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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Saborosa Supertaça

Benfica vence Sporting com golo de Pavlidis e conquista a Supertaça de Portugal

Valeu pelo troféu, pela Supertaça, a vitória no dérbi desta noite, no Algarve. Mas valeu, mais ainda, por ter acabado com esta mala-pata dos jogos com o Sporting. Já era muito tempo, muitos jogos sem ganhar ao eterno rival. Não importa como o Benfica não ganhou muitos desses jogos. Importa que não ganhou, mesmo sem esquecer como não ganhou. Valeu porque ganhar ao Sporting vale sempre muito.

Na realidade não foi um grande jogo. O Benfica têm de jogar muito mais. O Sporting ... pouco me importa. Até porque, para o seu treinador, o Sporting jogou muito bem, e foi muito superior ao Benfica. Portanto não precisa de mais.

O Benfica precisa. O da primeira parte precisa mesmo de muito mais. Na segunda melhorou o suficiente para, ao contrário do que viu o treinador do Sporting, ser bastante melhor.

 Precisa de automatismos, que não tem. E que fazem ainda mais falta quando lhe falta criatividade. Não tem na equipa jogadores criativos, que peguem na bola e resolvam as situações mais complicadas. Que disfarcem a as deficiências do processo.

Com Barreiro - a surpresa de Bruno Lage para hoje - Enzo, Aursenes e Rios no meio campo, se não houver rotinas muito afinadas, e nesta altura seria difícil haver, o jogo empapa. Equilibravam a equipa sem bola, mas quando era preciso atacar, faltava tudo. Como Rios e Barreiro ocupavam as mesmas zonas do campo, ainda mais complicado ficou. E fez Rios complicar e, provavelmente com a melhor das intenções, começar a inventar. 

Lá na frente, Akturkoglu joga na verticalidade, não é propriamente jogador para conduzir a bola, e lá fica Pavlidis, sozinho, para juntar as peças e ainda marcar golos. Faz o que pode, e faz muito, mas é pedir de mais ao grego.

Sem mudar de jogadores, mantendo os mesmos onze, o Benfica veio para a segunda parte com novas ideias. Rios deixou de pisar os mesmos terrenos de Leandro Barreiro, passando a posicionar-se mais à frente, e bastou isso para passar a jogar mais simples, crescer no jogo e tornar-se influente. Resultou praticamente de imediato, no golo, logo aos 5 minutos. 

Num ápice Rios desenvencilhou-se de dois adversários e colocou a bola na esquerda, em Pavlidis (tinha de ser!), que de primeira deixou em Dahl, dentro da área. O golo deveria ter surgido do seu passe de morte para a finalização de Akturkoglu, porque era o que a jogada merecia. Mas não, a bola foi ainda interceptada para regressar a Pavlidis, que a rematou de primeira para o fundo da baliza.

Pode dizer-se que Benfica tinha então tomado conta do jogo. E poderia até ter feito mais dois golos (logo a seguir Rui Silva, que pareceu mal batido no golo, redimiu-se ao negar novo êxito a Pavlidis) antes de permitir qualquer reacção ao adversário. Que apenas surgiu nos minutos finais, e não se traduziu numa defesa de Trubin, a um remate de Trincão, de fora da área; e num corte de António Silva a um centro de Luis Suárez, o novo Gyokeres.

Por isso o Benfica ganhou bem. Fábio Veríssimo até "se aguentou", e o VAR até tirou o fora de jogo para anular o golo que Pote chegou a marcar, logo aos 6 minutos da fraquinha primeira parte.

 

Provocação e abuso de poder

O histórico (e a polémica) de Fábio Veríssimo em jogos do Sporting

A nomeação de Fábio Veríssimo - vulgo Verdíssimo - para arbitrar o jogo da Supertaça, na próxima quinta-feira, foi a forma mais eloquente que o Conselho de Arbitragem, e a FPF, encontraram para o arranque da nova época de futebol.

Já não bastava a marcação da data do jogo, face à participação do Benfica no campeonato do mundo de clubes, e à disputa das pré-eliminatórias de acesso à Liga dos Campeões. Já não bastava a despenalização de Quenda e Debast. Era ainda preciso ser mais provocador, e nomear o mais ligado dos árbitros ligados ao Sporting.

Será este o sinal que os poderes do futebol, depois de tudo o que aconteceu na época passada, e em especial na sua parte final, têm para dar logo na abertura das competições da nova temporada?

