A selecção nacional, apontada como uma das principais favoritas, está fora do campeonato da Europa da Alemanha, eliminada nos quartos de final pela França, a maior das principais favoritas. No desempate por penáltis, onde os franceses fizeram o pleno, e Portugal falhou um, aquele que João Félix atirou ao poste direito da baliza de Maignan. A bola poderia ter entrado, mas escolheu espirrar para fora.
Foi o final perfeito para a narrativa oficial. A selecção fez o seu melhor jogo, numa participação medíocre. Teve 60% de posse de bola, e criou até mais e melhores oportunidades para marcar. Tudo perfeito para a narrativa da vitória moral, e para esconder o "rei que vai nu" nesta selecção de Martinez, escolhido a dedo para servir a realidade da FPF e do negócio.
Para esconder que esta selecção francesa, com o melhor lote de jogadores da competição, a par da portuguesa e da inglesa - todas as maiores decepções desta competição - tem sido, na realidade do jogo praticado, a mais fraca dos últimos anos. E, acima de tudo, para esconder o falhanço rotundo das decisões da super-estrutura da selecção, que condenaram ao fracasso a melhor geração de futebolistas alguma vez à disposição da causa do futebol nacional.
A imprensa portuguesa não o diz. Teremos de recorrer à estrangeira para perceber que a selecção portuguesa foi tornada numa corte com o fim único de servir a lenda Cristiano Ronaldo.
“Cristiano arruinou a competição de Portugal. Entendo que seja uma lenda, mas desde há anos que corta a projecção de outros jogadores, não traz nada a esta equipa. Portugal jogou com dez jogadores. Impediu que Portugal avançasse na Europa e na competição”, disse ao “AS” o analista Daniel Riolo da RMC Sports.
O britânico “Guardian” dá a selecção portuguesa como uma equipa "reduzida a uma função do ego de um homem". E faz notar que Cristiano Ronaldo foi o único jogador da equipa portuguesa que não foi reconfortar João Félix: "Há um homem que não corre para Félix. Em vez disso segue na direcção contrária, na sua, perseguido apenas pelo olhar lascivo das câmaras. Era Cristiano Ronaldo”.
"Opta Sports" diz que "o problema é que Ronaldo tem de ser o centro do universo de Portugal quando está a jogar".
Fico por aqui, para não ser fastidioso. Em Portugal, qualquer destas observações seria passível de acusação de crime contra a pátria!
Cristiano Ronaldo não é, nem poderia ser, o extraordinário jogador de futebol que foi. Mas ainda é a maior estrela mediática do negócio do futebol. Continua a arrastar multidões e a movimentar paixões como nenhum outro. E por isso um filão que a FIFA, a UEFA e a FPF não querem deixar de explorar. Que aqueles organismos internacionais o façam, percebe-se. Que a FPF alinhe pelo mesmo diapasão é que não. Não, porque, com isso, está a destruir o seu próprio património, que é o talento de tantos outros dos seus jogadores e o prestígio do próprio Cristiano, que é património de prestígio do futebol português, que lhe compete preservar.
O ego de Cristiano fez o resto, deixando-se arrastar para um papel de atracção de circo. Quando Fernando Santos, já finalmente decidido a apresentar um futebol à medida do talento de que já dispunha, decidiu retirá-lo do trono inamovível, foi despedido. E substituído por um gerente de circo contratado a preceito, com a preocupação prioritária de recuperar a atracção principal. Por isso, o seu primeiro acto de gerência, foi aquela viagem à Arábia Saudita. Para que tudo ficasse bem claro!
Por isso Cristiano Ronaldo jogou todos os minutos. Todos os jogos, como se nem precisasse de poupança. Noventa, ou dois consecutivos de 120 em quatro dias. Como se fosse indispensável quando nem sequer era útil. Com medo que qualquer alternativa - como naqueles fantásticos 6-1 à Suíça no Mundial do Catar - pudesse correr bem.
Não faço ideia se Cristiano Ronaldo percebeu finalmente que o reduziram a mera atracção de circo. E que não aceita mais isso. O que ouço - o que ouvimos - é que já disse que este foi o seu último europeu. E todos os outros a dizerem que ele sairá quando quiser!
