TOUR DE FRANCE IV
Por Eduardo Louro
O Tour despediu-se dos Pirenéus, que mais não fizeram que confirmar os Alpes e a superioridade de Bradley Wiggins e Chris Froome e da sua equipa, a Sky. E confirmar ainda que entre os dois ingleses é o segundo quem está melhor, como ainda hoje ficou provado, quando Froome esperou várias vezes pelo seu chefe de fila na última subida do dia, inclusivamente deitando fora a vitória na etapa, que sobrou para Alejandro Valverde por escassos 19 segundos. Tivesse Froome seguido seu ritmo, sem outras preocupações, e o espanhol teria sido apanhado antes de cortar a meta em Peyragudes.
A dupla jornada de alta montanha pirenaica, para além de confirmar este domínio britânico, confirmou todos os restantes jovens de que aqui se falou da última vez. E confirmou as desgraças de Cadel Evans, longe de confirmar a vitória do ano passado – em que Wiggins se viu obrigado a desistir, logo no início, vítima de uma das muitas e frequentes quedas que invariavelmente marcam a primeira semana desta prova – e de Frank Schleck, este mesmo afastado antes de subir ao Tourmalet. E pela pior das razões: teste positivo no controlo anti-doping. Sem que antes tivesse oportunidade de confirmar a condição de favorito que injustificadamente – a sua participação no Tour nem estava sequer prevista e resultou de uma imposição provocada pela ausência forçado do irmão - lhe era atribuída.
À falta de outra dimensão do espectáculo – porque uns estão ausentes, pelas deficientes condições do australiano e do luxemburguês e porque a Sky não permite veleidades a ninguém (o italiano Nibaldi voltou a tentar, mas na hora da verdade nem sequer conseguiu acompanhar os dois ingleses) – surgem alguns heróis. Nos Pirenéus o protagonismo maior coube a Thomas Voeckler (na foto), um francês que parece ter mau feitio mas que é um ciclista desconcertante. No ano passado andou 10 dias de amarelo, lutando pela manutenção desse símbolo de forma verdadeiramente heróica. Perdê-lo-ia na montanha. Desta vez foi em plenas montanhas dos Pirenéus que brilhou: venceu duas etapas e desatou a ganhar metas de montanha, a ponto de, vindo em branco dos Alpes, ter aí conquistado os pontos que lhe garantem já o troféu de melhor trepador deste Tour.
Os portugueses também aproveitaram os Pirenéus para dar nas vistas. Sérgio Paulinho e Rui Costa entraram em fugas, chegaram a andar na frente e a deixar a ideia de poderiam ganhar uma etapa. O Sérgio ainda conseguiu ser terceiro numa dessas oportunidades e o Rui Costa – que se queixava que o pelotão não o deixava fugir – teve hoje a sua melhor oportunidade. Andou no grupo da frente, onde tinha mais dois colegas de equipa sem que disso tirasse qualquer vantagem. Atacou e isolou-se, sendo depois de alcançado pelo seu colega Alejandro Valverde. Estranhamente não seguiram juntos, dividindo esforços, com o espanhol a deixá-lo para trás quando faltavam 30 quilómetros para a meta, onde chegaria no trigésimo segundo lugar, com 7 minutos de atraso para o seu colega de equipa (?) e vencedor da etapa. Porque Froome foi leal colega de equipa de Wiggins!
Assim não admira que tenha sido Miguel Relvas o português com maior destaque nos Pirenéus!
Se depois dos Alpes se percebia que seria um inglês a ganhar (pela primeira vez) o Tour, agora já se sabe que será Wiggins. Mas não deixaria de ser irónico que, depois de tudo o que tem acontecido para que seja assim, Froome ganhasse os pouco mais de dois minutos a Wiggins no contra-relógio do próximo sábado. Porque aí ninguém tem de esperar por ninguém!
Mas contra-relógio é à medida do seu chefe de fila… a rolar. Se fosse a subir… seria bonito. Lá isso seria!