Ou será apenas o Sporting a não querer perder a primeira oportunidade para a primeira demonstração de força? Para mostrar que tem o poder, e que nada, nem ninguém, lho tira?

Por outro lado, do do Benfica, apenas a mesma resignação, sem sequer estrebuchar. Sempre pronto a oferecer a outra face ... À espera que as mesmas coisas, nas mesmas circunstâncias, produzam resultados diferentes.

Afinal a aldrabice ainda não tinha acabado

O jogo da 85ª final da Taça de Portugal, acabado de disputar no Estádio Nacional, foi o espelho da época a que pôs ponto final.

Neste jogo coube toda uma época: uma arbitragem, igual às arbitragens de toda a época, um Sporting de querer, de luta e de sorte e um Benfica capaz do melhor e do pior. Bruno Lage disse que tinha preparado o jogo muito bem. E tinha, o problema é que Bruno Lage é tão bom a preparar jogos como mau a geri-los!

O Sporting entrou no jogo a correr como sempre, e a disputar todas as bolas em todos os centímetros quadrados do campo. Os jogadores irradiavam confiança, a confiança de quem tinha acabado de ganhar o campeonato a este mesmo adversário. Jogou o que joga, não joga muito mais que aquilo, e rapidamente o Benfica começou a impor o seu melhor futebol.

A partir dos 10 minutos a superioridade do Benfica foi sempre evidente em todos os domínios do jogo. Não criava muitas oportunidades de golo, mas criou as suficientes para sair para o intervalo com uma vantagem assinalável no resultado. Que, porque a bola ia aos ferros, ou saía a razá-los, ou o Rui Silva defendia, nunca aproveitou. 

A forma como os jogadores do Sporting aproveitavam cada posse de bola para baixar o ritmo do jogo, e festejavam cada corte, e cada defesa, fica como a melhor imagem do que se passava no jogo.

Ao minuto 16 o árbitro Luís Godinho assinalou penálti contra o Sporting. O Tiago Martins, o das moedas, no VAR, tratou do revertê-lo, descobrindo um fora de jogo manhoso no início da jogada. Por isso, ou porque por cá o futebol é mesmo assim, esta intervenção do Tiago Martins abriu as portas do maravilhoso mundo da aldrabice a Luís Godinho. A partir daí bastava aos do Sporting mandarem-se para o chão para que assinalasse faltas, de preferência sempre perto da área do Benfica. Os do Benfica eram massacrados com entradas por trás, em cima da linha da grande área, mas nada era assinalado. 

O golo que sempre faltou ao jogo do Benfica na primeira parte chegou logo no arranque da segunda: Pavlidis, Aktürkoglu, e remate de Kokçü a bater finalmente o Rui Silva. Logo a seguir,  mais uma jogada envolvente do ataque do Benfica acabava no excelente golo de Bruma. Em dois minutos fazia-se finalmente justiça no marcador, com os jogadores do Sporting completamente encostados às cordas.

Só que lá voltava a estar o Tiago Martins, pronto a dar mais uma mão, e a resgatar o Sporting do fundo do buraco em que estava enfiado. Descobriu uma falta de Carreras, outra vez no início da jogada, e o Luís Godinho anulou o golo. Para tornar aquilo credível, para mandar mais areia para os olhos, mostrou amarelo ao lateral esquerdo do Benfica. E assim continuou até ao fim, poupando faltas, cartões e expulsões aos jogadores do Sporting:  Harder, Matheus Reis, e Maxi Araujo, pelo menos.

E o Sporting viu a luz. Os jogadores perceberam que aqueles que nunca lhes faltam estavam ali, a estender-lhe as mãos, prontos a levantá-lo. E aproveitaram para se empertigar e recuperar o seu futebol, feito de muito nervo e de pouco mais. 

Só isso, mas o suficiente para entregar Bruno Lage e os jogadores do Benfica aos seus fantasmas. E lá vieram as substituições desastrosas. Se Kokçu, já de cabeça perdida com Luís Godinho, tivesse de sair nunca poderia ser para a entrada de um Renato Sanches, sem qualquer ritmo. A troca de Aktürkoglu por Schjelderup até pode ser considerada natural, mas não é só o Nuno Magalhães que não lhe vê nada ... Tirar Pavlidis da equipa é cortar o elo de ligação do ataque. Meter Belotti é introduzir lá a trapalhice. A saída de Tomás Araújo, para a entrada do recuperado Aursenes, parece uma inevitabilidade. No fim, já ao minuto 90, tirar Bruma para fazer entrar o Barreiro, sem qualidade para jogar no Benfica, não foi só a asneira final. Foi também a forma de deixar Di Maria de fora, no seu último jogo.