Um erro de António Silva - é assim que ficará para a História, se bem que o de Danilo tenha sido bem mais evidente - acabava o ponteiro dos segundos de dar a sua primeira volta, e o talento de Kvaratskhelia, a estrela da Geórgia que brilha no Nápoles, deixaram os georgianos na frente do marcador e confortáveis na sua estratégia, praticamente decalcada da da Chéquia, no primeiro jogo da selecção portuguesa. Como Roberto Martinez também decalcou as asneiras desse jogo, sem a sorte de então, a exibição e o resultado não poderiam ser diferentes do que foram esta noite em Gelsenkirschen.
Relativamente ao último jogo, com a Turquia, o seleccionador manteve apenas três jogadores: o guarda-redes, Diogo Costa, o trinco, Palhinha e o ponta de lança, Ronaldo. Este tem de jogar sempre. Mudou oito jogadores e mudou tudo, regressando aos três centrais, às invenções, com os laterais a jogar por dentro - desta vez foi com Dallot -, e aos jogadores fora das suas posições naturais, da falhada experiência com a Chéquia.
Mas conseguiu ainda fazer pior: juntar Palhinha aos três centrais.
Não. Não começou tudo no erro de António Silva. Começou antes. E não se esgotaram os erros nos de António Silva. Que cometeu outro, no início da segunda parte, que deu num penálti, e no segundo golo da Geórgia. Que, na estreia num Europeu, conseguiu o apuramento para os oitavos de final, pondo de fora a Hungria (com que já contávamos para os oitavos de final) e deixando-nos a Eslovénia pela frente.
Começou na mediocridade de Martinez. Que não é de agora, e que só por milagre melhorará.
A partir do segundo golo - no penálti convertido por Mikautadze, que é por esta altura, com três golos, o melhor marcador da competição -, ainda nos primeiros 10 minutos da segunda parte, esteve sempre mais iminente o terceiro da Geórgia que o ponto de honra da selecção portuguesa.
É verdade que a arbitragem - talvez a pior de toda esta fase de grupos - não ajudou nada. Nem, ao contrário daquilo a que nos estávamos a habituar, a sorte. Mas não é menos verdade que a selecção portuguesa não mereceu melhor que o enxovalho de uma derrota clara perante um adversário que ocupa a 74ª posição do ranking mundial.
Seguem-se os oitavos de final. Onde há gente que não merecia lá estar. Por exemplo a Inglaterra, a maior decepção no que à qualidade de jogo diz respeito, e a Itália. Mas onde estão a Suíça, a Áustria, a Eslovénia e a Dinamarca, as equipas mais bem trabalhadas. A Espanha é de outro campeonato.
Voltou, doze anos depois, a ser a selecção mais completa da Europa. Agora num registo completamente novo, sem o velho - e às vezes entediante - tiki-taka.
A selecção nacional ganhou, de forma clara e inequívoca, à Turquia - o único adversário que remotamente lhe poderia questionar o primeiro lugar no grupo F - no segundo jogo neste Euro 2024, e assegurou, desde logo, não só o apuramento para os oitavos de final da competição, mas mesmo o primeiro lugar do grupo. Com toda a importância que isso tem.
Nem a vitória clara perante o principal adversário no grupo, nem o que ela garantiu, constituem razões para qualquer euforia. Menos, ainda, para vermos profissionais da comunicação social a classificar a exibição da selecção de perfeita. Ou, no mínimo, a "roçar a perfeição", como bastas vezes ouvimos.
Não. Foi apenas um jogo em que tudo correu bem. Tudo correu pelo melhor que podia correr. De tal forma que tudo o que havia na equipa para correr mal, e era muito, acabou por ficar escondido.
Em futebol, coeficientes de eficácia (rácio entre oportunidades de golo criadas e golos marcados) entre os 30 e os 50% são normalmente considerados elevados, e só ao alcance ou das grandes equipas, ou do aleatório factor sorte.
Pois, na primeira parte deste segundo jogo da selecção nacional no Euro 2024, com a Turquia, a equipa portuguesa teve um coeficiente de eficácia de 200%. Nem mais - criou uma oportunidade para marcar, e obteve dois golos.
