Se era preciso esperar por Dezembro, e por estas duas deslocações ao Dragão, para fazer o teste do algodão a esta equipa de Jorge Jesus, bastou o primeiro dessas confrontos para confirmar que este Benfica não tem capacidade para se bater com os seus principais rivais em Portugal. Não foi capaz contra o Sporting, na Luz. E voltou a não ser esta noite, no Dragão. E sempre com banhos de bola e de estratégia de jogo.
E isso para os benfiquistas é inaceitável. Os adeptos sabem que o Benfica poderá não ganhar sempre, mas não podem aceitar que perca sempre. E que perca tão claramente como está a acontecer.
Neste momento já não é só Jorge Jesus que há a responsabilizar, mesmo sendo ele o principal responsável pelo desastrado desempenho da equipa. Depois da equipa ter entrado como entrou no jogo com o Sporting, hoje a equipa conseguiu ainda fazer muito pior, contra um adversário que toda a gente sabe que faz da intensidade que coloca no jogo, na pressão e na luta pela disputa da bola a sua principal arma. Se, em vez de um jogo de futebol, fosse uma luta de cães, diríamos que em campo estavam 11 pitbulls de um lado e 11 caniches do outro.
Coube ao Benfica a saída de bola. E no entanto sofreu o primeiro golo aos 30 segundos, e num lançamento de linha lateral. Isto é, saiu com a bola, perdeu-a de imediato e cortou-a depois pela linha lateral. Lançamento com as mãos para a área, o lance mais fácil de defender em futebol, onde os jogadores do Porto ganharam todos os ressaltos até a enfiarem na baliza. Tudo em menos tempo do que demorou a descrever.
Pouco mais de 5 minutos depois mais do mesmo. Os do Porto ganharam todos os ressaltos, e o golo acabou por ser evitado pelo Helton Leite, com uma defesa - difícil - para canto. Do canto, de novo mais do mesmo. O mesmo Helton soca - mal - a bola, mas os pés chegar a bola para o segundo golo.
Dois a zero, aos 7 minutos!
Ninguém acredita que Jorge Jesus não tenha preparado os jogadores para o que iriam encontrar. Que não tenha avisado os jogadores disto. Mas, com tudo o que se tem passado, poucos acreditarão que os jogadores o tenham ouvido. È verdadeiramente bizarro que, num clube com a dimensão do Benfica, a dois dias do primeiro de dois jogos numa semana que decidem toda a época, o treinador ande a encontrar-se publicamente com dirigentes de um outro clube que o pretende contratar.
Outro treinador, outra pessoa de outra dimensão, nunca o faria. Uma administração à altura da grandeza do Benfica nunca teria deixado chegar as coisas a este ponto. E era tão simples tirar o tapete a Jorge Jesus, impedindo-o de jogo baixo em dois tabuleiros...
Rui Costa é, por isso, hoje tão responsável quanto Jesus por esta derrota. Que é eliminação da Taça, mas é ainda mais, como se verá já de hoje a uma semana.
O Benfica chegou ao 2-1, que poderia reabrir o jogo, e porventura alterar-lhe o destino. Mas o assistente do árbitro Tiago Martins não teve dúvidas em assinalar fora de jogo de 4 centímetros, e anular o golo de Darwin. No VAR, João Pinheiro colocou as linhas nos tais 4 centímetros. Não é isso que espanta, já vimos muito disso. O que espanta é que, no início da segunda parte, o mesmo assistente só tenha visto um fora de jogo do Porto de 4 metros, que por acaso não acabou em golo, quando os jogadores do Benfica já tinham passado do meio campo em contra-ataque. Então sim, reparou que lhe tinha escapado um fora de jogo de 4 metros, quando detectara o outro de 4 centímetros.
E aqui temos de voltar à estrutura do Benfica liderada por Rui Costa. Tiago Martins é um péssimo árbitro, com longo historial de perseguição ao Benfica. Esta noite permitiu tudo aos jogadores do Porto. Permitiu que Evanilson, que já tinha amarelo, pisasse perigosíssimamente Otamendi, em lance de vermelho directo, sem sequer assinalar falta. Para, logo a seguir mostrar amarelo ao mesmo Otamendi (que lhe valeria a expulsão, pelo segundo, já na parte final do jogo) num lance em que nem tocou no mesmo Evanilson. Permitiu que Octávio desse pancada, e simulasse faltas e agressões durante todo o jogo, amarelando-o apenas já perto do fim do jogo, e antes de ser substituído. Passou sem sequer amarelo a falta de Fábio Cardoso, à entrada da área, que lesionou gravemente Darwin, que saiu com o pé ensopado em sangue. E no entanto é o Porto que não comparece na conferência de imprensa, em protesto contra a arbitragem. Pela estrutura do Benfica Tiago Martins pode continuar o seu historial sem sequer um reparo.
