A expressão surgiu no espaço do comentário político, que alimenta uma larga casta de políticos, jornalistas e espécies afins, e rapidamente se tornou "mainstreaming". "Resolver os problemas das vidas das pessoas” entrou no léxico da política que está na moda.
Foi usado e abusado na campanha eleitoral. Na tomada de posse do governo, ou na apresentação e discussão do seu programa. É moleta para tudo, e para todos, seja a que propósito for. E é a saída para a resposta a qualquer pergunta mais incómoda. São muito poucas, mas de vez em quando lá surge uma.
Ainda há pouco, questionado - nem sei bem a que propósito, mas tinha a ver com mais umas insistências do Ventura - sobre o “não é não”, Hugo Soares, já na qualidade de líder parlamentar do PSD, limitou-se a despejar que o que importa é "resolver os problemas das vidas das pessoas”. Não importa que problemas, nem de que vidas, nem de que pessoas.
Na verdade é apenas um novo "sound byte" que pretende fazer crer que há uma nova forma de "fazer política" que não precisa de ideias. Que o tempo das ideias já passou, esmagado pelo novo tempo do pragmatismo.
Não é assim. Este "sound byte" nega as ideias mas afirma uma ideologia. "Resolver os problemas das vidas das pessoas” é todo um manual ideológico. E nem sequer é um novo paradoxo. É bem velho, por sinal.
Tão velho que há muita gente que já não se lembra dele!
É sem dúvida o soundbyte da semana. Bem treinada e melhor encenada, foi a resposta ensaiada por António José Seguro perante as primeiras ofensivas dos seus adversários, pressionando a antecipação do congresso.
Não sei se Seguro merece a sorte que protege os audazes. Como há muito se sabe que audácia é coisa que lhe não sobra, sou levado a crer que não a merecerá. E, não tendo dessa sorte, provavelmente não terá doutra!
Sem sorte e sem engenho não há nada que lhe corra bem. Por mais ensaiado que seja, ou mesmo que se esforce um bocadinho. Numa semana em que o governo apostou forte, e em que foi praticamente demolidor, Seguro, sem engenho nem arte para desmontar a encenação governamental, e acossado – também por via disso – pelos seus adversários internos, refugiou-se no soundbyte. Pior forma de reagir a resultados - mais a mais resultados que o governo apregoava como feitos notáveis - que um soundbyte só um soundbyte muito teatralizado!
Para acabar de vez com a imagem e a capacidade de afirmação de António José Seguro, pior ainda que um soundbyte muito teatralizado, só um soundbyte muito teatralizado logo esvaziado. Quando logo a seguir, com toda a pressa, marcou de urgência a reunião da Comissão Política Nacional para debater a situação política interna esvaziou o seu muito teatralizado soundbyte. Pior: virou o feitiço contra o feiticeiro. E acabou de vez com a escassa margem de manobra política que lhe restava. Está agora encurralado!
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