E em Paris ganhou um alemão... Não é grande novidade. Nos Campos Elíseos ganhou Andre Greipel!
Ganhou pela quarta vez, como fizera o seu compatriota Kittel no ano passado, confirmando-se indiscutivelmente como o melhor sprinter doTour. Não se sabe se o melhor do mundo, porque Kittel, não tendo podido - por doença - estar lá, está aí.
Desceu o pano sobre um dos maiores espectáculos do mundo, para o ano há mais. Porque este é, entre todos os grandes acontecimentos desportivos mundiais, o único que se repete todos os anos.
Ontem, quando tudo ficou resolvido, referi-me aqui à forma como este Tour se decidiu, ao erro de cálculo da Movistar, que ganhou colectivamente mas podia também ter ganho com Quintana, e aos protagonistas maiores da classificação geral. Falta referir outras figuras de uma competição fantástica, mas demasiado previsível.
Começo por aqui, pela previsibilidade. Que é o maior inimigo do espectáculo desportivo, da própria competição. Sem um verdadeiro contra-relógio individual - no mínimo um, é indispensável - e com inevitáveis estratégias de equipa a determinarem tudo o que se passa na corrida, este Tour tornou-se demasiado previsível. Repare-se como até os momentos mais espectaculares - os ataques de Quintana - eram previsíveis. Todos iguaizinhos... Primeiro Valverde, a ganhar uns metros. Sabia-se que depois viria o colombiano.
Há que referir Peter Sagan, o vencedor por pontos (camisola verde) pela quarta vez consecutiva. Ao contrário dos anos anteriores, o (ainda) jovem eslovaco não ganhou uma única etapa. Mas foi o rei dos segundos lugares...
E os portugueses. Rui Costa foi forçado a abandonar muito cedo, nunca se recompondo da queda colectiva em que se viu envolvido logo na terceira etapa, mas também vítima de uma série de problemas gástricos. O Sérgio Paulinho não esteve presente, ficou-se pelo Giro, para ajudar o Contador a ganhar, e vai regressar na Vuelta, para ajudar o polaco Rafal Majka (27º, a mas de hora e meia). Os três restantes estiveram muito discretos, quase não ouvimos falar deles. O Nelson Oliveira (44º, a pouco mais de 2 horas, no meio de gente grande: logo atrás - mais 37 segundos - de Sagan, e à frente de Richie Porte) foi o melhor, e ainda apareceu uma ou outra vez. Como hoje, quando deu umas voltas aos Campos Elíseos na frente, que lhe valeu... muita televisão. O Tiago Machado (67º, a quase 3 horas), numa equipa de ponta - a Katusha, de José Azevedo - não teve qualquer protagonismo. E o José Mendes (134º, a mais de 4 horas) ainda conseguiu entrar numa fuga, no dia em que ganhou o Ruben Plaza, o colega do Rui e do Nelson que foi um dos animadores - entrou em todas as fugas - dos Alpes.
Para o ano há mais. Para os portugueses, também...
Chris Froom venceu - vai ganhar amanhã - pela segunda vez o Tour de France. Venceu, mas desta vez não convenceu...
Não convenceu porque o jovem colombiano Nairo Quintana deixou a ideia que era mais forte. Porque lhe ganhou por duas vezes, e apenas perdeu para o britânico por uma vez, logo naquela primeira abordagem aos Pirinéus, que decidiu - como então aqui se prevera - o vencedor deste ano. Porque o minuto e doze segundos que no cimo do Alpe d´Huez lhe faltou anular é bem menos que os mais de dois minutos que perdeu na primeira semana, naqueles cortes que o vento sempre provoca. E porque, no fim, ficou a ideia que Quintana atacou tarde de mais. Que, para recuperar os quase quatro minutos de atraso que resultaram dos tais cortes provocados pelo vento e da única vez que foi, de facto, derrotado por Froom, naquela décima etapa, teria de atacar mais cedo. Mais cedo, mesmo que já nos Alpes. Ou, em última análise, mais cedo mesmo na etapa de ontem.