Mais: em quatro golos, em jogo e meio, de que a selecção usufruiu, dois (50%) foram marcados pelo próprio adversário.
Basta ter isto para esconder tudo. Incluindo, mais uma vez, a falta de concretização do talento destes jogadores.
O segundo golo, mais ainda pela forma como aconteceu - um desentendimento entre Cancelo e Ronaldo (que, como é habitual, ficou a protestar, quando tinha sido ele próprio a falhar a desmarcação) deixou a bola num defesa turco que, com toda a tranquilidade, sem pressão de lado nenhum, resolve atirar a bola para dentro da sua própria baliza -, deixou a selecção da Turquia derrotada. A partir daí, com um mínimo de talento à solta, a equipa portuguesa tinha todas as condições para golear.
Não o fez apenas porque voltou a faltar esse talento. Vitinha foi "great again", mas foi Bernardo "the best". Bruno Fernandes continua longe daquilo que é capaz, tal como Rafael Leão. E Cristiano Ronaldo só para o selecionador - e para grande parte do público da selecção, que continua a idolatrá-lo - justifica estar na equipa. Está diferente - é certo - de há uns tempos. Antes, o terceiro golo da selecção portuguesa era impossível. Nunca Ronaldo, independentemente da probabilidade de sucesso, deixaria de rematar. Nunca escolheria passar a bola para o golo certo de Bruno Fernandes.
Com tanta gente fora do seu melhor, e tantos dos melhores fora da equipa, a selecção garantiu a qualificação e o primeiro lugar no grupo (também era só o que faltava, não o fazer num grupo destes!). Mas não se deve enfiar a cabeça na areia. Houve sorte a mais, e talento e futebol a menos!
E não me venham contar "estórias" dos tempos em que, nesta altura da competição, andávamos de credo na boca e calculadora nas mãos!
Ao quinto dia do Campeonato da Europa chegou a vez do Grupo F, o de Portugal. Abriu com o Turquia - Geórgia, que os turcos, com muita sorte, ganharam por 3-1.
Depois veio a estreia da selecção nacional, com a Chéquia. E foi uma desilusão!
À selecção faltou tudo. E faltou aquilo que - dizem - tem para dar e vender: talento. Contra a mais fraca equipa do grupo - e, pelo que se pôde ver até agora, a mais fraca da competição depois da Escócia - a selecção nacional só não perdeu porque os jogadores checos (ou será chéquios?) fizeram-nos o que os nossos nunca conseguiram: o golo do empate, e a assistência para o da vitória, de Francisco Conceição (entrado ao minuto 90, com Pedro Neto, que fez a "pré-assistência"), já na "compensação".
À excepção esses dois decisivos momentos de ajuda checa a selecção foi os equívocos de Roberto Martinez, e foi Vitinha. Apenas Vitinha se salvou da confusão que o seleccionador lançou na equipa, incapaz de jogar outro futebol que não aquele de duas velocidades (parado e devagar), de passe para o lado, e para trás.
Frente a uma equipa que só defendeu, a selecção passou o tempo a andar por ali com a bola, incapaz de um passe de ruptura, de um lance bola parada minimamente preparado, de um cruzamento com nexo. Na primeira vez que os checos chegaram à área portuguesa, e remataram à baliza, marcaram. Para trás tinha tinha ficado mais de uma hora de jogo naquilo. Para a frente restou meia hora do mesmo, dividida em duas partes: uma primeira, de 7 minutos, até que o amigo Hranac metesse a bola na sua baliza, e uma segunda de 23 minutos, como se o golo do empate não tivesse existido.
Se é isto que, com estes jogadores, Roberto Martinez tem para mostrar, ninguém consegue perceber donde é que vem essa ideia de Portugal ser candidato a ganhar este Europeu.
