Elon Musk, o mais rico do mundo e dono da rede social X, o antigo Twitter - que comprou, e que em tempos banira Trump - entrevistou, ele próprio, o próprio Trump. A coisa não começou lá muito bem - por problemas técnicos decorrentes de um cyberataque, na versão de Musk - mas acabou em missão cumprida: elogios recíprocos, Musk a "vender" Trump aos mais de 194 milhões de seguidores que tem na sua taberna mal frequentada, e Trump de novo em força de barriga encostada ao balcão.
Poucos negócios se terão feito em tão pouco tempo. E no entanto é um dos maiores de sempre, e certamente o mais importante.
Em 4 de Abril Elon Musk anunciou a compra de 9,2% do Twitter. Dez dias depois diz que afinal não chega, quer ficar com tudo só para ele. Oferece 43 mil milhões de dólares, e os accionistas dizem que se trota de uma OPA hostil. E onze dias depois, a 25 de Abril, o negócio é dado por fechado por 44 mil milhões.
O homem mais rico do mundo, de quem se diz que tem tudo o que quiser, quis ter o Twitter. Para ganhar dinheiro, talvez não. Diz-se que aquilo não dá... Não é a maior rede social, mas é a mais influente. É a que políticos e jornalistas de todo o mundo não dispensam.
O casamento do homem mais rico do mundo com a plataforma de comunicação mais influente do mundo, não é nada de espantar nos tempos que correm. Que o homem mais rico do mundo tenha as suas excentricidades, também não. Já se tem tanto de génio como de teórico da conspiração, as coisas podem correr mal. É mesmo muito provável que corra mal!
Em plena guerra das máscaras, Trump foi apanhado por um dos seus mais usados instrumentos de guerra, o Twitter.
Na sua delirante visão da covid-19, Trump encontrou nas máscaras novos moinhos de vento alinhados contra a sua reeleição e, no país mais atingido pelo vírus, já à beira dos 100 mil mortos, transformou o uso de máscara numa questão político-ideológica. Em mais um factor de divisão dos americanos, que agora também se dividem entre os que usam e os que não usam máscara.
Andava Trump entretido de espada em riste contra as máscaras quando o Twitter entendeu reforçar as suas regras para combater a desinformação e as fake news, criando sinalizações que identificam os conteúdos como "potencialmente enganosos" e associando-lhe links para informações sobre o tema. Onde, como não poderia deixar de ser, Trump foi apanhado logo à primeira.
O governador da Califórnia, o democrata Gavin Newsom, decidiu enviar boletins de voto por correspondência a todos os eleitores registados no Estado, como medida excepcional para a votação no contexto da pandemia. Porque isso era dar importância à pandemia que continua empenhado em desvalorizar, Trump correu a postar contra o voto por correspondência, com supostas consequências fraudulentas.
O Twitter não deixou passar sem sinalizar com a mensagem "aceda aqui a todas as informações sobre a votação por correspondência". Foi o suficiente para Trump acusar a rede social de "interferência directa nas eleições", e de "sufocar completamente a liberdade de expressão", o que ele nunca permitiria.
É esse o seu ponto de chegada. A um ponto em que nunca, nada nem ninguém o impeça de mentir, como lhe apetecer, à medida dos seus interesses ou simplesmente à dos seus delírios... Esperemos que fique pelo caminho, e nunca lá chegue!
O "golpe de estado" que ontem (o)correu no país do Twitter, a lembrar a mítica transmissão radiofónica de Orson Wells da "Guerra dos Mundos", é bem capaz de, pelo excesso próprio deste tempo mediático e das redes sociais, ter acabado no efeito contrário, eventualmente diamentralmente oposto, ao pretendido.
É que provavelmente cirunscreve o "golpe de estado" de Cavaco a um simples fait divers e remete-o para o caixote dos likes e dos lol.
Provavelmente fica muito do espectáculo e muito pouco do que lhe deu origem. Da substância. Do que no Daily Telegraph se ecreveu: “pela primeira vez, desde a criação da união monetária europeia, um Estado-membro tomou a iniciativa explícita de proibir os partidos eurocépticos”. Que um italiano qualquer aproveitou para linkar, ironizando que a União Europeia declarara a suspensão da democracia em Portugal, obrigando os portugueses a continuar a votar até que o resultado fosse o pretendido.