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Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

Quinta Emenda

Tenho o direito de ficar calado. Mas não fico!

VEM AÍ!

Por Joana Louro *

 

Há momentos na nossa vida em que tudo parece ficar suspenso…

Sabemos que o mundo lá fora pula e avança, mesmo quando o homem perde a capacidade de sonhar, mas isso pouco importa. Sabemos que existe política e actualidade, e o orçamento da nossa desgraça para aprovar. Sabemos das medidas de austeridade e dos cortes porque há uma Troika que nos impõe padrões e limites e que nos confisca a liberdade e a autonomia que desbaratamos. Que existe uma União que se chama Europeia que falhou brutalmente, falhou o conceito e destruiu o sonho de gerações unidas pelos ideais da democracia, da liberdade, da paz, do desenvolvimento e do bem-estar para todos. Sabemos tudo isto, e tudo isto pouco importa…

Sabemos que existe futebol, e Benfica, e até uma Selecção Nacional que não encanta e não garante o apuramento. Um Sistema Nacional de Saúde que foi sendo destruído e está à beira da extinção. Sabemos que as agressões ambientais deste mundo dito civilizado terão consequências dramáticas num futuro bem próximo. Que as catástrofes ambientais ocorrem a cada instante e que o Planeta Terra está beira do colapso da sustentabilidade…

Preocupamo-nos com tudo isto e, no entanto, há momentos em que tudo isto pouco importa. Porque há momentos na nossa vida em que tudo parece ficar suspenso… Em que tudo o que tínhamos por importante parece deixar de o ser… Em que tudo se relativiza, tudo ganha diferentes proporções… Em que as prioridades se invertem e a nossa vida fica virada do avesso. A chegada de um filho é seguramente um desses momentos!

Tudo muda e nós mudamos. Durante 9 meses assisti às transformações do meu corpo que gerava dentro dele uma filha, que sem sequer conhecer já amava incondicionalmente. Assisti ao seu crescimento e ao entusiasmo de cada ecografia. Aos primeiros discretos movimentos. E aos grandes pontapés, como quando parecia partilhar comigo o prazer de um proibido crepe de chocolate. Vivi esta gravidez com a alegria de uma criança... ou de uma mãe que gera uma criança. Entre dois mundos: um, lá fora que, imperturbável, continuava a sua dinâmica sempre em paralelo com este, feito de um turbilhão de novas sensações. Nunca chocaram, nem um anulou o outro. Seguiram lado a lado. Durante estes 9 meses trabalhei normalmente, conclui um mestrado, vivi uma vida normal, sem que a forma de ver ou pensar o mundo se tivesse alterado substancialmente.

 No entanto, a poucos dias do seu nascimento tudo mudou. Há mesmo momentos da nossa vida em que tudo parece ficar suspenso: não há notícia que me importe, não há jornal que prenda a minha atenção, não há assunto médico que me apeteça estudar… É impressionante como tudo muda, toda a minha atenção está focada na sua chegada, nas fraldas que vou mudar, nas roupinhas que vai vestir, nos beijos que lhe quero dar, no rosto que vai ter, na maneira como irá crescer…

Não posso negar que gostaria que fosse um Mundo melhor a receber a minha filha, dentro de dias. Mas não é! Resta-me o conforto de pensar que, pela minha parte, tenho tentado dar sempre o meu pequeníssimo contributo para fazer deste Mundo um sitio um pouco melhor… E a certeza que Ela o tornará um sítio muito melhor!

 

* Publicado hoje no Jornal de Leiria

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