Roberto Martínez anunciou ao início da tarde os 26 convocados da selecção portuguesa para o Campeonato da Europa, a realizar-se na Alemanha entre os dias 14 de Junho e 14 de Julho. São eles:
Guarda-redes:Diogo Costa (FCP), Rui Patrício (Roma), José Sá (Wolverhampton)
Defesas:Pepe (FCP), Gonçalo Inácio (Sporting), Rúben Dias (Manchester City), António Silva (Benfica), Danilo (PSG), Diogo Dalot (Manchester United), João Cancelo (Barcelona), Nélson Semedo (Wolverhampton), e Nuno Mendes (PSG)
Médios:Rúben Neves (Al-Hilal), João Palhinha (Fulham), Vitinha (PSG), Bruno Fernandes Dalot (Manchester United), Bernardo Silva (Manchester City), João Neves (Benfica) e Otávio (Al-Nassr)
Avançados:Cristiano Ronaldo (Al-Nassr), Gonçalo Ramos (PSG), Rafael Leão (Milan), Diogo Jota (Liverpool), João Félix (Barcelona), Pedro Neto ( Wolverhampton) e Francisco Conceição (FCP)
Dir-se-á que sem surpresas, mesmo com mais três em relação ao anterior limite de 23. Poderão perguntar por Pote e Nuno Santos, do Sporting e habituais ausentes, Jota, do Vitória Sport Club, ou Ricardo Horta e Bruma, do Sporting de Braga, todos anteriormente convocados. A resposta sairia em pergunta: e quem tirariam?
A parte fácil da resposta seria Pepe e Cristiano Ronaldo. Mas essa é a parte impossível. Têm lugar cativo! Mesmo que o mais provável seja que o defesa luso-brasileiro nem esteja sequer em condições de jogar cinco minutos. E que "o melhor do mundo" jogue cada um dos minutos de cada jogo que a selecção dispute.
Há 10 anos foi divulgada a convocatória para o (frustrante) Mundial do Brasil. Desses 23 de então permanecem três: os dois atrás referidos e Rui Patrício. E em actividade William Carvalho e Rafa - que renunciou à selecção -, já que Neto colocou ponto final na carreira há dois dias.
A selecção nacional de futebol concluiu ontem a fase de apuramento para o Euro 2024 culminando, com a vitória (2-0, com golos de Bruno Fernandes e Ricardo Horta) em Alvalade sobre a Islândia, num inédito apuramento plenamente vitorioso. Dez jogos, dez vitórias. E com o maior número de golos marcados (37), e o menor de sofridos (2), de sempre!
E, se não sempre, na imensa maioria dos dez jogos, com exibições de alto nível. Poderá dizer-se que o grupo era acessível. Que não encontrou adversários de grande porte, mas também isso depende do patamar que a selecção portuguesa atingiu no panorama do futebol mundial. Durante décadas o apuramento para uma fase final de uma grande competição de futebol era inacessível. Depois passou a esporádico - 1966, 1984 (curiosamente com participações entusiasmantes), 1986 (desastrada) e 1996.
A partir daí só falhou o Mundial de 1998, em França. E, com maior ou menor dificuldade no apuramento, e maior (Euro 2000, 2004 e 2012 - 2016 foi o do inédito título, mas não foi especialmente brilhante - e Mundial de 2006), ou menor brilho (Mundial de 2002 e de 2014) nas fases finais, esteve sempre presente nos maiores palcos do futebol mundial.
Este período que lançou a selecção portuguesa para o grupo das selecções obrigatórias nas fases finais iniciou-se com Humberto Coelho, e a magnífica equipa de 2000. Por razões nunca esclarecidas, mas que se lêem bem nas entrelinhas daquilo que é o futebol em Portugal, foi substituído por António Oliveira, no fiasco de 2002. A partir daí sucederam-se reinados mais ou menos longos. Primeiro o longo reinado de Scolari, depois os mais curtos de Carlos Queiroz e Paulo Bento, até ao longo de Fernando Santos.
As gerações de grandes jogadores portugueses iam-se sucedendo, à volta de Cristiano Ronaldo - que tem hoje colegas na equipa que ainda não eram nascidos quando ele começou -, à medida, cada vez mais evidente, que se falhavam grandes selecções, daquelas que são sempre favoritas a ganhar o que disputem, e que deixam o perfume do bom futebol espalhado por onde quer que passem. Com Fernando Santos vieram os títulos - o Europeu de 2016, e a primeira das edições da Taça das Nações - mas nunca a afirmação de uma selecção ao nível da qualidade dos jogadores portugueses, sobejamente exibida nas equipas que integravam, nos maiores clubes do mundo.
