Nas emissões desportivas da rádio era - creio que ainda é - comum a chamada ronda pelos estádios onde estavam a decorrer os jogos de futebol, com o pivot ao comando da emissão a lançar aos repórteres no terreno a sacramental pergunta: "tempo e resultado"?
Nesta altura a resposta seria: Medina 10 - Pedro Nuno 0. Estamos no intervalo!
Em tempo de intervalo, havia - creio que ainda haja - um breve comentário à primeira parte e ao resultado. E de perspectivas para a segunda parte.
Nesta altura, no comentário, poder-se-ia ouvir que a primeira correu nas bases lançadas pela teoria da conspiração e que o resultado corresponde ao que se passou em campo. Mas com um alerta para o jogo estar apenas no intervalo. E que se espera um jogo completamente diferente para a segunda parte.
Pedro Nuno Santos tem no banco jogadores que podem alterar ainda o resultado final, que já estão em exercícios de aquecimento. Estamos a ouvi-los dizer que Medina fez batota com aquela escolha da Secretária de Estado, que aquilo não foi jogo limpo, que o jogo ainda não acabou e que, agora, há que ir para cima dele.
É isso. O jogo ainda não acabou, mas já não tem como acabar bem.
Outra coisa são as "trapalhadas". E já são "trapalhadas" a mais!
Mas há "trapalhadas" e "trapalhadas". As de Santana Lopes, e as de António Costa, em comum só têm a trapalhada.
Há já por aí muita gente a reclamar de Marcelo a receita de Sampaio para as "trapalhadas". Só que isso é mais uma trapalhada. Não é que Marcelo não gostasse de a usar. Bem gostaria. Corressem outros ventos ali para a São Caetano à Lapa e outro galo cantaria. Mas não pode. Não pode porque a oposição que existe, e a que verdadeiramente sairia a ganhar, lançaria o país na ingovernabilidade que abriria a caixa de pandora.
Marcelo pode até ser umas vezes imprudente, e outras até leviano, mas não é irresponsável. E, de António Costa, não serei eu o primeiro a dizer que nasceu com o dito cujo virado para a lua. De tal forma que, por mais asneiras que faça, qualquer ameaça se transforma logo em oportunidade.
Já sobre Fernando Medina o melhor é esperar pelos próximos capítulos. Ou pela segunda parte, que aí vem ...
E se Fernando Medina, conhecedor de toda a história da senhora Alexandra Reis através da sua própria mulher - directora jurídica da TAP até Março, donde saiu no mês que seguiu ao da senhora de lá ter saído com meio milhão de euros no bolso, por quem todo o processo naturalmente teria de passar -, a tivesse nomeado apenas para que viesse a ser conhecido um caso que, de outra forma, nunca chegaria ao conhecimento público?
E se Fernando Medina tivesse escolhido Alexandra Reis para sua Secretária de Estado para liquidar de vez Pedro Nuno Santos?
Não. Isto não cabe no domínio das teorias da conspiração. É apenas ficção mal amanhada de quem já viu um porco a andar de bicicleta na política portuguesa...
A The Atlantic, a velha revista de Boston, que já vem do início da segunda metade século XIX, divulgava por estes dias uma sondagem que revela que cerca de um terço (31%) dos americanos estão convictos de que o vírus foi criado pela China como poderosa arma química. Os mesmos - muito provavelmente mesmo os mesmos - mas a mesma percentagem dos que acreditam que o SARS-CoV-2 é muito menos perigoso do que se diz, e que o seu grau de ameaça está a ser deliberadamente exagerado para prejudicar a reeleição de Donald Trump.
Há dois meses, logo na fase inicial deste susto que o mundo está a viver, procurando coisas positivas que as portas abertas da pandemia poderiam deixar à vista, escrevi aqui que "bastaram os primeiros dias desta crise" para ver a ignorância e a incompetência deTrump e Bolsonaro. Para que "toda a gente pode facilmente comparar tudo o que estes dois fizeram e disseram deste vírus... o que têm vindo a fazer e a dizer do ambiente, tão só a maior emergência da humanidade. E concluir que não passam de dois idiotas".
É verdade que muita gente percebeu a sua verdadeira incompetência política, e a dimensão da mentira a que dão corpo, e arrependeu-se de lhes ter dado o voto. Mas isso não os enfraqueceu. Pelo contrário.
Os meios e as técnicas que os levaram ao poder não são - não foram - meros instrumentos de conquista de poder. São armas poderosíssimas de que não abrem mão e que, em tempos como estes, de limitação e condicionamento das liberdades individuais e de devastação económica e social, a partir do poder, se tornam mais poderosas ainda. Teorias da conspiração, manipulação da informação e propagação da mentira (fake news) circulam hoje pelo mundo sem barreiras da internet à velocidade da luz. E com elas, à mesma velocidade e da mesmíssima forma, poderosos meios de recrutamento e mobilização de adeptos fanáticos transformados em exércitos dispostos a quebrar todas as convenções e a desafiar todas as instituições. E com armas nas mãos.
