Durante muito tempo a estratégia do país para o Turismo, sempre uma das mais fortes componentes da nossa economia, a par das remessas dos emigrantes, assentava no "Sol e Praia". Muitos entendidos da matéria alertavam para os perigos de uma espécie de mono-produto, e avisavam que era preciso alargar a oferta.
Não sei se foi feita muita coisa para atingir esse desiderato, mas sei o que o terrorismo, e principalmente a instabilidade que se seguiu à Primavera Árabe, de há meia dúzia de anos a esta parte, fizeram por isso. Hoje o turismo português faz gala de apresentar mais um produto - a "Segurança", a acrescentar ao "Sol e Praia". Hoje Portugal é "Sol, Praia e Segurança". Que não é bem a mesma coisa que "sol e praia em segurança", como se sol e praia fosse sexo. Que às vezes também é!
Não. Segurança é, hoje, o mais determinante produto do pacote turístico que temos para oferecer. E valeu-nos mesmo dois dos mais disputados turistas da actualidade. Temos desde ontem em Lisboa dois turistas à procura do que de melhor temos para oferecer - "segurança"!
Os senhores Pompeo e Nethanyahu precisavam de conversar um bocadinho - talvez até uma partidinha de xadrez, quem sabe? (dominó? - não acredito!) - e escolheram Portugal. Claro que, sendo quem são, precisam mais de segurança que de sol. Que também aí está, de mãos dadas com a tradicional hospitalidade portuguesa, também central no rótulo do nosso pacote turístico.
Está já no ar a sonda Parker (designação em homenagem ao astrofísico Eugene Parker), o mais rápido objecto voador de todos os tempos, a caminho do Sol, a 700 mil quilómetros por hora.
Daqui a sete anos, depois de uma viagem de mais de 2500 dias, na mais complexa missão espacial se sempre, que resulta de seis décadas de investigação, a Parker terá feito 24 órbitras em torno do Sol, e ficar-se-á a saber alguma coisa da sua coroa, onde as temperaturas são superiores a 1 milhão de graus centígrados.
Não estivessemos já habituados a tamanha falta de vergonha e diríamos que este sol de Agosto é terrível, e faz mesmo mal à cabeça desta gente...
O CDS resolve ir suicidar-se a Angola, e pelo caminho descobre que o MPLA é um partido irmão. Para reforçar a fraternidade altera até a certidão de nascimento da líder, para fazer dela angolana.
Um secretário de Estado, dos poucos que ainda falam - os outros foram todos ver a bola à conta da Galp e perderam o pio, que não a vergonha - diz que vai mudar a lei, para que nela caibam tods os 19 administradores da Caixa. Os que o BCE aceitou, os que mandou primeiro para a escola, e os que chumbou. Só se tinham lembrado de a alterar para lá caberem os ordenados exigidos pelos novos administradores, esquecendo-se do resto. Mas nunca há problema: nem se confere a legalidade, e se as nomeações são ilegais, altera-se a lei. Tantas vezes quantas as necessárias.
Não há qualquer problema em colocar na administração banco público o co-líder de um dos maiores grupos nacionais. Provavelmente a SONAE nem trabalha com a Caixa Geral de Depósitos. E que importância tem que não tenham qualquer experiência no negócio?
Sempre houve, e continuará a haver, projectos que não vingam. Que acabam, mais tarde ou mais cedo, por ficar pelo caminho. Mesmo nos jornais, e mesmo que achemos que os jornais são sempre mais qualquer coisa que outro projecto empresarial qualquer. Muitos são os títulos que já não existem se não na nossa memória. Longínqua, como o Século, a República, o Diário de Lisboa, a Capital, o Jornal... Ou mais recente, como o Independente, o Tal e Qual, o 24 Horas… Outros resistem e por aí continuam, mas depois de sucessivas operações de encolhimento – down sizing, como se gosta de dizer – sempre com dezenas ou centenas de jornalistas remetidos ao desemprego.
Quero com isto dizer que o encerramento dos jornais Sol e i, que irá mandar para o desemprego mais de uma centena de pessoas, jornalistas, na sua esmagadora maioria, e que foram os dois grandes projectos editoriais na última década, podem ter sofrido dessas mesmas contingências.
Mas a verdade é que, independentemente dos méritos e deméritos destes dois projectos, tão separados à nascença mas agarradinhos na morte, o negócio dos media mudou radicalmente na década em que apareceram. Saíram a ganhar os consumidores – pelo menos no imediato, ainda é cedo para se fazer essas contas – que passaram a ter à mão, em qualquer lugar, a qualquer hora, e gratuitamente, uma variedade de produtos e conteúdos informativos muito mais alargada. Saiu a perder o lado da oferta. Foi mau para os empresários do negócio, e pior ainda para os trabalhadores: os leitores fugiram, e com eles, evidentemente, fugiram as receitas da publicidade que rentabilizavam o negócio. E não há investidores para negócios que não sejam rentáveis…
A não ser que…
Aí está: a não ser para investir noutra coisa que não seja no negócio. A não ser que, em vez de investir em jornais, se esteja a investir em poder e influência para potenciar outros negócios, abrindo brechas irreparáveis na ética e nos princípios. Com responsabilidades dos investidores, mas também muito frequentemente dos próprios jornalistas. Dos que deixaram de o ser para pura e simplesmente venderem a alma ao diabo, e dos que se viram obrigados a trocar os princípios deontológicos e os valores éticos pelo supremo interesse da defesa do posto de trabalho, que não passa do simples adiamento do despedimento certo!
