Mas então o que é que se passou? O que é que motiva ou justifica tantos foguetes?
Já não somos lixo?
Já temos um rating de gente grande?
Já podemos ir à vontade aos mercados, como gente séria e respeitável?
Já não corremos o risco de nos chamarem caloteiros, aí numa esquina qualquer?
Nada disso!
A Standard & Poor´s manteve a classificação de lixo, a notação BB que utiliza para investimentos de alto risco. E naturalmente pouco recomendáveis. O que a Standard & Poor´s anunciou hoje foi isso mesmo, que manteve a notação absolutamente inalterada. Mas que alterou a sua perspectiva: o outlook, como eles dizem!
Passaram de um outlook negativo para um estável. Quer dizer, antes achavam que era lixo mas ainda podia piorar; agora acham que é o mesmo lixo e que por aí se vai manter. Que daí não vamos sair…
Dirão agora os mais optimistas, aqueles que vêm sempre o copo meio cheio: “Bem, pode não ser bom, mas também já não é mau que essas agências pensem agora que, para pior, isto não vai”!
Lamento desiludi-los, mas a Standard & Poor´s também explicou por que é que fez tão significativa alteração. Por que é que hoje já pode achar que o lixo é estável quando ainda ontem achava que o lixo ainda podia piorar. Uma simples justificação: porque os ministros das finanças da União decidiram apoiar o alargamento dos prazos que Portugal e a Irlanda terão para pagar os seus resgates.
Quer dizer, à Standard & Poor´s essa coisa do "mais tempo" diz alguma coisa. Não diz grande coisa, mas…
No meio de tanta desgraça, sem nada a que se agarrar, Passos Coelho corre atrás da primeira cana de foguete que vê. E quer que festejemos com ele… Ridículo!
O inimputável é, apesar de tudo, um bocadinho mais esperto: vejam lá se o ouviram dizer alguma coisa?
A União Europeia (EU) reagiu à notação da Moody`s à dívida portuguesa de forma concertada - ao que pareceu – com as instituições nacionais. A reacção vale o que vale – que não é muito – e em particular a de Durão Barroso valeu pouco. Valeram bem mais as alemãs e valeu, essa sim porque foi bem para além da simples declaração formal, a do BCE ao declarar que deixará de condicionar a sua actividade pelas notações de rating.
Esta é uma decisão relevante e que há muito se impunha. O BCE, bem como os restantes organismos europeus, conhecem – têm toda a obrigação disso – as economias europeias e as condições financeiras dos estados membros. Nem o famoso caso grego serve para o pôr em causa. Os gregos não enganaram a União Europeia, esta é que quis deixar-se enganar! Já vinha dos tempos da integração no euro: a UE sabia perfeitamente que a Grécia não cumpria os critérios de adesão!
Não precisa, por isso, dos serviços das agências de rating e faz muito bem em dispensá-los. Percebe-se mal, de resto, a intervenção das agências de rating nas dívidas públicas, mas isso é outra história.
Esta é uma decisão eficaz e com todo o sentido: de oportunidade e de princípio. Já a anunciada criação de uma agência de rating europeia – prevista lá para o Outono mas que António José Seguro pateticamente reclama para já – não faz qualquer sentido. Se as agências americanas não estão acima de suspeição, a resposta tem que ser dada através dos dispensa dos seus serviços, nunca substituí-las por outras criadas com todo o ar de quem procura favorecimento (a agência chinesa foi criada num cenário que nada tem a ver com o que actualmente vive a Europa).
Outra coisa seria o lançamento não de uma, mas duas ou mesmo três novas agências que alarguem a oferta e confrontem o oligopólio americano com uma concorrência séria. Porque, para além de todas as suspeitas, há os factos: estas empresas, ligadas aos interesses financeiros americanos, tiveram uma participação escandalosa na crise financeira mundial de 2008 que ainda hoje asfixia milhões de pessoas por esse mundo fora. E isto não pode continuar como se não tivesse acontecido!
Foram as mais diversas, dos mais variados sentidos e orientações e até, muitas das vezes, dos mais variados disparates, as reacções que atravessaram o país na sequência do downgrading da notação da Moody`s à dívida portuguesa.
Há pouco mais de um ano pouca gente em Portugal sabia o que era o rating. Poucos tinham ouvido falar em agências de rating e começavam então a aprender a soletrar nomes: Fitch, Standard & Poor´s e Moody`s!
Das mais diversas e desencontradas reacções há uma que me impressionou particularmente e que apontava para a desresponsabilização do governo anterior. De apagador na mão, logo houve quem corresse a gritar: “Vêm como isto nada tinha a ver com Sócrates?”
Impressionou-me a rapidez com que as forças arregimentadas à volta de Sócrates correram a agarrar esta oportunidade. E não posso deixar de repetir que a governação de Sócrates tem tudo a ver com isto, que foi ela – a pior do regime democrático - que, não sendo a única responsável pelo estado a que chegamos, trouxe o país para a banca rota. Como não posso deixar de entender a expressão de Pedro Passos Coelho quando diz que recebeu a notícia com um murro no estômago! Todos a percebemos!
Mas confesso que não me impressionou menos a forma como, agora na esfera do apoio ao governo, saltaram vozes a acusar de dedo em riste as agências de rating, em colisão frontal com o que, em idênticas circunstâncias, diziam poucos meses antes. Se isto não credível nem sério, e legitima as atitudes que pretendem apagar as responsabilidades de José Sócrates, passa a intolerável quando entre essas vozes se identifica a de Manuela Ferreira Leite e, muito especialmente, a do Presidente da República. Deplorável: isto também é lixo!
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