Cristiano Ronaldo não é a fonte de onde brotam todos os problemas da selecção. Mas que de lá sai a maior parte deles, ficou hoje mais que demonstrado.
Os que não têm essa origem, têm-no, como tem sido dito e redito, por aqui e não só, no seleccionador. Na sua ideia de jogo que mata à nascença o talento e a alegria de jogar destes jogadores, mas também naquilo que tem sido a notória subserviência a Ronaldo.
Hoje Fernando Santos libertou-se dessa subserviência e, com isso, libertou os jogadores para uma exibição e um resultado que, agora sim, dá sentido às palavras que antes eram proferidas em vão. A proclamada aspiração de ser campeão do mundo, que antes era ridícula, é hoje ambição legítima.
Acredito, e creio que a maioria das pessoas que acompanham estas coisas também, que na origem de tudo o que hoje mudou na selecção portuguesa esteja o episódio do minuto 67 do jogo com a Coreia.
As palavras de Ronaldo no momento da sua substituição, foram uma óbvia traição a Fernando Santos. Traição de Ronaldo, porque o tem defendido, acima de tudo e de todos. E traição da estrutura da Federação porque, para defender o jogador do indefensável, o projectou, mais que para o ridículo, para a indignidade e o descrédito.
Ao fabricar aquela patética "concertação" de comunicação, escondendo-lhe o que tinha sido testemunhado por dezenas de câmaras de televisão, e impingindo-lhe um insulto de lana caprina a um coreano qualquer, a Federação atingiu-o na própria dignidade.
Traído, Fernando Santos, percebeu finalmente que, para sobreviver, teria de se libertar da teia de cumplicidades que o envolvia. E de mudar de paradigma.
E ganhou respeito. Dos adeptos, mas acima de tudo dos jogadores.
Ronaldo ficou no banco, como não poderia deixar de ser. Não ficavam resolvidos todos os problemas da selecção, como os primeiros 10 minutos do jogo demonstraram. Mas ficaram resolvidos quase todos.
Foi o tempo que os jogadores demoraram a soltar-se e a habituarem-se ao novo paradigma de liberdade, que lhes permite jogar o que sabem. A partir daí foi jogar à bola.
E isso todos sabem fazer. João Félix, Bernardo Silva, e Bruno Fernandes como poucos. E como jogaram ... E como jogou, e o que trouxe Gonçalo Ramos para o futebol da selecção. Com três golos - o primeiro hat-trik deste Mundial - e ainda uma assistência para Rafael Guerreiro, no quarto golo.
Foi "só" isso o rendimento do substituto de Ronaldo. Saiu a 20 minutos do fim, com o resultado em 5-1, para entrar Ronaldo, numa substituição que se entende perfeitamente. Que reforça a autoridade do seleccionador, protege a equipa e ... protege Ronaldo. Que continua a não saber proteger-se. Foi o primeiro a sair para o balneário, deixando os colegas no relvado a festejar o apuramento. Por ele, só festeja os seus êxitos pessoais!
A fechar uma grande exibição, e um resultado histórico, sem paralelo nestes oitavos de final, um grande golo de Rafael Leão, um dos últimos a entrar, mas ainda a tempo de deixar a sua marca num jogo onde a Suíça foi completamente atropelada, e vergada a - certamente - uma das derrotas mais pesadas da sua História.
Agora, nos quartos, segue-se a sensacional selecção de Marrocos. Com os novos horizontes abertos por este dia histórico para a selecção nacional é legítimo, agora sim, aspirar às meias finais. E, para já, repetir 1966 e 2006.
Há precisamente uma semana dizia aqui que aquela exibição com a Suíça não prometia grandes cometimentos. Que simplesmente tinha corrido bem. E que com aqueles jogadores, quando corre bem...
E, não. Não voltou a correr bem. Na passada quinta-feira, com a Chéquia (2-0), como agora se diz, ainda se salvou o resultado. Hoje, em Geneve, na Suíça, já nem para salvar o resultado deu. O golo de Seferovic, logo aos 50 segundos do jogo, desta vez valeu. E valeu tanto que, para além de ter valido o resultado, e ditado a derrota da selecção que lhe complica as contas do apuramento para a fase final da Liga das Nações, deixou logo o jogo no tabuleiro que os suíços desejavam. E que já tinham procurado no jogo do passado domingo.