Não valeu o golo de Darwin, e à meia hora de jogo, em mais um descalabro defensivo do Benfica, mais uma vez com André Almeida como réu maior, em contra-ataque o Porto marcava o terceiro, e fechava logo ali o resultado. A partir daí o Porto defendeu, e o Benfica fingiu que atacava.
Aos 45 minutos, no fim da primeira parte, Evanilson foi expulso, com o segundo amarelo. então já muito atrasado, e o Benfica tinha toda a segunda parte para jogar com um jogador a mais. Não a jogou toda, porque Otamendi seria também expulso, mesmo que já perto do fim, para complicar ainda mais as coisas para o jogo do campeonato, de hoje a uma semana. Mas nem por isso o jogo mudou de cariz - o Porto a defender, e o Benfica a fazer que atacava, perdido em cruzamentos para a área que nunca davam em nada. A não ser no golo de Otamendi - e como o merecia! - também anulado por fora de jogo a Pizzi, entrado na segunda leva de substituições (entrou com o inexplicável Lázaro) depois de ao intervalo terem entrado Yaremchuk e Everton, e de Seferovic ter entrado para o lugar do lesionado Darwin. Substituições que, tal como o futebol que a equipa não tem, também não deram em nada.
E pronto - a Taça já lá vai. O campeonato, pelo que se vê, é já a seguir. E Jorge Jesus lá vai para o Flamengo e com indemnização, que é tudo o que quer.
PS: Peço desculpa, mas troquei o nome do árbitro: é Fábio Veríssimo, e não Tiago Martins. Só muda o nome, são a mesma coisa. Mas têm nomes diferentes.
No regresso da pausa para as selecções, o calendário competitivo trazia hoje o Paços de Ferreira à Luz, para discutir o acesso aos oitavos de final da Taça de Portugal, a poucos dias da deslocação do Benfica a Barcelona, para tratar das contas do apuramento na Champions.
Estes jogos têm sempre alguns condicionalismos. Há jogadores que praticamente ainda não regressaram, especialmente os que se deslocam para o lado de lá do Atlântico, e os que ficaram cá por mais perto, mesmo que presentes parecem muitas vezes ausentes. É normal que os treinadores apostem nos que ficaram a trabalhar com eles, nos que não foram às selecções. Uns, porque nunca lá vão: outros, porque é o seu estado de forma que não dá para tanto. Isto tudo para dizer que não será exactamente a mais fina flor que fica a contar para estes jogos.
Como numa moeda, também aqui há duas faces. Podem não ser os melhores, nem estar no seu melhor. Mas podem entrar em campo com vontade e determinação em mostrar que são tão capazes como os outros. E isso às vezes resolve muita coisa.
Pois bem. Mas na equipa que Jorge Jesus escalou para este jogo - Helton Leite à parte pela tal rotação dos guarda-redes entre o campeonato e a Champions e as taças internas - não havia mais que três caras novas. E mesmo assim, duas delas - André Almeida e Radonjić que, como bem vimos e sentimos, até foi à sua selecção - não eram tão novas como isso. Apenas Gedson era mesmo novidade. O sérvio lesionou-se e arrumou com a questão. André Almeida jogou a central, no lugar de Luvas Veríssimo, hoje mesmo operado ao joelho, em Barcelona. E Gedson apresentou-se sem condição - nem física, nem mental. Nem motivação, já não acredita!
Mas vamos ao jogo. Que não foi muito diferente do que tem sido, mesmo que nunca tenha caído tão fundo como já vimos em tantos outros. Mas com os mesmos pecados capitais - pouca velocidade, pouca intensidade, pouca presença na área e … sem linha de fundo. Mesmo assim o Benfica criou três boas oportunidades para marcar - Everton e Darwin acertaram no guarda-redes e Rafa no poste. E lá se foram…
O Paços fez pouco. Mas no início da segunda parte, naquela do "quem não marca sofre", marcou. Por Nuno Santos, um miúdo do Seixal emprestado ao Paços, que na Taça pode jogar contra o "emprestador". E a coisa ficou preta.
