Há jogos que, sem se jogar muito bem, também não se joga mal. Em que a superioridade sobre o adversário é clara. Em que, sem se criarem inúmeras oportunidades de golo, se criam as suficientes para, com uma taxa de aproveitamento simplesmente razoável, golear.
O jogo do Benfica esta noite em Moreira de Cónegos, foi um desses.
O Benfica não fez uma exibição ao nível dos que nos tem habituado. Nem isso seria de esperar de uma equipa com Draxler - tardou tanto em afirmar-se que já não tem tempo para ganhar espaço - e Chiquinho, e com apenas dois jogadores dos jogadores decisivos - Grimaldo e Rafa - a manterem o estado de forma ao nível anterior à interrupção para o Mundial. Mas jogou o suficiente para ganhar o jogo, condição necessária para seguir para os quartos de final - a novidade deste ano - da Taça da Liga.
O empate deixava Benfica e Moreirense empatados com os mesmos 7 pontos e a mesma diferença favorável de 3 golos, com o desempate a favorecer o líder da segunda liga por ter mais um golo marcado (e sofrido). Por culpa do próprio Benfica, porque não se aceita lá muito bem que perante os mesmos adversários, e todos da segunda liga, não tenha conseguido fazer melhor que o Moreirense. Os minhotos apostaram tudo nesse desfecho, e contaram com a inspiração de Passinato, um velho conhecido. Defendeu tudo o que havia para defender, incluindo o golo. Até esse remate de Gonçalo Ramos defendeu, mesmo que sem evitar que a bola acabasse dentro da sua baliza, já perto do intervalo.
Antes, aí pelo meio da primeira parte, depois de 20 minutos a sufocar o adversário, num daqueles penáltis da nova vaga, em que a bola vinda de um lançamento lateral foi bater no braço de Florentino, já o Moreirense tinha marcado. Mas também já demonstrava que, sempre que pudesse, isto é, sempre que não fosse obrigado a estar lá acantonado lá atrás, conseguia sair em contra-ataque.
Se se quisesse uma fotografia do jogo seria esta. O Benfica em cima da área contrária, mas com limitador de velocidade, tipo "cruize control", e o Moreirense, quando podia. a sair em contra-ataque em aceleração. No "passeio" do Benfica faltava aos jogadores a inspiração sobrava a Passinato. E nem essa coisa da sorte e do azar das bolas nos ferros pode ser invocada. Se o Benfica teve três remates nos ferros da baliza de Passinato, o Moreirense teve dois na de Odysseas. Que em todo o jogo fez uma única defesa.
Também Roger Schemidt poderia ter estado mais inspirado. Mexeu muito tarde na equipa esperando, também ele, que em algum momento a bola acabasse por entrar. Poderia ter entrado, até ao último minuto, ocasiões não faltaram. Mas não entrou e, mesmo continuando sem perder em competições oficiais, empatar foi perder.
E dizer adeus a uma competição, que é sempre um título, no confronto com equipas da segunda liga, não agrada a ninguém. Evidentemente.
O Benfica voltou a jogar. E bem. Foi na Luz, com 45 mil nas bancadas!
Jogou para a segunda jornada da fase de grupos da Taça da Liga, com o Penafiel. Que surgiu com a lição de defender bem estudada.
O Benfica entrou forte, a não deixar o adversário respirar, e a deixar a ideia que o golo era assunto para resolver depressa. Mas não foi bem assim. À medida que os minutos foram passando a pressão sobre a área do Penafiel foi mudando de figura, até se transformar num simples cerco.
O Benfica montou um cerco à área adversária, mas isso não incomodou muito os jogadores do Penafiel. Ficaram cercados, mas confortáveis. Os jogadores do Benfica pareciam satisfeitos com os adversários lá atrás, e convencidos que não seria preciso fazer muita coisa até eles começarem a mostrar lenços brancos.
A bola circulava entre os jogadores (80% de posse de bola), mas era ali à volta. Era o carrossel, mas não passava disso. A bola circulava, mas os jogadores circulavam pouco. Movimentava-se o que tinha a bola, os outros esperavam "sentados" por ela. Assim não havia movimentos de rotura, não havia remates, nem grandes oportunidades de golo.
Foi assim, a atacar muito mas rematar pouco, até derrubar o muro penafidelense, já a segunda parte ia com 10 minutos. Da única maneira possível e - já agora - coerente com a forma como vinha jogando. Se só o jogador que tinha a bola se movimentava, teria de ser alguém a entrar pela área dentro com a bola até ao golo. Foi o que Grimaldo fez. Só não fez o golo porque, ainda assim, havia sempre mais um pé ... e o guarda-redes, que defendia tudo. Menos a recarga do Gilberto, mesmo essa ainda a encontrar uma perna pela frente, que quase desviava a bola por cima da baliza.
Chegado finalmente ao golo, o mais difícil ficava feito. Não era apenas o golo, era também o derrube do muro defensivo do Penafiel, e o surgimento de espaços que até aí não estavam abertos. O resultado foi logo o segundo, apenas dois minutos depois e, ainda assim e de novo, numa recarga, desta vez de Neres, a mais uma defesa do guarda-redes penafidelense.
