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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Tour 2023 - FIM

Terminou o Tour2023 e agora é mesmo oficial: Vingegaard sagra-se bicampeão ao conquistar 110.ª edição

E pronto, desceu o pano sobre o 110º Tour. Nos Campos Elísios, como habitualmente. Mas como não será para o ano, com Paris por conta dos Jogos Olímpicos.

Na meta, Meeus fechou uns milímetros à frente do compatriota Philipsen, o rei dos sprints, e camisola verde, e do neerlandês Dylan Groenewegen, em terceiro. 

Com o prémio da montanha ontem arrumado, todas as classificações estavam já todas fechadas. No pódio, com Vinguegaard de amarelo, e Pogacar de branco (juventude) ficou Adam Yates. Por lá passaram ainda Philipsen, com a camisola verde (dos pontos) e Giccone, com a das bolinhas vermelhas (da montanha). E todos os colegas de Vingegaard na Jumbo, que ganhou por equipas.

Todos, não. Faltou Van Aert, o mais espectacular deste Tour. São muitas as imagens que dele ficam, porque ele esteve em todo o lado. Uma, no entanto, ficará gravada na memória de todos os que viram. Conta-se rapidamente: subiam-se as montanhas do Monte Branco e Van Aert terminava o seu trabalho na frente. Ficou para trás, e chegou mesmo a parar em cima da bicicleta, acabando amparado por um espectador, e desapareceu das câmaras. Para a frente do grupo passou Raphal Majca, o companheiro de Pogacar para impor o ritmo que colocasse Vingegaard em dificuldades. De repente, vindo não se sabe de onde, Van Aert estava ao seu lado, a voltar a pegar na corrida e a acabar (literalmente) com Majca, deixando Pogacar sem qualquer ajuda.

Faltou Van Aert porque há três dias foi embora, para assistir ao nascimento do seu segundo filho. Como tinha avisado desde o início. 

Espectacular, até nisto!

Espectacular não foi o desempenho dos corredores portugueses. Pelo contrário, foi bem discreto. Rúben Guerreiro foi o que mais deu nas vistas, mas acabou fora da corrida, vítima daquela queda colectiva na 14ª etapa, que provocou a neutralização de meia hora. Nelson Oliveira (53º, a 3 horas e 8 minutos de Vinguegaard) e Rui Costa (67º, com mais 30 minutos) ainda chegaram a integrar uma fuga, mas sempre sem qualquer impacto. Na realidade, só hoje, nas últimas voltas (de 7 quilómetros) aos Campos Elísios, se conseguiu ver o Nelson naquela fuga a três que acabou fracassada já na última volta, à beira do último quilómetro.

Tour 2023 - VI

Tour 2023: Pogacar vence 20ª etapa; Vingegaard a um dia do bi - Bikemagazine

Está tudo decidido neste 110º Tour de France. A penúltima etapa, corrida na Alsácia pelas montanhas dos Vosges, entre Belfort e Le Markstein Fellering, com 133,5 km de montanha, que só não era completamente decisiva porque o mais importante tinha fica arrumado na última quarta-feira no Col de la Loze, decidiu o que faltava decidir. Se amanhã não houver quedas que provoquem desistências - pelo que se tem visto, isso não é garantido; hoje houve mais quedas, uma delas envolveu directamente Carlos Rodriguez, da Ineos (levando-o a perder o quarto lugar para Simon Yates) e Kuss, da Jumbo, o braço direito de Vinguegard (que caiu do oitavo lugar para fora do top 10) - está tudo decidido!

Era montanha atrás de montanha, e tinha duas coisas por garantidas. Por um lado era certa a constituição de uma fuga bem cedo. Porque é sempre assim, e porque havia pontos de montanha para Giccone amealhar bem cedo e garantir a camisola das bolinhas. E, por outro, era certo que, no seu último Tour, o alsaciano Pinot queria brilhar e, se possível, ganhar na sua região.

E acabaram ser estes dois dos pontos altos da etapa. Giccone garantiu o título na antepenúltima montanha, e deixou-se cair do grupo da frente. Ao contrário, e em simultâneo, Pinot saltou do grupo para a frente, onde andou até ao início da última subida. Foi aclamado ao longo de alguns quilómetros e muitos minutos, ganhou o prémio da combatividade, mas não resistiu e acabou no sétimo lugar na meta.

