O primeiro quarto de hora do jogo de hoje com a Suíça, depois de mais uma exibição menos que sofrível na passada quinta-feira com a Espanha, onde se salvou o empate (1-1) - os onzes das duas equipas nesse jogo, com o português com jogadores mais valiosos na maioria das posições, seja qual fôr o critério, tornou ainda mais inaceitável a diferença da qualidade do futebol entre as duas equipas - e onde os jogadores ouviram olés, apontava para mais um jogo deprimente da selecção portuguesa.
Eram 11 jogadores em campo, mas nada que tivesse alguma coisa a ver com uma equipa, e o descalabro ficou à vista quando a selecção suíça marcou, logo aos 4 minutos. Valeu o VAR, que descortinou uma mão de um atacante suíço, antes de a bola sobrar para Seferovic a rematar para dentro da baliza, de novo defendida por Rui Patrício. Só que o jogo - "o futebol é isto", diz-se em futebolês - tem mistérios insondáveis, e tudo mudou quando, aos 15 minutos, na primeira vez que os jogadores (ainda não eram uma equipa) portugueses chegaram perto da área adversária, surge uma falta. Do livre, cobrado evidentemente por Cristiano Ronaldo - de novo titular depois de ter entrado a partir do banco no jogo de Sevilha, a bola desviou num defesa adversário e dificultou a defesa do guarda-redes, que a soltou para a frente, surgindo William para a meter dentro da baliza.
E tudo mudou nesse momento. Começou por emergir precisamente William, cuja presença na equipa, e talvez até na convocatória, pareceu estranha a muita gente, onde me incluo. Era mais uma das estranhas opções de Fernando Santos, mais uma das suas teimosias. Mas a verdade é que foi mesmo ele que agarrou a equipa. Agarrou-a pelo golo, e arrastou-a para um vendaval de futebol. Tudo o que de bom a selecção fez naqueles minutos seguintes passou pelos seus pés.
Claro que a reacção da equipa helvética ao golo, com o domínio do primeiro quarto de hora na cabeça, e o sentimento de injustiçada, ajudou. Procurou retomar esse domínio, veio para a frente, e deixou espaços que William facilmente descobriu para lançar jogo, e a equipa passou a funcionar. E, de repente, a jogar do melhor futebol que se tem visto selecção, e que há muito se não via. Um autêntico vendaval de futebol, à medida da qualidade dos jogadores, finalmente confortáveis no jogo.
Ao intervalo o marcador estava em 3-0, com mais dois golos de Cristiano Ronaldo, em menos de cinco minutos. Mas bem podia ter ficado no dobro, pelo menos, depois daquela meia hora de luxo.
Na segunda parte, mesmo que compreensivelmente jogada a ritmo mais baixo, a selecção manteve o nível exibicional bem alto. Só deu mais um golo - aquele golo fantástico de João Cancelo, numa grande exibição, a melhor entre tantos outros bons desempenhos individuais - mas o resultado bem poderia ter ficado nos oito ou nove. O resultado, e aquele primeiro quarto de hora, são as melhores recordações que a selecção suíça levou esta noite de Alvalade. Seferovic leva ainda na memória uma grande assobiadela, mas isso é outra coisa...
A exibição da selecção foi muito boa em 5/6 do jogo. Mas não dá para embandeirar em arco, nem para esperar grandes cometimentos a partir daqui, e em especial para o Mundial, lá para o final do ano. Aconteceu, é certo. Mas não garante qualquer ponto de viragem na selecção. A ideia que fica é que ... correu bem. Só isso. Com estes jogadores, quando tudo corre bem, pode sempre acontecer um jogo destes. Consistência, estratégia de jogo, coragem e a força mental colectiva são condições necessárias para fazer de grandes jogadores uma grande equipa. Às vezes basta que tudo corra bem, mas isso é só às vezes.
As revelações deste fim de semana da investigação do chamado Suisse Secrets, com epicentro no Credit Suisse - o segundo maior banco suíço e um dos maiores do mundo, até há poucas semanas liderado por António Horta Osório - confirmam o sistema financeiro helvético como o paraíso do dinheiro sujo e criminoso.
Lá constam os nomes de Álvaro Sobrinho e Helder Bataglia, ao lado de outros grandes nomes da corrupção instalada em governos e administrações das mais diferentes latitudes, da Venezuela ao Egipto, da Jordânica ao Paquistão, passando por toda a África.