Não. Trump não se limita a mentir, a manipular, ou a condicionar. Acossado, o que Trump está a criar na América é uma rede de terrorismo interno que, do ponto de vista de concepção política, não se afasta muito das redes do terrorismo internacional.
As teorias conspirativas sobre a origem da pandemia que virou o mundo do avesso, insinuadas por Trump e logo agarradas pelos Camilos Lourenços desta vida, parecem-me uma patetice. Não tanto pela impossibilidade de demonstração, com a discussão sempre capturada pela especulação, isso seria o menos. Mas porque desvia o foco daquilo que importaria discutir.
Se a China criou ou não o vírus, em primeira análise, e se a sua disseminação foi acidental ou propositada, é um enredo que só interessa à China, e aos interesses chineses, que nunca são apenas chineses. Ao mundo democrático e civilizado basta a inegável ocultação, durante semanas, do que estava a acontecer em Whan. Basta considerá-la acto hostil e exigir da China a sua reparação, que é como quem diz o financiamento de um programa de recuperação das economias dos outros cantos do mundo afectadas pela pandemia. Não aceitar outra coisa que não exactamente isso, e recolher a mão que tem tido estendida para receber as migalhas da campanha que a diplomacia expansionista chinesa pôs em marcha.
Tão simples quanto isto.
Abrir-se-iam então duas vias: ou a China assumiria essa obrigação, e era definitivamente colocada perante as suas responsabilidades no mundo, acabando com as ambiguidades dos seus compromissos internacionais; ou, o que seria mais provável, rejeitaria essa responsabilidade, e o mundo votá-la-ia ao isolamento com que agora nos vimos confrontados, com um total embargo comercial e político.
Só que isso acabaria com os baixos custos de produção das grandes multinacionais lá instaladas, e com a maior fatia do mercado das suas marcas de luxo. E, claro, é de custos e vendas que se fazem os lucros.
É por isso muito mais interessante alimentar teorias da conspiração. Que não passem de chinesices para que tudo fique na mesma. Ou o mais próximo possível!
Tem-se feito aqui eco da dificuldade em perceber a posição do Presidente da República em toda esta situação – como em tantas outras – que envolve a fiscalização do orçamento pelo Tribunal Constitucional. No último texto passava-se mesmo a barreira da dificuldade para a da impossibilidade: quer dizer, não era difícil, era impossível perceber como é que o presidente, evidentemente porque tinha dúvidas sobre a constitucionalidade, pede a fiscalização do orçamento e, vendo o Tribunal Constitucional confirmar as suas (parte das suas, como adiante se verá) e as dúvidas de muitos outros, num ambiente de claro esgotamento do governo, opta pela cumplicidade em vez de procurar uma solução que permitisse começar a juntar os cacos.
Esta perplexidade levou-me a esta teoria da conspiração, que não quis deixar de partilhar convosco. Conta-se em poucas palavras:
Com dúvidas sérias sobre a constitucionalidade de algumas normas do orçamento, o presidente poderia (e deveria) ter pedido a fiscalização preventiva. Teria assim resolvido, em tempo, o problema;
Não o fez, e optou pela fiscalização sucessiva. Que se arrastou – como sempre se arrastaria - até aqui, a este preciso momento que, como é sabido, coincide com o do apuramento da execução orçamental no primeiro trimestre;
Execução orçamental que, e disso ninguém tem dúvidas, só pode correr mal. A alternativa a correr mal é correr muito mal, o que significa mais um momento de rotundo falhanço do governo e em especial da dupla Passos/Gaspar. Que, e como já se viu com o discurso de Passos Coelho – era inevitável -, é completamente escondido por trás da decisão do Tribunal Constitucional. A partir de agora tudo o que falha é consequência daquela decisão, nunca de um orçamento falhado, sem pés nem cabeça, obviamente inexecutável porque todas as premissas e previsões em que assentou são erradas ou falsas;
A cereja no topo do bolo não foi posta pelo presidente, foi o líder (?) do PS quem lá a colocou, com aquela desastrada moção de censura. A declaração da inconstitucionalidade do orçamento já não fragiliza o governo, reforçado na véspera com a derrota de uma moção de censura. Um bónus, a provar que há apostas que valem a pena;
Como não há teoria da conspiração sem uma maldadezinha, lembraria que uma das normas que o presidente enviou para o Tribunal Constitucional (TC) – e que foi o único a fazê-lo – é a que fixa a sobretaxa de solidariedade de 3,5%. Que toca directamente nas suas reformas, as tais que, apesar de lhe não darem para pagar as despesas, trocou pelo seu vencimento de Presidente da República. E que, afinal, foi considerada constitucional, deitando por terra uma (outra) teoria que alguns por aí faziam circular segundo a qual o TC estaria ao serviço de um tal Filipe Pinhal...
É conspirativo. Mas, a haver explicação, não encontro outra!
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