Diz a revista Sábado que, em média, os deputados do Chega duplicaram os rendimentos que auferiam antes de chegarem à Assembleia da República. Em média, porque há uns que simplesmente não tinham antes quaisquer rendimentos, e outros em que o vencimento de deputado multiplica por sete, oito, nove, dez ou mais vezes o rendimento anterior.
A Sábado dá nomes e valores. Não há um único deputado do Chega que tivesse vindo para a política a perder dinheiro.
Ora isto só dá para duas conclusões: ou os deputados do Chega são pessoas tão desqualificadas que o mercado de trabalho não lhes reconhecia valor; ou os deputados do Chega são pessoas que viviam na (e da) marginalidade, em absoluta evasão fiscal.
Nenhuma delas é propriamente abonatória. Muito menos surpreendente!
Os vencimentos da nova administração da Caixa Geral de Depósitos voltaram à ordem do dia, e prometem algumas fissuras no edifício que alberga a propalada geringonça.
O tema não é novo. Nem pacífico, sabendo-se que o novo responsável máximo da Caixa – o CEO como agora se diz – não exigiu apenas um salário confortável, ao nível do melhor que se pratica na praça, logo a seguir ao que pagam BPI e Santander Totta, e acima de todos os restantes. Mas sabendo-se também que apenas aceitou o cargo depois de ver garantidas as condições de sucesso, designadamente de capital, que lhe permitam atingir os objectivos que lhe possam garantir os ainda mais chorudos prémios.
Não admira que o Bloco tenha declarado inaceitáveis esses “salários milionários”, e que não dará o tema por encerrado. Nem que o PCP tenha levado ao Parlamento, à Comissão de Orçamento e Finanças; uma proposta para limitar as remunerações dos gestores. Se calhar não admira que tenha sido prontamente chumbada pelos votos do PS e do PSD, mesmo que admire que o CDS tenha votado a favor, ao lado dos partidos do lado esquerdo de geringonça. Ou que o Presidente da República se tenha juntado ao coro de protestos, mesmo depois de ter promulgado o diploma que o governo já fizera à medida das exigências do novo “patrão” da Caixa.
Nada disto deixa de ser engraçado. Mas, graça mesmo, têm as justificações do primeiro-ministro. Poderia simplesmente dizer que os gestores bancários constituem um mundo à parte. Tão à parte que destroem bancos e ainda recebem prémios por isso. Mas, não. Teve de dizer que têm de ganhar bem para que não sofram pressões do accionista.
O CDS apresentou esta semana uma proposta dita de regulação dos vencimentos no sector público.
O princípio, se bem percebi, resumia-se em dois pontos:
i) O vencimento de qualquer cargo do sector público estaria limitado ao do titular do órgão nomeador;
ii) Nenhum cargo poderia ter um vencimento acima do do Presidente da República.
Parecia claro e simples: quem nomeia sabe qual o seu vencimento, logo… Sem nenhuma dúvida, ninguém poderia ganhar mais que Presidente do República!
Logo no dia seguinte surgia uma notícia a que não foi atribuída importância nenhuma: Cavaco Silva optou por manter as suas duas reformas e recusar o vencimento de Presidente da República!
Não é o que está em causa mas, evidentemente, o novo/velho Presidente apenas exerceu esta opção porque, só agora – depois de todos os pacotes de austeridade –, os titulares de cargos públicos são obrigados a abdicar da acumulação dos múltiplos vencimentos que açambarcavam. Agora já só podem acumular pensões: pensões como as do Banco de Portugal – uma das que agora ajudam Cavaco a sustentar a sua pobre mulher – com pensões como as do exercício das múltiplas funções políticas – deputado, autarca, coordenador de uma coisa qualquer – cujo direito, como todos sabemos, foi adquirido após toda uma vida de trabalho, como a da senhora que agora, coitada, vive à custa do marido. Depois de uma vida inteira a trabalhar aquém e além-mar!
Às vezes bastou ser nomeado para, automaticamente, se adquirir o direito a uma pensão, mas não é disso que estamos a falar. Como diria a outra, isso agora não interessa para nada!
Voltando ao ponto: Cavaco estilhaçou a proposta do CDS!
Como é que o vencimento do Presidente da República pode servir de tecto se é logo o próprio a ganhar mais que ele?
É que Cavaco, e com toda a naturalidade – está mais que provado que sabe fazer contas, ou não fosse ele Professor de Economia – escolheu a fatia maior. Já que a tanto foi obrigado, escolheu ganhar mais que o Presidente da República!
Agora estão a ver: como é que a proposta do CDS pode chegar a algum lado quando é logo o Presidente da República a ganhar mais que o Presidente da República?