O terceiro, sendo um clássico deste Tour, não deixa de ser um ponto alto da etapa. O ataque de Pogacar na última subida, e a resposta imediata de Vinguegaard, é um clássico. Mas, depois das derrotas no contra-relógio e no Col de la Loze, poucos esperariam que Pogacar tivesse força mental para qualquer espécie de ataque. 

É só por isso um ponto alto da etapa. Mas também porque acabou porque arrumou o que faltava arrumar no top 10. 

Pogacar atacou e Vinguegaard respondeu. Acabaram os dois a medir-se reciprocamente, e a pôr até em causa a vantagem entretanto conquistada sobre todos os outros. Um clássico deste Tour. Foi assim que Carlos Rodriguez ganhou no Monte Branco, faz hoje uma semana.

Valeu-lhes que o primeiro que se lhes juntou foi o austríaco Felix Gall, que ainda pagou a despesa durante uns bons minutos. Até deixar de estar interessado em rebocar tão importantes penduras, e Pogacar passar a estar interessado na chegada ao grupo dos manos Yates, que entretanto tinham deixado Carlos Rodriguez nas covas, entregue às suas mazelas.

Contava que Adam, o seu colega na Emirates, o conduzisse e lançasse na recta da meta. E assim aconteceu. Vinguegaard sabia que iria ser assim, e ainda se lançou no sprint para tentar ganhar a etapa, mas Pogacar não lhe deu hipótese. 

Foi bonito ver na penúltima etapa mais um duelo entre os dois. Não se pensava que Pogacar tivesse ainda disponibilidade mental para estes desafios. Nem bonito, nem feio - mas apenas o que foi - foi que, sempre que ao longo de todo o Tour Pogacar atacou teve resposta à altura de Vinguegaard. Na única vez que foi por ele atacado, não conseguiu responder-lhe. Nisto, nestes duelos, as diferenças andaram pelos segundos. No contra-relógio de terça-feira, cada um por si, um sem o outro, Vinguegaard desferiu o o golpe que deixou Pogacar a cambalear. No dia seguinte não precisou de fazer muito, foi só deixá-lo cair!

Mérito indiscutível nesta segunda vitória consecutiva de Vinguegaard. Quando o segundo fica a 7 minutos e meio, e o terceiro a onze, não sobra nada para discussão!

 

Tour 2023 - V

Tadej Pogacar: ″Era como se nada chegasse às minhas pernas, tudo ficava no  estômago...″

Se ontem matou, hoje Vinguegard esfolou. Era a 17ª etapa, entre  Saint-Gervais Mont-Blanc e Courchevel, não chegava aos 166 quilómetros mas tinha cinco contagens de montanha. Cinco contagens porque se calhar não dava para contar mais, porque as subidas eram bem mais. A própria meta final estava no fim de uma tremenda subida, e já não contava nada para a classificação da montanha. Seis quilómetros antes, no Col de la Loze, atingia-se o ponto mais alto deste Tour, a mais de 2300 metros de altitude, com pendentes acima dos 20% nos últimos quatro quilómetros.

Era a etapa rainha deste 110º Tour de France, tida por decisiva. E foi certamente a mais decisiva, não apenas da edição deste ano, mas dos últimos largos anos.

Foi corrida como o são as etapas de alta montanha. Uma fuga numerosa, a formar-se bem cedo, e cheia de gente que sabe subir, para, depois, as equipas dos principais corredores agarrarem a corrida até a entregarem aos que fazem a diferença. 

Pogacar sofreu uma queda, e ficou com os membros superiores e inferiores esquerdos algo esfarrapados. Era um contratempo, talvez um mau pronúncio, mas nunca ficou a ideia que tivesse mais consequências. Vingegaard e a sua equipa não quiseram aproveitar o incidente para atacar - e só lhes ficou bem! - e Pogacar regressou ao pelotão, para por lá se manter sem grandes sinais de inferioridade.

Faltavam 6 quilómetros para o alto do Col de la Loze e o grupo do camisola amarela, onde seguiam os primeiros classificados, era puxado pela Ineos, com os olhos postos no último lugar do pódio, que Carlos Rodriguez tinha para atacar, e Pogacar cedeu. Não conseguiu acompanhar o ritmo e começou a ficar para trás. 

