Se isto não são apenas excessos de ano novo - também num bar da cidade de Cetinje, no Montenegro, um homem armado abriu fogo e causou pelo menos 10 mortos - lá mais para para perto do dia 20, é bem possível que seja o Twitter a despenhar-se de uma janela da Trump Tower.
Ainda pouco se sabe do ataque de um refugiado afegão ao Centro Ismaelita de Lisboa, que resultou na morte de duas mulheres - Marina Jadaugy, de 24 anos, assistente social na instituição; e Farana Sadudin, de 49, gerente e principal responsável de uma associação de assistência humanitária afiliada da rede Aga Khan para o Desenvolvimento, ali sedeada.
Sabe-se pouco de Abdul Bashir, o refugiado autor do ataque, de 28 anos e com três filhos pequenos. Mas o suficiente para lhe adivinhar um quadro mental e psicológico complicado. Sabe-se que a acção pronta, profissional e exemplar da PSP evitou uma matança ainda maior. Sabe-se que a PJ continua a investigar, não apontando, para já, para acto terrorista.
Sabe-se - já se sabia, porque isto é como a pescada - é que André Ventura não perdeu a oportunidade para voltar mais uma vez a mostrar que é um nojo. E, para já, a ser o primeiro terrorista na cena do crime.
Se isto não servir para acordar tanta gente que por aí anda com sonhos húmidos, o melhor é continuarem a dormir!
A Polícia Judiciária impediu um atentado terrorista na Faculdade de Ciências, em Lisboa. Ou um ataque em massa a estudantes, professores e funcionários da Faculdade. Ou - mais parece - uma experiência criminosa, mesmo carregada de terror, a um rapaz tresloucado.
Na verdade a PJ, alertada pelo BBI, deteve um rapaz de 18 anos, pouco sociabilizado e fascinado pelos frequentes ataques a escolas nos Estados Unidos, que teria a acção aprontada para amanhã. Sabemos que todos os dias, se calhar não tantos por cá, mas seguramente pelo mundo fora, são evitados dezenas ou centenas de actos terroristas. Sabemo-lo porque isso é noticiado. Exactamente assim, como a notícia de uma estatística.
Provavelmente a própria Polícia Judiciária forneceu a notícia nessa perspectiva. Mais em cima do acontecimento, é certo. Mas isso até poderá dever-se à menor frequência de notícias deste tipo que tem para dar. Como são poucas, deteve o rapaz de manhã e revelou-o ao fim da tarde.
E, claro, foi um filão para as televisões, todas "CMTVizadas". Umas mais que outras, mas todas na mesma onda.
A CNN Portugal surgiu ainda não há três meses, prometendo revolucionar o panorama da televisão, e reclamando um estatuto único - ninguém nunca fizera nada igual e era verdade a acabar de chegar pela primeira vez a Portugal. Afinal ... limita-se a copiar a CMTV. E como copiar é fácil, é hoje uma cópia tão fiel que chega a ser difícil distinguir o original.
Ao final da tarde deu a noticia. Em primeira mão, como por toda a noite e a todos os minutos reivindicou. Nessa primeira notícia dava conta de um ataque terrorista - claro - que estava planeado para amanhã no Instituto Superior Técnico, e abriu logo ali o filão, começando a surgir comentadores de todo o lado com as banalidades do costume. Dez ou quinze minutos depois, o primeiro directo. Lá está, o directo - a alfa e o ómega desta forma de fazer televisão.
Dois directos, logo a abrir, e anunciar novos dados. O novo dado era, então, e de fonte que não poderiam naturalmente revelar, que o atentado teria lugar no ... Instituto Superior Técnico. Que a repórter começaria por identificar por Instituto Técnico Superior. O segundo repórter não acrescentava nada, limitou-se a babar-se com a grande revelação da colega a revelar o que o pivot em estúdio, agora também ele próprio a babar-se com a nova revelação, tinha revelado na notícia inicial. Cinco minutos depois, talvez nem tanto, o Instituto Superior Técnico passou a Faculdade de Ciências, como se nunca tivessem existido nem fontes nem Instituto Superior Técnico. Ou mesmo Instituto Técnico Superior. Em fundo passavam imagens do FBI, e muitas bandeiras americanas...
Este foi apenas o início do festival da CNN/CMTV. Repórteres por todo o lado em directos durante toda a noite ... sempre a dizer exactamente a mesma coisa. Especialistas de tudo a perorar sobre tudo. E comentadores tudólogos a debitar generalidades. Horas e horas a fio, durante toda a noite. E certamente a repetir amanhã durante todo o dia. Em breaking news, obviamente.
A detenção, em Lisboa, de dois iraquianos que viviam em Portugal como refugiados desde 2017, suspeitos de terrorismo, é a notícia do dia, não podendo ser mais (in)oportuna, quando na ordem do dia está o acolhimento a afegãos que procuram fugir do inferno que é hoje o Afeganistão. A primeira página do Correio da Manhã, bem na linha do que é a imagem de marca do tabloide, é disso elucidativa.
A possibilidade de serem recebidos terroristas islâmicos disfarçados de refugiados é, evidentemente, muito grande. Até porque infiltrar membros nas colunas de refugiados é uma solução Win-Win para o Daesh, ou ISIS, ou lá o que em cada momento se chame: ganham porque aproveitam uma espécie de boleia com escolta para os transportar; e ganham porque minar a disponibilidade dos países em receber aqueles que deles fogem funciona como factor de dissuasão dos que lá ficam.