Quando uma equipa tem processos assimilados, podem trocar-se três ou quatro jogadores - sete, como hoje fez Fernando Santos, já pode ser mais complicado - sem que o colectivo se ressinta. Até porque qualidade não falta a praticamente todos. Se não há processo, como claramente a selecção não tem, tudo fica a depender da inspiração dos jogadores, e das suas decisões em campo.
Foram muitas as mudanças que Fernando Santos fez na equipa que hoje iniciou o jogo. Em todas elas, os que hoje entraram hoje de início, são de qualidade inferior aos que ficaram de fora. Mas, mais que isso, flagrante é a entrada de Rafael Leão. Não é que "o melhor jogador da série A italiana" não seja jogador para a selecção. O futebol que joga é que não é futebol para a selecção. Para esta equipa, e para estes jogadores. Ao colocá-lo na equipa inicial Fernando Santos deixou aquela ideia que, para quem não sabe para onde vai, todos os caminhos servem.
Na segunda parte, corrigido esse equívoco com a entrada de Diogo Jota, e Gonçalo Guedes, e depois Bernardo Silva (Mateus Nunes e Ricardo Horta já entraram tarde de mais), a qualidade do jogo português melhorou um bocadinho. Não muito, mas chegou para surgirem finalmente oportunidades suficientes para que o resultado fosse outro. Como bem mereciam os portugueses presentes no estádio, em aparente maioria, que se não cansaram de puxar pela equipa.
Em S. Petresburgo Espanha e Suíça abriram os jogos dos quartos de final. Depois da surpreendente eliminação da França, e apesar disso, a Suíça não parecia ter grandes possibilidades de impedir a presença da Espanha nas meias-finais. E no entanto esteve tão perto disso…
Os espanhóis apresentaram-se com o seu futebol habitual, certinho, a fazerem tudo bem feito. E cedo chegaram ao golo, que tem sido sempre a sua maior dificuldade. E ainda por cima com sorte, a bola rematada por Jordi Alba não entraria na baliza se não tivesse para lá sido encaminhada pelo defesa suíço, Denis Zakaria, a fazer o décimo auto-golo deste Europeu. Um recorde!
Tomaram conta do jogo, com o seu futebol tipo relógio … suíço. Os suíços não tinham relógio, nem bola, que era o que mais lhe importaria. Corriam atrás dela e dos jogadores espanhóis, que não a largavam.
Mas também não voltariam a marcar, nem sequer a criar grandes situações para isso. É que este relógio suíço em que se transformou o futebol desta Espanha de Luís Henrique, é mesmo isso. Certinho, sempre no mesmo tic-tac - não confundir com tiki taka, que isso era outra coisa, que Xavi e Iniesta levaram quando se retiraram - monocórdico e inconsequente. Falta-lhe rasgo e velocidade. Principalmente mudanças de velocidade, coisas que partam a louça toda, que provoquem distúrbios na organização das equipas adversárias.
E assim é relativamente fácil aos adversários resistirem àquele futebol, e depois aproveitarem um erro qualquer - há sempre erros a acontecerem, mesmo que sejam poucos - para lhes trocarem as voltas ao resultado. Tem sido demasiado assim nesta competição, onde os espanhóis apenas ganharam um jogo no tempo regulamentar, e foi à Eslováquia.
Hoje voltou a ser assim, e uma hora depois de terem sofrido o golo que marcaram na própria baliza, os helvéticos empataram. Desta vez não foi o guarda-redes, foram os dois centrais: Laporte e Pau Torres foram ambos à mesma bola, um cortou-a contra o outro e ela sobrou para Shaquiri fazer o golo.
Ia a segunda parte a meio, os espanhóis tinham ainda muito tempo para voltar a acertar o relógio do resultado. Não seria muito difícil, e menos ainda porque poucos minutos depois, Freuler, o possante centro campista suíço, que era um dos que mais corria atrás da bola e dos espanhóis, foi expulso. Nem assim, com um a menos, as coisas passaram a ser mais difíceis para os suíços. Porque a roja jogava exactamente da mesma forma certinha, rodando o jogo, circulando a bola, mas sempre ao mesmo ritmo, à mesma velocidade.
