Mudar, fazer diferente, é um imperativo normal de quem acaba de chegar a qualquer posto de poder, seja el qual for. Para deixar tudo na mesma não é preciso mudar, mesmo que muitas vezes seja preciso mudar para que tudo fique na mesma.
O que é preciso é fazer diferente, pensou também Carlos Moedas. Se calhar havia muita coisa por onde começar, de preferência uma das que não estivesse assim tão bem. Mas o novo Presidente da Câmara de Lisboa resolveu fazer diferente na primeira coisa que lhe chegou às mãos, sem se preocupar muito se, para fazer diferente, fazia pior. E logo na vacinação. E logo nesta altura, em que o alarme social volta a soar.
Não é fácil perceber que seja uma boa medida fechar dezenas de centros de vacinação espalhados pela cidade, e abrir um único numa ponta, olhe-se por que perspectiva se olhar. Mas é diferente, e isso é que importa a Carlos Moedas. E dinamiza uma das principais actividades da cidade, por acaso uma das que mais visivelmente tinha apoiado a sua candidatura, revoltada com as ciclovias - o táxi, pois claro. A Câmara paga, não se importem!
Por trás da forma como se manifestam os taxistas, com mais ou menos arruaça, com mais ou menos - geralmente com mais - desacatos, com mais ou menos perturbação da ordem pública, ou mesmo com a subversão das formas de luta - como ontem aconteceu ao transformar uma marcha lenta num bloqueio - não há apenas uma desproporção de regulação difícil de perceber. E de aceitar.
Mesmo que este confronto se limite a opor dois tipos de agentes que basicamente desempenham a mesma actividade económica, mas a quem o Estado regulador coloca exigências completamente diferentes, ao ponto de, a uns, exigir tudo e, aos outros, não exigir nada, percebe-se o que está por trás.
Percebe-se a marcha do neo-liberalismo global que leva á frente tudo o que seja regulação. Que esmaga à sua passagem tudo o que encontre e que, de alguma forma, crie obstáculos ao resplandecente laissez fair laisser passer da globalização.
A uberização das sociedades é isto que hoje se vê embrulhado nestas plataformas de mobilidade, que no fundo coloca aos cidadãos um trade off que cheira a chantagem: toma lá vantagens e facilidades inidividuais enquanto cliente, e dá cá, enquanto cidadão, todos os direitos colectivos que possam constituir os nossos deveres e obrigações. A uberização é a precarização das relações sociais, é um mundo sem direitos laborais nem obrigações contratuais. Sem regularização. E sem Estado que não seja em serviço próprio!
O que não quer dizer que o regulado mundo dos taxis esteja cheio de virtudes. Nada disso...
O primeiro-ministro norueguês, o trabalhista Jens Stoltenberg, de novo candidato nas eleições de 9 de Setembro, foi notícia por se ter disfarçado de taxista, supostamente com a intenção de recolher as reacções dos passageiros à política e ao desempenho do seu governo.
O vídeo gravado na circunstância foi divulgado e suscitou as melhores reacções. Na Noruega mas também pelo mundo fora, sempre disponível para aplaudir a cultura cívica nórdica, a transparência e a ética que fazem da política na Europa do Norte, e em especial na Escandinávia, o modelo de salvação dos sistemas democráticos que agonizam no resto da Europa, e mesmo do mundo.
Soube-se pouco de pois que os passageiros eram figurantes, que foram seleccionados e pagos para executar o papel. Que foi um embuste e que, afinal, também por lá, a ética e a transparência já conheceram melhores dias. Que, por lá, ética e transparência, não fogem muito do que por cá se diz de riqueza e santidade: é sempre menos de metade!
O que não quer dizer que não haja, mesmo assim, muito a aprender com eles… Não será é em matéria de táxis!
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