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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Tour 2014 VIII

Por Eduardo Louro

 

Chegou ontem ao fim, em plenos Campos Elíseos, a centésima primeira edição da maior e mais extraodinária competição do ciclismo mundial. 

Os Pirinéus tinham, à décima oitava etapa, deixado quase tudo definido. Ficara para o contra-relógio do penúltimo dia a arrumação final do pódio, porque sobrava apenas a etapa de sexta-feira, tranquíla, para os sprinters voltarem a ter a sua vez...

E assim foi. Ou quase, já que o lituano Navardauskas consegui adiantar-se um bocadinho - sete segundos apenas - ao pelotão e ganhar, deixando os especialistas do sprint, onde voltava a faltar Kittel, mas também Greipel, a discutir o segundo lugar. Até se chegar ao contra-relógio onde, como se esperava, Tony Martin voltou a não ter rival. Ganhou categoricamente, com Nibali - que, sem qualquer pressão e totalmente à vontade na classificação, não terá naturalmente sentido necessidade de dar o seu melhor - a fazer o quarto tempo, com mais 1´e 58"!

Na disputa pelo segundo lugar Péraud, sétimo no contra-relógio com mais 2´e 27" que Martin, levou a melhor sobre Thibaut Pinot. Que ficou com o último lugar de um pódio com dois franceses, que há muitos, muitos anos se não via.

Quem voltou a ficar fora do pódio, naquela que terá certamente sido a sua última oportunidade, foi o espanhol Alejandro Valverde, atirado nos Pirinéus do segundo para o quarto lugar mas, ainda assim, com apenas quinze segundos para recuperar. Voltou a falhar, e os quinze segundos que tinha para o segundo lugar de Pinot, transformaram-se em 2´e 3" para o mesmo segundo lugar depois de Péraud.

Com tudo decidido correu-se ontem a etapa do champagne, com Kittel finalmente de regresso às vitórias, repetindo com o Arco do Triunfo à vista o mais apetitoso dos sprints vitoriosos. Foi por pouco, menos de meia roda sobre Kristoff, mas o suficiente para, depois daquelas três vitórias nas quatro primeiras etapas, e de mais de duas semanas como que desaparecido em combate, igualar as quatro de Nibali.

Este foi o Tour das quedas. Não sei se teve mais quedas que os anteriores, mas teve mais quedas com mais consequências. Só candidatos foram dois - e que dois: Froome e Contador. Mas também e ainda o papa-etapas Cavendish, o melhor sprinter mundial dos últimos anos!

Mas foi, acima de tudo, o Tour de Nibali. Ganhou com uma autoridade raramente vista, só ao alcance dos grandes campeões. Ganhou quatro etapas, e sempre as de maior grau de dificuldade. Nunca se deixou atacar. Para nunca ter de se defender, foi sempre ele a atacar. Impressionante!

Percebeu-se que se preparou para ganhar este Tour, e ganhou com mérito indiscutível, deixando a ideia bem clara que ganharia mesmo com Froome e Contador. Nunca ninguém o poderá provar, evidentemente. Deu para perceber, nas 10 etapas que Contador disputou, que o espanhol não estaria à sua altura. Froome ficou de fora logo na terceira etapa, mas mesmo aí já Nibali tinha ganho, na segunda. A verdade é que a superioridade que Nibali evidenciou deixa definitivamente uma pedra sobre este tipo de especulações!

Integra hoje o restrito grupo de seis corredores que ganharam as três grandes competições dociclismo mundial: Vuelta, Giro e Tour. E isso diz tudo!

A merecerem também referência neste Tour: desde logo os dois franceses do pódio, com Pinot ainda a ganhar o prémio da juventude. Também Tony Martin, um grande corredor. E mais dois jóvens de grande potencial - o francês Bardet, que o contra-relógio atirou para o sexto lugar, e o polaco Mayka, o rei dos trepadores.

