Enquanto destrói Gaza, de que já pouco resta, condenando os palestinianos que escapam à condição de cadáver ao regresso à idade da pedra, Israel vai abatendo em territórios estrangeiros tudo o que é líder dos movimentos terroristas, que criou e alimentou para acabar com todas as lideranças palestinianas moderadas, que em tempos lutaram pela criação do Estado Palestiniano, prometido e desenhado paralelamente com o de Israel.
O resultado só pode ser mais uma escalada na guerra, com grande probabilidade de se transformar na sempre anunciada III, de proporções inimagináveis. A espectacularidade que Israel sempre consegue através dos seus serviços secretos e das suas forças armadas - e como são exaltados os seus feitos pelos fazedores da opinião ocidental! - secundarizou a guerra na Ucrânia, com Putin a aproveitar para, longe da atenção mediática mundial, ir avançando na ocupação e destruição da pátria ucraniana.
Na Venezuela, Maduro reprime, mata e prende todos os que reclamam pela verdade dos resultados eleitorais, por pão, e por liberdade.
É este o estado do mundo à entrada de Agosto. Como poderá ser querido?
É assim. Há eleições assim. Se calhar é por isso que, na América, Trump pediu o voto aos cristãos, dizendo-lhes que seria só desta vez. Que, uma vez (mais) eleito, não precisariam de votar mais nenhuma vez: “Cristãos, saiam e votem! Só desta vez, não terão de o fazer mais”.
Um navio comercial a navegar sob bandeira portuguesa chocou com uma lancha da marinha de guerra venezuelana, a norte da ilha de La Tortuga, a pouco menos de 200 quilómetros a nordeste de Caracas. Consta que do choque terá resultado o afundamento do barco venezuelano, e que não há vítimas a lamentar.
O incidente carece naturalmente de investigação, como acontece em todas as ocorrências do género. Para começar, não há como não partir da hipótese de se tratar de um acidente. No fim, confirma-se esta ou outra hipótese e apuram-se responsabilidades.
Para Nicolas Maduro, não é nada assim. Simples e inequivocamente o barco da sua marinha foi brutalmente abalroado num acto de terrorismo e de pirataria internacional. Não há qualquer acidente para esclarecer, há sim um acto terrorista para investigar!
E lembrar-mo-nos nós que ainda há tão pouco tempo se vendiam casas e computadores. E pernis de porco. E promessas de amor...
PS: Quando ia a preencher as tags reparei que, pela primeira vez em muito dias, não tinha qualquer referência ao coronavírus. Escolhi o título e pensei: até que enfim... Foi então que me lembrei que me tinha faltado referir que Maduro proferira aquelas declarações no palácio presidencial de Miraflores, em Caracas, durante a activação do Conselho de Estado para debater soluções para combater a pandemia da covid-19. E pronto. Lá teve de ser...
Francamente. Não sei se os acontecimentos dos últimos dias na Venezuela foram mais uma machadada no regime de Maduro se a primeira na aventura de Guaidó. Tudo falhou na estratégia do presidente interino e dos seus aliados internacionais. Falharam-lhes os apoios institucionais e falhou-lhe o apoio popular. Ambos pela mesma razão: porque o regime, fazendo dos militares uma das mais privilegiadas elites, continua a tê-los na mão.
E contra os militares, nada a fazer... Nem o povo sai de casa - as imagens dos blindados da polícia sobre as pessoas na rua mostram que a repressão não tem contemplações.
Depois de dois dias de desinformação e contra-informação, e de se concluir que a "Operação Liberdade" de Juan Gaidó acabou por se saldar na libertação de Leopoldo Lopez, percebeu-se que foi Diosdado Cabello, o presidente da AssembleiaConstituinteinvestida por Maduro, e figura maior do narcopoder instalado, quem verdadeiramente ficou a mandar em Caracas. E que esta é uma mudança para ainda pior.
