Terminou o 107º Tour de France. "Aux Champs Elysées", como dizia uma canção, "comme d`habitude", como dizia outra, na etapa 21.
Em Paris ganhou o irlandês Sam Bennett, da Quick Step, e confirmou a camisola verde que há muito vestia, mas que o eterno vencedor da classificação por pontos, o eslovaco Peter Sagan, da Bora, ainda poderia discutir.
E começaria por aqui o capítulo das desilusões deste sensacional Tour 2020. Sagan, o mais bem pago ciclista do mundo, não ganhou hoje - foi terceiro na etapa - como não ganhou nunca a qualquer dos sprinters com que teve de competir. E para quem foi durante sete anos consecutivos o vencedor da classificação por pontos, a quem se não conhecia outra camisola que a verde, foi pouco. Tudo tem um fim, e este poderá ter sido o fim de um longo reinado no mundo dos sprints.
A decepção maior vai indiscutivelmente para Ergan Bernal. De super favorito a super derrotado vai um fosso muito grande todo ele cheio de decepção. E logo a seguir para o seu compatriota Nairo Quinta, o 17º classificado a mais de uma hora dos três primeiros.
Também a corrida do nosso Nelson Oliveira nos desiludiu. E nem foi pelo 55º lugar na classificação, a mais de 3 horas dos primeiros, foi mesmo pela corrida que fez. Por exemplo, no lugar a cima, a pouco mais de 5 minutos, classificou-se um dos maiores - se não mesmo o maior - animadores da corrida, o suíço Marc Hirschi. Ganhou uma etapa, foi segundo e terceiro noutras duas, e foi considerado o super-combativo deste Tour.
Colectivamente foi a Ineos, a sucessora da espectacular Sky, a grande desilusão da prova. Tudo lhe correu mal, a começar logo na constituição da equipa, sem Chris Froome e sem Geraint Thomas. Falhou a aposta em Bernal, acabando por penalizar Carapaz, e o seu melhor corredor não conseguiu melhor que o 13º lugar na geral, atrás - mas a mais de 8 minutos - do veteraníssimo Valverde.
A Jumbo (segunda classificada) chegou a parecer, mas só isso, a parecer a herdeira da Sky na forma como controlou toda a corrida. Controlou tudo, só não controlou o que não podia controlar - o contra relógio. Aí, com os corredores entregues a si próprios, não pôde fazer nada por Roglic. O que valoriza ainda mais a vitória de Pogacar, com uma equipa - a Emirates, também de Rui Costa, incomparavelmente mais fraca e nos últimos lugares (9º) na classificação, que a Movistar voltou a ganhar.
No fim fica uma competição espectacular e a revelação de uma mão cheia de jovens ciclistas de grande qualidade futuro - a começar evidentemente no sensacional Pojacar - que garantem a espectacularidade do Tour, e da modalidade, para os próximos anos.
Golpe de teatro no Tour. Contra todas as expectativas Pogacar chegou ao contra-relógio de hoje, na penúltima etapa, destroçou toda a concorrência, e ultrapassou o seu compatriota Roglic, dado por toda a gente como o vencedor antecipado.
Aos 21 anos - o mais jovem de sempre do Tour, se não tivesse havido, em 1904, um rapaz de 19 anos a fazer o mesmo - na sua primeira participação Tadej Pogacar ganhou o Tour. Para gravar o feito a letras de ouro, foi o primeiro na classificação da montanha (há dois dias, na despedida dos Alpes, dava aqui por garantida esta classificação pelo equatoriano Carapaz, desconhecendo - mea culpa - que o contra-relógio de hoje, que acabava em montanha, ainda contaria para essas contas), foi naturalmente o primeiro na juventude (camisola branca), e ganhou três etapas. Tudo isto depois de ter sido uma das vítimas do vento, naquela sétima etapa, onde perdera minuto e meio. Ninguém ganhou tanto!
No contra-relógio de 36 quilómetros Pogacar foi simplesmente espectacular, ganhando 1:21 ao holandês Tom Dumoulin, campeão do mundo da especialidade, e ao australiano Richie Porte - os dois grandes candidatos à vitória na etapa - 1:31 ao alemão Van Aert (uma surpresa) e 1:56 a Roglic, que partira com a vantagem, dada por segura, de 57 segundos.