Pela negativa referiria Joaquim Rodriguez, que se expôs e perdeu sempre. Mas também Peter Sagan, de quem muito se esperava em função da sua participação na edição anterior. Ganhou - e cedo, ficou bem cedo definida a camisola verde - a classificação por pontos, mas sem ganhar uma única etapa. E perdeu todos os sprints que disputou. Na mesma linha, se bem que num registo completamente diferente, Kwiatowski. O jovem polaco foi uma desilusão completa. Falhou naquela aqui tão referida etapa épica do Tony Martin, depois aproveitou uma boleia numa fuga bem sucedida na primeira etapa dos Pirinéus, e regressou ao top ten, para se afundar logo de seguida nos confins da classificação. E Richie Porte, que depois de no ano passado ter até deixado a ideia de poder contestar a liderança de Froome, este ano, com o líder a ficar logo de fora, falhou em toda a linha. E sempre!

Não há muito a dizer sobre os portugueses. Rui Costa teve de abandonar ainda antes dos Pirinéus. O Tiago Machado chegou a ser terceiro, por um único dia, o também dia único em que Nibali não teve a amarela vestida. Ironicamente teve na queda o seu dia de glória. O Sérgio Paulinho fez o seu papel, mas ficou também aquém do que parece que poderia ter feito, especialmente depois do abandono de Contador. É de resto o desempenho de muitos dos seus colegas de equipa, depois de libertos pela ausência do líder, que deixa a ideia de que também ele poderia ter tido o seu momento de glória.

Nelson Oliveira, também ele acidentado, e José Mendes reservaram para o contra-relógio as suas melhores prestações, ficando ambos nos vinte primeiros, com tempos que até tinham dado jeito, por exemplo, a Valverde.

 

Tour 2014 VII

Por Eduardo Louro

 

 

O Tour disse hoje adeus aos Pirinéus, que arrumaram muitas das contas. Se não definitivamente, lá muito perto… O contra-relógio de sábado fará o resto, arrumará o pódio, o que já não é pouco…

Tínhamos, na última vez, ficado na 16ª e primeira destas três etapas dos Pirinéus.

Ontem, na décima sétima, correu-se a etapa mais curta, com apenas 124,5km, entre Saint-Gaudens e Saint-Lary Pla d’Adet. Mas com quatro montanhas – três de primeira categoria e a última coincidente com a linha de chegada, de categoria especial. Própria, por isso, para o polaco Mayka e o espanhol Rodriguez, ajustarem as contas da montanha.

Definiram, para acertar essas contas, estratégias diferentes. Opostas mesmo. Joaquim Rodriguez apostou logo de início da corrida tudo nas contagens de primeira categoria. O miúdo (24 anos) Mayka apostou tudo para vencer a etapa, dobrando assim a pontuação da montanha de categoria especial.

E assim foi, e com uma extraordinária corrida do seu colega de equipa Nicolas Roche, que se encarregou de impor o ritmo durante toda a parte final da etapa e de o trazer por ali acima, o polaco ganhou pela segunda vez. E só não arrumou logo ali com a classificação da montanha porque há Nibali. Que foi terceiro, arrumando mais uma vez com a concorrência, e ficou também em condições de disputar essa classificação.

À parte dessas contas à volta da camisola às bolinhas, a corrida voltou a ser espectacular. Mayka deu espectáculo – teve um desplante, com um gesto de ganhar impulso numa mota, que lhe valeu uma penalizaçãozita de 10 segundos e uma multazita de 50 euros – e confirmou-se como um dos grandes deste Tour. Para Nibali já não há palavras, simplesmente não dá qualquer oportunidade à concorrência, e voltou a ganhar tempo a toda a gente.

A etapa de hoje, a 18ª, na distância de 145 quilómetros entre Pau e Hautacam, tinha na ementa o Tourmalet, a mais mítica das montanhas dos Pirinéus, ao nível do Alpe D´Huez, nos Alpes, mas ainda de maior grau de dificuldade. Só que, depois de atingido o cole do Tourmalet, de categoria especial, sucedia-se uma grande descida até à subida final do Hautacam, onde a meta coincidia de novo com a contagem de montanha de categoria especial.