Adam Yates, com o terceiro lugar da geral para defender, continuou no grupo - a Emirates, e o próprio Pogacar perceberam que nada havia a fazer - e foi o espanhol Marco Soler a "cair" da fuga (onde vinha há muitos quilómetros preso por elásticos) para fazer o que podia pelo líder. Não podia muito. Ainda assim, o pouco que podia era muito para o que podia Pogacar. 

Rapidamente, e sem que Vingegaard mexesse uma palha, limitando-se a seguir o ritmo dos da frente, Pogacar perdeu bem mais de um minuto. Quando, a 4 quilómetros do alto o camisola amarela resolveu atacar a corrida, e tentar ainda ganhar a etapa, a diferença para Pogacar começou a ganhar contornos de escândalo.

Vingegaard fez então uma notável demonstração de poder, ultrapassando sucessivamente dezenas dos ciclistas da fuga. Não lhe valeu para melhor que o quarto lugar na meta (atrás de Felix Gall, Simon Yates e Pedro Bilbao, que já tinha ultrapassado, mas que recuperou em cima da dificílima linha de meta), mas valeu-lhe quase 6 minutos para Pogacar, que Soler levou penosamente até à meta, onde seria 22º, a 7 minutos e 37 segundos de Gall. 

E o que era um Tour discutido nos segundos das bonificações, de repente acabou na maior das diferenças dos últimos largos anos. No ano passado Vingegaard venceu sem que conseguisse convencer. Pogacar tinha sido negligente com a alimentação, e acabou traído pelo excesso de confiança. Vingegaard, tinha apenas sido mais humilde. E dizia-se, teve sorte. 

Ontem, Vingegaard mostrou estar muito melhor que o esloveno. Hoje, mostrou estar muitíssimo melhor. Pogacar é, tudo o indica, melhor ciclista. Mas nunca conseguiu melhor. O descalabro de hoje deve-se provavelmente muito mais à clara derrota no contra-relógio de ontem que a qualquer outro factor. Incluído o da queda de hoje.

O vencedor do Tour está encontrado. O pódio, provavelmente também. Adam Yates hoje ganhou claramente a Carlos Rodriguez. A não ser que os problemas de Pogacar se agravem, e o descalabro continue nos próximos dias. Ou que nem sequer encontre condições para continuar...

O que, pelas manifestações de apoio e carinho dos colegas de equipa, hoje na meta, seria verdadeiramente inaceitável!

Tour 2023 - IV

NãoVingegaard e Pogacar não fizeram o mesmo tempo no contra-relógio de hoje, desta 16ª etapa. Nem nada que se parecesse. Para surpresa geral, e até do próprio, Vingegaard deu uma verdadeira coça a Pogacar. E, apesar da etapa de amanhã, tida como a mais difícil da prova, com quatro subidas em alta montanha e de longa quilometragem, e da penúltima, no sábado ser também de alta montanha, deverá ter garantido a segunda vitória consecutiva no Tour, à custa de Pogacar.

Os Pirinéus e os Alpes mostraram que, em corrida, eles não se largam. Por eles, porque são, de longe, os dois melhores, e pelas respectivas equipas, também elas as melhores. Se assim foi, mais táctica menos táctica, mais estratégia menos estratégia, não é previsível que assim deixe de ser nessas duas etapas.

Por isso, o minuto e trinta e oito que Vingegaard hoje ganhou, a somar aos 10 segundos que trazia de vantagem, são mais que suficientes para lhe garantir desde já a vitória em Paris, no domingo. É que seriam necessários muitos, dos poucos segundos que têm feito a diferença entre eles, para anular o 1´48´´ que agora os separa.

Não era um contra-relógio qualquer, este de hoje. Eram pouco mais de 22 quilómetros, mas terríveis. Logo à partida a subida do Côte des Soudans, com 1,3 quilómetros com uma pendente média de 8,8%. Depois da descida, seguida por um curto traçado plano, a subida ao Côte de Domancy, mais longa (2,5 km) e mais íngreme (9,4% de média), com muitos espaços com inclinações superiores a 11%. Para terminar, mais 3,5 quilómetros para subir até à meta, em Combloux, com uma inclinação média de 5%.

