Terminou hoje, em Paris, a 108ª edição da Volta à França. Todas as classificações finais vinham definidas dos Pirinéus, na última quinta feira. O vencedor, esse há muito que estava encontrado
Depois dos Pirinéus, seguiu-se a 19ª etapa, entre Mourenx e Libourne, na distância de 207 quilómetros, a segunda mais longa da prova. Era a penúltima - a última seria a da consagração, hoje na chegada a Paris - para os sprinters, e para Cavendish, despois de resistir aos Pirinéus, à custa do esforço de toda a equipa, empenhada em levá-lo até ao fim de cada etapa dentro do tempo limite no controlo da chegada.
Por se ter esgotado nesse trabalho - é curioso que Cavendish acabou na penúltima posição da classificação geral, rodeado de colegas de equipa - , ou por outra razão qualquer, a Deceuninck - Quick Step não consegui controlar a etapa e não impediu a fuga, ainda bem cedo, de um grupo numeroso de ciclistas, de onde saltou Mohoric, que já tinha ganho a 7.ª etapa, para cortar a meta isolado, com mais de 20 minutos de vantagem sobre o pelotão.
O contra-relógio de ontem já não tinha nada para decidir, e a surpresa foi Pogacar não o ter ganho. Não foi de todo surpreendente que tivesse sido o belga Wout van Aert a ganhar - sabe-se que é bem capaz disso, e de muito mais - mas, mesmo sabendo-se que Pogacar iria correr em regime de descontração, ninguém esperaria que não fizesse melhor que o oitavo tempo, a praticamente 1 minuto do belga Os dinamarqueses Kasper Asgreen (Deceuninck-QuickStep, a 21 segundos), e Jonas Vingegaard, companheiro de Van Aerrt na Jumbo Visma, a 32, foram segundo e terceiro, com este último a confirmar, também no contra-relógio, que não podia ser outro o segundo da geral.
Hoje, em Paris foi a consagração de ... Wout van Aert . Bem sei que a chegada aos sempre belos Campos Elíseos é para consagrar o vencedor do Tour. E que este, o mais jovem bi-campeão do Tour, e de novo, como no ano passado, vencedor das três camisolas, só tinha que ser consagrado em Paris. Mas esta última etapa, para mim, foi a da consagração de Wout van Aert, um dos mais completos ciclistas da actualidade, como aqui já tinha dito. Ontem ganhou o contra-relógio, e hoje ganhou o sprint, o mais importante sprint do Tour, e ganhou a etapa do Mont Ventoux, numa das mais espectaculares montanhas.
Rui Costa esteve discreto, no seu papel de "aguadeiro" de Pogacar (1). Pelo contrário, Rúben Guerreiro deu nas vistas e fez um excelente Tour. Foi 18ª da geral, à frente - três minutos - de, agora repare-se ... Van Aert. É isso, um dos melhores e mais completos ciclistas do mundo, que ganhou três das principais etapas de cada uma das especialidades, ficou atrás de Rúben Guerreiro. É isso o ciclismo!
(1) Correcção efectuada depois do alerta do leitor Bruno Santos. Por lapso tinha inicialmente escrito Uran, em vez de Pogacar.
O Tour despediu-se finalmente dos Pirinéus, cumprindo os 129,7 quilómetros entre Pau e Luz Ardiden desta 18ª etapa, que teve honras de visita presidencial. Do deles, não o nosso, por muito que possa surpreender.
Era a etapa rainha dos Pirinéus, com o mítico Tourmalet, e com a não menos difícil chegada a Luz Ardiden, que tinha a particularidade de também duplicar os pontos para a classificação da montanha, ambas montanhas de categoria especial.
Claro que a corrida começou com o início da subida ao Tourmalet, já com mais de metade da etapa cumprida. Aí ia na frente Alaphilippe, o campeão do mundo, que está sempre em todas - mesmo que no fim disso não tire grandes vantagens, para além da popularidade e ... da publicidade - e o esloveno Mohoric, que também já ganhou uma etapa, com minuto e meio de vantagem sobre o pelotão. E logo no início voltamos a ver Rúben Guerreiro a fazer mais umas graças.