Talvez por isso a montanha – Tourmalet – tenha parido um rato. A subida iniciou-se com um grupo de vinte corredores em fuga com uma vantagem de cerca de 3,5 minutos, que incluía o português Tiago Machado, de resto o primeiro a ceder. E o que se passou, não passou do processo de selecção natural de uma subida destas: tudo o que era grupo se esfrangalhou. Do esfrangalhamento no grupo em fuga resultou na frente um duo – o espanhol Nieve, da Sky e o francês Kadri, da AG2R – que chegou lá acima com cerca de 4 minutos de vantagem. Do esfrangalhamento no pelotão resultou na frente o grupo do costume, de Nibali, Valverde, Péraud, Pinot, Bardet, Van Garderen…

A prova de que nada se passava é que, numa subida daquelas, os dois da frente ainda ganharam alguns segundos à nata do pelotão. Seguiu-se a descida, com a Movistar e Valverde a ensaiarem mais uma das suas, pretendendo ganhar na descida o que não conseguem nas subidas. Nunca dá em nada. E depois a subida final ao cole de Hautacam, onde finalmente tudo acontecia. Primeiro foi Nieve a deixar para trás Kadri, o seu companheiro de aventura que, sem discussão, tinha sido primeiro no Tourmalet. Depois, ainda a 11 quilómetros do alto, o americano da Lampre – o veterano Horner – atacou e Nibali achou que, mais que uma boa boleia, era uma boa ideia. Andou com ele cerca de 2 quilómetros e, ainda muito longe da meta, foi embora. Sozinho, montanha acima, passando por tudo o que por lá andava, até chegar a Nieve e passar, sem dizer água vai.

Cá atrás, Mayka pensou na sua camisola das bolinhas. E, fosse para a defender, fosse para deixar claro que a merecia, foi também embora, parecendo imitar o camisola amarela, que chegou a sentir perto. Mera ilusão, só veria Nibali na meta, bem depois de ter chegado, e veria ainda chegar um grupinho onde estavam os franceses Pinault e Péraud. Na meta, Pinault foi segundo e Mayka terceiro, trocando com Nibali a classificação da véspera.

Valverde voltou a provar que são sempre exageradas as notícias da sua morte. Foi derrotado em toda a linha por todos os adversários, ficou para trás. Mas nunca fica irremediavelmente para trás, encontra sempre forma de ressurgir. Acabou ainda por ser décimo na etapa, a 2 minutos de Nibali e perdeu o seu segundo lugar, mas nem isso é irremediável. Pinault é agora segundo – e primeiro da juventude – e Pérault terceiro. Só que os três cabem em apenas 15 segundos!

Quer dizer: tudo decidido, menos os dois lugares do pódio. Que Valverde, Péraud e Pinault irão decidir entre si no contra-relógio. Para que não fossem os Pirinéus a decidir tudo!

Tour 2014 VI

Por Eduardo Louro

 

 

Depois deixar os Alpes, da etapa de transição (15ª) para os Pirinéus – com o australiano Jack Bawer e o suíço Martin Elmiger a morrerem na praia, engolidos pelo pelotão a 10 metros da meta, e nova vitória do norueguês Kristoff, da Katusha que, com Greipel a não corresponder e Kittel desaparecido em combate, passou a dominar as escassas oportunidades que o Tour tem agora para dar aos sprinters – e do segundo e último dia de descanso, correu-se hoje a primeira das três etapas pirenaicas que arrumarão a classificação final.

A notícia do dia é, no entanto, anterior e exterior à etapa. É, evidentemente, o abandono de Rui Costa, vencido pela bronquite que, conta o próprio na sua presença diária nas redes sociais, evoluiu para pneumonia. É o culminar de um Tour de que tanto se esperava, mas que tinha tudo para correr mal… A começar pela equipa!

A 16ª etapa, e primeira dos Pirinéus era, com perto de 240 quilómetros, a mais longa deste Tour, com quatro contagens de montanha de segunda, terceira e quarta categorias, e uma, a última, de grande dificuldade - a escalada de Port de Balès, com quase 12 quilómetros de alta montanha, de categoria especial, a escassos vinte quilómetros da meta. Que foi abordada por um grupo de vinte e um corredores, entre os quais o polaco Kwiatowski, o terceiro classificado da juventude, com mais de doze minutos de vantagem sobre o pelotão.