Jorge Jesus reagiu depressa. Mas não parecia nada que bem. Fazia sentido tirar André Almeida, para passar a jogar com a defesa a quatro, e tirar Gedson era óbvio. Entraram Pizzi - e bem -e Taarabt. E parecia que mal. Antes, já tinha entrado Lázaro, que também não tinha entrado bem, para o lugar do lesionado Radonjić. Mas na frente continuava Darwin sozinho, e sem grande jeito para isso de estar sozinho na área. Ainda assim teve oportunidade de enviar uma bola à barra.
Os minutos passavam, o Paços lá ia levando a água ao seu moinho, e não se via muito bem como sair daquele rumo que não levava a lado nenhum. E lá entraram então Seferovic e Gonçalo Ramos, saindo Darwin e... Weigl. Faltava um quarto de hora, e finalmente havia condições para ter gente na área adversária, condição sine qua non para marcar golos a uma equipa que defendia toda em cima da sua grande área.
Três minutos depois apareceu finalmente o golo. E o empate, 23 minutos depois!
Ironicamente não teve nada a ver com as alterações. Na cobrança de um livre, na sequência da enésima falta sobre Rafa - sempre ele - Grimaldo foi simplesmente soberbo. Grande golo!
A partir daí foi outro jogo. E as bolas passaram a entrar. Três minutos depois, Seferovic fez o segundo, de cabeça, e o Paços já não tinha nada a fazer lá atrás. Avançou no campo, e o Benfica repetiu o que fizera ao Braga, há duas semanas. Já só houve tempo para mais dois golos - um a cada 5 minutos (Rafa e Everton).
Nada - portanto - de muito diferente do que se tem visto. Nem nada de novo. Na reviravolta do jogo, os rostos são velhos conhecidos. É por isso que vou cometer blasfémia: e se deixassem o empresário do Darwin fazer o negócio que anda para aí a dizer que tem em mãos?
Se calhar não é boa ideia esticar a corda com isso da cláusula de rescisão. Não parece que Jorge Jesus tire muito mais dali. Não se vê qualquer tipo de progressão. E pelo que vai vendo o Yaremchuk também podia ir para Milão. Neste caso não é a progressão que está em causa. É a regressão a que Jorge Jesus lhe está a impor!
Foi um Benfica de todo incompetente este que se apresentou esta noite na Trofa, para iniciar a sua participação na Taça de Portugal desta época.
Incompetente e mau de mais. A meter nojo. E a acabar o prolongamento com os jogadores completamente de rastos, praticamente todos amarelados, com o guarda-redes a queimar tempo e toda a equipa encostada às cordas, a despachar bolas para a frente como uma equipa dos campeonatos distritais.
Ah ... mas o Benfica mereceu ganhar, podia ter marcado quatro ou cinco golos, e o Trofense marcou o golo na única oportunidade que teve, e sem muito bem saber como. Pois, mas tudo isso apenas reforça a enorme incompetência da equipa. De todos e de cada um dos 17 (!) jogadores utilizados!
É difícil encontrar tanta incompetência e tanta incapacidade numa equipa de futebol!
Depois de uma jornada europeia ... é um problema. Depois das selecções ... é um problema... É só problemas. E desculpas que não têm desculpa.
Aí está. Nem a Taça. Que não salvava coisa nenhuma, mas anestesiava alguma coisa.
Pela segunda vez consecutiva em Coimbra, pela segunda vez consecutiva o Benfica a perdeu. Desta vez a somar a tudo o que perdeu nesta época, prometida de arrasadora. Mais uma vez a equipa, e principalmente Jorge Jesus, falha quando não pode falhar.
Sabia-se que esta era a Taça do tudo ou nada. Também para o Braga, e percebeu-se que Carlos Carvalhal, que voltou a dar um banho a Jesus - em quatro jogos ganhou-lhe três, dois deles decisivos - tinha esta final bem preparada. De Jorge Jesus só se tinha percebido a basófia do costume.
Claro que há as contingências do jogo. E há contingências que não são assim tão contingenciais. Na verdade as arbitragens de Nuno Almeida nesta época nos jogos do Benfica não são meras contingências. A verdade é que esta época o árbitro algarvio arrumou o Benfica em todos os jogos que arbitrou.
Neste fê-lo no fim do primeiro quarto de hora de jogo, de um jogo que estava amarrado, e ainda muito indefinido. Ao primeiro - de muitos - erros defensivos do Benfica, sucede o decisivo erro do árbitro, expulsando o guarda-redes Helton Leite, quando nenhuma imagem confirma que tenha sequer tocado no Abel Ruiz, que também não estava em condições de seguir para a baliza e fazer golo.