Ontem atacou - a sério - apenas quando faltavam cinco quilómetros. Hoje corrigiu, mas já era tarde. Atacou na nova subida de hoje ao Croix de Fer, a mais de quarenta quilómetros da meta, para abdicar pouco depois. E lançou o ataque definitivo à entrada da subida final para o Alpe d´Huez, com a mesma estratégia de sempre: ataque inicial de Valverde - que grande Tour, o do campeão espanhol! - para depois sair que nem uma flecha para se lhe juntar. Ganhou perto de minuto e meio - numa dúzia de quilómetros - em cima do meio minuto de ontem, em cinco. Seria difícil ganhar muito mais do que isso em cada etapa a um ciclista como Froome, com uma equipa como a Sky, que tem sempre três ou quatro corredores disponíveis para ajudar. Como hoje voltou a acontecer, com Porte - que, de saída da equipa e a fazer um fraquíssimo Tour, já tinha sido decisivo na tal décima etapa - a levá-lo montanha acima.
Claro que nunca se saberá se Quintana poderia fazer mais. Sabe-se é que Froome, não!
Lá no alto foi Pinault - também ele a fazer uma parte final da prova em crescendo - que ganhou, resistindo por 18 segundos à subida demolidora do colombiano, com Valverde, em quarto, a chegar com Froome. E a confirmar, com inteiro mérito, o seu lugar no pódio. Este foi o melhor Tour de sempre de Valverde, que foi dos maiores animadores da competição.
Os quatro candidatos que aqui se perfilaram acabam por ocupar as primeiras cinco posições da classificação. Valverde, e logo no terceiro lugar, foi o intruso. Froome ganhou, como se esperava se bem que talvez como não se esperasse. E ganhou ainda o prémio da montanha. Quintana foi segundo, mas bem podia ter sido primeiro. Que seguramente será, dentro em breve... Nibali - que hoje foi francamente azarado, quando teve uma avaria no início da última subida que o afastou do centro de decisão da etapa, mas não o impediu de mais uma clara demosntração de categoria - acabou em grande, a honrar o número 1 que ostentava nas costas. Pode dizer-se que corrigiu os Pirinéus com os Alpes. Onde esteve ao nível do melhor dos melhores: basta ver que ficou a 8 minutos de Froome, quando logo na primeira etapa dos Pirinéus já estava a 7!
Contador foi o quinto, mas sem grande honra e não mais glória. Pode ter alimentado a ideia de que estaria ao seu alcance a proeza de ganhar o Giro e o Tour. Mas ficou apenas a ideia que o Giro foi a sua única hipótese de este ano ganhar alguma coisa!
Está a chegar ao fim. Amanhã corre-se a penúltima etapa, e tudo ficará decidido no mítico Alpe d´Huez.
Depois dos Pirinéus, donde tudo parecia vir decidido, e cumprido – na terça-feira – o dia de descanso o Tour entrou nas serpenteantes estradas dos Alpes, numa louca montanha russa de subidas e descidas que nunca mais acabam.
O dia seguinte ao descanso faz frequentemente vítimas. No primeiro foi Rui Costa, desta vez foi o americano Tejay Vergaderen a abandonar – era então terceiro classificado, depois de quase duas semanas logo atrás de Froome.
Quem ganhou com isso foi Valverde, que herdou o último lugar do pódio, atrás de Quintana, seu colega de equipa. Ambos pareciam satisfeitos com isso. E a Froome bastava controlar a corrida, o que fazia sem grande dificuldade respondendo, ele ou alguém por ele, a pequenos fogachos de Contador – que um azar haveria ainda de atrasar mais um pouco –, de Nibali, que nos Alpes, ao contrário do que acontecera nos Pirinéus, esteve ao seu nível, ou mesmo de Valverde.
Raramente de Quintana, que à medida que as montanhas iam sendo dobradas se mantinha fria, e mesmo irritantemente, colado à roda de Froome. Foi sempre assim. Mesmo na etapa de hoje – se ontem se correu a etapa com mais montanhas, sete, hoje correu-se a etapa com mais quilómetros a subir, sempre à volta do Glandon – mesmo na espectacular subida à Croix de Fer, onde era Nibali a dar espectáculo. Nem mesmo quando Froome teve um pequeno problema mecânico e ficou momentaneamente para trás, pouco depois de mais um ensaio de Valverde, o colombiano deu sinal de si.