Pela montanha acima o grupo desfez-se por completo, com o jovem polaco a ser um dos primeiros a ceder, como vem sendo habitual – não se esquece como traiu aquele esforço épico e inglório de Tony Martin, na décima etapa –, sobrando na frente apenas o colombiano José Serpa, da Lampre, colega de Rui Costa de que já aqui falamos, o francês Thomas Voeckler e o australiano Michael Rogers, por esta ordem na contagem de montanha.

Lá atrás sucedeu o mesmo, e o pelotão esfrangalhou-se completamente, não resistindo ao inevitável Nibali, que desta vez se limitou a responder aos poucos ataques dos adversários. Um ou dois de Valverde, sempre bem acolitado por três colegas de equipa, e uns esticões de Pinault, que não se destinavam directamente ao líder da corrida mas, antes, ao seu compatriota Bardet, portador da camisola branca da juventude, e terceiro classificado. Tudo – e não é pouco – o que lhe interessava. O também francês Péraud, limitou-se a segui-los, completando o grupo do camisola amarela.

A louca descida de vinte quilómetros até à meta fez autênticos milagres. Por exemplo, Kwiatkowski recuperou do imenso tempo perdido na subida e chegou à meta em sétimo lugar, a apenas 36 segundos do vencedor, o australiano Rogers que também aproveitara bem a descida para ganhar a etapa, com perto de 9 minutos sobre NIbali. Ou o bielorusso Kiryenka, que depois de fraquejar na subida seria terceiro, atrás de Voeckler. Ou o americano Van Garderen, que não resistira no grupo de Nibali, ficando muito para trás para, no fim, chegar praticamente com eles.

Quem tirou grandes dividendos de tudo isto foi Kwiatkowski que, com os 9 minutos recuperados, regressou ao top ten, no nono lugar. E Péraud, que trocou tudo com o seu compatriota Bardet. Mas tudo isso está preso por apenas 36 segundos!

 

 

Tour 2014 V

Por Eduardo Louro

 

 

Na despedida da curta passagem pelos Alpes, correu-se hoje aquela que terá sem dúvida sido uma das mais exigentes etapas deste Tour. Anunciava-se uma grande jornada de ciclismo e não desiludiu!

Nibaldi voltou a confirmar que não tem par. Desta vez não ganhou, mas foi por mero acaso!

Foi segundo, atrás de Rafal Majka. O inverso de ontem, o que diz bem do extraordinário desempenho deste jovem polaco de 24 anos, companheiro de equipa de Sérgio Paulinho e estreante, quase forçado, porque participara no Giro de Itália e não era suposto participar no Tour. Continua fora do top ten, mas se nos Pirinéus confirmar o que fez nos Alpes ficará, logo no seu primeiro ano, como uma das figuras da competição. Lidera já o prémio da montanha, em igualdade pontual com Joaquim Rodriguez, que amealhou nas contagens intermédias e falhou sempre na alta montanha. Que ontem desiludiu, e hoje, andando sempre na frente à procura de pontos, foi simplesmente penoso na última e decisiva montanha.

Também o colega de fuga de ontem (terceiro) do polaco, o checo Leopold Konig, voltou a estar hoje muito bem. Foi nono na etapa e do décimo lugar, atrás de Rui Costa, subiu para oitavo da geral.

Rui Costa teve um dia bastante mau. Bem pior que ontem, mesmo que a classificação na etapa – 24º lugar a 4´46´´ do vencedor – possa não sugerir todas as dificuldades por que passou, tendo mesmo chegado a pensar em desistir, como referiu no seu Diário. Ontem ainda contou com o apoio de Chris Horner, e depois com a companhia do francês Pierre Rolland na fase decisiva da subida. Hoje ficou sozinho naquela subida tenebrosa, a contas com a bronquite por curar…

E no entanto teve um colega de equipa, o colombiano José Serpa sempre na frente, como documenta a imagem, onde puxa o grupo em fuga que apenas serviu Rodriguez (à esquerda) Não se consegue entender o funcionamento da equipa. Que é fraca, uma das mais fracas em prova, mas não precisava de ser uma anarquia. À excepção de uma ou outra prestação pontual do americano Horner, apenas o Nelson Oliveira, enquanto pôde, foi neste Tour verdadeiramente posto ao serviço do líder. Hoje, sem o americano e sem o português para dar uma ajuda, viu-se o colombiano andar todo o tempo na frente, inclusivamente com fogachos de ataque. Se tinha disponibilidade física para aquelas palhaçadas, é de todo inaceitável que a não tenha utilizado ao serviço dos interesses da equipa e do seu líder.