Foi provavelmente a tragédia das substituições que marcou a estratégia para responder ao empertigamento sportinguista. O Benfica abdicou de jogar futebol, e partiu até para o anti-jogo. Como jogar futebol não é o forte do Sporting, aquilo passou a parecer mais um jogo dos distritais do que o de uma final da Taça. Foram 50 minutos assim - os 40 que faltavam, mais os estranhos 10 de compensação.

Ainda assim só o Benfica criou oportunidades para voltar a marcar. Aos 81 minutos o trapalhão Belotti dispôs de uma clara oportunidade de golo, mas permitiu mais uma grande defesa ao guarda-redes do Sporting. Repetir-se-ia o mesmo aos 90+7, com o Leandro Barreiro. E no último dos estranhos 10 minutos de compensação repetiu-se o que tantas vezes aconteceu na época. Desta vez foi Trincão que, no último minuto, pegou na bola à saída da sua área defensiva e correu com ela, pela ala direita, à vontade pelo campo fora. Sem um encosto, sem uma falta ... até a entregar ao Gyokeres, ainda na direita. Que passou pelo António Silva - há largos minutos em pânico - e entrou na área, sem qualquer condição para rematar. Ainda agora se não sabe o que passou pela cabeça do Renato Sanches; sabe-se apenas que fez o favor de lhe tocar, e que, na conversão do penálti, o sueco marcou, e mandou o jogo para o prolongamento. 

Que não podia deixar de ser penoso para o Benfica. Não, mais uma vez, pelas dificuldades  que o Sporting lhe impunha, mas pelas próprias circunstâncias. Todas!

Deu então para a entrada de Di Maria, na despedia. Em lágrimas. Lágrimas que não são as da despedida. Essas são bonitas. Estas, de Di Maria, não!

E o Benfica perdeu também a Taça. Vítima da aldrabice instalada no futebol português, e vítima dos seus fantasmas. No fim, Rui Costa falou da primeira. Tarde, muito tarde!

Afinal ... o costume

O dérbi que tudo resolvia, nada resolvendo, tudo resolveu. E o Sporting já festeja o bi-campeonato. Porque dá tudo por resolvido, e porque tem que aproveitar - é coisa que já não lhe acontece há mais de 70 anos. Só lhes faltou irem já para o Marquês ...

Festejos antecipados à parte, fica um jogo em que o Benfica ficou aquém do que podia, e da sua obrigação; o Sporting foi a sorte do costume, pontapé para frente, e anti-jogo até vir a mulher da fava rica; e o árbitro, João Pinheiro, um fartote de vilanagem.

Poderia dizer-se que o golo do Sporting, logo aos 4 minutos, condicionou a estratégia do Benfica. Sim, mas esses tão escassos minutos já tinham dado sinais que o Benfica não estava tão afirmativo, autoritário e determinado quanto impunha um jogo que tudo decidia. E só verdadeiramente entrou no jogo com a primeira metade da primeira parte já esgotada.

Depois, a partir daí, sempre que pôde, isto é, sempre que lhe foi permitido jogar à bola, foi melhor. Só que nunca tão melhor quanto é sempre exigido ao Benfica para ganhar. E sempre longe do melhor que tantas vezes apresentou ao longo da época.

O Sporting passou a segunda parte a queimar tempo, com os jogadores no chão, a serem sucessivamente assistidos, fez um remate, e teve a sorte do de Pavlidis (fabulosa a jogada do golo, que ofereceu a Aktürkoglu, e incompreensível a sua substituição, ainda com 10 minutos para jogar) acabar com a bola no poste, em vez de dentro da baliza.

A arbitragem de João Pinheiro foi o normal. Da normal falta de qualidade dos árbitros portugueses, e da normal pressão que sobre eles é exercida, arte em que, através do domínio do espaço mediático, o Sporting é verdadeiro mestre. Não quis ver, nem ele nem André Narciso, o VAR e outro velho conhecido, o penálti sobre o Otamendi, ainda na primeira parte. Não quis dar o segundo amarelo a Hjulmand. Mas mais: bastava aos jogadores do Sporting mandarem-se para o chão para assinalar falta; os do Benfica eram violentamente pisados, ostensivamente empurrados, mas ... nada.