Será que, enquanto andávamos todos entretidos com as praxes e com os quadros de Miró, Passos e Portas não aproveitaram para vender o nosso Sol aos chineses?
Estou mesmo a ver: saiu em mala diplomática, foi leiloado em segredo em Espanha – onde, ora em castelhano ora em francês, Portas tem andado numa roda-viva – e, no fim, foram os chineses quem deu mais…
É mesmo pelo Sol! Que ajudei a criar e pelo estado a que chegou...
Parece que Medina Carreira era um nome de código! O resto é idiotice, segredo de justiça à portuguesa e jornalismo de baixa qualidade. Perto da sargeta!
O Verão acaba de chegar, mesmo a horas: às 18 e 16 minutos! Hoje é o maior dia do ano, o que quer dizer que, a partir de hoje, começam a diminuir… Até chegar o mais pequeno, no solstício de Inverno, daqui por seis meses!
Por agora, viva o Verão, do sol, da praia, dos refrescos, da sangria, da imperial, das sardinhas… Como diz a cantiga dos Fúria do Açúcar: quando "os dias ficam maiores e as roupas menores"!
O director do SOL – José António Saraiva (JAS) – na sua coluna de opinião política que, de alguma forma, se tornou ao longo de quase trinta anos já num clássico – era a Política à Portuguesa no Expresso, durante mais de vinte anos, e é, agora no SOL nos últimos quatro anos, a Política a Sério – veio esta última semana sentenciar o terceiro-mundismo de Portugal.
Para ele é uma evidência: “Portugal está a caminho do Terceiro Mundo”. Uma evidência que nem sequer nos pode espantar: “assim como há países do Terceiro Mundo que registam taxas altíssimas de crescimento e se preparam para aceder ao Segundo ou mesmo ao Primeiro Mundo, outros sofrerão evolução oposta”. Porque, sustenta ainda, “ a roda do mundo é como os alcatrazes” – quis seguramente dizer alcatruzes –: “se uns sobem, outros têm de descer”.
Creio que já muita gente estará habituada – eu, pelo menos, estou – a algumas excentricidades (chamemos-lhe assim) do José António Saraiva. Umas com alguma graça, outras com algum arrojo e, outras ainda, sem pés nem cabeça.
Lembro-me de uma, aqui há alguns anos, ainda no seu tempo do Expresso, em que desenvolvia uma teoria que mostrava a importância de se fixar a capital em Castelo Branco. Ou de uma outra, mais recente e já no SOL, de um projecto para a Baixa ribeirinha de Lisboa que passava, entre outras coisas, por criar uma zona coberta em toda aquela área. Fiquei com a ideia que seria uma espécie de Piazza del Duomo, em Milão, mas em grande!
Lembrei-me destas duas, onde se consegue encontrar um cruzamento entre algum arrojo e alguma graça, para evidenciar a clara bipolaridade de dois estados de alma: um, de um passado recente, virado para um empreendedorismo de grandiosidade e outro, actual, marcado pela mais profunda e deprimente das decadências.
Evidentemente que todos sentimos uma tremenda degradação da nossa vida colectiva. Que todos nós sentimos que o mais importante capital social – não no sentido tecnocrático do termo, mas no sentido de instrumento de intervenção e de promoção de desenvolvimento colectivo – a esperança e a confiança (a mesma a que o primeiro-ministro, subvertendo realidades, desesperadamente apela), bateram no fundo. Que se percebe que a economia não irá crescer a níveis capazes de enfrentar o problema do desemprego nos anos mais próximos. Que se percebe que não irá ser possível manter regalias sociais dadas por adquiridas. Que percebemos a degradação das instituições e, pior do que isso, dos valores. Que, por via de tudo isto, todos os dias nos cruzamos com atitudes terceiro-mundistas. Na rua, na estrada, nos serviços públicos… Mas também que o simples facto de as identificarmos como tal as transformam na excepção. Nunca na regra!
Evidentemente que não faz qualquer sentido afirmar-se que Portugal está em viagem para o Terceiro Mundo. Se o não faz utilizando o sentido figurado é de todo inaceitável, e mesmo grosseiro, pretender enquadrar essa afirmação num suposto contexto de rigor e credibilidade.
Ao recorrer á tal teoria dos alcatruzes – “se uns países sobem outros têm de descer” – uma figura com a responsabilidade intelectual do JAS – director de um jornal, o director de maior longevidade no mais influente jornal do país, actor da cena política e mediática, escritor e professor universitário de ciência política -, está a pretender fundamentar a sua afirmação num fenómeno determinístico que tem tanto de incontestável como de charlatanice intelectual.
Porque o mundo não é uma roda e será tanto mais perfeito, equilibrado e seguro quantos mais forem os países a abandonar o subdesenvolvimento e a atingir os patamares do desenvolvimento. Que são medidos de forma objectiva através de factores de diferenciação de desenvolvimento que, na sua maioria, não têm regresso.
Há coisas sem pés nem cabeça. E esta é, em toda a sua extensão - até com aquela ideia da passagem do terceiro para o segundo mundo (classificação mais que ultrapassada e já desaparecida) e deste para o primeiro - uma delas. Se é, como parece, um problema de agenda política, seria recomendável, apesar de estarmos em Agosto, em que nada se passa e tudo se desculpa, um pouco de mais cuidado. Agora desta forma… Francamente, assim até parece, lembrando-nos da saga de Scarlet O`Hara, que tudo o Freeport levou!
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