É que, se Maduro poderia facilmente salvar a pele, Diosdado Cabello é alvo de suficientes mandatos de captura internacionais para se barricar na Venezuela até às últimas consequências.
De tempos a tempos o PCP tropeça nos conceitos da liberdade e da democracia, e lá cai com grande atrapalhação nas suas dificuldades de identidade. Não é surpresa para ninguém, e parece que toda a gente sabe lidar com isto: o PCP vai tentando que os intervalos entre esses tempos sejam cada vez maiores, tentando fintar a comunicação social para que não aproveite exactamente todas as oportunidades para o fustigar com a matéria.
Ontem voltou a ser dia de o PCP, mais que simplesmente tropeçar, chocar de frente com o tema e estatelar-se ao comprido.
Primeiro foi Jerónimo de Sousa, em entrevista ao Observador (pois... devia saber que cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém), atrapalhadíssimo com a democracia da Coreia do Norte (é verdade, é um clássico, mas o PCP não consegue resolver a questão!). Se não era uma democracia, era porque isso não passava de uma opinião. Ou não, o que era mesmo preciso discutir era o que é isso de democracia...
Depois, à noite, foi a vez de António Filipe ser completamente trucidado na RTP, no Prós & Contras, a insistir, mais uma vez atrapalhadíssimo, na defesa da indefensável legitimidade democrática do regime de Maduro na Venezuela.
Uma coisa é a fidelidade a princípios e valores que sustentam uma matriz ideológica. Outra, completamente diferente, é cristalizar na sua projecção, deixando de ver tudo à volta. Que é o que o PCP, indiferente ao tempo que passa e às gerações que mudam, continua a fazer.
O governo português associou-se aos restantes países europeus, e às instituições europeias, no reconhecimento de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela.
Todos os governos que partilharam esta posição a justificam com razões de democracia, de liberdade, etc. Por princípios!
O governo português, não. Justifica-a por conveniência. Por entender ser a que melhor defende os interesses da comunidade luso-venezuelana. É assim ... Nem nas grandes questões da política internacional perdemos a nossa visão paroquial do mundo!
Já só faltam dois dias para expirar o prazo dado pela União Europeia, com o apoio expresso de Portugal, a Nicolas Maduro para marcar eleições. O mais provável é que o prazo se esgote perante a indiferença do tresloucado presidente venezuelano.
Sem surpresa. Sem surpresa de Maduro, mas também sem surpresa da União Europeia, que perdeu por completo qualquer capacidade de intervenção na ordem mundial. Quando mais necessária era a sua intervenção, quando mais importante era ter voz...
Em vez de se perfilar com a autoridade moral de um grande espaço de democracia, com a autoridade histórica de uma civilização decisiva na construção do mundo actual, com a independência de quem não está prisioneiro de interesses escondidos, e com a clarividência política de quem já percebeu que só deste forma pode ser respeitado no actual contexto mundial, a União Europeia (e Portugal, e Espanha) optou pela arrogância do ultimato.
E assim se pôs de fora de qualquer intermediação, dinamitou o espaço de negociação que se exigia que abrisse, e desperdiçou mais uma oportunidade de sair da irrelevância internacional a que se condenou. E, no fim, nem sequer pode lavar as mãos... sujas do sangue que se exigia ter-se esforçado que evitasse.
Que a solução só pode estar em eleições, não há dúvida. Que a melhor forma de a matar é impô-las por ultimato, também não!
Se Hugo Chavez já tinha feito grande parte do caminho de destruição da Venezuela, Nicolas Maduro fez o resto. Mas em ritmo muito mais acelerado, e ninguém terá muitas dúvidas que chegou ao fim. Que Maduro está a cair!
Ainda não se ouviu estrondo... Mesmo a cair de maduro, pode ser bem grande o estrondo da queda. E acrescentar mais dramatismo à dramática situação política e social da Venezuela!
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