Os jogadores da Suíça não saíam da sua área, nem precisavam. Bastava-lhes esperar lá pela bola, e voltar a entregá-la para voltar a esperar por ela. E assim sucessivamente. Durante os vinte minutos finais da partida e os mais os trinta e tal do prolongamento. Quando assim não era, lá estava Sommer, certamente um dos melhores guarda-redes deste Europeu.
E lá vieram os penaltis, com tudo para correr mal à Espanha. Tinha falhado todos - e já tinham sido muitos - os que tivera para marcar. E do outro lado estava um guarda-redes super inspirado e moralizado pela excelente exibição que acabara de fazer. E jogadores que tinham eliminado a França dessa maneira, convertendo cinco em cinco.
Para que a tempestade fosse perfeita, chamado a marcar o primeiro penalti, Busquets falhou, atirou ao poste. E Granavovic. logo a seguir, marcou o primeiro da Suíça. Só que foi o único a acetar nas redes. Até deu para Rodri voltar a falhar, e a Espanha apurar-se convertendo apenas três pontapés!
E a verdade é que a Espanha chega às meias-finais sem convencer ninguém. Mas lá está, e o importante é lá estar. Sem lá chegar não se chega a lado nenhum!
O terceiro dia dos oitavos foi memorável, com dois grandes jogos. Com tudo o que de melhor há a esperar de um espectáculo de futebol. Com muitos golos, que é aquilo que sempre mais se espera de um grande jogo, com reviravoltas no marcador, e muitas surpresas. A maior, claro, a eliminação do campeão do mundo, a super-favorita França..
A jornada começou em Copenhaga, no Parken Stadium, com um emocionante Croácia - Espanha com oito golos. A história deste jogo começa aos 20 minutos, quando o miúdo Pedri, aos 18 anos um craque da cabeça aos pés, atrasou a bola para o seu guarda-redes que ... deixou-a passar por baixo do pé para dentro da baliza.
Foi o primeiro grão de areia na engrenagem da máquina do futebol espanhol, uma máquina muito nova, pela primeira vez sem uma peça do Real Madrid, mas que não engana. É fiável, como já são as máquinas espanholas. Talvez pela juventude, a equipa ressentiu-se, e andou um bocadinho por ali atrapalhada. Demorou 20 minutos a chegar ao empate, por Sarabia, com que terminou a primeira parte.
Cedo, ainda antes de se esgotar o primeiro quarto de hora da segunda parte, passou para a frente, com um belo golo de Azpilicueta. Em desvantagem, os croatas vestiram de espanhóis e, armados da fúria espanhola, passaram a discutir o jogo e o resultado palmo a palmo. Estavam por cima do jogo quando, já dentro do último quarto de hora, Ferran Torres fez o terceiro da Espanha.
Um rude golpe, uma machadada, nas aspirações croatas? Qual quê. Nem pensar!
Menos de dez minutos depois reduziram, num golo de Orisic em que a bola se fartou de ser pontapeada até entrar. E entrou mesmo, disse a tecnologia de baliza, porque a olho nu não ficava fácil de ver. Faltavam 5 minutos para os 90, e o seleccionador croata meteu o que tinha e o que não tinha dentro da área dos espanhóis, impedindo-os de se espraiarem pelo campo, e de "matarem" as suas jogadas à nascença. E ao segundo minuto dos 4 ou 5 da compensação, empataram o jogo com um golo de Pasalic (só nomes desconhecidos), e mandaram-no para prolongamento.
Era já uma surpresa, e não apenas uma meia surpresa. O prolongamento permitiu à maquina espanhola retomar, se não o seu normal funcionamento, pelo menos a sua matriz operacional. E ainda na primeira parte do prolongamento, em três minutos fizeram dois golos - aos 100, Morata (finalmente; e que execução!) e aos 103, Oyarzabal, fecharam o resultado de um jogo louco.
E lá está a Espanha, à espera da ... Suíça!