Por isso, cabendo aos países do Ocidente assumir as suas responsabilidades - civilizacionais, mas também históricas - e, nesse sentido, tudo dever fazer para receber e integrar refugiados cabe-lhes, especialmente através da articulação do seus serviços de inteligência, criar os filtros que permitam identificar a maior parte das infiltrações. A nós, cidadãos desses países, cabe-nos compreender que, por mais apurados que sejam esses filtros, nunca todos lá ficarão retidos. Que haverá sempre, é inevitável, terroristas a passar por refugiados, e que esse é um preço que temos que aceitar pagar.
E cabe-nos denunciar títulos como o do Correio da Manhã. A notícia terá que ser que a polícia portuguesa identificou dois dos que passaram no filtro. Antes de por cá nos terem causado problemas, e de cá conseguirem sair para os causar a outros. E essa é uma boa notícia!
A França foi de novo vítima de mais um ataque do terrorismo islâmico, agora numa nova onda de ataques solitários a alvos indiscriminados, mas simbólicos.
Este de ontem, na Basílica de Notre-Dame, em Nice - e entre mais duas tentativas, uma em Avignon e outra na própria embaixada francesa na Arábia Saudita -, matando três pessoas, entre as quais uma mulher degolada, é carregado de simbologia. E não é por, numa casa de um Deus, se matar em nome de outro. É pela própria notícia do acto terrorista praticado por um jovem tunisino de 21 anos. Nuns jornais, chegado a França no início do mês. Sem mais. Noutros, aportado em Lampedusa, em mais uma onda de refugiados, antes de entrar em França.
Não faz diferença nenhuma, mas é flagrantemente simbólico.
A América voltou a ser palco de terrorismo, do seu terrorismo interno, alimentado a ódio e racismo, e servido pelo livre acesso a armas. Com um intervalo de escassas horas, no Texas e no Ohio, pelo menos 30 pessoas foram assassinadas. Mais de 50 ficaram feridas e há ainda um número indefinido de desaparecidos.
Trump poderá não ser o responsável directo por estes actos de loucura criminosa que, na verdade, sempre aconteceram na América, sob qualquer presidência. Mas a forma como alimenta tensões sociais e espalha ódio, e como continua a defender o livre acesso a armas, a todo o tipo de armamento, alinhado com o lóbi da National Riffle Association, tornam difícil dissociá-lo por completo destes actos terroristas. Que, para Trump, nunca passarão de efeitos colaterais da sua purga rácica e, para a imprensa, de meros tiroteios à velha maneira do Far West.
O número de vítimas mortais da matança da Páscoa no Sri Lanka já vai nos 310 e, com 500 feridos, não parará por aqui. Começamos por saber que entre as vitimas havia um jovem português, recém casado em lua de mel, estilhaçado ali à frente da mulher, à mesa do pequeno almoço. E três dos quatro filhos de uma família dinamarquesa...
E ficou a saber-se que, a 9 de Abril, os serviços de informação locais enviaram um memorando ao Conselho de Segurança Nacional, alertando para a possibilidade de estarem a ser preparados ataques a templos católicos na Páscoa. E que essa informação não chegou ao governo, marginalizado pelo presidente da República, e que não tem assento naquele órgão.
E ficamos a saber que estes atentados, e estas centenas de mortos, não resultaram apenas de incompetência. Que neste país longínquo, com tanto Portugal lá dentro - o cristianismo é apenas uma das heranças portuguesas - a omissão do presidente da República, em guerra aberta com o governo (em funções depois de demitido pelo presidente mas reconduzido pelo Supremo Tribunal), tornou-o cúmplice e responsável por este acto hediondo. No mínimo tão responsável como quem o preparou, ou como cada bombista que se fez explodir para matar.
Autêntica matança da Páscoa, no Sril Lanka. Duas centenas de mortos às mãos do mais ignóbil que poderá haver em seres ditos humanos. Não creio que sejam!
Para além do terror, da brutalidade e do ódio, o ataque terrorista de há dias a duas mesquitas em Christchurch, na Nova Zelândia, impressiona pela capacidade do seu autor no uso da internet e pela competência no domínio das técnicas de comunicação nas redes sociais.
Este é de resto um traço comum ao terrorismo actual. Onde quer que seja, independentemente dos fins que prossiga, o terrorismo faz da internet e da comunicação a sua mais potente e destrutiva arma. Tudo é pensado, todos os movimentos e todos os gestos são estudados para mais longe e mais fundo levarem a mensagem do ódio e o ritual de terror. E para fazerem do extermínio impiedoso um espectáculo de dimensão planetária, passível de ser replicado onde quer que seja, por quem quer que seja.
Em França, outra vez. O terrorismo voltou à rua, desta feita espalhando sangue e morte num mercado de Natal, em Estrasburgo.
Tudo igual a tantas das anteriores ocorrências. Um cidadão francês de origem marroquina, nascido e criado em França. Um criminoso comum que acaba por migrar para o campo do terrorismo islâmico. Um terrorista já referenciado pelas autoridades francesas, que mais uma vez chegaram tarde: ou porque se atrasaram, ou porque permitiram que o terrorista se antecipasse. Que mata e foge por entre os dedos da polícia...
Sempre tudo assustadoramente igual!
Acompanhe-nos
Pesquisar
Subscrever por e-mail
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.