O esperado excelente resultado de Richie Porte valeu-lhe o pódio. Admitia-se que pudesse de lá apear Miguel Angel Lopez, o que não se esperava era que o contra-relógio atirasse o jovem colombiano por ali abaixo. Caiu para sexto, ultrapassado ainda pelos dois espanhóis do top ten, que até acabou por dar top five: Mikel Landa e Eric Mas.
Ainda não tinha falado do português Nelson Oliveira, porque não havia nada (de bom) para dizer. Esperava pelo contra-relógio de hoje, a sua especialidade, para falar dele, na expectativa de um bom desempenho, que seria sempre entre os dez melhores. Foi 27º, com mais 4:42 que Pogacar. E 56º na geral, num Tour em que foi demasiado discreto.
A três dias de terminar em Paris, concluídas as etapas dos Alpes, as principais classificações da Volta a França estão definidas. É certo que o contra-relógio de sábado, na véspera da chegada aos Campos Elíseos, ainda poderá provocar alguns ajustes. Mas não mais do que isso: os 57 segundos de vantagem que Roglic tem sobre o seu compatriota Pogacar serão suficientes para ganhar o Tour deste ano.
Para trás ficaram três etapas decisivas, e todas elas espectaculares, onde os dois eslovenos continuaram a demonstrar que são os que estão mais fortes. A etapa de terça feira, depois do descanso, deu o mote para esta sequência demolidora nos Alpes.
O equatoriano Richard Carapaz, da Ineos, já liberto da ajuda a Bernal, que deu o berro justamente nesta etapa, e também já muito atrasado na geral, atacou a etapa numa fuga bem sucedida e que ganhou muito tempo ao grupo dos primeiros da classificação. O grupo em fuga foi-se diluindo, e o próprio equatoriano acabou por não resistir ao alemão Lennard Kamna, da Bora, que chegou isolado a Villard-de-Lans, pouco menos de minuto e meio antes de Carapaz, o segundo, mas com mais de 15 minutos de vantagem sobre os principais corredores do pelotão.
O vencedor do ano passado, que há muito vinha dando sinais de não poder responder à condição de super favorito com que chegou, acabou aqui, sem honra nem glória. Terminou a etapa, mas não resistiu nem ao fracasso nem o trambolhão que levou na tabela classificativa. Acabou por sair pela porta mais pequena que um ciclista conhece: a desistência pelo peso da derrota.
Seguiu-se a etapa mais dura desta edição, a 17ª, entre Méribel e La Roche-Sur-Foron, em altitudes superiores aos dois mil metros, chegando mesmo aos 2400 no Col de la Loze, com rampas com mais de 20% de inclinação. Era a etapa dos colombianos. E foi, mas não a dos de maior nomeada. Foi a etapa de Miguel Angel Lopez (Astana), mais um jovem, que foi o mais rápido a acelerar do grupo dos favoritos não só para obter a vitória, mas também para chegar a terceiro na classificação geral. E foi a etapa da confirmação dos dois eslovenos, com Roglic a superiorizar-se a Pogacar - que acabaria por conquistar a camisola das bolas vermelhas, de melhor trepador - na disputa do segundo lugar na etapa, e a ganhar-lhe, com a bonificação, mais 15 segundos, fixando a diferença actual nos já referidos 57 segundos.
Hoje, na despedida dos Alpes, mais uma etapa com grande animação, num percurso de constante “sobe e desce”. Vingou uma fuga de 32 ciclistas, mas no fim só dois lograram sucesso: Kwiatkowski, e Carapaz, companheiros na Ineos, que cortaram a meta abraçados, com equatoriano a abdicar da vitória que perseguia há três dias para a oferecer ao seu colega polaco a sua primeira vitória no Tour. Roglic foi quarto, logo seguido de ... Pogacar, que acabou por perder para Carapaz a liderança já definitiva da montanha. E tem a vitória à distância dos 35 quilómetros do contra-relógio de sábado.
O pódio também parece definido, com Roglic, Pogacar e Miguel Angel Lopez. Muito embora não seja de descartar a hipótese de, no contra-relógio, o australiano Richie Porte ganhar ao colombiano os quase dois minutos que o separam do terceiro lugar.
