Deu à costa no Jamor mais uma vergonha do futebol português, que será certamente notícia pelo mundo fora. O B SAD, atingido por uma severa vaga de Covid, entrou em campo com nove jogadores, e o Benfica com os 11 regulamentares. Na bola de saída aconteceu o primeiro golo do Benfica, aos 30 segundos. Marcado na própria baliza, por um defesa azul. Seguiram-se mais seis - três de Darwin, dois de Seferovic e um de Weigl - até ao 7-0 e ao intervalo, No reatamento, e depois de longa espera, a B SAD surgiu com apenas 7 jogadores. Ao apito do árbitro para o reinício um deles sentou-se no relvado e cumpriu-se a condição regulamentar para terminar ali o jogo
A vergonha deu à costa no Jamor, dessa forma. Mas não foi no relvado do Estádio Nacional que nasceu. Aí aconteceu a única coisa digna no meio desta vergonha, e foi protagonizada pelos jogadores do Benfica e do B SAD. Estes, porque enquanto estiveram em campo fizeram o que puderam, sempre com grande dignidade. Os do Benfica não foram menos dignos. Foram sérios, não foram sobranceiros, não brincaram com as fragilidades do adversário, e limitaram-se a jogar aquele jogo nas suas circunstâncias. Outra coisa não poderiam ter feito.
Os responsáveis pela vergonha são os senhores da FPF e da Liga e ... Rui Pedro Soares, o presidente da SAD que é em si mesma uma vergonha. Os dirigentes do futebol nacional porque permitem que estas coisas aconteçam, ao terem na época passada aberto os precedentes para o que hoje aconteceu. No período mais crítico da pandemia, há pouco menos de um ano, quando o Benfica teve 26 jogadores e técnicos infectados, Fernando Gomes e Pedro Proença entenderam que tinham interesses mais altos a defender, e que nada havia a fazer a não ser jogar os jogos que tinha que disputar. Antes, na época anterior, num jogo do Sporting em Setúbal, com o Vitória em idêntica situação, se bem que não em circunstâncias de Covid, que ainda não tinha surgido, permitira ao Sporting recusar o adiamento solicitado pelos setubalenses.
Rui Pedro Soares porque, depois de ter passado os últimos dias e horas a dizer que não pedira, nem pediria, o adiamento do jogo, apareceu depois do jogo a disparar para todos os lados por o jogo não ter sido adiado, como se ele próprio não tivesse nada a ver com o assunto. Ainda esta manhã dizia:
"Não pedimos o adiamento do jogo a ninguém. Nem ao Benfica nem à Liga, nem às autoridades de saúde. Até este momento isso não aconteceu nem vai acontecer. O Belenenses não vai pedir o adiamento do jogo. As únicas conversas que teriam validade para adiar o jogo seriam entre mim e Rui Costa. Estivemos em diálogo ontem e nunca a hipótese de adiar o jogo foi colocada por mim ao presidente do Benfica. Olhamos para o calendário e percebemos o constrangimento de um possível adiamento."
Para a história não fica apenas esta vergonha. Ficam os falsos moralistas e os oportunistas. E o mar de hipocrisia em que navega o futebol português.
"Não sei o que é guarda de honra, no Benfica deve ser feita é ao presidente pelo grande trabalho que tem vindo a fazer" - palavras de Varandas Fernandes, vice-presidente do Benfica. Que nos envergonham. A mim envergonham-me profundamente.
Envergonha-me a falta de desportivismo, o meu Benfica não é isso. E envergonha-me a absolutamente indecente subserviência a quem mais não tem feito que envergonhar o benfiquismo.
Ninguém se aproveita nesta corja que capturou o Benfica. Seguirão irreversivelmente para o esgoto, o único destino que a História do Benfica lhes pode reservar. O Benfica continuará, e apesar deles, e depois deles, seguirá glorioso.
As vagas de desinformação e populismo não param. Sucedem-se umas atrás das outras ao ritmo das marés vivas nas praias que não podemos pisar.
A última vaga foi a do aumento dos funcionários públicos. Não importa se foi um aumento de 0,3%, qualquer coisa como 3 a 4 euros no ordenado, em média. Depois de anos de cortes salariais. Isso não importa mas, acima de tudo, não importa mesmo nada que se trate simplesmente de uma consequência da entrada em vigor do Orçamento de Estado para este ano, superavitário e produzido e aprovado quando não havia bola de cristal que permitisse vislumbrar as circunstâncias que vivemos.
Em vez de oops - este aumento é tão bom, não era? - ouviu-se a palavra mágica da desinformação, da demagogia e do populismo: vergonha! Desta vez até Rui Rio cedeu.
Hoje ou tudo é uma vergonha, ou tudo se resume na sua expressão mais simples a uma vergonha. Não é preciso saber nada de coisa nenhuma. É uma vergonha e ponto final.
De tal forma que, por vergonha, não digo que é uma vergonha que o Ministério da Saúde tenha permitido que os seus profissionais tenham os únicos a ficar privados dos seus 3 ou 4 euros deste mês. Logo eles, médicos e enfermeiros hoje por hoje a tropa de elite do país que a nação aplaude... Mas digo que é mais um tiro no pé do Ministério de Marta Temido!
A provocação e o desplante do comendador Berardo, ontem na na Assembleia da República, mostra como este país fechou as fronteiras à vergonha, e nunca lhe permitiu que cá pusesse os pés.
