Depois de dois anos a fazer o que fez no Ministério das Finanças, ao serviço do FMI e do Sr Schauble, Vítor Gaspar recebeu como prémio um lugar de Director Geral naquele gigante institucional que baralha, parte e dá na economia política mundial.
Ao abandonar a pasta, ao contrário - então, como ainda agora, quatro anos depois - de todos os seus colegas de governo, de partido e de coligação reconheceu que falhara. Isso ficou claro, e escrito na carta de demissão.
Não ficou claro, Vítor Gaspar não explicou se, por tudo ter dado dado errado, ou se por tudo estar errado. Uma coisa é dar errado: por esta ou aquela circunstância, mais ou menos imponderável, acabar por correr mal aquilo que tinha tudo para correr bem Outra, bem diferente, é o que está errado. O que está errado nunca pode dar certo.
Quatro anos depois, o autor do colossal aumento de impostos, vem finalmente explicar que correu mal porque estava errado. Fê-lo em Washington, ao explicar ao mundo "os cinco princípios orientadores da política orçamental”. A política orçamental, diz Vítor Gaspar e com ele o FMI, deve ser (i) "contracíclica", (ii) "amiga do crescimento", (iii) "inclusiva", (iv) "suportada pela real capacidade fiscal", e (v) "conduzida com prudência".
A política orçamental que Vítor Gaspar seguiu, e que Passos Coelho fez prosseguir com quem escolheu para lhe suceder, não respeitou nenhum e violou cada um destes cinco princípios. Num ciclo recessivo aprofundou a recessão, a tal espiral recessiva que nem a Cavaco escapou. Sacralizou a austeridade, acentuando a recessão, impedindo o crescimento, e agravando a exclusão, quer pelos cortes nas contribuições sociais e nos principais serviços publicos, quer pelo - também colossal - agravamento da desigualdade social. E decretou o "colossal aumento de impostos", lançando uma política de saque fiscal indiferente à real capacidade da economia. Tudo ao contrário, tudo perigoso... No mínimo, tudo imprudente!
No fim, o que surpreende é que não há surpresa. Estamos fartos de assistir a números destes no FMI, seja dizendo hoje uma coisa e amanhã o seu contrário, seja dizendo hoje que foi mal feito aquilo que ontem mandaram fazer. Sempre com grande cara de pau. A mesma com que Vítor Gaspar não tem vergonha nenhuma de se apresentar agora, como se tudo não tivesse passado de umas simples experiências com ratinhos num laboratório qualquer.
Os ministros das finanças de Passos Coelho são muito requisitados.
Primeiro foi Vítor Gaspar, que até se foi embora porque, nas sua próprias palavras escritas, tudo dava errado. Não havia uma que batesse certo...
Mas foi para o FMI!
Seguiu-se Maria Luís Albuquerque, a sua Secretária de Estado transformada em maga das finanças. E lá vai ela para a Comissão Europeia, para ser substituída por outro Secretário de Estado, o igualmente mago Carlos Moedas, num destes dias a seguir também de malas aviadas sabe-se lá para onde...
E pronto. Lá ficamos nós sem saber se Passos Coelho é muito bom a escolher ministros das finanças, ou se apenas quer que nos convençamos que é. Ou se simplesmente os ministros das finanças escolhidos por Passos Coelho fazem tão bem o seu papel que, depois, só têm que ser recompensados...
Ora aí está. Nao é exactamente novidade. Nem este novo emprego do quarto elemento da troika, nem a confirmação de que a melhor qualificação que há em Portugal é a de ex-ministro!
A lavagem de Vítor Gaspar lá continua com pompa e circunstância. Procura agora afincadamente a melhor posição na fotografia de que quis sair, mesmo que tenha que dar uns empurrões e um ou outro chega para lá. Não admira. Afinal ainda em Maio passado o governo não tinha liderança, e agora não tem apenas um líder; tem um líder mais reformador que Portugal alguma vez conheceu.
Afinal nestes oito ou nove meses tudo mudou. Ele próprio, que então tinha falhado todas as metas, agora tudo acertou. A sua política, que falhara em toda a linha, é agora a mãe de todo este sucesso. A carta que então escreveu rasga-se agora!
É impressionante a facilidade com que se lava em Portugal, tanto mais que não é exactamente um exemplo de país lavadinho. Lava-se dinheiro de toda a maneira e feitio, até com vistos gold, e lava-se gente como e nenhuma outra parte do mundo.
Hoje, já se percebeu, é dia de lavar Vítor Gaspar… Talvez porque fomos ao mercado aumentar a dívida, mas dar mais um passo para a saída do dito. Limpa, também ela. Lavadinha como as irlandesas...
Três meses depois das eleições – que se diria se isto acontecesse noutro país europeu, mais a sul – a Alemanha irá finalmente apresentar amanhã o novo governo. Fossem eles mais dados a estas coisas do Natal e dir-se-ia que era a prenda no sapatinho dos alemães. E não só, porque, mesmo não querendo, nestas coisas já somos todos um pouco alemães!
Schauble, o amigo de Gaspar - do Vítor, não é do rei mago - lá continuará a mandar nas finanças de Merkel... Seria caso para dizer que tudo fica na mesma, que a inclusão do SPD na grande coligação não faz diferença nenhuma, até porque, ao que consta, foi encostado à política interna, longe das questões europeias.
Mas não. Já se percebeu que muita coisa mudou, mesmo que por lá nada tenha mudado...
Ouve-se nas notícias que o ex-ministro Vítor Gaspar defendeu hoje a sua sucessora no Parlamento. Olha-se para aqui e não é isso que se percebe. A não ser que, como por aí se pretende, o que esteja em causa seja outra coisa que não o facto de a ministra ter mentido ao Parlamento.
É que, o que Vítor Gaspar disse, foi mesmo que a ministra Maria Luís Albuquerque mentiu!
Teixeira dos Santos diz que avisou Vítor Gaspar dos swaps. Vítor Gaspar confirma, mas diz que a informação não era suficiente. Maria Luís Albuquerque continua a dizer que não recebeu informação coisíssima nenhuma. Que não sabia de nada... Mas já diz que não há problema nenhum, que isso nada custou aos contribuintes, porque o que se perdeu de um lado ganhou-se noutro…
Pronto: Vítor Gaspar sabia mas não disse nada à sua secretária de estado, e o PS quer saber porquê. Mas Aguiar Branco, mesmo ocupado a falar de combate a incêncidos, garante que o governo fala sempre verdade. E defende - o ministro da defesa serve para defender - a secretária de estado, que também é do governo. Que fala sempre verdade!
Apetecia-me dizer: puta que os pariu! Mas não digo - afinal foi assim que nos vimos livres do Gaspar...
Chamem-lhe técnico que ele gosta, diz o insuspeito Rodrigo Moita de Deus no 31 da Armada, referindo-se à artimanha de Vítor Gaspar para continuar a esconder o seu braço direito...
É que esconder e proteger Maria Luís Albuquerque - feita juíza em causa própria - é a melhor forma de se proteger a si próprio. Sabe-a toda este Vítor Gaspar...
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