E foi isto "o jogo do século". Afinal, apenas o costume... O transfere disto tudo para a final da Taça, daqui a duas semanas, é o que falta ver.

 

A oitava, depois de 8 anos de vadiagem!

Nove anos depois o Benfica voltou a conquistar a Taça da Liga. A oitava. É caso para dizer que a Taça da Liga voltou a casa. Muito tempo depois. Tanto que ainda nem se falava em "campeão de inverno", e depois de oito anos a vadiar pelas mãos deste e daquele. Mas voltou!

Foi o terceiro dérbi na final da competição. Disputada em Leiria, aqui ao lado, bem no centro de Portugal, e não no estrangeiro, na tal internacionalização prometida por Pedro Proença, antes de perceber que, comparar o nosso futebol ao inglês, ao italiano e ao espanhol, é enganar-nos a nós para se enganar a ele.

E no entanto a primeira parte do dérbi da final desta noite até deu para comparar. Benfica - com a mesma equipa inicial que brilhara a grande altura na meia final, com o Braga (a novidade foi Beste ter ficado de fora, na bancada) - e Sporting - com três alterações no onze relativamente á outra meia final (duas pelas lesões de Morita e de Matheus Reis, a outra por o Rui Borges ter retirado o surpreendente Fresneda) - ofereceram-nos uma primeira parte de alto nível, como se joga nos grandes campeonatos do futebol europeu.

Ambas as equipas jogaram em altíssimos ritmo e intensidade, e com enorme pressão em todas as zonas do campo. O Benfica fê-lo através de um jogo mais elaborado, e mais agradável à vista, enquanto o Sporting o fez mais através de um futebol directo. O Benfica jogava um futebol mais associativo, trabalhado nos três corredores, especialmente pelos laterais, frequentemente com mudanças de flanco, obra de Di Maria - mais uma grande exibição! - e de Kokçu. 

Esta espécie de contraponto entre as duas equipas, naquele registo de intensidade, acabou por trazer ainda mais espectacularidade ao jogo. Era virtualmente impossível manter aquele ritmo na segunda parte, disso ninguém tinha dúvidas.

Os golos acabam por se encaixar no que foi o jogo. E até de o justificar. O Benfica inaugurou o marcador às portas da meia hora de jogo, num bonito golo de Schjelderup, assistido por Di Maria, justamente num passe da direita para esquerda. O Sporting empatou à beira do intervalo, num penálti assinalado pelo árbitro João Pinheiro, e convertido por Gyokeres.

O golo do empate, e as circunstâncias em que ocorreu, transporta-nos para os temas da arbitragem e da sorte, que aqui trouxe há pouco. Dizia então que, com razão de queixa das arbitragens, não era por elas que o Benfica perdera. E que a equipa não tinha sorte, mas também não fazia por a merecer.

Pela dualidade de critérios que João Pinheiro evidenciou ao longo de todo o jogo, e pela forma como nunca assinalou nenhuma das muitas faltas sobre o Di Maria, apesar de o contra-factual ser impossível de provar, tenho poucas dúvidas que o penálti assinalado a Florentino nunca o seria, em idênticas circunstâncias, contra o Sporting. Exactamente como o uso da mão por parte do João Simões, dentro da sua grande área, teria dado penálti se tivesse ocorrido na área do Benfica. Ou como, se no final da primeira parte, a chapada do Maxi ao Otamendi, tivesse sido ao contrário, João Pinheiro teria puxado do cartão vermelho.

Na primeira parte o Benfica merecia ter sorte. Tinha feito tudo para a merecer, mas voltou a não a ter. Não a teve nas circunstâncias em que o penálti foi assinalado. E voltou a não a ter quando Trubin o defendeu com o pé, e a bola subiu para cair dentro da baliza. Por poucos centímetros teria saído. Os mesmos poucos centímetros que, por clara falta de sorte de Pavlidis, impediram o 2-0, logo a seguir ao primeiro golo.

E assim - e com uma segunda parte igualmente emotiva, mas claramente de bem menor qualidade, por força do desgaste físico (o Benfica estava a jogar menos de 72 horas depois do jogo das meias finais, o Sporting tinha-a jogados 24 horas antes) - o empate subsistiu até ao final. E o troféu foi decidido nos pontapés da marca da grande penalidade, nos penáltis, como se diz. 