A partir daí, sim. Com mais espaço, a circulação da bola e dos jogadores ficou então mais próxima da perfeição, o futebol da equipa mais próximo do patamar habitual, e os remates e as oportunidades de golo passaram a suceder-se. Só não surgiram mais golos porque os jogadores do Penafiel continuaram a ser competentes a defender, mesmo sem o autocarro. E porque não era a noite de Rafa. Nem de Henrique Araújo, entretanto entrado na partida, com o Rodrigo Pinho para quem o problema não é só uma noite.
No fim, para além de mais uma vitória para a série, e do apuramento para a final four de Leiria ficar mais perto, e porque as últimas imagens são as que prevalecem, fica uma exibição bem aceitável, ao nível dos padrões de exigência a que a equipa habituou os adeptos.
Mas também o alerta. Porque jogos destes podem acabar por correr mal. Como poderia ter acontecido com aquela coisa esquisita do João Vítor - a segunda, pelo segundo jogo consecutivo - que, ainda com o resultado em branco, só não deu auto-golo porque não calhou.
Há mundial, mas o Benfica continua a jogar. Agora na Taça da Liga. E a ganhar, para não perder o hábito.
Há hábitos que dão muito trabalho. Ganhar é dos que dão mais. Jogar o "qb" para ganhar, como hoje fez esta equipa do Benfica, em Leiria, casa emprestada do Estrela da Amadora, pode não bastar. O quanto baste nem sempre basta, e hoje poderia mesmo não ter bastado.
Com seis jogadores no Catar, esperava-se uma equipa cheia de caras novas. Mesmo que velhas, porque as novas, dos novos, estão na selecção de "sub 21". E também indisponíveis.
Não foi assim, e Roger Schemidt apresentou um "onze" cheio de caras conhecidas. Apenas nos lugares de António Silva e Otamendi, estiveram caras menos habituais - João Vítor e Brooks (que nem foram lá muito bonitas de ver!). No resto, Gilberto, Chiquinho, Diogo Gonçalves e Musa, que são caras habituais, nas suas caras habituais. Excepto Chiquinho, a quem Schemidt quis dar a de Enzo.
Com estas caras, o Benfica quis ter a mesma cara de jogo. Essa é inegociável, e muito bem. Mas há diferenças. As caras fazem a diferença. E grande!
Por isso o habitual futebol do Benfica só apareceu em salpicos. Apareceu de vez em quando e, quando conseguiu aparecer, fez a diferença. Só que, quando fez a diferença, não a aproveitou. Por imperícia na finalização, numa série de vezes, pela tal coisa da sorte e do azar, noutras, ou pela competência defensiva da equipa da Amadora, onde se inclui o guarda-redes. Que à sua conta negou dois ou três golos. Tantos quantos os seus colegas, às vezes em cima da linha de golo (numa delas com quatro jogadores dentro da baliza).
Tivesse o Benfica aproveitado metade das oportunidades de golo que criou nos momentos em que conseguiu atingir o seu habitual futebol e o "qb" que jogou teria sido mesmo suficiente para passar pelo jogo sem qualquer tipo de sobressalto, e acabá-lo com um resultado que não destoaria dos melhores dos últimos tempos.
O golo inicial, de Musa, logo aos 13 minutos, resultou de um dos salpicos desse futebol de excelência, um 'tiki-taka'multi-combinado com Rafa. Tudo apontava para que fosse para continuar, mas não. Nove minutos depois, na primeira vez que os rijos e experientes jogadores da equipa da Amadora - grande parte deles velhas caras conhecidas do futebol cá do burgo - chegaram lá à frente, na cobrança de um livre lateral chegaram ao empate.
As luzes de aviso acenderam-se, e os jogadores do Benfica correram à procura do golo. Que nem demorou muito, apenas sete minutos. À beira da meia hora, depois de um penálti inevitável sobre o Rafa, o Chiquinho fez de João Mário, e marcou. E voltou a ficar-se por aí, acabando com nova ameaça, já em cima do intervalo. O João Vítor tratou de fazer asneira, com uma falta tão desnecessária quanto indesculpável e, o livre - na mesma zona do terreno do que acabara no golo do empate - só não acabou em novo golo porque o Odysseas fez duas grandes defesas. Consecutivas.
O Benfica passou toda a segunda parte no registo "qb", sempre perto do 3-1. Sempre com o domínio do jogo mas sem fechar o resultado. Faltavam velocidade, agressividade e intensidade. Era tudo muito macio. E assim há duelos que não ganham, e bolas e golos que se perdem, deixando o resultado em aberto, à mercê de qualquer contingência do jogo.
Que acabaria mesmo por surgir, e só não foi decisiva porque Draxler - que entrara ao intervalo para substituir o apagado e "amarelado" Diogo Gonçalves (juntamente com Morato, para o lugar de João Vítor) - , em cima do minuto 90, apareceu finalmente no jogo, e marcou o (terceiro) golo da tranquilidade.
O tal incidente de jogo, a que o Benfica esteve sempre sujeito, acabou por surgir de um passe desastrado de Morato - que pareceu não querer sair com folha limpa - que ofereceu o 3-2 ao Estrela da Amadora, no último dos 5 minutos de compensação.
É mais uma vitória. Numa exibição que, não entusiasmando do ponto de vista colectivo, e por absurdo que pareça, acabou por ser decepcionante ao nível do desempenho individual de muitos jogadores. Muitos mesmo. Salvaram-se Odysseas, Florentino e Rafa (o capitão. Quem diria?) Mais ninguém.
E esta não é uma boa notícia. É mesmo má!
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