E o Braga ficava bem cedo a jogar com mais um. E se tinha preparado bem esta final, melhor tinha preparado este jogo, com aquele treino de há umas semanas com o Sporting. Que lhe tinha bem saído bem mal, mas ficou o treino.
O Benfica não fez como o Sporting. E daí tirou o Braga mais proveito ainda. Passados os primeiros minutos, o Benfica passou a querer jogar de igual para igual. E a verdade é que não só equilibrou o jogo como, já nos primeiros dois minutos de compensação na primeira parte criou duas oportunidades claras de golo. Só que no terceiro, na última jogada, num inofensivo corte de cabeça de um defesa do Braga, Vlachodimos e Vertonghen entregam a bola a Piazon, que se limitou, com classe, a meter a bola na baliza.
Em superioridade numérica, e com o tónico do golo em cima do intervalo, o Braga estava nas suas sete quintas. E no primeiro quarto de hora da segunda parte só não fez mais dois ou três golos porque não calhou. E controlou sempre o jogo porque, do lado do Benfica, nada era feito para mudar o rumo dos acontecimentos. O treinador que mais Taças de Portugal perdeu em Portugal - ganhou apenas uma - até fez as substituições que pareciam as indicadas, mas não mudou nada.
O pecado maior, de todo incompreensível, era a equipa, com menos um jogador, insistir em sair a jogar da sua área. Pensava-se que, com a entrada de Darwin, que garante outra profundidade ao ataque, esse pecado seria expiado, e que o Benfica passasse a explorar essa oportunidade, pudesse fugir à natural pressão alta do Braga, roubar comodidade ao adversário, e discutir o jogo em moldes diferentes. Mas não. Continuou sempre a insistir em sair com a bola de trás, e a perdê-la, na maioria das vezes, ainda no seu meio campo.
Foi tão sempre assim, que foi até assim que o Braga marcou o segundo golo, já no fim do jogo. Que acabou mal, e feio. Com a expulsão de Taarabt. E de Piazon. Mas não de Eduardo, o antigo guarda-redes do Braga - e até do Benfica - que provocou tudo (e provocou todos durante quase todo o jogo) e foi depois escondido.
Mas isto são as contingências. O que se passa no Benfica é que, infelizmente, não é acidental. Se tudo se mantiver na mesma, o que quer dizer com os mesmos, na próxima época cá estaremos para ainda pior que o mesmo. Insistir na incapacidade de Jorge Jesus, um treinador de outro tempo, esgotado e ultrapassado, mas sempre arrogante, e na incompetência - para não dizer mais - de Vieira, Rui Costa e restante corte, é acreditar que os mesmos erros, nas mesmas circunstâncias, não produzem os mesmos resultados.
Mas talvez ainda haja muita gente que não acredita nas leis da física…
O Benfica está, com toda a naturalidade, na final da Taça de Portugal, onde irá encontrar a equipa que melhor joga em Portugal, o Braga, que ontem eliminou categoricamente o Porto, depois de meia hora de grande futebol, interrompido por uma expulsão, se não manhosa, muito discutível.
Com a vantagem de 3-1 trazida do Estoril, e mesmo pela condição do adversário, do segundo escalão do futebol nacional, o que faltava era mesmo que o Benfica não conseguisse atingir esse objectivo de finalista da Taça. Daí a naturalidade do apuramento para a final. E não falo do sorteio, porque disso não tem o Benfica qualquer culpa. Se todos tivessem feito o que fez - ganhar aos seus adversários - esta meia final não teria estado o Estoril, como sabemos.
O jogo não foi nada estranho, foi um jogo de sentido único, e de domínio absoluto, e por vezes avassalador, do Benfica. Estranhas são as sensações que ficaram de uma exibição que não se pode deixar de qualificar como interessante, mas que não permite projectar grande entusiasmo para o que aí vem, e em particular para atacar o segundo lugar do campeonato.
O Benfica fez muitos remates, criou muitas oportunidades de golo, mas só marcou por duas vezes, no fim da primeira parte, e no fim do jogo. Mas não é esse, o do tempo, o único traço comum entre os golos. Nem o que mais releva, porque os golos têm o mesmo significado no início, no meio ou no fim de cada uma das partes do jogo. O traço que une os dois golos, e que releva, é outro: ambos só foram possíveis quando os seus marcadores gozaram de todo o espaço do mundo. Coisa que, como se sabe, raramente acontece, e mesmo hoje só aconteceu nessas duas ocasiões. Sem espaço, com os rematadores sujeitos a marcação cerrada, o Benfica não conseguiu marcar.