Na primeira séria de cinco ninguém falhou, nem ninguém defendeu. E só não foram todos os dez excepcionalmente bem executados porque não se poderá dizer que o quinto do Benfica, marcado pelo Renato Sanches, tenha sido muito bem marcado. O guarda-redes do Sporting - Franco Israel devia estar com grande moral, sabendo que já contrataram o Rui Silva ao Bétis para o seu lugar - ainda tocou na bola. 

A partir daí quem falhasse perdia. Do lado do Benfica, Leandro Barreiro marcou o sexto, e Florentino - o homem do jogo - o sétimo. Ambos irrepreensíveis. Quenda ainda marcou o sexto, mas já aí tinha deixado francas possibilidades a Trubin de defender. Calhou a Trincão permitir-lhe a defesa decisiva.

Da festa. Merecida. O Benfica foi melhor. As estatísticas não mentem: o Benfica teve mais bola, mais ataques, mais remates (16, contra 10, e 4 contra 3 enquadrados), fez mais passes, e mais passes certos. 

Foi bonita, a festa. E foi muito bonito ver Trubin, em vez de sair a correr disparado para o festejo, dirigir-se a Trincão e abraçá-lo. A sua prioridade foi confortar um adversário, e isso é bonito. Como fez também, e foi igualmente bonito, Bruno Lage.

 

 

 

Perder a mostrar como ganhar

Cabia ao Benfica entrar mandão no jogo para tentar explorar o momento depressivo do Sporting,  acentuar a desconfiança dos seus adversários, e criar dúvidas à volta do novo comando técnico de Rui Borges, acabado de chegar. Por muito que "dérbi seja dérbi", com a sua imprevisibilidade, e até com a badalada tendência para favoritismos invertidos em função do momento das equipas, seria inevitável que uma forçada má entrada do Sporting marcasse o destino do jogo.

Mas bem sabemos que o Benfica, e em particular o de Bruno Lage, não é dado a essas coisas de entrar de peito feito nos grandes jogos, nos de maior exigência. Por isso permitiu que o Sporting crescesse em crença, errasse menos e crescesse no jogo. E passou a ser o Benfica a errar.

E como errou!

O golo que ditou o resultado, perto da meia hora de jogo, é o paradigma do erro: Otamendi errou, com uma mudança de flanco despropositada a enviar a bola para fora das quatro linhas; depois, a equipa desligou da reposição da bola; depois, ainda, Tomás Araújo falhou completamente a abordagem ao Gyokeres; finalmente ninguém compensou na defesa, permitindo que o Catamo surgisse sozinho na direita a rematar para a baliza.

E no entanto o Benfica sabia - e era capaz - de fazer isso. De entrar mandão no jogo e empurrar o adversário para as profundezas da sua depressão. Mostrou-o na segunda parte, com toda a clareza. 

Esse é o problema. Foi o problema hoje, como já o foi noutros jogos. Nos grandes jogos o Benfica reage, em vez de tomar a iniciativa. 

Se o Benfica foi capaz de ir para cima de um Sporting já refeito da depressão, moralizado por estar a ganhar, e por uma primeira parte de clara superioridade, e de criar situações de golo suficientes para ganhar o jogo, mais facilmente o poderia ter feito ao Sporting que iniciou o jogo. Bastava querer!

Não digo que o Bruno Lage não quis. Digo que não teve coragem, nem rasgo, nem ambição para o querer. 

Assim, o Benfica perdeu o jogo. Mal, porque ainda assim não o mereceu. Perdeu a liderança do campeonato, que tinha acabado de atingir. Caiu de primeiro para terceiro. E ressuscitou o Sporting!

 

 

O dérbi resolveu o campeonato

No dérbi em Alvalade o Benfica não repetiu a exibição da Luz, na passada terça-feira. Por isso, ainda que tenha feito suficiente para ganhar o jogo, perdeu-o. Inglória e imerecidamente, mas perdeu-o. E perdeu hoje o campeonato.

Ao intervalo o jogo estava empatado, com o Sporting a marcar nos primeiros segundos, e o Benfica nos últimos. Começa por aí a história do jogo: ninguém, nos primeiros segundos do jogo, pode ter feito o que quer que seja para justificar um golo; nos últimos segundos já tudo pode ter sido feito para o justificar.

