Não é caso para menos: "então ando eu aqui há anos a assinar acordos com o governo e com os patrões, ando eu aqui a segurar a concertação social que o governo tanto aprecia, e à primeira oportunidade, só porque se vai embora e sai de cena, vão condecorar este tipo que esteve sempre do contra, e nunca nem um jeitinho lhes fez"?
Moral da história: há papéis que não servem para mais nada que descartar; os fantoches nunca passam de bonecos de teatro, e "Roma não paga a traidores"... . Ou não gosta de pagar!
Nos últimos tempos tem-se falado muito do surgimento de uma nova ordem sindical, em ruptura com o velho establishment herdado do século XX, baseado em estruturas orgânicas e ideológicas bem definidas.
Muitos dizem que há um confronto entre as velhas respostas do sindicalismo orgânico e a nova realidade do mundo do trabalho ou, mais pragmaticamente, que os velhos sindicatos já não representam os novos trabalhadores. O financiamento das greves através da novidade do crowdfunding, em vez dos velhos, curtos e limitados fundos de greve do início do século passado, não é mais que a ponta do iceberg.
Todos os movimentos sociais estão sujeitos a dinâmicas próprias que, uma vez em movimento, são difíceis de parar. É o que poderá estar a acontecer com estes novos modelos sindicais, provavelmente condenados a crescer em direcção à substituição da velha ordem sindical, numa dinâmica que poderá estar a revelar-se muita atractiva para muitos e diversos interesses, eventualmente pouco convergentes com os que se propõem representar.
Exemplos dessa perversidade começam a andar por aí, e a surgir a descoberto.
No sindicato dos motoristas de matérias perigosas, que paralisou o país há um par de meses e que já pediu desculpa por se preparar para o voltar a fazer já no próximo mês, o líder e mentor é conhecido pelo “advogado do Maserati”, por se fazer deslocar num automóvel desta prestigiada marca. Tão estranho como um sindicalista de Maserati, é um advogado associado de um sindicato de motoristas. Mas o sucesso salta barreiras e, segundo as notícias, estará já a ser requisitado para alargar a sua intervenção a novos domínios sindicais. É até possível que esteja a pensar em franchisar a ideia. Um franchising de Sindicatos… é capaz até de ter futuro.
Não menos preocupante, antes pelo contrário, é o que se passa com os novos sindicatos da polícia, que se multiplicaram como cogumelos. São já 17, os sindicatos que se propõem representar os polícias portugueses - um record na administração pública portuguesa. Em muitos são mais os dirigentes que os sindicalizados. E como cada dirigente tem direito a quatro folgas por mês, a que se junta mais 12 horas para os delegados, as folgas já se traduzem em perto de 40 mil dias.
Há cera de dois meses tivemos oportunidade de constatar que boa parte dessas folgas era canalizada para a actividade política, quando os vimos nas listas de um partido de extrema-direita, que por aí anda à procura de um lugar ao sol. Esta semana ficamos a conhecer outros aproveitamentos dessas folgas, com a notícia da detenção de outro polícia sindicalista, com 125 quilos de droga. Dizem os jornais que aproveitava as folgas para ir a Espanha buscar a droga que traficava por cá… E que não escondia nada dos sinais de fortuna que o negócio lhe garantia...
Não. Este não é um novo paradigma do sindicalismo. Apenas sinais dos tempos… Destes tempos!
Os trabalhadores tinham tomado uma série de iniciativas – entre as quais marchas lentas na zona da grande Lisboa e mesmo uma frustrada incursão pela capital, com passagem por S. Bento – para tornar público o seu desespero. Mas, logo que se acende aquela luz ao fundo do túnel, eis que surge o delegado sindical: alto e pára o baile! “Um delegado sindical tem que duvidar disto: é preciso avaliar bem o que é que os trabalhadores ganham com esta situação”!
É verdade. Eu ouvi isto! Gente extraordinária mesmo…
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