A falta de vergonha dá nisto. Andaram meses a fio a publicar e a explorar dados e informação privados, que sabiam obtidos de forma não só ilegítima como criminosa. Durante todo esse tempo tudo ia bem, o que difundiam era insuspeito e a fonte era inatacável. Hoje, o que era informação insuspeita é um "assalto", e a fonte é o "pirata dos mails". Hoje, o que difundiram é um crime, e a fonte um criminoso. Como se nada se tivesse passado. Sem um acto de contrição. Sem uma desculpa. Sem vergonha!
No âmbito de um processo judicial de contestação a uma contra-ordenação do Banco de Portugal, no valor de 4 milhões de euros, ainda em resultado da sua actividade bancária, Ricardo Salgado alegou em Tribunal, quiçá como argumento central, não dispor de meios para o respectivo pagamento.
Argumentou não ter praticamente reforma, depois da sua pensão de 39 mil euros mensais ter sido, por penhora, reduzida a dois salários mínimos nacionais. E que as despesas da família, cujo montante desconhece, são pagas pela filha, que vive e trabalha na Suíça.
Do ponto de vista individual – que não numa perspectiva de relação com a comunidade - é legítimo que qualquer cidadão utilize todos os meios legais de defesa para minorar, ou mesmo evitar, o pagamento de impostos, multas, do que quer que seja… Ricardo Salgado tem o direito de se defender. Não terá é o direito de se defender dessa maneira!
Não tem o direito de se colocar no papel de vítima, quando vítimas, e vítimas dele próprio, são praticamente todos os seus concidadãos, os que enganou directamente e os que, não tendo sido enganados, não deixaram de ser chamados a contribuir para pagar os seus desmandos e abusos. Vitimizar-se não é direito, é falta de vergonha. E de dignidade!
Independentemente de vir ou não a ser condenado por tudo de que é acusado, o simples conhecimento público da gigantesca rede de off-shores de que dispõe, e do uso que delas fez, deveria servir para delimitar a fronteira de vergonha que Ricardo Salgado não devia transpor.
Passos Coelho é capaz de tudo. É até capaz de chegar à Madeira e bater todos os recordes de aldrabice de Alberto João Jardim... Capaz de fazer do primeiro Chão da Lagoa sem Jardim, o mais charlatão de todos os Chão da Lagoa.
Podemos dizer que esta gente perdeu o último pingo de vergonha. Podemos dizer que nunca ninguém foi tão longe no descaramento. Podemos indignar-nos com a falta de respeito pela nossa inteligência. Podemos ficarmo-nos pelo simples "é preciso ter lata"...
Mas também podemos achar que isto é apenas um teste ao respeito que temos por nós próprios... Com resultados a conhecer lá para 4 de Outubro!
Já aqui (no último parágrafo) tinha abordado o tema - como exemplo de falta de vergonha - da doença da mulher do primeiro-ministro, que saltou da privacidade para a publicidade. Em toda a plenitude da palavra, no duplo sentido de tornar público e de forma de propaganda.
Hoje o Pedro Tadeu, no Diário de Notícias, encara-o de frente. O título que dá à crónica pode ser violento, mas diz tudo: "O cancro da mulher de Passos é propaganda?"
Choca. Mas não é isto chocante? Não é chocante que tudo se traia, e nada se respeite, em troca de um punhado de votos?
Interpelado no debate quinzenal pela deputada Catarina Martins nos seguintes termos:
"Quando o Estado tentou penhorar os bens de Dias Loureiro, ele não tinha nada em seu nome, tinha tudo em nome de familiares. Um homem que não tinha nada, mas veja lá que é tão metódico que até conseguiu, anos depois, comprar parte da editora que editou seu livro, em que aproveita para se queixar dos SMS de Paulo Portas e enxovalhar o CDS".
Passos Coelho respondeu nos termos seguintes:
"É verdade que me encontrei com o senhor doutor Dias Loureiro, e espero que ele não se sinta visado nem ultrapassado por eu ter suposto que - estou convencido que ele sabe - com o que viu no mundo e com a experiência que adquiriu, partindo de Aguiar da Beira, que não é por se viver no interior, que hoje não podemos, graças às muitas renovações tecnológicas, graças a muito trabalho de transformação da economia portuguesa, vencer na vida e ter negócios bem-sucedidos".
Não. Não é mais uma questão de cu e de calças, de bota e de perdigota, ou do que é que uma coisa tem a ver com a outra. Não é também só uma mera questão de lata. É mesmo de falta de vergonha!
Da Assembleia da República chegou-nos hoje, mais que mais um motivo de vergonha, a prova insofismável de que este regime, o regime destes partidos e desta gente destes partidos, atingiu a mais profunda e negra decadência. Está podre e a cheirar muito mal!
O referendo proposto pelos rapazolas da JSD, que as linhas com que se cozem os caducos partidos do sistema fazem que seja maioritária no grupo parlamentar, e aprovado por 103 deputados do PSD – e pela abstenção dos deputados do CDS, ao arrepio de tudo o que tinham declarado - que cumpriram a imposta disciplina de voto, revela bem o ponto a que esta partidocracia nos levou.
Onde não há respeito pela democracia nem pelo próprio parlamento, a sua dita casa. Levar a referendo uma matéria a que a Assembleia da República acabou de dar corpo de lei, é um golpe, não tem outro nome. Impor disciplina de voto numa matéria que é claramente do domínio da consciência individual é apenas reforçar o sinal do golpe.
Onde os deputados não são mais representantes de nada que não do aparelho que os comanda. São alforrecas, em vez de gente. Sem espinha que segure um corpo direito não há gente…
Onde não há futuro, porque são jovens, com a vida pela frente, os protagonistas desta pouca vergonha…
Que, evidentemente, não terá por onde passar no Tribunal Constitucional!
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