Não há coincidências e o subconsciente é tramado
Não há coincidências!
O PS, que há poucos dias tinha nas sondagens uma vantagem de 10 pontos percentuais sobre o PSD, tem agora, na última, de ontem mesmo, apenas quatro. Tecnicamente, tendo em conta a margem de erro, significa empate.
Não há volta a dar. Pode especular-se sobre muitas razões, mas a única objectiva é a introdução sa maioria absoluta no discurso de António Costa. Os debates não correram assim tão bem a Rui Rio, nem assim tão mal a Costa. O desgaste deste não acelerou assim tanto nos últimos dias, como não acelerou assim tanto o élan de Rio. A pandemia acelerou, mas também já passou por drama maior, apesar de tudo.
E poderíamos continuar a desfilar razões de pormenor para procurar justificação para tão pronunciada inversão da tendência das sondagens. Não me parece que encontremos explicação para, de um resultado à beira da maioria absoluta, o PS cair para um que coloca em causa a simples vitória eleitoral, que não a menção clara e inequívoca à própria maioria absoluta.
"Os portugueses não gostam de maiorias absolutas" - era a convicção de António Costa. Em 2019, nestas mesmas circunstância de campanha eleitoral, afirmava, alto e bom som: "Eu não tenho dúvidas nenhumas que os portugueses não gostam de maiorias absolutas e têm más memórias das maiorias absolutas, seja do PSD, seja do PS".
Porquê, então, este tiro no pé?
Porque não tem memória, e julga que os portugueses também a perderam? Porque a soberba lhe toldou a razão? Por desrespeito a si próprio e aos eleitores?
Não creio, mesmo que qualquer desta hipóteses não possam, de todo, ser descartadas. Creio que é simplesmente o subconsciente a funcionar. Como Freud demonstrou nos ensinou, o subconsciente é uma zona intermédia do nosso processo psíquico, onde armazenamos tudo o que a consciência não aceita.
Conscientemente podemos mentir, e omitir. Mas o subconsciente não mente, tem sempre a verdade para mostrar!
Por muita má memória que tenhamos, e por muita lavagem cerebral que tenha sido feita, lembramo-nos bem de como a geringonça foi dinamitada. Lembramo-nos bem da inflexibilidade de Costa em todo o processo do Orçamento, o mesmo que agora mostra triunfalmente para as câmaras de televisão. Lembramo-nos daquele tempo. Tempo de PRR, e tempo de definhamento na oposição de direita, com o CDS em passo acelerado para a implosão, e com o PSD em guerra aberta e Rui Rio pelas ruas da amargura. O notório crescimento da extrema direita era só mais uma peça favorável do puzzle. Só ajudava.
Lembramo-nos que foi assim, por muito que toda a gente nos tenha vindo a dizer outra coisa. Foi com este cenário que Costa contou as favas contadas. Para completar o cenário perfeito bastava-lhe acusar os seus antigos parceiros de geringonça pela responsabilidade da crise política, e isso não lhe colocava qualquer dificuldade.
A estratégia parecia não ter por onde falhar. Mas tinha. Ele só tinha controlo sobre a parte que lhe cabia, a demonização da geringonça. A crise nos dois partidos à sua direita não estava nas suas mãos. E escapou-lhe, apesar da ajuda do líder do CDS!
Tudo arrumado no subconsciente. Até que, logo após o debate com Rui Rio, na flash interview, com o consciente a constatar que não tinha corrido lá muito bem, o subconsciente emergiu. Com a verdade, como sempre.
E essa é muitas vezes tramada...