Fernando Santos aprisionava o (crescente) talento dos jogadores e era ele próprio refém. Refém da forma como ganhou o Campeonato da Europa, em França. E ... de Cristiano Ronaldo. Incapaz de se libertar de um sem se libertar do outro.
Quando o tentou, quando forçou, acabou.
Chegou Roberto Martinez e logo se percebeu por que lado tinha partido a corda que, em desespero, Fernando Santos puxara. Deslocou-se de imediato a Riad e essa mensagem de vassalagem não augurava qualquer mudança.
A vantagem do treinador espanhol, para além da de rapidamente "se fazer português", foi não estar refém de França. Com isso conseguiu libertar os jogadores, formar um grupo, e fazer desta selecção uma equipa capaz de soltar o talento imenso dos jogadores que a compõem. E de, mesmo a jogar muitas vezes com dez, surgir na Alemanha, no início do próximo Verão, com a condição de candidata a campeã europeia.
Garantido o apuramento na sexta-feira, hoje, na Bósnia, a selecção portuguesa de futebol assegurou o primeiro lugar na classificação do grupo de apuramento para o Euro 2024, na Alemanha, com uma goleada (5-0) a confirmar a inédita sequência de oito vitórias consecutivas.
Diz-se, em futebolês, que uma equipa joga o que a outra deixa. Se assim é, na primeira parte - período em que se construiu o resultado - a Bósnia deixou muito; e Portugal jogou muito. Tanto que foi um regalo para a vista. Tanto que até fez esquecer as muitas coisas que tanto fazem para afastar o público do futebol da selecção nacional.
Sim, a selecção tem, e tem tido, público. Mas é o seu público. Não é exactamente o mesmo!
Nesta primeira parte, com quatro mudanças (com as entradas de Gonçalo Inácio, Danilo, Octávio e João Félix, e as saídas de António Silva, Palhinha, Bernardo Silva e Gonçalo Ramos) na equipa, relativamente ao último jogo, com a Eslováquia, a selecção aproveitou o que a Bósnia deixou jogar para soltar o talento que lá tem dentro, tantas vezes reprimido. E dar espectáculo. Talvez tenha sido a fanfarronice dos bósnios antes do jogo - que nem é novidade, já no passado tinha sido assim, e Dzeko é até repetente - a explicar o que se passou na primeira parte. À meia hora já contavam com quatro. Ao intervalo já eram cinco, sem os bósnios terem sequer oportunidade de cheirarem a bola.
A segunda parte acabou por ser uma mera formalidade. O seleccionador bósnio, com a humildade que não tivera antes, reforçou o sector defensivo, com a única preocupação de não sofrer mais golos. E passou a deixar jogar menos, quem já não precisava de jogar mais, mas apenas de cumprir o tempo de jogo.
Foi isso a segunda parte. A formalidade para o jogo ficar completo. E altura para Roberto Martinez voltar a testar os três centrais. Ah! E para estrear na selecção um menino de 19 aninhos, acabados de cumprir.
Foi a primeira vez do talento de João Neves. E a primeira vez é sempre a primeira vez!
A selecção nacional de futebol garantiu hoje a presença na fase final do Campeonato da Europa de 2024, na Alemanha. A notícia não é o apuramento. A selecção portuguesa é já um cliente habitual das fases finais das maiores competições de futebol, e leva já 13 apuramentos consecutivos, entre mundiais e europeus. A notícia é tê-lo conseguido a três jornadas do fim, com o pleno (sete) de vitórias.
Nunca tinha conseguido um apuramento tão tranquilo, e bem nos lembramos como tantas vezes só foi atingido em última instância. Nos chamados "play offs", como no último Mundial.