Atacou e levou consigo gente famosa, entre os quais Quintana, que rapidamente ficou para trás. Rapidamente alcançou os dois da frente, e assumiu as responsabilidades da corrida. Lá atrás era a Ineos que puxava pelo pelotão, cada vez menos numeroso, para cuidar de Carapaz. Muita gente ia quebrando, e desde logo Rigoberto Uran, o colega de Rúben Guerreiro, que continuava a dar-se muito mal com os Pirinéus, onde entrou em segundo e donde saiu em décimo.
A um quilómetro da meta da montanha do alto do Tourmalet pagou a factura, e não conseguiu acompanhar os dois franceses companheiros de aventura, Latour e Gaudu, que passaram por esta ordem nessa contagem. Rúben foii terceiro.
Na descida vertiginosa que fazia a ligação à subida para Luz Ardiden apenas Gaudu ganhou vantagem. Todos os outros se juntaram para chegarem agrupados ao início da subida, onde logo o francês desapareceu da frente. E a Ineos voltou ao seu trabalho na frente do grupo, pela mesma causa - Carapaz. E cada vez mais gente voltava a ficar para trás, incluindo o Rúben. Pensava-se que para também ele ir dar uma ajuda ao pobre Uran, literalmente a cair pela classificação abaixo. Na meta (22º a pouco mais de 3 minutos) percebeu-se que não, que chegou muito à frente - mais de 5 minutos - do seu chefe de fila.
A pouco mais de 5 quilómetros da meta, lá em cima, Majka passou para a frente do grupo, claro com Pogacar, e estava-se a ver no que ia dar. E viu-se ... Mais um festival do jovem esloveno. Ficou na frente com Kuss, Vingegaard, Carapaz e Mas. O espanhol começou por ceder, quando Kuss atacou, perante a indiferença de Pogacar, mas em poucos metros tudo se virou ao contrário, com Mas a recuperar e a atacar o camisola amarela, e precisamente Kuss a ficar para trás. Na altura que considerou apropriada Pogacar foi embora, tal e qual como ontem fizera. Enric Mas acabou, e Vingegaard e Carapaz, por esta ordem na meta, conseguiram limitar os estragos.
Com a vitória - a terceira - Pogacar arrebatou também a camisola das bolinhas. São três - a amarela, da geral, a branca, da juventude, e a da montanha.
É obra. Agora é só esperar por domingo para, aos 22 anos, garantir a segunda vitória consecutiva no Tour. Antes disso, no sábado, ainda tem um contra-relógio para ganhar.
Cavendish foi o último na etapa mas, sempre rodeado por mais de meia equipa, conseguiu chegar dentro do tempo de controlo, e assim assegurar a camisola verde. Mas, contassem as etapas de contra-relógio para os pontos, e não seria assim. Pogacar ficaria com elas todas!
No domingo correu-se a 15ª etapa, entre Céret e Andorra-a-Velha,, em plenos Pirinéus, onde foi atingida a maior altitude da prova, acima dos 2.400 metros. Sem que, no entanto, os ciclistas tenham encontrado as mais tenebrosas subidas desta edição. Correram a grande altitude, mas sem as grandes inclinações. O suficiente para manter a maldição do segundo lugar da classificação, de que aqui falava há dias, e devolver o francês Guilaume Martin ao fundo do top ten.
Na frente andou Rúben Guerreiro, numa excelente jornada. Não conseguiu resistir ao ataque do norte-americano Sepp Kuss, primeiro, e de Valverde, depois, que protagonizou um extraordinário final de etapa, com o veterano espanhol a fazer parecer que iria ainda apanhar o americano, e ganhar a etapa. Por pouco não o consegui, e Kruss ganhou em Andorra-a-Velha. Para o português, no fim, não deu para mais que o quinto lugar na etapa.