Bem lá no alto das montanhas do Jura, onde o Tour nunca tinha chegado, a provar que nem só de Pirinéus e Alpes se fazem as grandes montanhas da Volta a França, conclui-se hoje com a 15ª etapa, entre Lyon e o Grand Colombier.
Foi uma segunda semana intensa, e com muita histórias, que fará a História do Tour deste ano.Foram seis etapas, onde apenas as duas primeiras foram decididas ao sprint, e ganhas por dois dos melhores desta edição: Sam Bennet, na primeira, a décima, e Cabel Ewan na seguinte. No resto foram fugas bem sucedidas, com vitória dos suíços Mark Hirschi (12ª) e Kragh Andersen (ontem, que se adiantou já muito próximo da meta); ou montanha, anteontem (13ª, ganha pelo colombiano Daniel Martinez) e hoje, provavelmente a etapa-rainha da prova, que deixou muita coisa para contar.
A etapa 13, anteontem, entre Châtel-Guyon e Puy Mary Cantal, já mexeu bem na tabela classificativa, com o miúdo Pogacar, o esloveno da Emirates, a subir do 7º lugar que trouxera dos Pirinéus para segundo. E com Romain Bardet, que era quarto, a sair dos 10 primeiros. Saber-se-ia depois que o francês fora mais uma vítima das incontornáveis quedas, sendo-lhe diagnosticada uma comoção cerebral já depois de concluir a etapa, pelo que já não alinhou à partida para a de ontem. Mais uma grande baixa no Tour.
A etapa de hoje, de grande dureza, foi de confirmação das suspeitas que andavam no ar. Suspeitava-se que os dois eslovenos, Pogacar, da Emirates, e Roglic, da Jumbo, eram os corredores mais fortes do pelotão. Que o colombiano Bernal estava longe de capaz de capaz de igualar os grandes feitos do ano passado, e que o também colombiano Quintana não estava muito melhor do que nos últimos anos, e longe, portanto, de poder recuperar tudo o que prometera em meados da última década.
Pogacar voltou a ganhar, seguido do seu compatriota Roglic, como há precisamente uma semana, na despedida dos Pirinéus. E Bernal "estoirou", e caiu pela classificação abaixo com grande estrondo. É agora 14º, a oito minutos e meio de Roglic. Quintana, dos corredores em prova a vítima maior das quedas, com pensos e ligaduras por todo o lado, também cedeu. Mas bem menos que o seu jovem compatriota, e é agora 9º, a cinco minutos do esloveno que vai de amarelo.
Vamos entrar da última semana, com os Alpes e o contra-relógio (também com uma subida acentuada), e ninguém aposta as fichas noutros que não os dois eslovenos. Roglic tem a seu favor o facto de estar num grande momento de forma. O problema é que esses momentos passam - por isso se lhes chamam momentos - e este já se prolonga há algum tempo.
E isso pode jogar a favor do miúdo de 20 anos. Inacreditável!
Com a despedida dos Pirinéus, à nona etapa, despediu-se também o Tour da sua primeira semana da edição deste ano.
Uma primeira semana que começou morna, com algumas etapas meio pasmaceiras, talvez consequência das quedas do primeiro dia, que deixaram toda a gente assustada.
O francês Alaphilippe conquistou a amarela logo na segunda etapa, que venceu, faz hoje precisamente uma semana, ainda com partida de Nice, e já a passar por algumas montanhas dos Alpes. Reeditando o Tour do ano passado, segurou-a por uns dias, e só não a trouxe vestida até à chegada, ontem, aos Pirinéus porque reabasteceu em zona proibida e foi penalizado com 20 segundos, tendo de a despir no final da quinta etapa para a entregar a Adam Yates, que apenas a perdeu hoje, no segundo e último dia dos Pirinéus.
Na semana mais propícia aos sprinters brilharam o belga Van Aert (na quinta e na sexta etapas) e o australiano Caleb Ewans (na terceira e na sétima) com duas vitórias cada.
A montanha, que para além do programa de fim-de-semana nos Pirinéus, interrompeu logo na quarta etapa, ganha por Roglic na sua primeira demonstração de força, o reinado dos sprinters e, se não deixou nada definido, confirmou as expectativas para a competição.