O "feito" é naturalmente consequência da valia dos jogadores portugueses. São poucas as selecções com tanto talento disponível, mesmo faltando-lhe ainda o de mais alguns indisponíveis, pelas razões conhecidas. Mas também de um grupo de apuramento sem grandes dificuldades, mesmo o mais fácil dos últimos largos anos. Basta recordar que a Eslováquia, o adversário desta noite, no Dragão, é claramente o mais forte. E que disputa agora o apuramento com o Luxemburgo, a quem a selecção nacional marcou 15 golos no duplo confronto. Nos cinco jogos com os restantes adversários, o Luxemburgo sofreu dois golos. E a Eslováquia, um!
O outro "feito" que a selecção procurava era o apuramento sem golos sofridos. Não o conseguiu porque sofreu hoje dois golos, os primeiros, numa vitória tangencial por 3-2. Como tangencial tinha sido o 1-0 da vitória em Bratislava. Igual ao de Helsínquia.
O resultado de hoje tem mais de mentira do que de verdade.
A selecção jogou, criou e rematou para marcar muito mais que três golos. Para além de uma bola (Gonçalo Ramos) no poste, de meia dúzia de grandes defesas de Dúbravka, o guarda-redes do Newcastle, houve ainda uma série de oportunidades claras de golo desperdiçadas.
Teve períodos do jogo brilhantes, e exibições individuais ao nível da sua qualidade e talento, num 4x4x2 inédito na era Roberto Martinez. Cristiano Ronaldo (dois golos, os últimos dois, o primeiro dos quais de penálti) - já se sabe - tem lugar cativo durante 90 minutos. Mas é assim ... E Rafael Leão, o primeiro a ser substituído (por João Félix, renascido em Barcelona), pareceu sempre pouco ligado com a equipa. Os restantes estiveram a bom nível ... até poderem. Até o desgaste físico - agravado pelas condições do campo, dada a chuva forte que caiu durante todo o jogo - e a reacção dos jogadores eslovacos, fisicamente mais fortes, lho permitirem.
O que tem de verdade são os dois golos marcados pela Eslováquia em quatro remates. E o susto que chegou a provocar. Com os golos, o primeiro a reduzir o curtíssimo 2-0 da primeira parte para 2-1, e o segundo a praticamente anular a rápida reacção portuguesa com o terceiro, três minutos depois. E a quebra do meio campo português na segunda parte, quando o Palhinha deixou de ser suficiente para sozinho o segurar, e os eslovacos passaram a ganhar os duelos e as segundas bolas que antes perdiam. Com Roberto Martinez simplesmente a assistir ...
E, espera-se, a aprender alguma coisa com o que via. O talento, sozinho, ganha os jogos com estes adversários. Para outros é preciso muito mais. É preciso ordem e rigor. Sem cedências ...
Com Martinez, como com Fernando Santos, - e tão iguais que eles são! - a selecção joga bem, e joga mal, é de topo, ou simplesmente banal, conforme inclui, ou não, Cristiano Ronaldo. É assim, e vem sendo assim já há muito tempo.
Depois de um jogo miserável, e de um lisonjeiro 1-0, com a Eslováquia, três dias depois, uma exibição categórica, realmente ao nível dos jogadores de eleição de que dispõe, e a maior goleada da História da selecção portuguesa, com 9-0 ao Luxemburgo. Do 8 ao 80!
Os mais distraídos poderão pensar que o que mudou foi o adversário. Que a Eslováquia não é o Luxemburgo. A esses convém lembrar que o Luxemburgo era, no fim da quinta jornada, o segundo classificado do grupo. Atrás da selecção portuguesa, e à frente da eslovaca. E das restantes três. Que o Luxemburgo já não tem hoje uma selecção da quarta divisão europeia, como teve durante décadas.
Não. O que mudou é que, com a Eslováquia, o "melhor do mundo" jogou os 90 minutos do jogo, e viu um cartão amarelo - que teria sido vermelho se fosse outro qualquer jogador a entrar daquela forma sobre o guarda-redes adversário - que o impediu de jogar ontem com o Luxemburgo, no Algarve.
O que mudou, e o que muda sempre que nos últimos dois anos Cristiano Ronaldo não joga, é tão evidente que já nem o próprio pode deixar de ver.