Poderá dizer-se que é sempre assim. Que só se marcam golos se se criarem espaços para isso. Mas o espaço que foi preciso para fazer aqueles dois golos muito raramente existem nos jogos do Benfica. No primeiro, Gonçalo Ramos estava sozinhíssimo na área do Estoril porque o adversário cometeu um erro na saída de bola. Um erro provocado pela pressão do Benfica, é certo. No segundo, Waldschemidt concluiu um contra-ataque de cinco contra dois.
Claro que há mérito nestes dois tipos de lances. De resto os maiores pecados do futebol desta equipa de Jorge Jesus têm mesmo sido as transições, defensivas e ofensivas. E não é por acaso que este foi o primeiro golo da época em contra-ataque, ou em transição ofensiva rápida, como agora se diz.
Mas não deixa de ser preocupante que só nestas raríssimas condições de espaço o Benfica tenha conseguido marcar. Como não deixa de preocupar o contínuo desperdício da qualidade de Waldschemidt (o golo não é nada fácil, até porque não nasceu do aproveitamento dos tais cinco contra dois). Se um treinador não consegue potenciar o aproveitamento de um jogador destes...
É um Benfica em crescendo, este que hoje se apresentou na Amoreira, para dar início à discussão com o Estoril do acesso à final do Jamor. Notam-se - notaram-se - algumas melhoras, mas também se nota que permanecem os pecados capitais do seu futebol.
Claro que quando a equipa está mal, quando defende mal, quando os jogadores jogam devagar, devagarinho e parados, quando falham passes e recepções, acaba por não revelar tão flagrantemente esses pecados. O que salta aos olhos é a falta de movimentação, a apatia, os erros grosseiros e a descrença. Só quando essas limitações desaparecem é que podemos ver então o resto, aquilo que é mais estrutural no futebol de Jorge Jesus.
Os jogadores não são tão maus como se pinta, e é normal que, contra equipas como esta do Estoril - o tomba-gigantes desta Taça, que se bateu muito bem, que sabe defender como a maioria das equipas da primeira liga e que sai em transições melhor que muitas dessas -, estando a um nível físico, técnico e mental aceitável, a sua valia venha ao de cima. Às vezes podem até dar a ideia que estão a fazer uma bela exibição.
O jogo de hoje no Estoril retrata bem aquilo que quero dizer.
Comecemos pela entrada no jogo. Nos primeiros dez minutos a bola esteve na posse dos jogadores do Benfica perto de nove. Perto dos 90% a posse de bola. Os jogadores passaram e receberam bem a bola e ela circulava entre eles. Mas nem um remate, o primeiro do jogo foi do Estoril que, nesse período, tiveram a bola cerca de um minuto. Que lhes deu para a recuperar duas ou três vezes e ainda para fazer um remate. Nesse mesmo período o Benfica até criou uma oportunidade clara de golo, quando Darwin surgiu isolado frente ao guarda-redes adversário e tentou passá-lo, para entrar com a bola pela baliza dentro.
Não foi muito diferente o resto da primeira parte. Remates, só de Rafa, hoje claramente infeliz nesse capítulo. Na única vez que acertou na baliza, já na fim do primeiro quarto de hora da segunda parte, o golo foi anulado, por fora de jogo. Que não pareceu nada, e que mais dúvidas deixou quando as famigeradas linhas deram por 10 centímetros um fora de jogo que o fiscal de linha tinha assinalado com convicção só comparável ao que pareceu ser o erro.
Um futebol que até poderia ter parecido bonito em alguns momentos, mas confrangedoramente estéril. E repetitivo, de passe para o lado e para trás, uma e outra vez, sucessivamente. Alas que em vez de irem à linha de fundo, para abrir espaços, fogem para o meio, onde não os há. Quando lá chegam, ou perdem a bola ou voltam com ela para trás.
Se tinha sido o primeiro a rematar, não admiraria que o Estoril fosse também o primeiro a marcar, precisamente a meio da primeira parte. Bastou-lhe chegar uma vez à área do Benfica, numa jogada, de resto, muito bem concebida. Jorge Jesus chama-lhe azar. Pode até ser, mas aquele futebol é muito propício a azares.
Aí já Rafa rematava. A rasar o poste e à barra.