O colombiano Bernal continua favorito, é segundo atrás do esloveno Roglic, que hoje vestiu a amarela, e dá ares de lhe estar a roubar o papel principal. Tal como o também esloveno Pogacar, o debutante miúdo de 21 anos, que hoje (ontem venceu, isolado, um francês - Nans Peters - com nome pouco francês) ganhou nos Pirinéus à frente do seu compatriota. E que, não tivesse na sétima etapa sido vítima de mais uma daquelas partidas dos ventos laterais, que tão frequentes são nas etapas mais tranquílas do Tour, estaria hoje na liderança da corrida, a dar expressão ao seu extraordinário desempenho. Surpreendente, mas não com muita surpresa. Tinha aqui chamado a atenção para o seu nome no início da prova.
A surpresa nesta altura, na véspera do primeiro dia de descanso, é mesmo a exuberância dos dois eslovenos, a ofuscar o super-favoritismo de Bernal, que os Alpes lhe poderão devolver. E o renascimento de Quintana, que mostra agora estar bem vivo. Surpresa é ainda o francês Guillaume Martin, no terceiro lugar, a apenas 28 segundos de Roglic, provavelmente o único intruso no lote de favoritos ditado pelos Pirinéus.
Sabe-se que não se pode falar de condições normais - normalidade não é palavra normal nos dias que correm - para apostar em favoritos, e apenas 44 segundos separam o primeiro, Roglic, do sétimo, o seu compatriota Pogacar. Por isso, o melhor é esperar para ver o que aí vem.
Arrancou hoje, em Nice, a 107ª Volta a França em bicicleta. Fora de época, já que ocorre normalmente durante o mês de Julho. Deveria ter decorrido entre 27 de Junho e 19 de Julho mas, como tudo, também foi adiada pela pandemia, e é a primeira grande Volta a ser disputada esta temporada.
Atípica, também, como tudo nos dias que correm. E não é só por ser corrida em tempo de vindimas, que era o tempo da Vuelta. Está lá o vencedor do ano passado, o colombiano Egan Bernal (INEOS), que é naturalmente o principal favorito. Atípico é que não tenha a participação de qualquer outro ciclista em actividade que já a tenha vencido.
A INEOS, que continua a mais forte equipa do ciclismo mundial, não quis que Bernal tivesse concorrência interna, e deixou de fora os seus dois nomes mais sonantes, e que são os únicos vencedores do Tour em actividade: Chris Froome, vencedor em 2017, 2016, 2015 e 2013, Geraint Thomas, vencedor de 2018, e segundo classificado do ano passado.
Daí que, entre os 176 concorrentes, onde se inclui um único português, Nelson Oliveira, não seja fácil encontrar quem possa ameaçar o esperado domínio do jovem Bernal, provavelmente a iniciar um novo reinado. Poderá falar-se de Nairo Quintana, agora a solo como líder da Arkéa–Samsic, mas parece que o também colombiano já deu o que tinha para dar. Poderá falar-se dos franceses Romain Bardet (AG2R La Mondiale) ou Thibaut Pinot (Groupama-FDJ), mas apenas para animar os gauleses. Ou dos espanhóis Mikel Landa (Bahrain-McLaren) e do veterano Alejandro Valverde (Movistar), mas apenas para animar uma ou outra fase da corrida. Ou das esperanças de jovens como o colombiano Miguel Ángel López (Astana) ou o esloveno Tadej Pogacar (UAE Emirates). Ou das capacidades do também esloveno Primoz Roglic e do holandês Tom Dumoulin, ambos da Jumbo-Visma.
São muitos nomes, mesmo assim, mas todos bem menos candidatos que Bernal.
Não são muitas as etapas para os sprinters, como a de hoje. Corrida debaixo de penosas condições climatéricas, e já com muitas quedas. A última, à entrada dos últimos três quilómetros (por essas condições a direcção da prova acatou a pretensão dos ciclistas - parecia que estavam a adivinhar - e decidiu que os tempos da etapa fossem registados justamente a essa distância da meta) envolveu Pinot e Quintana.
Ganhou o norueguês Alexander Kristoff (UAE Emirates), batendo ao ‘sprint’ o campeão mundial, o dinamarquês Mads Pedersen (Trek-Segafredo), e o holandês Cees Bol (Sunweb). E é o primeiro camisola amarela do Tour deste estranho ano 2020.
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