Alguns (poucos) ciclistas optaram por trocar a bicicleta de contra-relógio pela normal, de corrida, no início da segunda subida, a do Côte de Domancy. Pogacar tinha anunciado ser essa a sua estratégia.

Dado que os tempos de subida contavam para a pontuação da montanha, perceber-se-ia que isso servisse aos mais interessados nessa classificação, como era o caso de Gicone. Percebeu-se, pelos poucos que ao longo do contra-relógio trocaram de bicicleta, que a operação não se fazia em menos de 10 segundos, que facilmente passariam a 30 contando o tempo para recuperar o ritmo.

Quando Pogacar fez a troca - e foi o único dos 10 primeiros a fazê-lo - já trazia uma desvantagem próxima de 1 minuto para Vinguegard. No fim, perderia 1:38. Sabe-se que continuou a perder, e que, objectivamente, não ganhou nada com isso. Mas não se sabe é se ainda teria perdido mais se não o tivesse feito.

Chegou à meta colado ao jovem espanhol Joaquim Rodriguez, o terceiro da geral que tinha partido 2 minutos antes, e batendo em quase 1 minuto o melhor tempo até então, os 35´27´´do sensacional Wout van Aert, provavelmente o corredor mais espectacular deste Tour. Mas quase à vista de um Vinguegard "de outro mundo".

Nas contas do pódio Adam Yates trocou com Carlos Rodriguez, e é agora terceiro, já quase a 9 minutos do líder. Mas com escassos 5 segundos de vantagem sobre o jovem espanhol da Ineos que, face ao trabalho que o espera na ajuda a Pogacar, terá dificuldade em segurar.

 

 

Tour 2023 - III

Gesto fair play na Tour. Pogačar spadl, Vingegaard na něj počkal a ...

A segunda semana do 110º Tour de France, fechada com as três etapas dos Alpes, foi mesmo a semana alpina. Três etapas que, tidas por decisivas, não decidiram muita coisa. Na frente, na luta pela vitória final, não decidiu mesmo nada.

Se à entrada nos Alpes Vingegaard e Pogacar estavam separados por 17 segundos, à saída estão separados por 10. Mas isso não quer dizer que os Alpes não decidiram muita coisa e, menos ainda, que não tenham mostrado grandes momentos de ciclismo.

Na sexta-feira, a abrir, na chegada ao Grand Colombier, não faltou espectáculo nem emoção. Como não faltaria nas outras. Aproveitando - e resistindo - uma fuga madrugadora e numerosa, como é timbre destas etapas, Kwiatowski foi o primeiro, lá no alto. Mas o espectáculo, está bom de ver, estava reservado para os dois da frente da classificação geral.

A equipa dos Emirates chegou-se à frente e, num enorme investimento,  comandou toda a perseguição à fuga, quase a anulando. Na parte final Pogacar fez o resto, e voltou a atacar fortemente Vingegaard. Parecia que iria resultar, com o dinamarquês a ceder. Mas não, Vingegaard respondeu no seu ritmo e, no fim, todo o esforço da Emirates, e do próprio Pogacar, acabou por resultar numa vantagem de apenas 4 segundos. Que seriam oito, pela bonificação de outros quatro, correspondentes ao terceiro lugar na etapa. E o esloveno reduzia a desvantagem dos 17 segundos para nove.

Mas estava dado o mote. Pogacar conseguia explodir, mas Vingegaard tinha sempre resposta.

No sábado, ainda ali às voltas do Monte Branco, na chegada a Morzine les Portes du Soleil, nada seria de muito diferente. Mesmo com uma história muito diferente. Desde logo porque uma queda colectiva, logo aos 5 quilómetros da etapa, deixou fora da corrida muita gente, obrigando a uma interrupção de meia hora para que fosse prestada assistência aos ciclistas acidentados. Entre os que foram obrigados a desistir estavam ciclistas do top 10, como o sul-africano Louis Meintjes, o espanhol Antonio Pedrero (Movistar) e o colombiano Esteban Chaves (EF Education-EasyPost). Mas também Ruben Guerreiro. Dos primeiros, o australiano Jai Hindley (BORA-hansgrohe), terceiro classificado da geral, e o britânico Thomas Pidcock (INEOS), oitavo, também  estiveram envolvidos, mas continuaram em prova.

