FUTEBOLÊS#123 TOMAR CONTA DO JOGO
Por Eduardo Louro
Tomar conta do jogo não é bem como tomar conta de qualquer outra coisa. Embora seja mandar no jogo, como se manda noutra qualquer circunstância!
É pegar no jogo e impor a sua lei, a lei mais universal e mais antiga que existe: a do mais forte! Tomar conta do jogo é muito mais que controlá-lo. Muitas vezes há equipas que conseguem manter o jogo controlado sem que tenha tomado conta dele. Para controlar o jogo basta saber defender, marcar territórios. Normalmente muito recuados.
Por exemplo, o Sporting de Sá Pinto tem sabido controlar os jogos sem que consiga tomar conta deles. Lá bem atrás, vai segurando as pontas enquanto vê os adversários jogar à bola. E segurando os resultados, o um a zero da praxe! Há excepções, claro. Se não também não haveria regra. O último quarto de hora do jogo desta quinta-feira com o Atlético de Bilbau é essa excepção: sem nada para controlar - estava a perder – teve que mudar de agulha. E, para surpresa de toda a gente, acabou por tomar conta do jogo e dar a volta ao resultado (para 2 a 1). Uma volta que até poderia bem ter sido maior!
O Barcelona é a equipa que melhor sabe tomar conta dos jogos. É viciada nisso, não sabe jogar de outra maneira. O árbitro – muitos deles são tão ou mais viciados nisso que o próprio Barcelona, mas já lá vamos – apita para dar início ao jogo e lá estão eles, mandões, a tomar conta do jogo. De tal forma que ficam a bola só para eles, os adversários andam por ali atarantados a correr atrás deles e dela – da bola. Nem por isso conseguem evitar dissabores, como aconteceu esta quarta-feira com o Chelsea.
Mas há equipas que não precisam de tomar conta dos jogos para os ganhar. Arranjam quem tome conta por eles: assim uma espécie de outsourcing! Ou um anjo da guarda, sempre pronto a velar para que nada corra mal: sempre tudo sob controlo!
Já se percebeu que se está a sair do relvado, das quatro linhas. Pois! Também há quem tome conta do jogo sem sequer pisar o relvado.
É verdade. Há por aqui quem o faça com muito maior eficácia que o Barcelona!
Começou por tomar conta de uns sujeitos que, cabendo-lhes apenas velar pelo jogo, sabem bem como exceder-se nos cuidados e tomar conta dele. Depois viciou-os nisso para passar a mandar neles e, a partir deles, no jogo. Até acabar por tomar conta dele. Já lá vão trinta anos – foram assinalados num dos dias desta semana - e não se sabe por quantos mais continuará a tomar conta do jogo.
O êxito é tanto que não falta quem procure desvendar o segredo de uma receita de tamanha eficácia e longevidade. Ou mesmo fazer alguns ensaios laboratoriais – desastrados, como se está a ver - na expectativa de descobrir a fórmula mágica.
Falham os pequenos detalhes, mas é nos detalhes que está o segredo. Por exemplo, o original, o verdadeiro, tinha falado em Lisboa a arder, mas sem nunca sequer chegar a lançar um fósforo. Foi o suficiente para que aparecesse um sujeito a experimentar em laboratório mandar incendiar um bocadinho de Lisboa. Pagava umas viagens, e os bilhetes de avião eram emitidos nuns nomes que, correspondendo à pessoa do passageiro, eram estranhos, careciam de descodificação. No seu ensaio de laboratório o que o sujeito faz é um depósito bancário depois de uma viagem de avião. Não é a mesma coisa, e depois há ainda o detalhe de umas câmaras de vídeo nada indiscretas. As escutas telefónicas, no original, no verdadeiro, no mestre, não servem para nada. Até acabariam por se perder e deixar de existir, não fosse o pequeno detalhe ter aparecido uma coisa chamada YouTube. No ensaio no laboratório deste challenger ainda não se sabe o que lhes irá acontecer. Pode ser que nesse detalhe tenha corrido bem!
Mas – francamente – quem não se consegue tomar conta de detalhes deste tipo, nunca conseguirá tomar conta do jogo!