O Sporting apanhou-se simplesmente a ganhar. Tudo começou num erro de António Silva, com um passe à queima para Bah, que o Pote aproveitou. Depois foi a premonição que a sorte estava toda virada para os de Alvalade: um ressalto que podia ter tido um destino qualquer acabou por levar Trubin, em rota de colisão com Otamendi, a desviar a bola para a frente (como na Luz) para Catamo fazer o golo.

Começando o jogo a perder o Benfica teve de se fazer à vida. E fez - repito, sem repetir a exibição da há dias na Luz - mas assegurando o domínio do jogo, e sendo melhor. Muita bola, muitos remates, muitos cantos, mas apenas um golo, e já nos últimos segundos. O Sporting pouco mais fez que limitar-se a esperar. A esperar erros do adversário, a esperar que o Gyokeres resolvesse e à espera que o tempo passasse. 

A segunda parte foi novamente diferente. Rúben Amorim voltou a cedo mudar as peças, e o Sporting passou a equilibrar o jogo e a geri-lo, satisfeito com o empate. Nas pequenas coisas, nos incidentes do jogo, a sorte sorria-lhe sempre. A bola sobrava sempre para os seus jogadores (o lance do remate de Gyokeres ao ferro é paradigmático: num "despacho" da defesa do Benfica a bola vai bater violentamente na cara do Hjulmand e teve de  ressaltar precisamente para o sueco, sozinho, com a baliza à frente). E, no que podia, o Artur Soares Dias, dava uma ajuda. Como fez, a mais de 25 minutos do fim do jogo, ao perdoar o segundo amarelo ao Hjulmand. Ao contrário do que, mais tarde, fez com Aursenes, hoje o melhor jogador do Benfica.

O Benfica ia criando algumas oportunidades. Golos é que não. A bola ou batia em Coates ou no ferro. Rúben Amorim esgotava as substituições (o Morita e o Gonçalo Inácio não atinavam, o Pote esgotou, e depois o Trincão, e o Hjulmand, tinha de sair, já tinha escapado por duas vezes à expulsão, e seria difícil continuar a escapar) à entrada do quarto de hora final. Schemidt fizera pouco antes a primeira (Tengstedt por Cabral). E ficou-se por aí. Já nos descontos, e já depois de o Sporting ter marcado, fez então duas. 

No fim, no primeiro dos seis minutos de compensação, Sporting marcou, e ganhou o jogo e o campeonato. Foi num canto, e a bola interceptada pela defesa do Benfica foi novamente direitinha para o pé do Catamo. O Benfica ainda voltou a ter oportunidade de evitar a derrota. Mas a sorte esteve sempre do outro lado ...

Um grande Benfica fez um grande dérbi

Os onzes de Benfica e Sporting para o dérbi. Tengstedt e Neres no ataque das águias, Esgaio e Bragança novidades nos leões

Foi um grande jogo de futebol, o dérbi desta noite na Luz, de bancadas cheias de novo.

Foi um grande jogo, e foi um grande jogo do Benfica. Na primeira parte - o melhor que se viu da equipa nesta época - foi absolutamente dominador. Ao intervalo já merecia ter resolvido a eliminatória, tal o domínio sobre o Sporting, e tantas as oportunidades de golo criadas. Noutras circunstâncias, ou noutras alturas, o jogo teria ficado arrumado logo no primeiro quarto de hora.

Diz-se que os dérbis são assim. Que normalmente quem está em melhor momento não é o melhor no jogo. E não ganha. O Sporting está num grande momento, mas o Benfica foi melhor. Muito melhor, na primeira parte, melhor na segunda, mas não ganhou.

Desta vez o Benfica surpreendeu. Surpreendeu os adeptos e o Sporting. Pressionou o adversário no campo todo, disputou cada bola com mais intensidade que o adversário e, depois ... tem melhores jogadores. Às vezes não parece, mas tem mesmo. E hoje, quando não foi só João Neves a correr e a ser intenso, e todos correram tanto, e com tanta intensidade, ou mais, que o adversário, viu-se.

É certo que, apesar disso, o Benfica não ganhou e ficou afastado da final do Jamor. Mas isso acontece algumas vezes no futebol. Nem sempre ganha quem é melhor.

Depois do "banho" da primeira parte, Rúben Amorim mexeu na equipa ao intervalo. E bem, melhor era impossível. Mudou as laterais (Esgaio e Diomandé, na direita, e Nuno Santos na esquerda, tinham simplesmente sido atropelados pela avalanche benfiquista) lançando St. Juste e Geny Catamo para o lado direito, e Matheus Reis na esquerda. 

