Quando um grupo, um partido, uma seita ou seja lá o que for, não concebe outra posição que a do contra, teimosamente amuado nas suas limitações e obstinandamente contra tudo e contra todos, nada lhe corre bem. E tudo corre bem aos outros...
O governo chegou a acordo com o Santander, sobre os ruinosos swaps contratados pelas empresas públicas de transportes, que galopavam recursos perdidos nos tribunais de Londres (primeira derrota de Passos Coelho que, por tudo, queria ficar nos tribunais nacionais). Pagamos, custa-nos dinheiro, mas não havia volta a dar. E resolveu-se, com um desfecho bem melhor do que certamente resultaria da sentença judicial...
Com um banco a operar em Portugal com a dimensão do Santander qualquer outra saída que não a negociação era, evidentemente, absurda.
Que posição tomou imediatamente o PSD?
Dizer, através do inefável deputado Leitão Amaro, que a culpa de tudo isso era de um governo do PS. Não teve outro ponto de observação, nem ao de leve se relacionou com os factos. Que aí estão, claros e insofismáveis: três quartos (75%) dos 2,648 mil milhões de euros de perdas concentraram-se nas empresas dos Metros de Lisboa e do Porto, e os respectivos contratos estão assinados por boys do PSD. Alguns com lugar no governo de Passos, pelas mãos de Maria Luís Albuquerque, também ela com assinatura reconhecida nos contratados pela Refer, e de Marco António Costa, que também passara pela administração do Metro do Porto.
O meu amigo Jorge Tomé disse ontem que lhe parecia que o Banif, a que presidira, tinha sido usado como moeda de troca. Que parecia que há muito estaria prometido ao Santander...
Não disse mais - o Jorge Tomé para além de extraordinariamente competente, é incondicionalmente institucional. Mas nós podemos especular. Ou nem tanto: apenas lembrar a velha estória dos Swaps da Maria Luís. E vem-nos à memória que a coisa com o Santander era um bocado complicada...
Moeda de troca, Jorge. Bem lembrado... Também há quem diga que uma mão lava a outra...
Quando parecia que a tempestade dos swaps teria já passado e que Maria Luís Albuquerque - mais trapalhada menos trapalhada, mais mentira menos mentira, mais omissão menos omissão – poderia agora dormir um bocadinho melhor, surge Almerindo Marques na comissão parlamentar de inquérito a garantir que a Estradas de Portugal, antes de fazer o seu swap, pediu parecer ao Instituto de Gestão do Crédito Público. E que esse parecer não só foi positivo como vinha justamente assinado por Maria Luís Albuquerque.
Já todos há muito sabíamos que a ministra das finanças estava metida nesta estória dos swaps até às orelhas. Que mentira descaradamente no Parlamento e que, para a proteger, o governo a nomeara juíz em causa própria. Que até arquivos foram destruídos...
O que não imaginávamos era que os factos resistissem tanto. E que teimassem em não deixar esquecer aquilo que toda a gente quer que se esqueça!
Parece que, dois meses depois, Maria Luís Albuquerque conseguiu encontrar alguém para a Secretaria de Estado do Tesouro que não estivesse chamuscada pelos swaps.
“Há tempos, depois de ter pago com atraso de um ano o Imposto único Automóvel, a funcionária das Finanças disse-me, muito séria, para guardar os documentos nos quatro anos seguintes. Estranhei a recomendação, mas guardei os papéis. Também os do IRS têm que ser mantidos durante cinco anos, prazo em que prescrevem eventuais processos. Já os documentos de trabalho dos inspectores de Finanças sobre os swap foram destruídos ao fim de apenas três anos. O meu IUC e o meu IRS são mais importantes e sensíveis para as Finanças do que os negócios manhosos com a banca, feitos por gestores públicos geniais como Maria Luís Albuquerque, e que somam prejuízos de milhares de milhões para o Estado. Estamos sempre a aprender.”
Para a sua própria substituição a ministra, enterrada nos swaps até às orelhas, escolheu alguém tão enterrado quanto ela. Que se manteve um mês em funções, sob fogo cerrado. Até à demissão, sem uma palavra da ministra – uma única!
O governo, ao contrário do que prometera no briefing de ontem, não tirou tudo a limpo. Borrou ainda mais a pintura, mesmo que para o secretário de estado desse no mesmo. Demitiu-se. Obviamente!
Não podia ser de outra forma, mesmo que Joaquim Pais Jorge continue a pretender trocar as voltas à verdade, como faz na carta - que também não é carta de demissão – que tornou pública, supostamente a justificar a decisão. E é uma demissão que apenas pecou por tardia!
Em boa verdade o pecado capital está antes, na nomeação. Na escolha que a ministra das finanças fez para se fazer substituir a si própria. Pecado que, não houvesse outras razões - e há -, seria suficiente para arrastar também a sua queda.
De resto é hoje claro que apenas o efeito dominó impede a queda da ministra: justamente a peça que, tombando, arrastaria na queda o primeiro-ministro, e naturalmente o sólido e coeso governo que formalmente lidera. Por isso, e só por isso, não tombou já!
Depois de tudo o que se tem visto no Mi(ni)stério dos Swaps, das velhas trapalhadas swapeiras da ministra das finanças e das mais novas, que não menos trapalhonas, trapalhadas do novo secretário de estado do tesouro, o governo fez hoje um briefing intercalar para anunciar quevai tirar tudo a limpo.
Um dos homens dos briefings - o outro deve estar de férias - veio dizer que vai esclarecer tudo até ao fim do dia. O mesmo que há dois ou três dias dava tudo por esclarecido e arrumado. Não havia qualquer razão para alimentar a polémica!
Este Verão não tem silly season. E desconfio que Manta Rota, mesmo que as notícias lá não cheguem, como já deu para perceber que não chegam, não seja dos sítios mais traquílos deste Verão!
Se tirarem tudo a limpo ... Valha-nos que ninguém está interessado nisso...
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