Desta vez foi a Jumbo Visla, de Vingegaard, a fazer o investimento principal na etapa. Mas foi Pogacar a atacar, novamente. Desta vez até ganhou rapidamente alguma vantagem, mas depressa a perdeu, e depressa Vingegaard se lhe juntou na frente da corrida.

Pogacar percebeu que não se veria livre do rival e decidiu apostar na meta da montanha, que dava bonificação de 5 segundos. Que, juntamente com a da meta final, no fim da longa descida que se seguia, lhe daria para anular a desvantagem. Deu-se então o golpe de teatro: quando Pogacar ia atacar para ser primeiro na montanha, no carreirinho aberto entre os espectadores, é tapado por uma mota de um repórter fotográfico, e é Vingegaard que aproveita para ser primeiro, e ficar com a bonificação.

Como um mal nunca vem só, enquanto eles estavam entretidos nesta disputa, o miúdo Carlos Rodriguez (22 anos), que tinham deixado para trás uns quilómetros antes, aproximou-se e, já na descida, deixou-os para trás. E acabou por ser primeiro na meta, com 5 segundos de vantagem sobre os dois. Pogacar ainda tentou tudo, esperou até pelo colega Adam Yates para uma ajuda. Mas nem assim. Vingegaard seguiu sempre colado à sua roda. Nem no sprint final, a largou, perdendo apenas os 4 segundos da diferença de bonificação entre o segundo e o terceiro. Perdendo estes 4 segundos, mas tendo ganho os 5 lá em cima, os 9 de vantagem passaram a 10.

Hoje, na despedida dos Alpes, a inevitável fuga numerosa ditou os primeiros 15 classificados da etapa, não deixando nada de bonificações com que os dois da frente se vão gladiando. Mais uma queda deixou Bardet, à porta do top 10, de fora.

Pogacar voltou a estar mais bem preparado - quer dizer com mais equipa - para atacar, novamente com a preciosa colaboração de Adam Yates, decididamente a fazer uma grande corrida. E atacou, com o mesmo resultado: Vingegaard sempre na sua roda, sempre a responder. E a deixá-lo definitivamente em sentido. Chegaram os dois juntinhos à meta em Saint-Gervais Mont-Blanc le Bettex, em 16º e 17º, a mais de 6 minutos de Wout Poels.

E, como eles não se largam, será o contra-relógio de depois de amanhã (amanhã será o segundo e último dia de descanso) a decidir isto. Só faltava, também aí, fazerem o mesmo tempo ...

Tour 2023 - II

Michael Woods vence 9.ª etapa e Pogacar volta a ganhar tempo a Vingegaard -  Tour - Jornal Record

Está cumprida a primeira semana do Tour, na sua 110ª edição. Amanhã será dia de descanso.

Foi uma primeira semana completamente diferente daquilo que é habitualmente a semana inicial do Tour, tudo por força de se ter iniciado no País Basco, com os Pirineus ali tão perto. Se nas duas primeiras etapas Pogacar fez questão de mostrar que estava forte - provavelmente para esconder as fraquezas de uma preparação interrompida com a queda em Abril, na clássica Liège-Bastonne-Liège, com a fractura de um pulso a obrigar intervenção cirúrgica - para impor respeito aos seus mais directos adversários e ganhar tempo de recuperação, a quinta, a primeira a sério nos Pirineus, entre Pau e Larons, encarregou-se de lhe desmontar a estratégia.

Uma fuga numerosa, que incluía Jay Hindley, o australiano em estreia no Tour, mas já com provas dadas, acabou por ditar a história da etapa. A fuga conquistou um vantagem apreciável que, a não ser reduzida, transformaria o ciclista australiano, que ganhou a etapa e conquistou a amarela, numa séria ameaça para os principais favoritos.

A equipa da Emirates acabou por ficar sozinha nessa tarefa de reduzir o tempo para Hindley. Conseguiu reduzir a diferença para a casa dos dois minutos, mas "rebentou" aí. Esgotada fisicamente, ou esgotado o sentido colectivo da equipa nessa tarefa, deixou Pogacar sozinho, à mercê da estratégia da Jumbo Visma. Que, se em individualidades não lhe fica atrás, em sentido colectivo e estratégico, fica-lhe muito à frente.