Logo no arranque da segunda parte o central holandês lançou Gyokeres nas costas da defesa (subida) do Benfica. Segurou a bola e deu-a a Hjulmand para um remate feliz, e indefensável. Nem a absoluta falta de sorte, nem as adversidades da arbitragem - já lá vamos - impediram a resposta imediata do Benfica. E cinco minutos depois empatou, com golo de Otamendi, a passe de Neres.

Nem deu para festejar. E não foi por António Silva ter de imediato ido buscar a bola para a trazer para o centro do terreno. Foi porque dois minutos depois já o Sporting voltava a marcar. Desta vez foi Geny a cruzar, e Trubin a interceptar a bola para a deixar em Paulinho. 

Era de mais, mas era assim. E nem assim os jogadores do Benfica se deixaram abater. E continuaram incansáveis à procura do golo, que a sorte e a arbitragem nunca quiseram que acontecesse. 

O penálti - claro - de Coates sobre Rafa (70 minutos) poderia ter ajudado, mas nem o João Pinheiro, no campo, nem "o lagarto" Hugo Miguel no VAR, o quiseram que acontecesse. Já na primeira parte o mesmo havia sucedido com o mesmo Coates, então sobre Tengstedt. Dessa vez João Pinheiro optou por assinalar um fora de jogo que nunca existiu. O Hugo Miguel devia ter ido á casa de banho.

Houve mais. Di Maria fartou-se de levar pancada, sempre sem falta. E levou até um amarelo. O que nem Gonçalo Inácio levou quando se mandou a pontapé às pernas do Tengstedt, a caminho de se isolar para a baliza. Tudo isto em cima daquele golo anulado no jogo da primeira volta, em Alvalade.

É verdade que, ao contrário do que se passou do outro lado, as substituições tardaram. Já o guarda-redes do Sporting tinha - finalmente - visto o cartão amarelo por queimar tempo, quando Tengstedt saiu para entrar, desta vez, Marcos Leonardo. Já só faltavam 5 minutos para os 90 quando Neres, esgotado, foi substituído por Tiago Gouveia, ainda a tempo de desperdiçar duas claras ocasiões de golo. E jogava-se já o minuto 90 quando Florentino, exausto, saiu para entrar João Mário. E é verdade que nenhum dos que entraram esteve ao nível dos que saíram. Exactamente ao contrário do que se passou do outro lado. 

No fim, nem o insucesso impediu a Luz de aplaudir a equipa. Merecidamente. Os jogadores mereceram!

Não há vitórias morais, e a Taça já foi. Mas, se até ao final da época jogarem sempre todos assim, mesmo continuando a sortear o ponta de lança, é possível acreditar em tudo. Em ser ainda campeão, e até ganhar a Liga Europa.

Um dérbi com incidentes. Chamemos-lhe assim!

Sporting-Benfica a ferver: As imagens que não viu na TV

O dérbi desta noite em Alvalade fica marcado pela arbitragem de um lagarto, no campo, e de um super-dragão, no VAR. Enquanto Fábio Veríssimo ia inclinando o campo, e teve até a lata de assinalar um penálti num lance em que ninguém tocou no Edwards, e ainda por cima precedido de fora de jogo, no VAR, Fábio Melo recomendou-lhe a anulação do golo de Di Maria, que estabeleceria na altura o empate mas, mais que isso, daria completamente a volta ao jogo, como todo a gente percebeu.

Mas isto são os incidentes do jogo. Ou chamemos-lhe assim. O resto foi o jogo. O que foi, o que passou a ser, e o que não chegou a ser.

O jogo tinha em confronto duas ideias de futebol, já se sabia.

Este Sporting, de Ruben Amorim e em especial desta época, tem a sua matriz de jogo bem definida - pressão alta, para recuperar bolas perto da área adversária, alternada com períodos de bloco baixo, a chamar o adversário, para lhe abrir espaço nas costas por onde, nos melhores momentos do seu futebol, lançam alas rápidos ora em diagonais; ora em rápidas variações de flanco. No mais estereotipado basta-lhes lançar aquela espécie de "touro" de dois pés que é Gyokeres.

Este Benfica usa igualmente a pressão alta, e priveligia as transições rápidas através da capacidade de lançamento de Kokçu, da capacidade técnica de Di Maria e da velocidade de Rafa e Neres.

