágil filosofia política deste governo: "uns contra os outros". E, com isso, acentuar que "as pessoas sabem com o que é contam da nossa parte"!
Em apenas sete meses - Dezembro de 2013 a Julho de 2014 - Ricardo Salgado desobedeceu 21 vezes ao Banco de Portugal. Que tinha praticado actos de gestão ruinosa já se sabia, mas confirmou-o também a Auditoria Forense levada a cabo pela Deloitte, e hoje dada a conhecer.
O antigo ministro da saúde de Cavco, Arlindo Carvalho, acusado do desvio de milhões de euros no BPN, começou ontem a ser julgado. Também ontem foram detidas cinco pessoas envolvidas na falsificação de declarações de dívida, entre as quais um director e um chefe de serviços da Segurança Social. Dezenas de empresários da Grande Lisboa terão comprado certidões de "ficha limpa" de dívidas, ficando habilitados a concorrer a concursos públicos.
Paulo Pereira Cristóvão, antigo agente da PJ e até há pouco vice-presidente do Sporting, vai ser ouvido hoje pela Justiça, acusado de comandar um gang de assaltos à mão armada, que incluía agentes da PSP no activo e um líder de uma claque sportinguista.
E Sócrates aproveita o grupo de media agora presidido por Proença de Carvalho, seu advogado, para voltar a fazer prova de vida. Desta vez para responder ao primeiro-ministro, que em desepero não tinha resistido a trazê-lo para uma conversa em que não era chamado. E para acusar Passos Coelho de estar "próximo da miséria moral", sem perceber que há muito deixou ele próprio para trás essa barreira!
Há dias assim. Em que o país não podia, ele sim, estar mais próximo da miséria moral...
"Para mim não foi um mero esquecimento. Passos Coelho em 1999 não pensava que viria a ser primeiro-ministro. Nunca lhe passou pela cabeça que o PSD e o PS lhe proporcionassem essa oportunidade. Por isso, na altura fez aquilo que lhe dava mais jeito.
Temo que a desinformação, a cegueira partidária, a desonestidade intelectual das camarilhas e a falta de honestidade ética e política dos actores continue a fazer o seu caminho. Como até aqui. Não até à vitória final, mas até à abstenção final. Ou, quem sabe, até que o desespero dos portugueses trabalhadores, honestos, sérios e que cumprem as suas obrigações sem esquecimentos, enquanto os trapalhões vão engrandecendo e comendo-lhes as papas na cabeça, os leve a dizer basta".
Percebeu-se logo que este caso da evasão à segurança social pelo actual primeiro-ministro iria mais longe que o anterior, da Tecnoforma. Desde logo pelo caso em si, em que o Estado troca a mão pesada com que trata os cidadãos, por uma mão leve para tratar o primeiro-ministro. Mas também por ser do conhecimento público que o PSD e o CDS encheram a Segurança Social com a sua rapaziada. Mas ainda pela forma destrambelhada como, primeiro, o ministro Mota Soares, e depois tudo o que era ministro, deputado ou capataz do partido vieram a correr em socorro do chefe. Que, até perceber a gravidade do caso – e demorou três dias a percebê-lo –, quanto mais falava mais metia os pés pelas mãos…
Hoje praticamente todos os jornais pegam no tema, e cada vez mais coisas novas vão surgindo. Por exemplo: que as contas que determinaram os 4 mil euros que Passos, muito contrariado, teve que ir pagar a correr, estão mal feitas. Que a Segurança Social se esqueceu dos primeiros três anos… Ou que Pedro Passos Coelho não se esqueceu apenas de pagar as contribuições que devia. Que se terá até esquecido da própria inscrição, o que quer dizer que se terá mesmo esquecido dos rendimentos que recebia. O que nem pode surpreender ninguém, toda a gente se lembra do ponto final que foi posto no caso Tecnoforma: aquilo acabou com Pedro Passos Coelho a dizer, e toda a gente a ficar satisfeita com a explicação, que não recebera remuneração de qualquer espécie, que tudo o que havia recebido respeitava apenas ao reembolso de despesas.
Quem anda aqui por este mundo sabe muito bem o que é isso. E melhor ainda o que era naquela altura…
Por tudo isso, ao terceiro dia, Passos Coelho passou ao ataque, antecipando-se ao que estiver para vir. Há mais animais ferozes …
Seja qual for a evolução de mais este caso – sabemos todos que em qualquer país onde estas coisas do escrutínio dos titulares de cargos políticos são levadas a sério, por muito menos, caem ministros, chefes de governo ou de Estado – voltou a ficar claro o tipo de gente que temos na política. Um assessor do primeiro-ministro, foi para as redes sociais desenterrar um suposto pecado antigo de António Costa, sempre desmentido e nunca confirmado: há mais de 20 anos morto e enterrado. O deputado Carlos Abreu Amorim, outro belo exemplar desta fauna política, faz ainda pior, começando por dizer que “não é assim que se deve fazer política”, para com isso, extrapolando para “telhados de vidro” fazer de conta que faz política. E por fim é o próprio Passos Coelho que empurra tudo para a comparação com José Sócrates!
Para esta gente não há bem e mal. O mal logo deixa de ser mal se o outro tiver feito igual. Ou parecido. Depois … é só dar um pequenino passo e já nem é preciso que alguém tenha mesmo feito o que quer que fosse, basta fazer crer que isso aconteceu mesmo.
Na forma de fazer política desta gente que tomou conta dela, a verdade conta para muito pouco. Para atingir o adversário vale tudo, e a verdade já nem para acessório serve.
Repare-se como o governo espanhol, para atingir o Podemos, pela via da desacreditação do governo grego, anunciou o terceiro programa de resgate para a Grécia, negado pelas autoridade europeias. A lembrar o que o governo do mesmo partido fez com os atentados de Atocha, na véspera de eleições, faz dentro de dias 11 anos …
Um tipo não paga impostos. Ou contribuições, para o efeito é a mesma coisa. Porque se esqueceu, porque não quis, porque não tinha dinheiro para os pagar, porque não sabia que tinha de os pagar… Whatever!
Estranho é que isto deixe de ser tão estranho quando se põem os pedros - perdão, os nomes - na estória. Quando o tipo que não cumpriu é primeiro-ministro, e se chama Pedro Passos Coelho, e o ministro que inverte as responsabilidades se chama Pedro Mota Soares!
Dois coelhos numa só cajadada? Não é estranho...
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