Poderia até aceitar-se se, perante o fraquejar do líder, o colombiano tivesse condições de seguir por ali acima e ganhar a etapa. Ou se estivesse em circunstâncias de atingir um lugar na geral a que o líder da equipa já não pudesse aspirar. Mas não, nada disso. Esgotadas as forças em autênticas palhaçadas, o colombiano entrou em queda livre e acabou ultrapassado por tudo e por todos, sem uma única pedalada de apoio ao português ….

Provavelmente Rui Costa não terá acesso a uma equipa mais forte na condição de chefe de fila. O que se passa na sua anterior equipa, na Movistar, aponta nesse sentido. Mas caramba, uma coisa é uma equipa fraquinha, outra é uma equipa desorganizada e sem rei nem roque. À Lampre não faltam apenas corredores!

Não vai ser fácil a Rui Costa regressar a um lugar entre os dez primeiros, que era evidentemente o mínimo que poderia esperar!

Tour 2014 IV

Por Eduardo Louro

 Vincenzo Nibali - Tour de France 2014, stage 13: live

 

O Tour chegou, de fim-de-semana, aos Alpes. Chegou hoje e parte no domingo, em direcção aos Pirinéus e à última semana.

Tínhamos ficado no final da décima etapa, na véspera do primeiro dia de descanso, ma terça-feira. Daí até à entrada, hoje, na alta montanha dos Alpes – este ano subalternizados relativamente aos Pirinéus, com apenas duas etapas – foram dois dias de grandes dificuldades, e com mais quedas, de novo sem explicação aparente e, também de novo, com o azar a tocar os corredores portugueses. Desta vez foi Nelson Oliveira, o colega de equipa e principal apoio de Rui Costa.

Terminaram ambas com chegadas em grupo, já que nunca o pelotão resistiu ao fraccionamento em vários grupos. Na primeira, a décima primeira etapa, ganhou o francês Gallopin – o tal que na etapa anterior tinha transportado a amarela, no único dia em que Nibali a despiu, certamente para lavar… Isolara-se uns quilómetros antes e conseguiu resistir até ao último metro, cortando a meta à frente mas como se tivesse ganho ao sprint por meia roda. Rui Costa, a contas com uma bronquite aguda, não resistiu no primeiro grupo, perdeu algum tempo (1´:36´´) e alguns lugares na classificação, caindo para a 14ª posição.

A etapa de ontem não foi muito diferente, com a mesma fragmentação do pelotão, com muitas fugas, sempre anuladas e vitória discutida ao sprint, mas sem os grandes sprinters que, depois do sobe e desce constante deste tipo de etapas – especialmente do sobe – não conseguem chegar no grupo da frente. Kittel já há muito que nem se vê, mas Greipel ontem até resistiu e chegaria em condições de discutir a etapa – a equipa, Lotto Belisol, bem trabalhou para isso – mas um encosto no meio do pelotão desequilibrou-o, teve de levar o pé ao chão e no meio daquela aceleração final ficou irremediavelmente para trás.

Foi, por isso, a vez dos eternos segundos. Ganhou Alexander Kristoff, já farto de ser segundo, e foi segundo Peter Sagan, o camisola verde dos pontos, que provavelmente ganhará sem vencer uma única etapa.

A etapa de hoje, a 13ª, foi corrida nas altas montanhas alpinas e terminou com uma montanha de categoria especial. E com mais um recital de Nibali, que ganhou lá no alto, pela terceira vez neste Tour, fazendo até ao momento o pleno nas etapas de maior grau de dificuldade.