O Sporting faz mais passes - e posse - nas zonas mais recuadas do terreno. O Benfica mais em processo atacante. O Sporting é mais agressivo na disputa de bola. O Benfica não tem jogadores com as características de Hyulmand e Morita. 

Para impôr o seu estilo de jogo a um adversário como este Sporting, os jogadores do Benfica têm que ser perfeitos no passe e na recepção, precisamente o "alfa" e o "omega" do futebol. E hoje estiveram longe de o ser. Em especial Kokçu e Neres. 

O Sporting marcou cedo, ao nono minuto, no primeiro remate do jogo. Da cabeça do Pote, ao segundo poste sem marcação, a bola foi ao poste de daí para dentro da baliza. A ganhar desde bem cedo o Sporting ficava com o jogo a jeito, e passou gradualmente a impôr o seu futebol. O Benfica, falhando passes e recepções, perdia rapidamente a bola, permitindo ao Sporting ao domínio completo do jogo. Foi assim até ao intervalo.

A estratégia "de bola para o Gyokeres que ele resolve" só não funcionou porque António Silva ia salvando a nau, encontrando sempre forma de se opor ao ponta de lança sueco. O que o miúdo conseguiu praticamente sempre, não conseguiu Otamendi quando lhe chegou a vez de ficar na "cara do touro", e deu no 2-0, novamente com a bola a ressaltar do poste para dentro da baliza. Ao mesmo minuto 9, agora na segunda parte. 

Que começara com uma substituição estranha de Roger Schmidt, ao retirar Bah, o único lateral de raiz na equipa, para entrar Morato para a esquerda, com Aursnes a passar para a lateral direita. Nada mudava, e a ganhar já com uma vantagem confortável, o Sporting ia segurando a bola e controlando o jogo. Das bancadas saíam olés, que tiveram o condão de "acordar" dos jogadores do Benfica. 

Shmidt fez entrar Tengstedt para o lugar de Neres, o mais adormecido de todos. E os jogadores do Sporting começaram a evidenciar a quebra física que já não lhes permitia correr atrás das bolas todas (houve momentos impressionantes, e não foram poucos, em que eles partiam de mais longe da bola que os do Benfica mas chegavam lá primeiro) nem tapar todos os espaços. O jogo estava a mudar a olhos vistos e, ao minuto 68, Koçu abriu para Di Maria (esse nunca dormiu) que assistiu Aursnes para o golo. 

Três minutos depois Di Maria foi por ali dentro e, já bem dentro da grande àrea, rematou como só ele sabe. Era o empate, e o fantasma abatia-se sob as bancadas de Alvalade que pouco antes cantavam olés. Faltavam mais de 20 minutos e nunca se saberá o que iria acontecer. Sabe-se é que o super-dragão no VAR conseguiu - sem grande dificuldade, percebeu-se que era o que mais queria - convencer Veríssimo que Tengstedt, em fora de jogo posicional, tinha tido intervenção no lance.

E o jogo que poderia a partir daí ter acontecido não chegou a acontecer. O Sporting foi substituindo toda a defesa e meio campo, com muitos jogadores já de gatas. Até as pilhas falharam finalmente a Gyokeres, a demonstrar que afinal é humano, e as bancadas, que antes cantavam olés, exigiam ao seu amigo do apito que acabasse o jogo.

E assim o Benfica voltou a perder, três meses depois. Perder é sempre mau, no Benfica é péssimo. Jogar o que o Benfica jogou na primeira parte não é desejável que se repita. Mas a equipa saiu viva, e com bons sinais de saúde física. Viva para, daqui a mais de um mês, na Luz, disputar a passagem à final do Jamor, de que já temos muitas saudades. E para o jogo do próximo domingo, no Dragão!

 

Golpadas

Sporting prepara mais um assalto a um banco intervencionado

O Sporting limpou-se com mais de 100 milhões de euros de dívida. Metade, pelo menos a que tocou ao Novo Banco, pagamos todos nós. Com língua de palmo!

E ninguém sequer lhes chama caloteiros. Nem ninguém fala em concorrência desleal. Ainda lhes chamam é engenheiros. Ficaram sem uma dívida de cento e não sei quantos milhões de euros, e passaram a ter quase 90% da SAD, que agora irão vender a "investidor" qualquer. Golpada é como o futebol: "é isto mesmo"!

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