O golo intranquilizou os jogadores do Benfica, que pareciam voltar a entrar na espiral de desacerto que parecia ter ficado para trás. Salvaram-se por pouco. Só nos últimos cinco minutos da primeira parte a equipa voltou a mostrar que aparentava melhoras. Primeiro foi Pizzi, com um grande remate à engrada da área, a estar perto do golo. Logo a seguir foi o guarda-redes do Estoril a negar o golo de Darwin. Que finalmente marcou, empatando o jogo, já em cima do minuto 45.
Na segunda parte o jogo foi mais rasgadinho, e também mais repartido. E começaram as mexidas nas duas equipas que, para o lado benfiquista, desta vez até correram bem, com destaque para Taarabt, Seferovic e Weigl, bem melhores que Gabriel, Pedrinho e Everton, que teimam em desiludir. Para além de refrescarem a equipa. Poucos minutos depois de entrar em campo Seferovic rematou ao poste, e outros tantos depois, marcou, consumando a reviravolta.
O Estoril subiu no terreno, e passou a deixar mais espaços na suas costas. Os sinais de melhoras também vêm do terceiro golo, com Taarabt justamente a aproveitar esse espaço numa transição rápida, como há muito se não via, para assistir Darwin. A bisar.
O caminho para o Jamor está aberto. Para melhores exibições, também parece. Para o sucesso é que é preciso mais.
Neste jogo dos oitavos de final da Taça de Portugal, na Amadora, no velho José Gomes, com o restaurado Estrela, meio filho, meio irmão, do Sintra Futebol Club, mas herdeiro do velho Estrela da Amadora, o Benfica apresentou uma equipa alternativa. Dos mais frequentes titulares, apenas Tarabt surgiu no onze. De resto tudo gente que habitualmente não calça!
Na primeira parte as coisas não resultaram. O onze em campo imitou bem o que de pior tem feito o onze habitual, com alguma exibições individuais ao nível do deplorável. Nuno Tavares, Samaris, Chiquinho, para não dizer mais, estiveram a um nível intolerável. Mas nenhum dos restantes esteve perto do que deveria ser aceitável para quem veste aquela camisola.
Daí que rapidamente os jogadores do Estrela, do terceiro escalão do futebol nacional, tivessem percebido que aquelas camisolas não assustavam ninguém e, passados os primeiros dez minutos, passaram a dividir o jogo.
Aproximava-se já o final da primeira parte quando o Benfica chegou ao golo. Ironicamente por Chiquinho, numa recarga depois de uma grande defesa do guarda-redes adversário a remate de Seferovic. Antes disso praticamente só uma grande perdida de Pedrinho, o que a melhor nível se exibiu até à sua substituição, pouco depois da hora de jogo.
A segunda parte foi diferente. Com os mesmos jogadores, a equipa surgiu completamente transformada, francamente para melhor. Samaris subiu particularmente de rendimento e Pedrinho chegou a momentos de brilhantismo. O resultado começou a engordar e só acabou nos quatro golos porque o desperdício foi grande.
Nos últimos vinte minutos Jorge Jesus começou a lançar no jogo alguns dos jogadores mais utilizados na equipa principal (Waldchmidt, Weigel, Rafa e Grimaldo) provavelmente com a ideia lhes dar ritmo, sem cansar, para o clássico de sexta-feira, no Dragão.
No fim ficam na retina algumas boas movimentações, daquelas que não enganam, de Gonçalo Ramos - retirado muito cedo do jogo, foi o primeiro a sair para entrar... Ferreyra -, e muita qualidade de Pedrinho. Mas também Todibo, na estreia, revelou grande qualidade no trato da bola. Provavelmente com um adversário superior não poderá dar largas à sua exuberância nesse capitulo, e poderão ser-lhe exigidas outras competências que hoje não lhe foram requeridas. Mas jogar bem à bola é sempre bom indicador.
E fica o apuraamento para os quartos de final. Onde o Sporting já não está, eliminado na Madeira, pelo Marítimo. E onde está também o Porto, porque, também na Madeira, mas contra o Nacional, se apurou à custa de mais uma arbitragem escandalosa. Que expulsou (segundo amarelo) um defesa do Nacional quando acabara de virar o resultado para 2-1, a meia hora do fim, que nem falta fez. Que evitou o segundo amarelo a dois jogadores do Porto (Zaidu e Taremi) em situações claras de punição disciplinar e, que, não fosse isto pouco, validou o golo do empate, em cima do minuto 90, iniciado num lance de mão de Taremi, lançando o Porto, com 11 em vez de 9, para o prolongamento de 30 minutos contra uma equipa que jogou mais de uma hora com um jogador a menos, e mal expulso.
Mas não se passa nada. Nunca se passa nada nestas coisas...