Que noutro jogo fantástico, em Bucareste, com o mesmo resultado - e até com a mesma evolução do marcador - no final dos 90 minutos, e certamente na surpresa maior deste Europeu, eliminou a França.
A Suíça começou bem cedo a surpreender, ao impor-se à super-favorita selecção francesa. Chegou ao golo, por Sefevorivic, numa excelente execução de cabeça, aos 15 minutos, e nunca se deixou inferiorizar no jogo. Ao intervalo vencia, justamente.
Nos 10 minutos iniciais da segunda parte o jogo manteve as mesmas características, não obstante as alterações que Deschamps introduziu na equipa. Sem lateais esquerdos, com Hernandez e Digne lesionados, tinha optado, sem sucesso, pela moda dos três centrais, e na segunda parte achou por bem regressar à defesa a quatro, recuando Rabiot e fazendo entrar Coman.
A melhor oportunidade de golo tinha já pertencido aos helvéticos quando, precisamente aos 10 minutos, Pavard faz penalti. Rodriguez marcou fraco e permitiu a defesa a Lloris, e o que poderia ter sido o 2-0 da machadada final nos campeões do mundo, acabou por virar o jogo. Empolgou os franceses e destruiu a moral e a organização dos suíços. Nos 3 minutos seguintes a França criou a sua melhor oportunidade de golo (Mbappé) e marcoiu dois golos por Benzema.
Estava dada a volta ao marcador, a equipa suíça estava destroçada, e pensava-se que só poderia acontecer o que era inevitável. Mais ainda quando precisamente à entrada do último quarto de hora Pogba fez um dos melhores golos deste Europeu.
Nada disso. A Suíça renasceu das cinzas e, a menos de 10 minutos dos 90, Seferovic voltou a marcar mais um belo golo, de cabeça. Para aos 90, Gavranovic empatar o jogo.
Para que a emoção fosse ainda maior, na compensação Coman atirou à trave, o prolongamento não deu em nada e vieram os penaltis. Ninguém falhou até ao último penalti. O décimo, que Mbappé - veja-se bem - não concretizou, permitindo a defesa de Sommer.
A selecção nacional de futebol venceu a da Suíça e vai disputar a final da nova Taça das Nações, no próximo domingo. Mas continua a não limpar a imagem que vem trazendo dos jogos de apuramento para o Euro 2020, longe, muito longe da qualidade que se exige a este conjunto de jogadores fantásticos de que dispõe.
Fica a ideia que Fernando Santos é tão bom a falar do talento como a desperdiçá-lo. É verdadeiramente deprimente este futebolzeco deste seleccionador!
A selecção suíça, que a sorte (ou os interesses da UEFA?) colocou frente à selecção portuguesa nesta meia-final, e claramente a mais acessível das quatro finalistas, foi quase sempre melhor. Mesmo assim foi a equipa nacional a chegar ao golo, ia a primeira parte a meio, num livre de Cristiano Ronaldo. chegando ao intervalo na frente do marcador. Mas sem o justificar, a selecção Suíça dispôs de muitas mais oportunidades para marcar, com Seferovic em destaque.
Na segunda parte nada se alterou para melhor no futebol dos nossos craques, e os suíços continuaram melhor no jogo, chegando bem cedo ao empate, num penalti esquisito, que o árbitro assinalou depois de recorrer ao VAR, quando tinha precisamente assinalado outro, a favor de Portugal, na outra área.
A partir do golo do empate o jogo caiu ainda mais. A equipa helvética parecia satisfeita com o resultado, e procurou segurá-lo. À portuguesa continuava a faltar futebol para fazer melhor.
Estava o jogo nisto, com ambas as equipas à espera do prolongamento, numa espécie de pacto de não agressão, quando um grande passe de Rúben Neves encontrou o talento de Bernardo Silva que, de primeira, colocou a bola para o remate, também de primeira, de Cristiano Ronaldo, fazer o segundo. Estava-se em cima do minuto 90 e, logo a seguir, quando o adversário partia para o forcing final, uma perda de bola acabou no brilhante hattrick de CR7. E num 3-1 que não tem nada a ver com o que foi mais uma exibição pobre desta selecção que não se encontra com os seus talentos.
