Não terá sido - imagino eu - para assinalar esta contagem redonda que Joe Biden deu luz verde à Ucrânia para utilizar armas americanas de longo alcance, capazes de atingir território russo. Se os mil dias não eram a oportunidade, tudo indica que os 60 que lhe restam de presidência menos a seriam.
Putin respondeu com um documento que, alterando a doutrina do uso de armas nucleares, define que (i) um ataque com armamento convencional, se apoiado por potência nuclear, pode justificar o uso de armas nucleares pela Rússia; e (ii) que qualquer agressão contra a Rússia por um país membro de uma coligação será considerada agressão de toda a coligação. Isto é, Putin voltou a ameaçar com o uso do nuclear, e começa a parecer Pedro na sua história do lobo.
Não se faz ideia se Biden acertou alguma coisa com Trump. Não parece, mas nunca se sabe... Sabe-se que com a União Europeia, não. Porque aí ninguém se entende. Só a França admite poder vir a seguir essa ideia. Alemanha e Itália recusam-na liminarmente, e aos outros nem a questão se põe: simplesmente não possuem armas dessas. Que a UE - Josep Borrell - diga que concorda com a utilização de mísseis de longo alcance por parte de Kiev é apenas uma opinião. Que não vale nada!
Mil dias é muito tempo. Em guerra, é ainda mais. E no entanto ainda ninguém fala de paz. O problema é mesmo a história do Pedro e do lobo. Se continuarem a deixar passar muitos mais dias, haverá um em que o lobo vem mesmo!
Enquanto destrói Gaza, de que já pouco resta, condenando os palestinianos que escapam à condição de cadáver ao regresso à idade da pedra, Israel vai abatendo em territórios estrangeiros tudo o que é líder dos movimentos terroristas, que criou e alimentou para acabar com todas as lideranças palestinianas moderadas, que em tempos lutaram pela criação do Estado Palestiniano, prometido e desenhado paralelamente com o de Israel.
O resultado só pode ser mais uma escalada na guerra, com grande probabilidade de se transformar na sempre anunciada III, de proporções inimagináveis. A espectacularidade que Israel sempre consegue através dos seus serviços secretos e das suas forças armadas - e como são exaltados os seus feitos pelos fazedores da opinião ocidental! - secundarizou a guerra na Ucrânia, com Putin a aproveitar para, longe da atenção mediática mundial, ir avançando na ocupação e destruição da pátria ucraniana.
Na Venezuela, Maduro reprime, mata e prende todos os que reclamam pela verdade dos resultados eleitorais, por pão, e por liberdade.
É este o estado do mundo à entrada de Agosto. Como poderá ser querido?
Ontem foi dia de Zelensky, duas semanas depois da programada visita à península Ibérica. Depois de, no dia anterior, ter estado em Madrid, e de, pela manhã, ter dado um salto a Bruxelas, o líder - e ícone - ucraniano passou a tarde em Lisboa.
Poucos minutos depois de ter partido de Figo Maduro iniciou-se o último debate televisivo entre os principais cabeças de lista às Europeia do final da próxima semana. O único com todos - os oito - contra todos, em que Sebastião Bugalho aproveitou para declarar "dia de festa": "Parece-me que hoje é um dia feliz, a democracia portuguesa no seu 50º receber um Presidente de um país pelo PM e PR. Hoje é um dia de festa"!
Estranha noção de festa, de imediato atacada pelos oponentes à esquerda. O "puto" fez beicinho e partiu para a emenda, pior que o soneto: festa, mesmo, "é quando a Ucrânia derrotar a Rússia". À inocente noção de festa, o Sebastião acrescentava infantilidade.
O que diria o Sebastião, prodígio dos comentadores, do Sebastião político?
Se calhar diria que toda a gente sabe que o apoio à Ucrânia, o que Zelensky cá veio pedir, e o que pede, e é parcimoniosamente dado pelo Ocidente, apenas pode ter, como melhor dos objectivos, encaminhar a guerra para o impasse que permita abrir caminho para negociar os termos do seu fim.
Mas Sebastião já não é comentador. É político. E, para já, pára-raios de Montenegro.
Ou para que data marcará a festa da vitória da Ucrânia face à parcimónia belga que, mesmo restringindo - evidentemente - a utilização dos F16 ao território ucraniano, apenas entregará um este ano, deixando os restantes 29 para entregar faseadamente até ao final de 2028?
Era coisa para se resolver num fim de semana. Era coisa simples. Nada mais que pôr os pontos nos is que Putin vinha desenhando desde que sentara no trono do Kremlin.
Não foi bem assim, e já lá vão dois anos. Cumprem-se hoje. Foi a 24 de Fevereiro de 2022 que a Rússia invadiu a Ucrânia, e o que Putin tinha por mera formalidade tornou-se numa guerra sem fim à vista.
Que não falte apoio aos ucranianos para continuarem a resistir. A nossa liberdade depende da sua resistência!
O Conselho Europeu decidiu encetar o processo de adesão da Ucrânia (e da Moldova, mas é a primeira que, evidentemente, conta) à União Europeia, decisão que está a entusiasmar muita gente, mesmo que o único entusiasmo compreensível seja o de Zelensky.
As decisões de alargamento, como praticamente todas as que respeitam á União, têm que ser tomadas por unanimidade. É o que está nos Tratados - que também só podem ser alterados por decisão unânime dos países membros -, não há volta a dar-lhe.
