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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

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FUTEBOLÊS #78 CAMBALHOTA

Eduardo Louro

 

O futebol está cheio de cambalhotas.

Há as cambalhotas no marcador, aquilo a que os espanhóis chamam remontada, que o futebolês também adoptou, mas que também conhecemos por reviravoltas no resultado: quando o resultado é invertido, quando uma derrota vira vitória, como diriam os brasileiros. Acontece num jogo, numa eliminatória ou mesmo numa curta poule de apuramento de uma fase de grupos disputada por poucas equipas. Raramente numa prova longa, onde é a regularidade a ditar leis. Às vezes acontecem daqueles jogos épicos onde se viram resultados negativos em três ou quatro golos, transformando derrotas pesadas em vitórias verdadeiramente sensacionais. Como épicos são ainda os jogos que provocam uma cambalhota numa eliminatória, que permitem ganhar uma eliminatória claramente perdida.

Há as cambalhotas no marcador mas também as cambalhotas do marcador: as cambalhotas com que os marcadores festejam os seus golos. Sim, há jogadores que escolhem a cambalhota para celebrar o golo: uns dançam, outros saltam e outros ainda desenham corações. Há ainda os que, quando estão com azia, mandam calar os adeptos. E há estes, os que os comemoram com saltos mortais: as mesmíssimas cambalhotas que, há já uns anos, Hugo Sanchez – um lendário mexicano que jogou no Real Madrid, co-recordista de golos marcados no campeonato espanhol, o tal recorde (38 golos) que Cristiano Ronaldo acabou precisamente de bater – introduziu nos festejos do golo e de que Nani – ao que parece por ser especialista em capoeira – é hoje o expoente máximo, mesmo contrariando Alex Ferguson que, pelos vistos, não é grande entusiasta desta forma de celebrar.

No nosso futebol – como em muitas outras vertentes da sociedade portuguesa, não fossem os portugueses gente muito dada à acrobacia – há outras cambalhotas. Cambalhotas fora do relvado! E há quem pretenda forçar cambalhotas: são tão especialistas neste género acrobático que querem generalizar a sua prática e impô-la a outros.

São cambalhotas que, de tão forçadas, são condenadas ao fracasso. É, por exemplo, a pretensa cambalhota na contabilização dos títulos.

As estruturas de mobilização e arregimentação ideológica do Porto, sempre em alta actividade mediática, tentaram criar a cambalhota nos títulos: por força de tal cambalhota o Benfica via esvair-se a enorme e impressionante vantagem de títulos que tinha face ao Porto. Benfica e Porto estavam agora, depois da vitória do último domingo na Taça – o quarto título de uma época que ainda bem que terminou – empatados com, salvo erro, 69 títulos. Empatados? Empatados não, porque isso seria com a Taça Latina de 1950, e essa não conta para nada – não é oficial - como logo conseguiram esclarecer através de uma nota da FIFA que ninguém viu mas que a agência Lusa jura existir.

Não há cambalhota nenhuma! Gostariam que houvesse, mas não há. Porque tudo tem as suas regras: uma delas aprendemos na escola, logo na primeira classe – perdoem-me a terminologia, mas é a do meu tempo – e diz que não se podem somar alhos com bugalhos. Somar supertaças com campeonatos nacionais não dá, não é? Uma coisa é um título atribuído por se ter ganho um jogo, um único jogo - e de preparação - de início de época. Outra, completamente diferente, é ganhar um campeonato de 30 jogos. Como diferente é um título ganho depois de ultrapassar cinco ou seis adversários em sucessivas eliminatórias. Pois é, o que soma são campeonatos nacionais: o Benfica tem 32 e o Porto 25. E o Sporting 18! E Taças de Portugal, que o Benfica conquistou por 27 vezes, o Porto por 20 e o Sporting por 19. E Taças da Liga: 3 do Benfica e nenhuma para os seus rivais. E Taças dos Campeões, com dois triunfos para cada um: Benfica e Porto. E a Taça das Taças, que apenas o Sporting, e por uma única vez, conquistou. E a Taça UEFA/ Liga Europa, que apenas o Porto conquistou, por duas vezes: a última na passada semana. E ainda a Taça Latina, que apenas o Benfica ganhou - por uma única vez – e que, sendo a precursora da Taça dos Campeões, não soma com mais coisa nenhuma mas também não desaparece. Como também não desaparecem os dois títulos intercontinentais – mais um título de um só jogo, a que a Toyota deitou a mão para não deixar cair nas profundezas do desinteresse - que apenas o Porto conquistou, em duas ocasiões!

Isto não se pode somar tudo. Daria uma grande caldeirada, com cada coisa a cair para seu lado, com tudo estatelado no chão numa cambalhota falhada!

 

 

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