Perceber-se-ia pouco depois que não era acomodação, que não reagira por estar amarrado a decisões superiores. A escassos cinco quilómetros da meta chegou finalmente a ordem para Quintana. Deixou toda a gente para trás, e só Froome conseguiu reagir em perseguição.
O espaço era curto para grandes conquistas. Mesmo assim, nesses últimos cinco quilómetros, ganhou mais de um minuto a Nibali, que seguia á sua frente para ganhar a etapa, e trinta segundos a Froome.
Coisa pouca. Ainda sobram a Froome dois minutos e meio… Tem a palavra sua alteza o Alpe d´Huez !
E ao segundo dia nos Pirinéus subiu-se o Tourmalet. Mítico, mas sem grande coisa para dar, o terramoto tinha sido ontem. Mesmo assim deu para continuar a empurrar Nibali pela classifcação abaixo, já fora dos dez primeiros. E para Joaquim Rodriguez, o eterno favorito da segunda vaga de candidatos, da Katusha, de José Azevedo, se afundar nas profundezas da classificação. E para o adeus de Rui Costa...
Ontem afinal não foi apenas um dia mau, ao contrário do que todos desejàvamos. Força Rui, força campeão. Ainda há muita coisa para ganhar. Este ano, e nos que aí vêm!
Hoje ganhou o polaco Rafal Majca, um jovem que é um grande trepador. Já brilhara no ano passado, quando foi até o vencedor da classificação da montanha, mas este ano está limitado pela condição de fiel escudeiro de Contador. Ganhou com mais de 5 minutos sobre o grupo dos favoritos, onde já não cabe Nibali mas donde não sai o americano Tejay Van Garderen, bem agarrado ao seu segundo lugar.
Depois do dia de descanso, à décima etapa, chegaram aos Pirinéus. É aqui, e para a semana nos Alpes, que o Tour se vai decidir. Não é novidade nehuma.
Novidade não é que se tenha começado a decidir tudo. Novidade é que já tudo tenha já ficado decidido!
Tudo... tudo não. Mas o mais importante, sim. O que a primeira abordagem à alta montanha disse foi que dificilmente a camisola amarela mudará de corpo até Paris. Froome confirmou o que se desconfiava, e mostrou, logo à primeira, que não tem rival à sua altura. Tem a melhor equipa, também isso já se sabia, e é - está? - melhor que qualquer outro.
Hoje, na subida ao alto de La Pierre-Saint Martin - a última da etapa, com mais de 15 quilómetros e com a inclinação média de7,5% - onde a meta coincidia com o prémio da montanha de categoria especial, o festival começou com Richie Porte a abrir as hostilidades para levar o líder Froome para a frente, para deixar logo ali toda a concorrência. Nibali, primeiro. Contador, logo depois.
A confirmar aquilo que aqui deixara escrito anteontem, apenas Quintana conseguiu acompanhar os dois corredores da Sky. Mas foi sol de pouco dura: a mais de 6 quilómetros da meta, Froome saltou da roda do seu colega e partiu a solo até à meta. O colombiano não respondeu à aceleração mas, no seu ritmo, encetou a perseguição talvez à espera que o camisola amarela viesse a baixar o ritmo, lá mais para cima.
Nada disso. Froome era imbatível, sempre a aumentar a vantagem, e o seria próprio Porte a alcançar, e logo a seguir a deixar para trás o jovem colombiano, e a dar a dobradinha à Sky. E pronto: Nibali caiu para o décimo lugar, e já está a 7 minutos, Contador a mais de 4, em sexto, e Nairo Quintana a mais de 3, em terceiro.
Ironia das ironias: no ano em que a organização quis levar a incerteza da classificação até mesmo ao fim, deixando o Alpe d`Huez para o penúltimo dia, o Tour tem o vencedor encontrado logo ao décimo dia!
Foi um dia muito difícil para Rui Costa, que depois do ataque da Sky mais parece que, em vez de subir montanha acima, caiu montanha abaixo. Foi 100ª na etapa, a mais de 17 minutos... E fica a ideia que só não foi pior porque o Nelson Oliveira (e até o José Mendes) não o largou, num dia em que até poderia ter aproveitado do bom desempenho do colega de equipa Rafael Valls, 12º na etapa. Caiu para 33º, a mais de 22 minutos de Froome.