A selecção portuguesa de futebol, e o país, devem, inegavelmente, muito a Cristiano Ronaldo. Já que a estrutura da Federação Portuguesa parece não se preocupar muito que isso seja esquecido, deveria ser o próprio Ronaldo, vendo o que não pode deixar de ver, a preservar o seu legado, e a defender a sua muito provavelmente inigualável História na selecção nacional. Para isso resta-lhe a oportunidade de anunciar a sua retirada, e acordar com a Federação uma despedida em grande, onde quer que seja (menos na Arábia Saudita, evidentemente!), num jogo entre a selecção nacional e um seleccionado internacional dos maiores jogadores das quase duas décadas que dividiu com Messi no trono do futebol mundial. E, já agora, que jogasse 10 minutos em cada uma das equipas para, por uma vez, jogar ao lado do rival e genial argentino.
Isso é que era bonito. Mas já se está a fazer tarde!
Chegou ao fim a epopeia das "navegadoras". Sem particular glória, mas com honra. E com justificada esperança para o futuro.
Não para as "navegadoras" - esta rebuscada ideia de encontrar cognomes mais ou menos épicos é tão portuguesa como o fado, o fado de "f" minúsculo marcado pelo destino, mais, ou menos, trágico - mas para estas raparigas que deram expressão à selecção nacional de futebol feminino.
O primeiro apuramento para o Mundial tinha sido difícil, e garantido á última hora, como é tão português. Garantida a participação na competição máxima do futebol, o sorteio não fora simpático, mandando as "navegadoras" para a turbulência de um grupo agitado pela presença das bi-campeãs mundiais e das vice-campeãs em título. Que naturalmente esgotavam o favoritismo para para a continuidade em prova.
No primeiro jogo, uma primeira parte assustada e assustadora, condenou-as à derrota no jogo de entrada. A segunda parte desse jogo mostrou logo que os primeiros 45 minutos tinham sido o resultado de uma entrada temerária, e mal preparada. Que aquelas raparigas tinham outro futebol, que não aquele do pontapé de saída. E que esse outro futebol justificava ambição que não tinham conseguido mostrar.
Poderiam ter evitado aquela derrota daquele 0-1 com as holandesas, e acabaram o jogo a provar que mereciam outro resultado. Bastou essa segunda parte para que se abrissem perspectivas para fintar o destino.
No segundo jogo encontraram pela frente a também estreante selecção do Vietname, obviamente a mais fraca do grupo. A enorme superioridade das "navegadoras" foi patente desde o pontapé de saída, e as coisas começaram a correr pelo melhor, com dois golos logos nos primeiros minutos.
Com tudo para construir a maior goleada da competição, que viria a ser conseguida precisamente pelas holandesas perante estas mesmas vietnamitas, nos 7-0 de hoje, a selecção portuguesa passou o resto do jogo a construir oportunidades de golo, sem no entanto conseguir que a bola voltasse a cruzar alinha de baliza. O 2-0 era um insulto à exibição, e escasso para eventuais necessidades. A selecção americana, que entretanto empatava (1-1) com a dos Países Baixos, já tinha feito melhor (3-0). E a holandesa acabou hoje por fazer muito melhor, no tal 7-0.
Um resultado que não espantaria. Até porque poderia ter sido facilmente atingido pelas portuguesas. E que, por ser esperado, não deixava à selecção nacional outro caminho que não fosse ganhar, hoje, às bi-campeãs mundiais.
Era evidentemente difícil. Mas poderia ter acontecido com aquela pontinha de sorte naquela bola rematada ao poste pela Ana Capeta, já em tempo de compensação. Que foi, de resto, a única clara oportunidade de golo de um jogo muito equilibrado.
Equilibrar o jogo, e mesmo superiorizar-se à selecção americana em muitos momentos do encontro, como também já acontecera na segunda parte do primeiro jogo com as holandesas, é mais que a vitória moral com que estas raparigas deixaram este Mundial das antípodas. É a demonstração que há que contar com elas para o futuro. E que esta presença no patamar mais alto do futebol mundial no feminino pode deixar de ser uma epopeia, para passar a ser uma normalidade. Ou perto disso!
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