Na última subida, a tal de categoria especial, atacou Valverde. Atacou Pinaud… Nibaldi respondeu e foi com eles – para trás ficara já Richie Porte, o segunda da geral, que viria a perder perto de 10 minutos e a desaparecer do top ten – para pouco depois se despedir e seguir sozinho até à meta, passando pelo caminho pelos dois últimos fugitivos, Majka e Konig, segundo e terceiro na etapa.

Rui Costa, ainda afectado pela bronquite, resistiu no grupo da frente até onde pôde. Deixou de poder quando surgiram os sucessivos esticões, o último dos quais do francês Bardet, líder da juventude, e do americano Van Gaderen, que fizeram também uma excelente corrida, respectivamente sétimo e sexto na etapa, com o mesmo tempo. Perdeu mais três minutos para o líder e vencedor da etapa, mas regressou, no nono lugar, ao top ten.

O grande derrotado da etapa foi sem dúvida Richie Porte, mas também o purito Joaquim Rodriguez, depois de parecer ter ressuscitado para o Tour com espectaculares exibições de montanha à procura da camisola das bolinhas, hoje falhou. Quando se esperava que fosse o principal animador da corrida, confirmando a liderança da classificação da montanha, ficou bem cedo para trás, aindas antes da entrada na última subida e muito antes da corrida se começar a decidir. Não ficará como um dos derrotados do dia, mas é certamente uma das maiores desiluões desta etapa.

O italiano da Astana não se cansa de provar que é o melhor deste Tour, não tendo culpa nenhuma que lá não esteja quem lá não está. Não terá a vitória assegurada... Falta a etapa rainha de amanhã, última dos Alpes. E faltam os Pirinéus, este ano ainda mais decisivos... Mas se nada de anormal acontecer, pelo que se tem visto, não há quem o possa desafiar. E desconfio que rapidamente deixarão de o fazer!

Tour 2014 III

Por Eduardo Louro

 Contador foi assistido e voltou à estrada, mas abandonou pouco depois (foto AP)

Photo By Christophe Ena/AP

 

 

Tínhamos deixado o Tour na quinta etapa, a do abandono de Froome. Regressamos hoje, com a décima, a do abandono de Contador (na foto). Estão fora as duas figuras maiores do Tour, de quem tudo se esperava!

A sexta e a sétima etapas não tiveram grande história. A sexta foi ganha ao sprint por outro alemão – Greipel, com o seu compatriota Kittel a passar por problemas e a ficar sem possibilidade de discutir o sprint final. E a sétima pelo italiano Matteo Trentin, de novo com Kittel eclipsado, a ter agora de esperar pela última etapa, em Paris.

No sábado correu-se a oitava etapa, que anunciava a chegada da montanha. Contador mostrou-se, e mostrou que era aquele o seu terreno. Atacou, mas a verdade é que os principais adversários responderam. Nibali e Richie Porte, agora no papel de Froome, não se deixarm ficar. O italiano reagiu mesmo em grande estilo…

Ganhou o francês Blel Kadri – primeira vitória francesa –, isolado, único sobrevivente na meta de um grupo que esteve em fuga durante muito tempo, com Contador em segundo logo seguido de toda a concorrência – Nibali, Porte, Pinault e Valverde, separados por pouquíssimos segundos uns dos outros. Rui Costa teve algum azar, saltou-lhe a corrente na altura decisiva e, mesmo que subindo ao oitavo lugar da classificação, perdeu algum tempo, passando a ficar a quase 3 minutos de Nibali. Que, ao contrário do que aqui cheguei a admitir, despiria a amarela na nona etapa, ontem, a cobrir os 170 quilómetros entre Gérardmer e Mulhouse, pela Alsácia, com seis montanhas para subir.

Foi uma corrida extraordinária de um corredor extraordinário, o crónico campeão do mundo de contra-relógio Tony Martin. Fez mais de 140 quilómetros em fuga, os últimos 70 sozinho, num contra-relógio individual só ao alcance dos sobredotados. Ganhou o que havia para ganhar, incluindo todas as contagens da montanha, e ganhou quase três minutos a um numeroso grupo perseguidor, que integrava os portugueses Sérgio Paulinho e Tiago Machado e o francês Toni Gallopin, e mais cinco ao pelotão. Com esta vantagem de 5 minutos o francês Gallopin tirou a amarela a Nibali – em boa verdade foi o italiano que preferiu entregar-lha – e, notável, o Tiago Machado subiu ao terceiro lugar. Rui Costa caiu de oitavo para décimo-primeiro!