Ontem, a seguir ao segundo e último dia de descanso, mais Pirinéus, este ano dominantes relativamente aos Alpes. Vieram para ficar. Mais montanha, pois, nesta 16ª etapa, de 169 quilómetros entre Pas de la Casa e Saint-Gaudens, mas ainda em jeito de aperitivo para o que estava para vir.
A etapa resumiu-se à fuga do dia, que incluía 12 corredores, entre os quais de novo Rúben Guerreiro, que chegou a ter mais de 15 minutos de vantagem sobre o grupo de Pogacar, com os restantes melhores classificados. Para trás ficavam muitos outros grupos, bem mais atrasados, e com nomes importantes dos últimos anos, como este ano vem sendo habitual. Desse grupo escapou, ainda bem longe da meta, Patrick Konrad, o campeão austríaco, que chegou isolado à meta, com quase 14 minutos de vantagem para o líder do Tour.
Na classificação geral não houve alterações significativas. Nem no segundo lugar!
Hoje, no dia nacional da França, já foi montanha a sério, entre Muret e o alto do Col du Portet. Grupos, houve muitos. Mas fugas propriamente ditas, apenas uma, E com pouca gente - seis corredores apenas - que não resistiram à última das três subidas - o “trio terrível”, como lhes chamou a organização -, afinal onde tudo aconteceu. Como era inevitável.
À entrada no Col du Portet o grupo dos favoritos seguia cerca de quatro minutos atrás de Dorian Godon e Anthony Pérez, os últimos resistentes dos fugitivos. Tempo que rapidamente se esfumou, às mãos dos dez primeiros classificados, todos juntos a atacar a subida, depois de aproveitarem excelente trabalho de Majka, naturalmente destinado a Pogacar. Mas não por muito tempo. Um a um foram ficando para trás - e lá estava a maldição do segundo, mesmo que ele se chamasse Rigoberto Uran - até ficarem apenas três. E Pogacar atacou. Uma vez, duas vezes…
Jonas Vingegaard respondia, e Richard Carapaz apenas aproveitava. Para se reservar para espetar o ferrão, já perto da meta. Pogacar respondeu, e Vingegaard cedeu. Para rapidamente recuperar, passar o equatoriano e quase discutir a vitória com Pogacar. Quase, porque o jovem esloveno não dá hipóteses a ninguém, e ganhou categoricamente. Para alargar ainda mais a vantagem colossal que já levava.
Os três primeiros da etapa são agora os primeiros da geral. Pela mesma ordem, e agora, sim, o segundo já de lá não deverá sair. Porque, sem qualquer dúvida, Vingegaard é o segundo melhor!
Chegou-se hoje ao fim da segunda semana do Tour, com a 14ª etapa, entre entre Carcassone, e Quillan, de aproximação aos Pirinéus. Andou ali à volta, a mostrá-los, ameaçadores, para o que aí vem nos próximos dias.
Para trás, depois do primeiro dia de descanso, na passada segunda-feira, ficou uma semana com muito para contar.
Tudo (re)começou na terça-feira, com a10ª etapa que Cavendish, que já estava na reforma, voltou a ganhar. A terceira!
No dia seguinte, a 11ª etapa foi a da desistência de Toni Martin, sobre-castigado de quedas. Foi até o primeiro da primeira, naquela primeria etapa. Foi ele que foi embater na rapariga placard a saudar os avós que provocou aquilo tudo.
Mas foi a etapa do mítico e assustador Mont Ventoux, subido por duas vezes Na primeira passagem, Pogacar, no pelotão comandado por Rui Costa, mas até aí sempre puxado pela Ineos, estava a quase 5 minutos dos da frente, onde já seguia Van Aert, agora liberto da vassalagem a Roglic, que já lá não está, mas ainda obrigado a prestar serviço a Vingegaard.
A segunda vez é que era verdadeiramente assustadora, e mudou tudo. Van Aert, talvez o mais completo ciclista da actualidade (sprinter, contra-relogista e trepador, tudo num só ciclista) deu espectáculo e, lá atrás, a Ineos o litro, a procurar recuperar e a endurecer o que já era duro. Com Pogacar tranquilo, a agradecer porque, com isso a Ineos arrumou com O`Connor (como sofreu, e lutou, o australiano!), que ganhara nos Alpes e era segundo classificado. E por isso o mais próximo do esloveno.
