O Benfica despediu-se esta noite, em Setúbal, da Taça da Liga e do ano. Do ano do tetra, mas também, porque as últimas imagens são sempre as mais vivas, do desencanto. Que este jogo de despedida confirma, em toda a linha.
Quando se conheceu a constituição da equipa que Rui Vitória escalou para esta despedida ficou imediatamente claro que dificilmente este jogo fugiria à decepção e à desilusão que vem marcando este último terço do ano, e primeiro da época. O jogo já não decidia nada - o Vitória, de Setúbal, tinha o primeiro lugar do grupo assegurado - mas continuava a ser importante para o Benfica. Porque a equipa precisa de estabilidade e de confiança, e isso só as vitórias e as boas exibições garantem. E porque vem já aí o decisivo jogo com o Sporting. Por isso, porque não tem havido competição, e porque sobram muitos dias de descanso até ao dérbi, era difícil de aceitar um onze que não desse garantias de ser capaz de tirar do jogo o que dele havia para obter.
Mais difícil se tornava aceitar um onze constituído por jogadores dados por descartáveis em Janeiro. Três na defesa (Douglas, Lizandro e Eliseu), dois no meio campo (João Carvalho e Filipe Augusto), e dois (e podiam ser todos) na frente (Rafa e Zivkovic). Sete!
Se lhe juntarmos o guarda-redes Svilar, claramente desestabilizado, Samaris, em clara instabilidade emocional, e Seferovic, há meses desaparecido, soma dez. O décimo primeiro era o miúdo Rúben Dias, a regressar à equipa depois da intervenção cirúrgica a que foi sujeito!
Estranho, nao é? Mais estranho, e mais preocupante ainda, é tentar perceber o que vai na cabeça de Rui Vitória quando lança para o jogo sete jogadores que são cartas fora do baralho.
Para lhes dar minutos? Para quê, se não vão continuar?
Para lhes dar mais uma oportunidade? Para quê, se o seu destino já está traçado?
Não faz sentido, e o jogo confirmou isso mesmo. E confirmou mais, confirmou que Rui Vitória é parte do problema, e não parte da solução. Porque mostrou que a equipa só consegue ter posse a jogar para trás; jogar para a frente só em pontapé, à toa. Ou com cada um a jogar por si e para si. Porque mostrou que a equipa não sabe defender, com estes ou com outros jogadores. E porque mostrou, no meio disto tudo, que alguns daqueles jogadores têm muito mais qualidade do que aquela que Rui Vitória consegue extrair.
Alguém pode ter dúvidas da qualidade de Zivkovic? E de Rafa? E de João Carvalho? Aquilo que fez no primeiro golo - que é todo dele, o Sferovic foi simplesmente instrumental - não engana, é de um grande jogador.
Na realidade, este último jogo do ano não deu se não para enterrar, ainda mais, Rui Vitória. Que, como vem sendo costume, viu outro jogo. E como viu outro jogo, não vê que, se isto não é da responsabilidade do treinador, é responsabilidade de quem?
Depois da Europa, depois da Taça, chegou a vez da Taça da Liga. Uma a uma, o Benfica abandona todas as competições. Jogo a jogo, o Benfica teima em negar qualquer tipo de recuperação. Insiste em não desistir da crise, e persiste agarrado à imagem de um interruptor.
Não tem explicação!
Depois do empate em casa com o Braga, na primeira jornada há já não sei quantos meses, hoje, na segunda jornada, com o Portimonense, em casa, na Luz, o Benfica tinha que dar sequência à excelente exibição de Tondela, no domingo passado, tinha que ganhar e tinha que ganhar por muitos, para se ir protegendo da concorrência do Braga.
Pensou-se que assim iria acontecer. Aos 40 segundos já o Benfica concluía em golo - de Jonas, evidentemente - uma espectacular jogada de futebol. O adversário apresentava-se sem oito dos seus titulares. Pelo menos sem oito do onze inicial que apresentara em Alvalade, também no domingo. E o Benfica, ao contrário, mantinha oito dos onze de domingo passado.
Com tudo para correr bem, aconteceu o que sempre tem acontecido. A equipa desligou e foi-se afundando. Desta vez, e ao contrário do que vem sendo hábito, os deuses não foram impiedosos com os jogadores do Benfica, e deram-lhes uma segunda oportunidade. À meia hora de jogo, quando o Portimonense era já dono e senhor do jogo, Lizandro fez o segundo golo, na sequência de um canto.
Os jogadores do Benfica não ligaram muito a essa segunda oportunidade. Não perceberam que aquilo era uma dádiva divina a agarrar com ambas as mãos. E o jogo foi para intervalo com o Portimonense com mais cantos, mais remates e com a mesma posse de bola do Benfica.
Logo no arranque da segunda parte, o Benfica teve o que merecia. Mais um livre lateral e ... golo. Rui Vitória mexeu na equipa, e mexeu mal. Já tinha estado mal nas três caras novas que introduzira de ínício - Svilar, Samaris e Zivkovic, por sinal os piores de todos - e foi por aí que teve que começar, retirando o destrambelhado grego e o jovém sérvio, acabado na jogada inicial, substituídos pelos miúdos Keaton e Diogo Gonçalves. Que só não foram piores ainda porque ... era impossível. Pior ainda era, e foi possível, com a última, com a entrada de Sferovic (quando já não se acredita em nada, acredita-se em millagres) para o lugar de Pizzi.
E como os deuses, ao contrário dos jogadores do Benfica, não dormem, quando faltavam 6 minutos para o final, um canto palerma deu no golo do empate. E no adeus à Taça da Liga, aquela que dantes era ... certinha. Favas contadas, noutros tempos.
O que está a acontecer ao Benfica resolvia-se mandando embora dez ou onze jogadores. Como se sabe, no futebol nunca acontece assim. Como não é possível mandar embora tantos jogadores, e alguém tem que sair...
Outra competição. Outros jogadores. Mas tudo confrangedoramente na mesma.
O mesmo início de jogo, de novo a deixar a ideia que a equipa queria mudar o destino. O mesmo golo cedo. Depois, o mesmo... O vazio. A mesma confrangedora falta de qualidade de jogo, a mesma incapacidade de tirar o que quer que seja do jogo. O mesmo terror, à medida que, depois do golo, os ponteiros do relógio avançam no jogo. A mesma fatalidade.
Não seria previsível que com outros jogadores, menos rodados e supostamente de menor valia, pelo lado da qualidade de jogo, as coisas corressem melhor. Mas seria de esperar que esses jogadores quisessem mais, que lutassem mais. E com mais querer, lutando e correndo mais, era de esperar que o Benfica pelo menos ganhasse o jogo.
Nada disso, Os jogadores do Braga quiseram mais, lutaram mais e foram, todos, melhores que os do Benfica. Não sei se houve um jogador do Benfica tenha sido melhor que o seu adversário da mesma posição. Na maior parte dos casos foi gritante a superioridade dos que vieram de Braga.
Não se percebeu qual seria a ideia de Rui Vitória ao colocar Samaris e Filipe Augusto. Talvez tenha sido para calar os adeptos que reclamam o grego em vez do brasileiro. Para lhes mostrar que, entre os dois, que escolha o diabo... Samaris é um poço de faltas. Filipe Augusto, outro. Os dois juntos.... a boca do inferno.
Rafa, é o desespero. É um caso sério de destruição de valor. Gabriel Barbosa, é mais um caso que não tem explicação. Salvou-se o Krovinovic!
Rui Vitória é que não. E começa a ficar difícil salvar-se... O discurso está ao nível da qualidade de jogo: insuportável!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.