Hoje, à décima etapa, no dia nacional de França – comemora-se a tomada da Bastilha - foi um francês a trazer vestido o maillot jaune. No dia da França, mas também numa das mais difíceis etapas desta edição do Tour. Que voltou também a ser a das quedas, quando se pensava que isso era coisa da primeira semana!

Muitas pequenas quedas e pequenos incidentes, que subir e descer com chuva e mau tempo dá nisso. Mas também quedas graves. Primeiro foi o Tiago Machado, que nem teve tempo de desfrutar do seu extraordinário terceiro lugar. Foi ainda dada a notícia da sua desistência, depois desmentida. Depois Contador, que ainda fez por regressar à corrida, mas acabou mesmo por desistir.

Não se ficou por aqui a história desta etapa. Que, claro, é feita pela vitória – categórica e já a segunda – de Nibaldi, que regressa à amarela, na afirmação clara de que é o grande favorito. Está num grande momento de forma, e será injusto lembrarmo-nos que já lá não estão Froome nem Contador.

É também feita do festival de Joaquim Rodriguez, a sprintar pelas montanhas fora para conquistar a camisola da montanha, a das bolinhas vermelhas. Que parecia estranha no corpo de Tony Martin, que mais parecia estar com varicela. Das sete, o espanhol, discutiu seis e ganhou cinco. Foi batido por Vockler – com batota – na primeira e já não teve força para discutir a última, e a etapa, com Nibali.

Mas foi, acima de tudo, feita de novo pelo alemão Tony Martin. Que, indiferente ao esforço de ontem, pegou no seu colega Kwiatkowski e levou-o por ali acima. Chegou a um grupo de 7 corredores já em fuga e rebocou aquilo tudo durante quilómetros e quilómetros e cinco montanhas. Encostou para o lado na penúltima subida, dizendo ao seu jovem colega de equipa que fosse e aproveitasse bem o que ele tinha feito. Não aproveitou, e acabou até por cair na classificação, mas nem por isso é menos épico. Mais que nova fantástica corrida, o alemão deu um fantástico exemplo: um campeão que faz isto é mais que um campeão!

Rui Costa esteve sempre onde devia estar. Cedeu ao ataque – fulminante – de Nibali, para quem perdeu perto de 2 minutos mais. Mas subiu dois lugares, para nono: os que Tiago Machado (terceiro) e Contador (nono) deixaram vagos.

Tour 2014 II

Por Eduardo Louro

 

 

Depois de, ontem, o Tour ter chegado a França, com mais uma vitória de Kittel – a terceira em quatro etapas –, e de ter perdido, por queda, na véspera, que não lhe permitiu comparecer à partida, uma das suas grandes figuras dos últimos anos, Andy Schleck – há já algum tempo que, por estas e por outras, deixou de ser um grande favorito –, correu-se hoje a primeira das etapas de elevado grau de dificuldade, uma daquelas que pode marcar a história da corrida.

A etapa de hoje, a quinta, não era corrida em montanha. Nem era um contra-relógio. Era simplesmente o regresso ao célebre pavé, no traçado da clássica Paris-Roubaix, com uma incursão por terras belgas. É o chamado Inferno do Norte!

Eram 155,5 quilómetros, entre Ypres e Arenberg Porte du Hainaut, numa daquelas etapas onde ninguém ganha o Tour, mas onde muitos o podem perder. Previam-se muitas dificuldades, um verdadeiro suplício para os ciclistas. A chuva encarregou-se de a transformar num inferno, com quedas sucessivas, umas atrás das outras.