Com Pogacar desguardado, a estratégia era testar as suas verdadeiras capacidades. Assim foi e, no momento certo Vingegaard atacou sem que o esloveno conseguisse responder. Ganhou-lhe mais de um minuto, e acabou a meio minuto de Hindley. Mas, mais que tudo isso, mais que derrotar circunstancialmente Pogacar, levantava dúvidas sobre a sua real condição para discutir a vitória neste Tour.

Dúvidas que duraram pouco. Logo no dia seguinte, na curta (faltavam 100 metros para os 145 quilómetros) etapa de despedida dos Pirineus, entre Tarbes e Cauterets, com passagem pelos míticos Col de Aspin e Tourmalet, antes dos quase 16 quilómetros finais da subida ao Cambasque, onde Rúben Guerreiro acabou em quarto - depois de integrar a fuga do dia e andar sempre na frente - Pogacar tratou da "vingança". 

A etapa acabou por ter muitas semelhanças com a anterior. Também a Bora, à semelhança da Emirates no dia anterior, se esgotou na perseguição à fuga para defender a amarela de Hindley. E a Jumbo também apostou na mesma estratégia da véspera. Só que, desta vez, quando Pogacar e Vingegaard ficaram a sós, foi o ciclista esloveno quem atacou. E foi por aí acima, até ganhar na meta. Com escassos 24 segundos de vantagem para o ciclista dinamarquês - que assim "roubou" a amarela ao australiano, que caiu para terceiro na geral -, recuperando  metade do tempo que perdera na véspera, mas a toda a condição de principal favorito.

Com os Pirineus para trás seguiram-se duas etapas para roladores e sprinters. A primeira - a sétima - partiu de Monte-de-Marsan - em homenagem a Luís Ocãna, vencedor do Tour em 1973, para assinalar o cinquentenário dessa vitória na terra que o grande ciclista espanhol escolheu para viver - e, por entre vinhedos donde saem dos mais famosos vinhos do mundo, acabou em Bordéus. Apostava-se que fosse a etapa em que Mark Cavendish alcançaria a sua 45ª vitória no Tour, e desempataria com Eddy Merckx. Mas Philipsen, eventualmente até com uma irregularidade no sprint, não o permitiu, e atingiu ele próprio a sua terceira vitória ao sprint neste Tour. Não teria sido um drama, se na etapa seguinte, a de ontem, Cavendish não tivesse ficado de fora da corrida, numa queda estúpida (que também atingiu Rúben Guerreiro) que lhe fracturou uma clavícula, já literalmente presa por arames (um dos ferros que a segurava acabou até por saltar). 

Era o seu Tour de despedida. Como que se fosse vontade dos deuses que este fosse um recorde a manter dividido entre o maior sprinter e o maior ciclista da História.

Ironicamente, o melhor sprinter deste Tour, que até aqui tinha ganho todas as chegadas ao sprint, não conseguiu vencer, em Limoges, a etapa que destruiu o sonho do melhor de sempre.

A etapa de hoje, a fechar a primeira semana, era apontada como uma das mais importantes deste Tour. Eram pouco mais de 182 quilómetros, entre Saint Léonard de Noblat e o mítico Puy de Dôme, onde a competição não chegava há 35 anos. Onde Poulidor ganhou em 1964, batendo Anquetil num duelo espectacular, quando mais perto esteve de vestir a amarela. Que o "eterno segundo" nunca vestiu, apesar dos seus oito pódios no Tour. Por isso a partida foi motivo para mais uma homenagem ao, ainda hoje, quatro anos depois do seu falecimento, mais popular ciclista francês, centrada no seu neto, Mathieu Van der Poel, o ciclista neerlandês, nascido na Bélgica, da Alpecin- Deceuninck.

Não foi a etapa espectacular que se poderia esperar. O grupo numeroso que desde cedo se formou na frente não incluía nenhum ciclista que representasse qualquer incómodo aos da frente da classificação. Por isso foi ganhando vantagem, que chegou aos 16 minutos, já em plena subida para o Puy de Dôme, quando o grupo se começou a desfazer. E quando o pelotão passou a deixar de o ser.