É para que esse paraíso se mantenha que os pedidos da Justiça por parte de países que se proponham a investigar crimes financeiros caem sistematicamente em saco roto. Que as cartas rogatórias ficam sem resposta, até que os processos prescrevam. Ou que estas revelações não sejam sequer notícia na Suíça por, desde 2015, os jornalistas estarem legalmente impedidos (pena até três anos de prisão) de tratar fugas de informação de dados bancários.
O segredo do segredo bancário suíço não é um segredo assim tão bem guardado!
Hoje fechou-se o grupo A. Com a Itália já com o apuramento garantido, só com vitórias, e a Turquia só com derrotas, Suíça e País de Gales disputavam o segundo lugar no grupo, que garantia também e desde logo o acesso aos oitavos de final da prova.
Curiosamente usufruíam ambas de vantagens do calendário. Os galeses porque, jogando com a Itália já apurada, defrontariam um adversário em poupança, que daria descanso às suas principais individualidades, e portanto teoricamente menos difícil. Os helvéticos porque encontrariam um adversário desmotivado, que falhara em toda a linha as expectativas que trouxera para esta competição, numa dinâmica de derrota que, especialmente em torneios deste género, muito curtos, é muito difícil de inverter.
Nestas circunstâncias a vantagem da Suíça pareceria mais interessante. Mas no fim foi a selecção do País de Gales quem saiu a ganhar. Não tanto que a sua vantagem tivesse sido mais evidente, mas pelas próprias circunstâncias do jogo.
Em Roma, fazendo o pleno dos jogos de apuramento em casa, a Itália, mesmo com uma equipa de segundas linhas, com oito alterações na equipa, manteve o seu futebol, do melhor e do mais excitante deste Europeu. Com os mais utilizados, ou com os outros, as mesmas dinâmicas e a mesma qualidade.
Porque o jogo de ontem da selecção portuguesa ainda é actualidade, abro um parênteses para lançar um pequeno desafio: quantos jogadores da selecção italiana, posição por posição - e tiremos os guarda-redes, cujo contributo para a qualidade do futebol é pouco relevante - , são claramente melhores que os portugueses?
Não é preciso ir consultar o "Tranfermarket", mas se o fizermos a resposta não será provavelmente muito diferente: um. Jorginho. A selecção de Fernando Santos não tem um centrocampista como ele. O que mais se aproxima das características do italo-brasileiro é Rúben Neves. Mas não calça. Nem a equipa está rotinada para o seu futebol.
É isso. O melhor futebol desta primeira fase do Europeu é apresentado por uma equipa que, individualmente, não tem mais que um jogador superior aos portugueses.
Fechado o parênteses, a Itália voltou a ganhar, num jogo bem disputado e interessante de seguir, e fechou o apuramento com o pleno de vitórias e sem sofrer golos. Com a mesma qualidade, e ainda com a oportunidade de mostrar serviço nas bolas paradas. Foi num dos chamados lances estudados que fez o golo (por Pessina, alguém já ouviu falar?), que foi único porque assim calhou. E assim calhou porque, noutra demonstração do trabalho de laboratório a bola esbarrou no poste.
Os galeses sabiam que, se escapassem à chapa 3, ficariam em boas condições de segurar o segundo lugar, mas isso não os impediu de disputar o jogo no campo todo. Foram uma equipa completa (mais um exemplo: têm três jogadores de elevado nível - Ramsey, James e Bale - mas os outros são jogadores das divisões secundárias do futebol inglês), com identidade, e que nunca se deixou atropelar pelo futebol italiano. Nem mesmo jogando em inferioridade numérica desde os 10 minutos da segunda parte.
Em Baku, num Estádio que destoa neste Euro, antigo e à antiga, que a Turquia feito sua casa, o jogo valeu pelos golos. Quatro, todos excelentes. Mas com dois verdadeiramente fantásticos -o segundo da Suíça, e primeiro de Shaqiri, e o único dos turcos na prova, de Kahveci.
