RIR, para não chorar*
Foto: Tiago Petinga/LUSA
Encontramos frequentemente no sistema partidário português justificação para todos os males de que enferma o regime, que damos por esgotado e bloqueado. Se falamos de abstenção, a culpa é dos partidos. Se falamos de corrupção, a culpa... de quem haveria de ser? Não há renovação da classe política e, a culpa é, evidentemente, dos partidos políticos... Que usurparam o regime e dele dispõem ao serviço exclusivo das suas parasitárias clientelas.
Nem sempre será tudo tanto assim, mas é inegável que a cristalização da actividade política e o constante afastamento dos cidadãos da coisa pública, que está a levar ao bloqueamento do regime, tem muito a ver com o descrédito em que os partidos se deixaram cair.
Dávamos a regeneração do sistema partidário por causa perdida. Os grandes partidos do sistema, os que, para o bem e para o mal, trouxeram o país até aqui, eram intocáveis. A abstenção crescia, é certo, mas a votação expressa andava sempre por ali à volta dos mesmos.
Até que, de repente, parece que alguma coisa está a mudar e os dois partidos do centrão, que há mais de 40 anos repartem o poder, e que até há aqui recolhiam mais de 75% dos votos expressos, não representam agora mais de 50% do eleitorado que se digna a votar.
É como se, de repente, os partidos tradicionais começassem a deixar espaço que se revelasse tentador para novas formas de expressão política. E a verdade é que novos partidos começaram a nascer que nem cogumelos.
Vimo-los nas últimas eleições europeias. Faltava um, agora acabadinho de chegar. Chama-se RIR e vem pela mão do “Tino de Rans". Dir-se-ia que é para rir, mas diz que é de Reagir, Incluir e Reciclar. Um RIR forçado, cujo líder, sem se rir, acha legitimado pelos 150 mil votos que lhe valeram o sexto lugar das últimas presidenciais, em 2016.
Já para não falar de outras figurinhas que já vimos surgir nos jornais, de que o melhor é mesmo nem falar... Haja tino, porque isto não é para rir. É mesmo para chorar... Mas não de chorar por mais. Já chega. E basta!
* Da minha crónica de hoje na Cister FM