Na frente saltou o americano Matteo Jorgenson, da Movistar, e parecia que ganharia a etapa. Mas aqueles últimos 4 quilómetros são certamente dos mais difíceis da prova e acabou por sucumbir já dentro do último. O primeiro, numa subida, essa sim, espectacular, vindo de trás e passando sucessivamente todos os que seguiam à sua frente, foi o veterano canadiano Michael Woods, da Israel. Pierre Latour (o francês da TotalEnergies) e o esloveno - mais um! -  Matej Mohoric, da Bahrain, chegaram a seguir, e à frente do americano da Movistar.

No grupo dos principais protagonistas a história repetiu-se, com Pogacar e Vingegaard entregues um ao outro, porque são na realidade muito melhores que os outros. Pogacar atacou a 2,5 quilómetros da meta e foi embora, repetindo a cena do último do episódio. Mas, desta vez, ganhando ainda menos - 8 segundos, apenas. 

Vingegaard não conseguiu responder de imediato, mas conseguiu resistir. E mostrar que tem argumentos para continuar de amarelo. Mesmo que a camisola esteja presa por apenas 17 segundos.

Dos outros, apenas salientar que, ao conservar o terceiro lugar com cómoda vantagem, Jay Hindley está a justificar o pavor que lançou nos favoritos naquela fuga dos Pirinéus. E que a jovem promessa espanhola, Carlos Rodriguez, da Ineos, mas já a caminho da Movistar, é um candidato ao pódio.

 

 

 

Tour 2023 - I

Tour: Adam Yates bate irmão gémeo Simon para ser o primeiro camisola amarela

 

Aí está o 110º Tour. Arrancou hoje no País Basco espanhol, com a primeira etapa de 182 quilómetros corridos nas estradas estreitas à volta da bela Bilbao. Ao contrário dos tradicionais prólogos, que deixam os ciclistas separados por escassíssimos segundos, este Tour arrancou com uma grande etapa, já a marcar diferenças.

A etapa tinha o desenho de um serrote, com sucessivas pequenas subidas e descidas. A última, na Côte de Vivero, a 10 quilómetros da meta, não tão pequena assim. A altitude não chegava aos 400 metros (361, mais precisamente), mas eram pouco mais de 4 quilómetros, sempre a subir, com pendentes que chegavam aos 12%, numa pendente média de 7,3%. Aí se fez a diferença, e só os melhores dos melhores estiveram entre os melhores da etapa. 

Antes - muito pouco antes - a primeira queda. Enrique Mas, o líder da Movistar (dos portugueses Nelson Oliveira e Rúben Guerreiro; Rui Costa corre com as corres do Intermarché-Circus-Wanty) ficou logo fora da corrida. Carapaz, a segunda vítima, prosseguiu em prova mas, concluindo no 153º lugar, a mais de 15 minutos, perdeu qualquer hipótese de atingir uma classificação condizente com o seu estatuto, se é que estará em condições de alinhar amanhã à partida.

A subida ao Côte de Vivero não só fez a diferença, como mostrou que está montado o duelo entre Pogacar e Vingegaard. Não se largaram, mesmo que o esloveno tenha reivindicado maior protagonismo. E muita gente importante perdeu logo ali muito tempo. Na descida para a meta os gémeos Yates ganharam avanço, e correram os últimos 10 quilómetros juntos. Na meta, Adam, da Emirates, ganhou, com 4 segundos de vantagem para o Simon, da Jayco AlUla. E 8 para Pogacar, o seu colega e líder de equipa, que ganhou o sprint - e com isso 3 segundos de bonificação - no seu pequeno grupo, que incluía Vingegaard.

Os portugueses também não escaparam às dificuldades desta primeira etapa. Nelson Oliveira foi 63ª, a 5 minutos; Rui Costa o 80º, a 8:36 e Rúben Guerreiro 86ª, a quase 10 minutos.

Os últimos, entre os quais Cavendish, chegaram a 22 minutos do primeiro. Não sei se alguma vez, sem especiais incidentes, aconteceram diferenças desta ordem numa primeira etapa do Tour. 

 

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