A cerca de 3 Km lá do alto Vingegaard atacou e só Pagacar reagiu, para depois - pasme-se - não o conseguir acompanhar. E o dinamarquês tornou-se no primeiro a bater o imbatível. Valeu a descida de 20 km até à meta, que os juntou de novo. Mas também Uran e Carapaz, os primeiros a ceder ao ataque de Vingegaard, pouco mais de minuto e meio depois de Van Aert.
Quem ganhou ainda mais foi Pogacar, que mantendo os mesmos mais de 5 minutos para Uran, alargava para os mesmos mais de 5 minutos a vantagem para o segundo, agora o colombiano. Com o jovem Vingegaard em terceiro, e com a camisola branca. porque Pogacar só pode vestir uma.
Na quinta-feira a 12ª etapa. a da desistência de Sagen. Tudo começou com uma fuga, bem cedo, de um grupo numeroso de gente importante, como Alaphilipe, Froome ou Greipel, que rapidamente conquistou uma vantagem grande, superior a 10 minutos. O grupo desfez-se, e à meta chegou isolado o alemão Politt, com mais de 16 minutos de vantagem sobre o pelotão ~ onde Cavendish ganhou mais um sprint que ainda lhe valeu mais uns pontinhos - e o tempo suficiente sobre os vários grupos em que a fuga acabou para ir festejando ao longo do último quilómetro.
A 13ª etapa, entre Nimes e Carcassone, plana e a segunda mais longa, não tendo tido grande história - as quedas que voltaram a acontecer já quase fazem parte da normalidade deste Tour - foi histórica. Cavendish voltou a ganhar, pela quarta vez neste Tour, e cometeu o feito histórico se atingir 34 vitórias em etapas na Volta a França, igualando o recorde de Edy Merclx, o mito histórico do ciclismo mundial, e indiscutivelmente o nome maior (e mais limpo) da sua História.
Fica o feito histórico, por mais sensacional que seja, e por mais inesperado que tenha sido, mas o sprint de Cavendish acabou por ter como adversário ... o colega de equipa que o lançou. Não se pode tirar brilho a este desempenho do ressuscitado Cavendish, aos 36 anos, e dois depois de praticamente afastado. mas só é possível porque os melhores sprinters da actualidade já lá não estão. E pelo trabalho irrepreensível da equipa, a Deucenic. Que já leva cinco vitórias em etapas.
A etapa de hoje, com quatro contagens de montanha, mesmo que nenhuma das duas mais altas categorias, foi ganha por Bollema, depois de abandonar o grupo da grande fuga do dia, e pedalar sozinho durante 40 quilómetros para a vitória.
Foi uma etapa bastante movimentada, com os cilcistas a cruzarem a meta em sucessivos grupos e grupetos, à excepção do neerlandês, que chgou sozinho. Cavendish viu-se grego para chegar dentro do tempo de controlo, mas resistiu para segurar a camisola verde. Valeu-lhe mais uma vez a ajuda da equipa, que já não tem mais nada por que correr. O canadiano Wodds, apesar de lhe ter cabido em sorte a queda do dia, roubou a camisola das bolinhas, a da montanha, a Quintana, mais uma vez decepcionante. Guillaume Martin, que integrou a fuga do dia e chegou à meta no terceiro grupo, foi quem mais ganhou com ela, subindo de nono a segundo.
Não deixa de ser curioso que o segundo lugar da classificação tenha sido o que mais tem variado desde o ínício da competição. E que por lá tenham sempre passado nomes secundários, daqueles que nada preocupam Pogacar. nem mesmo o de Rigoberto Uran, que lá chegou depois da etapa do Mont Ventoux. Tem sido sempre assim, e assim voltou a ficar hoje.