Esperemos que tenha apenas sido um mau - muito mau - dia!
Está concluída a sempre terrível primeira semana do Tour. Com a nona etapa, corrida hoje no regressado contra-relógio por equipas - 28 quilómetros, com a BMC de Van Garderen a ganhar, fazendo menos 1 segundo que a Sky, de Froome e menos 4 que a Movistar, de Quintana e Valverde -, chega-se ao primeiro dia de descanso e fecha-se a primeira fase da prova. A tal primeira semana de lotaria, onde tudo pode acontecer!
E aconteceu de tudo, mesmo que desta vez tudo se tenha feito mais de quedas que de outros imponderáveis. Mesmo com o mau tempo das primeiras etapas e mesmo que o pavé tenha arrumado de vez com as leves aspirações de Pinault Thibaut, e com os mais secretos sonhos franceses. Basta dizer que, por queda, Cancelara e Tony Martin (na foto) abandonaram de amarelo vestidos.
Nos primeiros cinco dias, cinco vencedores diferentes...e camisolas amarelas diferentes. Greipel foi o único a repetir vitória na etapa, à sexta. E Tony Martin o primeiro a conseguir manter a amarela por mais de um dia.
Seria obrigado a desistir no dia seguinte, com Froome a herdar-lhe a camisola amarela. Que já tinha vestido por um dia, precocemente, logo à terceira etapa, antes de justamente a ceder ao alemão. Tomou-lhe o gosto, e não vai ser fácil agora tirar-lha!
Já deu para perceber alguma coisa do que dizem os principais favoritos. E se não há bluf no que disseram nesta primeira semana - e, em regra geral, não há - os mais afirmativos são Froome, claro, e Quintana, discreto mas sem falhar no terreno que não é o seu. Alberto Contador não perdeu nada, ainda. E está até à frente dos outros dois candidatos, e apenas atrás de Froome, mas não transmite grande confiança. Nibali é que mais claramente tem demonstrado mais dificuldades, e não está ao nível do ano passado. Quando nesta altura já seguia na frente, mas também quando as quedas tinham mandado Froome para casa logo ao terceiro dia.
Rui Costa não tem feito uma grande prova, mas também não compromeu nada. Quando perdeu, perdeu sempre qualquer coisa e já está a mais de 5 minutos. No 23º lugar...
Aí está de novo o maior espectáculo do mundo na estrada. Arrancou hoje, em terras holandesas, a 102ª edção do Tour de France, com o habitual prólogo, este ano um pouco mais longo que o habitual. Do contra-relógio individual de quase 14 quilómetros (13,8), corrido nas ruas de Utrecht, veio a primeira surpresa: um australiano desconhecido - Rohan Denis - estabeleceu a marca canhão de 14 minutos e 56 segundos (que faz deste contra-relógio apenas o mais rápido de sempre do Tour) logo no início da prova. Ninguém mais a conseguiria bater. Nem os súper especialistas e ultra favoritos Tony Martin e Fabian Cancellara, respectivamente segundo e terceiro, a cinco e a seis segundos!
Dos principais candidatos à vitória final - Vincenzo Nibali, o vencedor do ano passado, Chris Froome, o anterior, Nairo Quintana e Alberto Contador, a tentar o raro feito de juntar o Tour ao Giro, que acabou de ganhar há pouco mais de um mês - o melhor foi o italiano (Nibali), na 22ª segunda posição, e a 43 segundo do jovem australiano, a confirmar que o Tour é, sem dúvida, uma competição de muitas especialidades. E por isso de tantos encantos!
Amanhã, ainda nas estradas holandesas, começa a primeira das três semanas da competição. Por incrível que pareça a mais temida de todas. Porque não são as altas montanhas dos Alpes e dos Pirirnéus os maiores inimigos dos corredores. Aí decide-se a corrida entre quem está melhor preparado: frontalmente, na verdade da essência da competição. Nesta primeira semana decide-se - ninguém ganha o Tour na primeira semana, mas muitos perdem-no - na fatalidade de uma queda num pelotão superlotado, onde não cabe mais uma palha, ou no azar de um furo no terrível pavé, onde só passa uma bicicleta de cada vez. E é tão provável que, sorte, é escapar a estas incidências da primeira semana!
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