A Turquia não conseguiu resistir à dinâmica de derrota, e falhou rotundamente em especial na transição defensiva. A Suíça, com Seferovic a fazer um bom jogo (marcou o primeiro golo -bem cedo, na primeira vez em que a equipa chegou à baliza turca, e esteve soberbo no passe para o segundo, o tal primeiro de Shaqiri), aos 26 minutos já ganhava por 2-0. Mas foi o seu guarda-redes quem mais, e mais difícil, trabalho teve em toda a primeira parte, com três defesas que eram de golo.
Na segunda parte foi o inverso, aí foi o guarda-redes turco a ficar com esse papel. E Sommer não teve praticamente nada para fazer. Porque nada tinha a fazer no extraordinário golo dos turcos.
Shaqiri foi, com dois golos e uma exibição fantástica, o homem do jogo. Como é diferente ser a estrela da companhia!
Não foi este jogo que afastou a Suíça do segundo lugar. Foi o 0-3 da Itália que lhe deu os dois golos de diferença para os galeses que os empurrou para o terceiro lugar, e os deixa de credo na boca até quarta-feira. Os 4 pontos podem não ser suficientes para fugir aos dois terceiros que vão ficar de fora. Mesmo que Portugal até possa dar uma ajuda…
Não foi uma grande, grande exibição, mas foi uma grande, grande vitória!
No tal jogo em que não restava alternativa a ganhar, a selecção ganhou bem. E sabe-se que é frequente as coisas não correrem bem quando são postas nestes termos...
Começaram a correr bem com um golo da Suíça na própria baliza, já muito perto do intervalo. Não se pode dizer que até aí a equipa nacional tivesse justificado a vantagem, as coisas nem estavam a sair lá muito bem, pese embora algumas boas exibições individuais, como Bernardo Silva, William Carvalho ou João Mário. O colectivo não estava brilhante, como brilhante não estava - nem esteve - Cristiano Ronaldo. E sabe-se como a equipa depende dele.
A equipa da Suíça mostrava-se sólida, sabendo bem o que tinha a fazer e, como sempre faz, à espreita de um erro do adversário. Nada de novo, havia assim sido bem sucedida no primeiro jogo, o tal que lhe dava a preciosa vantagem com que hoje se apresentava na Luz, Cheia ... e com Madona!
Com o segundo golo a chegar cedo, na segunda parte, o jogo ficou resolvido, e a exibição da selecção nacional solidificou-se ainda mais. Sem nunca atingir o brihantismo, mas com muita segurança e, aqui e ali, com uma ou outra jogada bem conseguida, e com alguns pormenores de categoria de um ou outro jogador. Cristiano Ronaldo, sem nunca atingir o seu nível, quis chegar ao golo que lhe faltava para, pelo menos, igualar Lewandowski na tabela dos melhores marcadores da fase de apuramento. Sabe-se como dá importância a essas coisas, e isso poderá ter custado dois ou três golos à equipa.
No fim o que conta é o quinto apuramento consecutivo para um Campeonato do Mundo. E mais uma demonstração de que as coisas agora são bem feitas. Já nada é deixado ao acaso, como sempre acontecia. Claro que, ter (bons) jogadores, também ajuda!
O Éder é todo ele uma história bonita. A gratidão é um sentimento também bonito. A estrelinha de Fernando Santos pode não se ter apagado, mas não brilhou. Se calhar isto até ajuda a explicar a primeira derrota do seleccionador nacional.
A equipa nacional até entrou bem, e durante a primeira metade da primeira parte até mostrou que era a campeã europeia que ali estava. E foi justamente nesse período que se notou que uma história bonita, e um sentimento bonito, são apenas coisas bonitas.
Depois, os jogadores, provavelmente deslumbrados com a superioridade exibida, esqueceram-se daquilo que deles tinha feito campeões da Europa. E lá voltou a habitual e fatal desconcentração. E de repente a Suiça apanhou-se a ganhar por dois a zero...
E já não houve volta a dar. Nem ao resultado nem ao jogo. Os remates - vinte e sete (contra oito) - eram só para a estatística. Como os cantos: 11 contra 1. Mas a estatística nunca ganha jogos.
Não é o fim do mundo. Nem sequer do apuramento para o mundial da Rússia. Mas podia e devia ter sido melhor, até porque a Suiça é o principal adversário neste percurso que vai levar a selecção ao Campeonato do Mundo de 2018. Para já, está em vantagem. E com uma boa vantagem!
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