O Benfica apurou-se com naturalidade para os oitavos de final da Taça de Portugal, ao vencer, na Luz, o Vilafranquense, de João Tralhão, por 5-0.
Uma vitória folgada num jogo fácil, e com alguma história. Ou histórias. A começar na história dos cinco golos, todos muito bonitos, especialmente bonito o último. Que foi o primeiro de Pedrinho - um grande golo. Já o primeiro tinha também sido o primeiro de Gonçalo Ramos.
No espaço de quatro minutos, os que antecederam o primeiro quarto de hora de jogo, o Benfica marcou três golos. Que têm história comum na particularidade de terem resultado de jogadas que não fazem normalmente parte do cardápio de Jorge Jesus. E que tanta falta fazem ao pobre e estereotipado futebol que a equipa tem apresentado.
Refiro-me ao jogo vertical e ao cruzamento a partir da ala, dois dos instrumentos para abrir defesas. Os três primeiros golos, nesse espaço de quatro minutos, e ainda um remate à barra do Gonçalo Ramos, resultaram desse futebol, e surpreenderam o Vilafranquense. Que estava à espera daquele jogo interior invariavelmente afunilado para o centro da área. E não teve de esperar muito, porque depois desses excepcionais quatro minutos, ele apareceu. Com os resultados que se conhecem, e que se voltaram a ver. O azar da equipa da Segunda Liga é que já perdia por três. E ainda por cima, logo de enfiada.
Na primeira parte o Benfica ainda disfarçou esse futebol estereotipado, ineficaz e que diria mesmo que já não se usa. Marcou mais um golo, no bis de Seferovic, e deu um tom agradável à exibição, pesem embora as debilidades do adversário. Na segunda parte, e em cima do quatro a zero, voltou o tal futebol. E talvez não surpreenda que só deu para mais um golo, por acaso resultante da inspiração individual do Pedrinho naquele momento.
E poderia ter voltado a sofrer golos, porque a transição defensiva, mesmo com um adversário deste nível, voltou a ser aquilo que tem sido. Só não aconteceram porque, por duas vezes, a bola bateu nos ferros, e não nas redes. Mesmo que da primeira vez, na barra, tenha resultado da conversão ilegal de um livre indirecto dentro da área (mais um erro de Otamendi, a deixar seguir a bola, e do guarda-redes Helton a agarrá-la com a mão, que vinha de um atraso do Nuno Tavares), que foi executado como livre directo, dado que a bola não rolou, foi apenas pisada. A segunda resultou de um contra-ataque, e teria sido até mais um excelente golo no jogo.
O cinco a zero não é enganador face à realidade do jogo. Mas, pelo adversário, e pela insistência nas mesmas debilidades, não justifica qualquer optimismo.
O lado B igual ao lado A. Ou, como se dizia antigamente, "vira o disco e toca o mesmo".
Foi isto o Benfica de hoje, em Paredes, no jogo que lhe valeu o apuramento nesta quarta eliminatória da Taça 2020/21, a primeira com as equipas do escalão principal do nosso futebol, com um pobre resultado - um escassíssimo 1-0 - e uma não menos pobre exibição deste lado B da equipa. Como as últimas, do lado A.
Na realidade a música é a mesma. E bem fraquinha. Por esta altura é o que Jorge Jesus tem para oferecer.
Perante uma equipa do terceiro escalão do futebol nacional, que só defendeu, o lado B do Benfica apenas conseguiu marcar um golo, e de bola parada. Quem não viu o jogo poderá pensar que às vezes há jogos assim, em que a equipa ataca durante 90 minutos e o golo não aparece. E que às vezes até se perdem jogos assim. Mas não foi nada disso. Não teve nada a ver, por exemplo, com aquele jogo com o Moreirense, há dois ou três meses, que o Benfica ganhou apenas por dois a zero, quando poderia ter ganho por nove ou dez.
Não. O Benfica não só não criou mais oportunidades de golo, como não conseguiu muitas mais finalizações dignas desse nome.
O treinador do Benfica pareceu satisfeito no final do jogo. Tinha razões para isso. O seu objectivo, como ficou claro, era validar as suas opções. Era carimbar o seu desprezo pela formação do Seixal.
Foi para isso que disse que só se podem lançar jovens de 19 ou 20 anos quando têm qualidade, sentenciando já aqui o destino de todos aqueles jogadores. Foi por isso que bateu expressamente no Gonçalo Ramos!
Com Jorge Jesus é assim: vira o disco e toca o mesmo!
