Futebolês #40 LOSANGO
Por Eduardo Louro
Quando em futebolês se fala em losango não se está a falar daquele polígono quadrilátero a que também chamamos rombo. Fala-se, como nunca se tinha falado, de sistema táctico. Da disposição táctica dos jogadores em campo ou, na linguagem futebolesa mais elaborada de Luís de Freitas Lobo, da construção da casa táctica da equipa ou do habitat táctico-posicional dos jogadores.
Quando digo que se fala do losango como nunca se tinha falado de outro sistema táctico faço-o com toda a propriedade: creio que nunca outro sistema foi tão badalado, mas também nunca outro sistema fora apresentado desta forma, com recurso a este tipo de imagem e terminologia.
Uma rápida espreitadela pela História das tácticas do futebol mostra-nos isso mesmo (não, não é o famoso “o futebol é isso mesmo”, máxima do politicamente correcto em futebolês que serve de resposta a tudo o que se não sabe responder).
Creio que não estarei errado se disser que tudo começou com o WM – pelo menos não tenho conhecimento de referências a sistemas tácticos anteriores – que tem a particularidade de, como o losango, recorrer a uma imagem para traduzir o desenho arquitectónico da casa táctica: 2 defesas, então chamados, à inglesa, de backs, identificados nas duas bases inferiores do W, 3 médios, identificados nas três pontas superiores do mesmo W, e cinco avançados, sendo dois extremos (pontas superiores do M) com os restantes três (base inferior do M) no meio – dois interiores (o esquerdo e o direito) e o avançado centro.
Era o futebol dos anos 40 do século passado, todo mandado para frente: apenas dois defesas e cinco avançados. São os anos gloriosos do Sporting dos cinco violinos – os cinco avançados que ficaram na história do Sporting e do futebol nacional.
Depois passou-se à imagem numérica para identificar o sistema. Utilizando esta forma de representação o WM teria sido o 2x3x5. É quando surge, já nos anos 50 e durante boa parte da década de 60, o 4x2x4: reforço da defesa, agora a quatro, pouca importância do meio campo, com apenas dois jogadores, e quatro avançados, mantendo os mesmos dois extremos bem agarrados à linha, perdendo-se os dois interiores e passando a dois avançados centro. São os tempos gloriosos do Benfica de sessenta, donde emerge um famoso quarteto (José Augusto, Torres, Eusébio e Simões), que domina em Portugal e na Europa, com cinco presenças na final da Taça dos Campeões Europeus. E da mais brilhante de todas as selecções nacionais: a de 66!
A partir daqui assiste-se ao reforço dos cuidados defensivos e a um crescimento demográfico no meio do campo. No 4x3x3 que surge nos finais da década de 60 (excelentemente interpretado pela selecção do Brasil no Mundial do México de 1970) e vem até à actualidade - evidentemente que com múltiplas nuances de alas e trincos. Ou nos actuais 4x4x2, 4x2x3x1 e … losango!
O problema é que o losango é uma simplificação. Transmite-nos uma imagem geométrica, em vez de um alinhamento de algarismos em forma de factores de multiplicação, mas não representa mais que uma variante do 4x4x2. Pois é, a imagem do rombo aplica-se apenas ao desenho do quarteto do meio campo: um médio defensivo atrás, o 6, dois no meio (sem alas) e um 10 à frente! Daí que a verdadeira designação do sistema seja o 4x4x2 em losango, que se traduziria em (veja-se a confusão) 4x1x2x1x2. O tal que no Sporting de Paulo Bento, tal a dependência, mais parecia cocaína. Dizia-se que o Sporting era losangodependente!
Daí que a Academia de Alcochete agora mais pareça uma clínica de desintoxicação, para cortar definitivamente com aquela dependência. O Paulo Sérgio, coitado, passa as noites a sonhar com o maldito losango e a tentar inventar novos sistemas. Numa destas até inventou um que metia um pinheiro… Como cidadão responsável andava, como todos nós, preocupado os incêndios que destroem a maior mancha de pinheiros da Europa. Mas, como profissional responsável, não dormia às voltas com os muitos sistemas tácticos que pretende implementar na equipa em simultâneo, para matar de vez o losango e surpreender finalmente os adversários. E pronto, lá veio um com pinheiro…
O Costinha bem lhe explica que não pode ser, que os pinheiros arderam todos e que os poucos que resistiram estão pela hora da morte. Mas nem assim ele tira o pinheiro da cabeça! E já avisou que no Natal não quer ser enganado. Quer mesmo um pinheiro, não é dessas árvores de natal de plástico que os ecologistas agora nos querem impingir!
PS A selecção inicia hoje os jogos de apuramento para o euro 2012. O que é que a gente pode dizer? Parafrasear o Queiroz? Não, é muita ordinarice…