Argentina e Suíça abriram o dia da despedida dos oitavos de final do mundial, num jogo igual a tantos outros, com o favorito a não provar o privilégio de o ser.
A equipa europeia vestiu de vermelho e o hino era o da Suíça mas, apesar de ter jogadores melhores, bem podia estar de azul e chamar-se Grécia… A sul-americana foi a Argentina que se tem visto, igualzinha… Não tão má quanto a do primeiro jogo, cheia de defesas, mas nem por isso muito diferente.
Não admira por isso que na primeira parte as ocasiões de golo tenham sido uma raridade, e apenas para o lado da selecção europeia. Da Argentina, nada. Nem Messi!
E o jogo continuou assim na segunda parte, ainda com mais uma boa oportunidade para os suíços. Até se chegar à hora de jogo.
Não que alguma coisa tenha mudado na Argentina – a teimosia é um dos mais apreciados atributos dos treinadores, mas este seleccionador argentino não precisava de levar tão longe a sua admiração por Paulo Bento – mas porque o adversário começou a cair fisicamente. O vai e vem começou a ser mais difícil, e a Suíça começou a mostrar outro produto: queijo, com uns buracos à vista, em vez do relógio, certinho.
Mas nem isso valeu aos argentinos. E como Messi apenas apareceu em duas ou três ocasiões, lá veio mais um prolongamento. Não menos penoso que todos os outros…
Di Maria continuou a ser o melhor, e a merecer o golo, que o nosso conhecido Diego Benaglio não merecia sofrer. No último minuto!
Nos três minutos de compensação, com um coração do outro mundo, a Suíça jogou com Benaglio na área adversária, e podia ter empatado. Teve ainda uma bola no poste…
Sorte para a Argentina, que Sabella não merece. Nem essa nem a de escolher jogadores num dos maiores e melhores viveiros do planeta!
No outro jogo, que fez cair definitivamente o pano sobre os oitavos, voltamos a ter oportunidade de nos lembrar de Paulo Bento e dos seus rapazes. Eram eles que ali deviam estar…a correr e a lutar como aqueles!
Mas eram os americanos que lá estavam. Com a Bélgica, aquela promessa de grande selecção a parecer interessada em chegar lá. E o jogo foi muito disso, com os americanos a fazerem lembrar o jogo com os portugueses, - muito longe da equipa que os ganeses tinham dominado – até mesmo na exploração do corredor direito. Mesmo que sem o buraco que Raul Meireles, Miguel Velosos e André Almeida abriram, e mesmo que sem Johnson, o pulmão daquela asa, substituído por lesão. E os belgas, particularmente na segunda parte, porque na primeira não foi tanto assim, a projectarem-se para bem perto do que se pode esperar do somatório dos seus valores individuais.
E já que se fala de promessas deve já dizer-se que este foi um jogo que, sem ter prometido muito, cumpriu tudo. Pode não ter sido técnica e tacticamente um grande jogo de futebol mas foi, no fim dos 120 minutos que teve, um espectacular e emocionante jogo de futebol. Daqueles que nos fazem vibrare que tenderemos a não esquecer!
As oportunidades iam-se sucedendo mas, ora por alguma inépcia dos belgas, ora pela excelência das intervenções de Tim Howard – que grande exibição do veterano gurada-redes americano – os golos é que não. Curiosamente seria dos americanos o mais clamoroso dos falhanços, já nos últimos segundos do tempo de compensação.
E lá veio mais um prolongamento, o sexto, em oito jogos!
E Lukaku, o jovem belga que o Chelsea anda a emprestar a uns e a outros. Que tomou conta da história do jogo, a construir o primeiro golo logo a abrir, concluído por Kevin de Bruyne e, em inversão de papéis, a marcar ao fechar da primeira parte.
Parecia que tudo ficava resolvido. Nada disso, porque este era um jogo de emoções. Klinsmann lançou um miúdo de 19 anos - viu, Paulo Bento?-, Green, que logo marcou mudando por completo o jogo. Que afinal até podia ter tido um resultado diferente!
