São 10:14. Está a acontecer o solstício. O Verão começa agora. O dia mais longo do ano já começou: às 6 horas e 12 minutos, e prolonga-se por 14 horas, 52 minutos e 45 segundos, até bem perto das 21:05.
Do Verão é que a gente gosta mesmo. Vá lá ... não estraguem ...
Desfrutem. Divirtam.se…Bem sei que já começaram ontem, para não perder tempo.
As noites são curtas...mas quentes e boas. Como as castanhas, de que já ninguém se quer lembrar. Os dias são grandes: o de hoje é maior. Dão para tudo... Dariam, se não se gastasse boa parte dele para acrescentar ao que falta da noite. Ou ao que a noite faz faltar...
Para os outros, lá de baixo...Temos pena, mas agora é a nossa vez!
Este é o último fim-de-semana de Verão – não se deu por ele, mas ele andou por aí – que não o último dia de Verão, o dia do equinócio de Outono. Ao contrário do que geralmente se dá por bom, os equinócios da Primavera e do Outono não ocorrem sempre na mesma altura. Nem a 21 de Março e a 21 de Setembro, respectivamente.
Este ano, o equinócio da Primavera aconteceu no dia 20 de Março às 16:57. Nos próximos três anos ocorrerá no mesmo dia 20 de Março, mas às 22:45 em 2015, às 4:30 em 2016 e às 10:28 em 2017.
Já o de Outono varia entre os dias 22 e 23 de Setembro. Este ano acontecerá às primeiras horas do dia 23. No ano passado, no dia 22, às 20:44 e no próximo a 23, às 8:20, voltando a ocorrer no dia 22 em 2016 e 2017, respectivamente às 14:21 e às 20:02.
O calendário deu hoje ordem de retirada ao Verão, que não obedeceu e fez questão de se deixar ficar. Olhou para o equinócio, virou-se para o outro lado, aconchegou-se ainda melhor e esboçou um sorriso trocista ... Troçava de todos os que ainda há bem pouco tempo o negaram que nem Pedro a negar Cristo!
Admito que já nem todos se lembrem, mas o grande objectivo do governo e a bandeira de Vítor Gaspar, o regresso aos mercados, estava marcado para 23 de Setembro. Bem sei que não é na próxima segunda feira, é na outra!
Falta uma semana, e em vez de vermos os mercados a fervilhar de expectativa à nossa espera, ansiosos por nos receberem de braços abertos, vemo-los de costas viradas, lá muito longe, afastados como há muito não víamos. É exactamente isso que quer dizer a taxa de juro já bem acima dos 7% nos mercados secundários, ao nível do pior de 2011, quando o resgate era inevitável!
Quer isto dizer que, ao contrário do que vinha sendo apregoado pela máquina de propaganda ao serviço do governo, o país não recuperou confiança nenhuma. Os credores não acreditam que Portugal possa alguma vez pagar o que deve, e não há regresso nenhum aos mercados. Nem na data marcada por Passos e Gaspar nem em qualquer outra!
Porque, como sempre se disse, o programa da troika não batia certo e, no que batia, não foi executado. Veja-se a paradigmática reforma do Estado: absolutamente indispensável (reforma administrativa, reforma da justiça, desburocratização, eliminação de serviços duplicados e triplicados, reforma da administração local, reforma do sistema eleitoral, etc.) foi transformada numa mal amanhada junção de umas freguesias e no corte cego funcionários públicos.
E, por isso, como Vítor Gaspar enunciou sem rodeios na sua carta de demissão que quis tornar pública, tudo falhou.
Os objectivos de controlo do défice falharam sucessivamente, como irão continuar a falhar. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque andaram toda a semana, em Bruxelas e em Washington, a tentar convencer a troika a mais uma flexibilização (de 4 para 4,5%). Sem êxito, ao que parece, mas também sem convicção, com a ministra das finanças já hoje a garantir que a meta estabelecida é para cumprir, que não há pedido nenhum de flexibilização, em conformidade com o seu chefe natural e em confrontação aberta com o chefe que lhe foi imposto. Bonito!
A dívida, que a máquina de propaganda do governo diz ser para pagar e estar a ser paga, não parou de subir e já passa dos 130% do PIB. Impagável, como toda a gente sabe. Se antes se falava da renegociação da dívida como condição sine qua non para o sucesso da recuperação económica e financeira do país, hoje já não há economista sério que não tenha que dizer que sem perdão de dívida, sem hair cut, não há recuperação possível.
É por isto que ninguém já acredita no chamado programa de ajustamento. Mas, para Maria Luís Albuquerque, não é por nada disto.
É pelo Tribunal Constitucional. Exactamente em conformidade com o seu chefe natural e, mais uma vez, em confrontação com o chefe imposto!
Dramático. Por cá ninguém põe ordem nisto: não há oposição, Seguro é cada vez mais uma anedota e Cavaco auto mutilou-se. E a União Europeia continua congelada pelo frio do norte, imobilizada, como se nada percebesse do que se está a passar, como se voltou a ver hoje na reunião do eurogrupo. Ou irresponsavelmente na lua, na pessoa do seu suposto responsável máximo...
O Verão, que era para chegar já sexta-feira, acaba de avisar que está atrasado. Pede desculpa por fazer este aviso já tão em cima, mas foi à procura da Primavera e ainda não a encontrou…
Acabamos de nos despedir do Verão: pouco antes das quatro da tarde, chegava o Outono a este hemisfério Norte…
Hoje o dia iguala a noite. A partir daqui é sempre a noite a ganhar, e o dia a perder. Entretanto chegará a hora de Inverno, que mais não fará que anoitecer mais cedo.
É o Verão que mais saudades sempre deixa: o sol, a praia, as festas…
Por que será que me parece que este Verão não está a deixar saudades? E no entanto, com o que para aí vem, não se pode esperar que o próximo seja melhor….