Não deixará certamente de assim ser, no que respeita a preocupações para Pogacar. Mas a partir de amanhã, mesmo que essa volatilidade se mantenha, será diferente. Irá certamente oscilar, mas já entre nomes com outro peso que não o deste francês, que não deixará de ser mais um segundo meramente circunstancial.
Para a segunda e última etapa dos Alpes, a nona deste Tour, entre Cluses e Tignes, de 144.9 Km, já alinharam Roglic e Van der Poel, um dos grandes candidatos, e o que até ontem tinha liderado a classificação, e emprestado as costas à camisola amarela, respectivamente. Por razões diferentes - o esloveno, massacrado pelas quedas e pelo sofrimento, numa posição indigna da sua categoria, e com os jogos olímpicos para disputar; e o franco-holandês porque se tinha estreado no Tour para homenagear o seu avô, Raymond Poulidor, falecido no ano passado e, depois do que fez, quis deixar ao avô as melhores imagens que tinha para lhe deixar.
Foi uma etapa dura, das mais duras deste Tour, sempre a subir, cheia de montanhas de segunda, primeira e até categoria especial. Para colombianos, dir-se-ia.
Foi quase assim. E apareceram Quintana e Higuita. Foram para a frente, à frente dos muitos grupos e grupinhos, e muito à frente do grupo de Pgacar, que chegou até a ter virtualmente perdido a amarelo.
Na penúltima montanha Quintana passou na frente, seguido de Higuita, e reforçou a liderança do prémio da montanha. Na descida para a abordagem à meta, em mais uma subida de 21 Km, aceleraram ambos como nunca se tinha visto, numa estrada molhada, de um dia de chuva e frio. Mas logo no início da subida juntou-se-lhes o australiano O`Connor, e pouco depois Quintana colapsou. E depois Higuita. Quintana ainda pareceu recuperar e voltou a alcançar e ultrapassar o seu compatriota, mas foi sol de pouca dura. Ambos acabaram por desaparecer, enquanto o australiano mantinha um ritmo impressionante, que lhe permitia manter a distância para o grupo de Pagacar sempre na casa dos 7 minutos.
Até que o jovem esloveno decidiu atacar, como ontem. Foi-se embora, deixou toda a gente pregada, e foi passando um a um quase todos os muitos que o separavam da frente. Como ontem fizera, de resto. Chegou em sexto lugar á meta, e afundou ainda mais toda a concorrência. O`Connor já lá tinha chegado há 6 minutos, e subiu ao segundo lugar da geral. Mas sem que represente qualquer tipo de ameaça para Tadej Pogacar.
Dos portugueses há a salientar a boa etpa de Rúben Guerreiro, que andou sempre nos grupos da frente, mesmo que sempre sem dar muitos nas vistas. Primeiro tinha a desculpa de na frente estar o seu colega Higuita. Com o desfalecimento deste, sem outra desculpa que não seja não ter podido dar mais. Rui Costa lá continua a fazer o seu papel de ajudante na equipa de Pogacar. Não tem outro, e dificilmente terá oportunidade para outra coisa.
Uma semana depois do seu início cá chega o Tour. O 106º Tour de France!
Tem vantagens, trazer cá a corrida uma semana depois. A maior é evitar aquela coisa sempre obrigatória à partida de avançar com prognósticos, de falar de favoritos e de expecativas. Nem teria que ser exactamente assim, até porque o normal, nestas corridas de três semanas, e em particular no Tour, a primeira semana é para aquecer os motores, que as bicicletas não têm. Supomos. Aquela história dos pardais e do primeiro milho.
Pois, desta vez não é assim. O fim da primeira semana do Tour coincidiu com a chegada aos Alpes e, coisa nunca vista, com o vencedor encontrado. É que esta primeira semana teve de tudo.
Teve as quedas. Muitas. E logo na etapa inicial, faz hoje uma semana, uma decisiva, provocada por uma senhora que quis mostrar o cartaz que trazia nas mãos às câmaras de televisão. Foi naturalmente encontrada e entregue à Justiça. Foram muitas as vítimas, algumas ficaram desde logo fora de prova. o esloveno Roglic, o segundo do ano passado, e o grande rival do seu compatriota Pogacar, o miúdo de 22 anos que já ganhara há um ano, ficou em mau estado, e não mais recuperou. Está afundado na classificação a muito mais de meia hora do seu compatriota.