O primeiro jogo do grupo E - o tal, feito por encomenda - entre a Suiça e o Equador, terá sido o mais morno de todos, a convidar mesmo a uma soneca, mesmo ao jeito da hora do jogo, a que nem mesmo os fusos horários trocaram muito as voltas. Ia mesmo dando o primeiro empate da competição, o resultado normal destes jogos que dão sono… Mas acabou por não dar, a quinze segundos do final do jogo que teve três minutos de compensação a Suiça, que ao intervalo perdia por 0-1, marcou o segundo golo e desfez o empate, provavelmente o resultado que mais se ajustava ao jogo. Fraco, repito!
Curioso é que a Suiça, sem que aí nunca atinja prestações dignas de qualquer realce, está quase sempre presente nas fases finais das grandes competições. Quase sempre em razão de sorteios muito simpáticos, como aconteceu na fase de apuramento (com a Islândia, Chipre, Albânia, Eslovénia e Noruega) e se repetiu agora. Depois desta vitória, caída do céu nos últimos segundos, sobre um adversário acessível como é o Equador, restando-lhe as Honduras e a França, tem praticamente garantida a presença nos oitavos de final. O facto da FIFA estar sedeada na Suiça e de Blatter ser um cidadão suíço – e Platini, francês – não são mais que simples coincidências. Nem a tragédia que foi a participação francesa no último mundial – e no antepenúltimo – tem nada a ver com a constituição deste grupo. É apenas sorteio!
A França, de Platini, mas também, lá dentro, de jovens como Varane, Pogba, Matuidi, Cabayé, Valbuena, Griezmann... tudo de primeira água, ganhou facilmente às Honduras, uma selecção assim para o fraquinho, mas das rijas. Durinha, mesmo. Talvez por isso tivessem sido dispensados os hinos… Para evitar que os hondurenhos, que aguentaram até mesmo à beira do intervalo, levassem a coisa ainda mais a sério!
Resistiram até onde puderam, e a sorte – duas bolas na trave da sua baliza – ajudou. Depois, já com a praia ali tão perto, foi o penalti e a expulsão de Palácios. Porque um azar nunca vem só, o segundo golo surgiu logo no arranque da segunda parte, quando a sorte de uma bola do poste vira logo azar, ao bater no guarda-redes hondurenho e entrar. Sem dúvidas, porque agora já há chip na bola!
A segunda parte foi, por isso, um treino de ataque da equipa francesa. Os hondurenhos aproveitaram também para treinar… mas foi mais afinar a pontaria às pernas dos adversários. No fim, a França com 3-0 e Benzema em grande, entrou bem no Mundial. Como se pretendia, e não acontecia desde 1998, em França!
Mas o momento alto do dia foi a estreia de duas entidades míticas. O momento M, de Maracanã e Messi, juntos pela primeira vez!
Messi chegou tarde ao encontro, com mais de uma hora de atraso, e valeu à Argentina a estranha generosidade que se abateu sobre os defesas neste mundial. Mais um auto-golo, logo aos dois minutos, ditou a vantagem imerecida da selecção das Pampas ao intervalo. Porque surpreendentemente a Bósnia foi melhor, e foi mesmo a única equipa a criar oportunidades de golo. Dos dois guarda-redes, apenas o argentino teve trabalho!
Não se sabe muito bem o que terá passado pela cabeça do seleccionador argentino quando escalou a equipa inicial. Apresentou-se com três centrais, um dos quais o Garay, que vale por dois. Mas, com Mascherano à frente deles, e com o Rojo na esquerda, passam a ser cinco. Com Zabaleta, na direita, passam a ser seis os defesas. Como inventou ainda o regresso do velho Maxi Rodriguez, que apenas andou por lá, nada mais, sobravam Messi, Di Maria e Aguero para agarrar no jogo. Não dava. Nem estavam para isso!
Ao intervalo o treinador argentino mudou, e nem precisou de reparar que tem lá um rapaz no banco chamado Enzo Perez. Bastou passar para quatro defesas, meter um jogador no meio campo e outro na frente. Para que o jogo mudasse e aparecessem as estrelas... E chegasse Messi ao jogo, para fazer o segundo golo. Que só não arrumou com a questão porque a Bósnia, se bem que em circunstâncias mais esporádicas que as da primeira parte, ainda marcou, a pouco mais de cinco minutos do fim.
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