Polónia e Hungria opunham-se à entrada da Ucrânia. Com a recente mudança de governo na Polónia, subsistia a oposição da Hungria. De Viktor Orbán, o elefante na sala. Em todas as salas do edifício da UE.
O elefante saiu da sala na altura da votação, e os 27 fizeram-se 26. Que, com Orbán lá fora - não se sabe a troco de quê, mas, no mínimo, de muitos milhares de milhões - aprovaram por unanimidade a adesão da Ucrânia. Quando regressou à sala pôde continuar a opor-se, e a gritar ilegalidade. Com a razão toda!
Bem pode Charles Michel, o presidente do Conselho Europeu - o tal que estava reservado para António Costa - vir, no fim, dizer que "é um sinal claro de esperança para os cidadãos destes países e para o continente europeu". Se há algum sinal claro é o de que tudo está cada vez mais escuro!
Depois de muito falar, Yevgeny Prigozhin está a mexer-se. A caminho de Moscovo, diz-se.
Do líder do Grupo Vagner nada de bom há a esperar. Independentemente do sucesso desta sua aventura a caminho de Moscovo, uma coisa parece certa: nada vai continuar como está. A começar pela guerra na Ucrânia. Que Prigozhin declara inaceitável, e exclusivamente assente na mentira do Kremlin e na ambição da nomenklatura militar russa.
A rota de colisão com Putin parece estabelecida. Se é para levar a sério, não é ainda uma certeza. Certeza é que Prigozhin não é melhor, por muito que muitos o achem útil.
A presença de Lula na Assembleia da Pepública no 25 de Abril já era suficientemente polémica. Por tudo e mais alguma coisa, a começar no "pecado original" de Marcelo, que abriu a "caixa de trapalhadas" que se seguiu.
Agora, com Lula em bicos de pés na cena internacional, aumentou. Sempre que Lula se põe em bicos de pés, as coisas tendem a correr mal. Não é de agora, nem será por ser baixinho.
A guerra já vai para dez anos, mas só contamos um. Faz hoje um ano que, naquela quinta-feria, a Rússia invadiu a Ucrânia. Com a ideia declarada que seria para resolver a guerra, já velha, num simples fim-de-semana.
Não foi nada disso, as contas de Putin estavam mais uma vez erradas.
Um ano depois, a Ucrânia resistiu, e uma boa parte do mundo, e também a parte boa, uniu-se à sua resistência. Uns, genuinamente, outros, com muita hipocrisia. Como a ilusão da integração europeia. Ou as sanções económicas á Rússia. Para a elite global só contam as sanções que não toquem nos seus interesses. Esses estão sempre noutro patamar, bem acima do dos valores, do dos princípios, e do sofrimento do povo ucraniano.Ou de qualquer outro.
Um ano depois, Putin continua a poder financiar a guerra. E, enquanto o puder, não dará espaço à paz. E quando o vier a deixar de poder, pode até ser pior.
Um ano depois, encheu um estádio de futebol, com 200 mil pessoas num comício de "Glória aos Defensores da Pátria", em êxtase, a validarem uma operação de lavagem ao cérebro de duas horas. Como se não via na Europa desde 1935, na Alemanha.
Um ano depois, morreram nesta guerra 100 mil militares ucranianos (e 180 mil do lado russo) e, oficialmente, 8 mil civis. Que poderão ser, na realidade, 30 mil.
Um ano depois, oito milhões de ucranianos (20% da população) são refugiados em diversos países europeus. E seis milhões são desalojados no seu país.
Um ano depois, o PIB da Ucrânia caiu mais de 30%.
Um ano depois, a destruição provocada pelos bombardeamentos russos nas estruturas e equipamentos da Ucrânia rondará os 750 mil milhões de dólares.
Um ano depois, os danos ambientais da guerra ultrapassarão os 48 mil milhões de dólares.
Um ano depois, depois de nos terem sido "vendidas" tantas vitórias e derrotas, já não conseguimos fazer ideia do que seja uma vitória e uma derrota. Sabemos apenas que, não tendo o mundo, afinal, mudado assim tão completamente, se tornou num lugar muito mais perigoso!
Dez meses depois Putin refere-se pela primeira vez à guerra como guerra. A palavra proibida, que dava até pena de prisão, é agora palavra apropriada ao que continua a passar-se na Ucrânia, 10 meses depois do dia da invasão..
O que mudou?
Nada. Simplesmente uma "operação militar especial" não pode durar 10 meses, um ano, dois, três... Sabe-se lá quantos...
Não. Não é "lapsus linguae" de Putin. É apenas a confirmação de boca própria que a estratégia falhou em toda a linha. E a forma que encontrou de o continuar a negar!
Em vésperas de 10 meses de guerra, e às portas do Natal, Zelensky foi a Washington, na sua primeira saída do país depois da invasão russa. Foi uma visita de "charme", para conquistar corações americanos. Democratas, e acima de tudo republicanos, bem mais frios...
De lá, trouxe promessas de mais apoio militar, incluindo os mísseis Patriot. Promessas de amor para toda a vida e avisos para Putin...
Mas foi acima de tudo uma visita para voltar a "dar gás" à causa ucraniana. Para voltar a colocá-la no topo da actualidade mundial. Zelensky sabe que deixar cair a guerra das primeiras páginas dos jornais, e do "prime time" noticioso das televisões, é o primeiro passo para o esquecimento.
Isso vai muito para além de todas as promessas. E conseguiu-o!
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