Depois de ter oferecido o campeonato, como se não fosse pouco, o Benfica resolveu oferecer também a Taça ao Porto. Uma oferta em dobradinha!
Isto não quer dizer que o Porto não tenha feito o que lhe competia, que se tenha limitado a receber as ofertas. Não. Quer no campeonato, quer hoje em Coimbra no jogo da final da Taça, pela primeira vez sem público, o Porto fez, com as armas que tem, o que lhe cabia fazer: ganhar e fazer com que o Benfica tivesse merecido perder.
O início do jogo começou por confirmar isso mesmo. Com o Porto a tomar a iniciativa e o Benfica simplesmente em reacção. Já o jogo ia nos 20 minutos quando o Benfica conseguiu chegar ao jogo, mas mesmo assim sem grande convicção. Mas deve dizer-se também que, depois do quarto de hora inicial, nunca mais o Porto esteve por cima do jogo, que se tornou até aborrecido e pouco digno de uma final.
Aos 37 minutos o árbitro Soares Dias - não há mais árbitros em Portugal para arbitrar estes clássicos - errou ao mostrar o cartão amarelo ao Luiz Diaz, como já errara quando lhe mostrara o primeiro, bem cedo no jogo. Como errara ao mostrá-lo, logo a seguir, a pedido do Sérgio Conceição, ao Rúben Dias. No segundo amarelo ao jogador do Porto, o erro é que o cartão a mostrar era claramente o vermelho.
Vermelho que, também na sequência de duplo amarelo, mostraria a Sérgio Conceição, afastando-o do banco. A custo, porque foram precisos largos minutos para que o treinador do Porto saísse do campo.
No tempo que decorreu até ao intervalo não houve jogo. Foi tempo para tudo - incluindo para, pelo menos Octávio, dever também ter seguido o caminho do balneário - menos para jogar à bola.
Há duas circunstâncias de um jogo de futebol em que a superioridade numérica se torna irrelevante: quando a equipa com menos jogadores opta por apenas defender, concentrando todos os jogadores na sua área; e nas bolas paradas, onde a respectiva estratégia não é influencidada por haver mais ou menos um jogador em campo.
O Porto conseguiu - e o Benfica permitiu - reduzir o jogo a estas duas circunstâncias. E assim ganhou o jogo e conquistou também a Taça.
Logo no arranque da segunda parte Vlochodimos deu um mote, oferecendo o primeiro golo de uma forma inacreditável. Num livre, com sete colegas de equipa à sua volta, conseguiu a proeza de colocar a bola na cabeça de Mbemba, sozinho no poste contrário, e praticamente sem ângulo.
E claro, o Porto juntou os seus 10 jogadores à frente da sua baliza. Com os jogadores do Benfica sem chama, nem engenho, nem futebol para contrariar isso. E sem construir uma única oportunidade para marcar.
Uma dúzia de minutos depois da oferta de Vlachodimos, novo pontapé livre - as faltas inventadas pelos batidos jogadores do Porto foram uma constante, sempre com a complacência de Soares Dias, que teve até o desplante de mostrar um amarelo a Vnícius (que entrara entretanto) depois de Pepe, dentro da área, se ter feito passar de agressor a vítima - e, novamente Mbemba, que pareceu em fora de jogo, mas que as famosas linhas deram posição legal por 3 centímetros, fez o segundo golo.
Foram as únicas duas vezes em que, em toda a segunda parte, o Porto chegou à baliza do Benfica. Que continuava sem saber como furar aquela barreira defensiva. Veríssimo metia avançados em cima de avançados, incluindo essa preciosidade que se chama Dyego Souza, mas sem conseguir melhor que a primeira oportunidade de golo já À entrada do último quarto de hora. Vinícius rematou de cabeça contra o solo, mas a bola subiu antes de entrar na baliza.
E daí até ao fim, para além do golo, dez minutos depois, num penalti convertido por melhor marcador do campeonato, apenas mais uma jogada que poderia ter acabado em golo, e um remate de Jota ao poste. Que poderia ter dado o empate, mas não deu.
Nos escassos (para as substituições e as paragens sucessivas que os jogadores portistas impuseram ao jogo) 5 minutos de compensação voltou a não haver jogo. Como naturalmente interessava ao Porto!
E assim, com mais um decepcionante exibição desta destroçada equipa, os jogadores do Benfica fecharam uma época que já só queriam que acabasse. A estrutura, essa que estava dez anos à frente da concorrência, sem olhar para trás, vai agora continuar a ensaiar saltos para a frente.
Com o abismo ali tão perto!
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