Teve o regresso de Cavendish, o temível sprinter. E já ganhou duas etapas. Teve a surpresa do estreante Mathieu Van de Poel, neto do mítico Poulidor, o eterno segundo, e a prova que o segundo nem sempre é apenas o melhor dos últimos, e que trouxe a camisola amarela vestida durante quase toda a semana. Só a despiu hoje.
Teve um contra-relógio, na quinta etapa, onde Pogacar voou, e mostrou desde logo que era, de longe, o melhor., mesmo que ainda deixando a amarela no corpo do neto de Poulidor, que até é holandês (neerlandês, diz-se agora), como se depreende do seu apelido, colado ao nome francês.
Teve, ontem, na maior etapa da competição, e uma das maiores de sempre, com os seus quase 250 quilómetros, entre Vierzon e Le Creusot, a surpresa de uma corrida esfrangalhada, com uma fuga numerosa que incluía o próprio camisola amarela. E que levou nomes grandes, como Froome, mas muitos outros, a perderem tempo na casa dos 20 minutos. E o próprio Pougacar a perder cerca de 4 minutos, numa etapa ganha pelo também esloveno Matej Mahoric.
E teve, hoje, a primeira das duas alpinas, entre Oyonnax e Le Grand-Berand, um espectáculo chamado Pogacar, que simplesmente fez o que nunca se vira fazer, e arrumou com as dúvidas quanto ao vencedor. Sem qualquer dos imponderáveis que fazem parte do ciclismo, Roglic ganhou o Tour na primeira semana. Bastou-lhe um contra-relógio e a primeira etapa de montanha!
Vale a pena contar. Na segunda das três subidas de primeira categoria da etapa, quando seguia no primeiro pelotão - um segundo já se havia formado até aí - a mais de 4 minutos da frente da corrida, e com uns trinta corredores na frente - se não mesmo mais - o jovem esloveno atacou a corrida, Apenas o equatoriano Carapaz respondeu, e colou-se-lhe, de imediato. Por pouco. Resistiu ainda a um esticão do esloveno, mas já não teve resposta para o segundo ataque.
A partir daí foi seguir montanha acima, num ritmo diabólico, mas tranquilo. Foi passando um a um todos os que encontrava, que se limitavam a olhar para o ver passar, tranquilamente sentado na bicicleta. Terminou a montanha, e logo a seguir a terceira. No mesmo ritmo passando toda a gente, uns atrás dos outros, e ganhando minutos aos principais adversários, que já ninguém sabe bem quem são. Quando chegou ao cimo tinha passado trinta - talvez mais - corredores, e já só tinha ali à frente o belga Teuns, a escassos metros. Mais 50 metros a subir e ficaria para trás.
A subida acabara, e faltava descer nove quilómetros até à meta. Nove quilómetros de curvas e mais curvas, numa estrada encharcada. Teuns tinha uma etapa para ganhar, e uma oportunidade única. Ou pelo menos muito rara. Pogacar já ganhara o que queria ganhar, e tem uma vitória para repetir em Paris. Teuns arriscou na descida. Pogacar cuidou-se, e deixou-o ir. Cuidou-se tanto que permitiu que se lhe juntassem o espanhol Izaguirre e o canadiano Woods, que fizera boa parte da etapa na frente.
Na meta vestiu naturalmente a amarela. E tem Uran a 5 minutos, Carapaz a mais, Nibali a 22, Roglic a 40 e Garaint Thomas e Froome a muito mais de 1 hora.
Sobre os portugueses, Rui Costa e Rúben Guerreiro, não há grandes coisas para dizer. Rui Costa é 111º a mais de uma hora de Pogacar; Rúben Guerreiro tem feito melhor - é 46º, a puco mias de 36 minutos.
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