Uma das primeiras vítimas foi o vencedor do ano passado e principal candidato à vitória deste ano, Chris Froome. Que pouco depois voltaria a cair e a abandonar, ainda antes de chegar ao pavé. Já ontem tinha também sido vítima de queda, depois de também já ter caído no Dauphiné, há três semanas atrás. E o Tour ficava, logo ao quinto dia, sem a sua figura maior. E o maior ciclista do pós Lance Amstrong…

Logo a seguir ao abandono de Froome entrou-se no primeiro troço de pavé, e logo aí o pelotão começou a partir-se em vários grupos. Rui Costa, Valverde e Contador logo ficaram para trás, e nem sempre juntos. Como Nibali logo foi para a frente. E foi sempre assim, com uma outra recolagem, mas com muitos grupos espalhados pelo caminho. E muitas quedas, sempre e em qualquer fase da etapa…

Ler, ou ouvir falar, de pavé pode levar a pensar nos empedrados, nas calçadas. Na Calçada de Carriche de há 30 ou 40 anos por exemplo. Pois, não é disso que se trata… São troços de pequena quilometragem – normalmente à volta de dois – de caminhos rurais, no meio dos campos agrícolas, com pouco mais de 2 metros de largura. Que, com chuva, passam a poucos centímetros, ladeados de poças de água e de lama. Na margem, erva molhada que expulsa violentamente qualquer roda que se atreva a tocar-lhe… E público, muito público de um lado e doutro!

Esperava-se uma etapa importante, o primeiro ponto alto deste Tour. Pois, foi mais – muito mais – do que se esperava. Foi provavelmente a etapa que tudo deixou já decidido. Que a Astana tinha certamente bem preparada, nela apostando a vitória do italiano Nibaldi, que traz a camisola amarela, que se arrisca a não despir mais, desde a segunda etapa, que venceu.

Nibali ganhou hoje mais de dois minutos à principal concorrência. De fora da vitória não ficou apenas Froome. Ficou também Contador e, por que não, Rui Costa, nitidamente sem equipa. Viu-se que só pode contar com Nelson Oliveira – outro dos cinco portugueses em prova. Não pode contar com mais ninguém!

Admitindo que a juventude de Kwiatowsky lhe limita as hipóteses de candidatura à vitória final, Nibali tem agora no australiano Richie Porte (a 1´ e 54´´), que agora, sem Froome, passará a ser a primeira figura da Sky, o único rival a menos de dois minutos. E de eterno candidato no papel passou, de repente, não só a candidato real mas a candidato principal.

O Tour é espectáculo. É disso que se alimenta para ser cada vez mais – e apesar de tudo por que tem passado o ciclismo – uma das maiores competições desportivas do mundo. Mas uma coisa é o espectáculo do ciclismo, a preparação do sprint, o sprint, o ataque e o contra-ataque na montanha. Outra é aquilo a que se assistiu hoje. Não é que não tenha nada a ver com ciclismo. Terá. É também ciclismo. Mas é muito mais que isso… E desse mais, o Tour não precisa. Acho eu!

Mesmo que a média de 47 Km/hora do vencedor – Lars Boom, o holandês da Belkin –  deixe a ideia de uma prova normal de ciclismo…

 

Tour 2014 I

Por Eduardo Louro

 

Cá está de novo o Tour, na sua 101ª edição. Começou em Inglaterra, e por lá andou estes três primeiros dias.

Hoje chegou a Londres, e lá esteve José Mourinho a receber Rui Costa. Bonito de ver! É sempre bonito, portugueses a ver portugueses que o mundo admira...

E portugueses é coisa que não falta neste Tour. Em destaque em várias funções, mas também  no pelotão, em cima da bicicleta:o campeão do mundo não está só, está até muito bem acompanhado. Disso e doutras coisas falaremos aqui ao longo destas três semanas!

Com mais regularidade lá mais para a frente, quando as coisas aquecerem... Na linha dos anos anteriores!

Por agora ainda não há muito a dizer. A não ser que está a começar como acabou a última, com Marcel Kittel a ganhar. Das três etapas inglesas, ganhou duas... Nibali ganhou a segunda, ontem. Ou que Mark Cavendish, a quem Kittel inequivocamente sucede como rei dos sprinters, voltou a não ter sorte e abandonou, por queda, logo na primeira etapa. E que se espera um duelo entre Froome e Contador... E que estamos todos com uma expectativa enorme à volta do nosso campeão do mundo! 

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