Já se sabia que também eles - eles e mais uns quantos - tinham ido à bola "à conta". No caso, "à conta" de Joaquim de Oliveira, da vida da bola, da Olivedesportos, da Cosmos e de mais umas quantas coisas que já não se sabe bem se são ou se não são. Sabe-se é que foram dos que não pouparam nas balas quando a altura foi de atirar aos dois secretários de Estado do PS, que tinham ido à bola, à mesma bola, mas "à conta" da Galp.
Poderia dizer-se que é preciso ter lata. Mas lata é coisa que bem sabemos que não lhes falta...
No dia em que se sabe que três (ex)-secretários de Estado foram constituídos arguidos por terem viajado à conta da Galp para o Europeu de França, há um ano, é de lembrar que foi público que também três deputados do PSD por lá andaram à conta da Olivedesportos. Sem vantagem indevida, ao que parece!
Um deles era - e ainda é - líder parlamentar. Outro apresta-se para o substituir.
Ao contrário do Sol, a vantagem indevida, quando nasce, não é para todos!
Um ano depois - passa hoje um ano sobre a fantástica vitória da selecção nacional de futebol em Paris, com que se sagrou campeã europeia - demitiram-se os três secretários de Estado, e ainda o assessor económico do primeiro-ministro que, a convite da GALP, patrocinador oficial da selecção nacional, tinham ido assistir a um dos jogos da selecção no Europeu de França.
Quando veio a público que aqueles três membros do governo tinham obtido vantagemindevida - como agora é criminalmente tipificado - ninguém deu muita importância ao caso, tido por prática habitual. O governo, achando aquilo de alguma forma censurável, criou um código de conduta para evitar que algo de semelhante se repetisse. Os visados, simbolicamente ou de facto, reembolsaram o patrocinador das despesas dessas viagens, e o caso foi dado por encerrado.
Só que o assunto não morreu. O Ministério Público avançou com um inquérito, e terá chegado a hora de chamar à pedra os três secretários de Estado e o assessor. À beira de serem constituídos arguidos - por iniciativa própria ou não, para o caso pouco importa - não lhes restava alternativa: teriam mesmo de se antecipar e pedir a demissão.
Muito caras saíram estas viagens a António Costa. No pior momento, perde três dos mais próximos e notáveis secretários de Estado: Rocha Andrade, com excelente desempenho nos Assuntos Fiscais, João Vasconcelos, um homem cá da terra e da indústria 4.0, grande dinamizador das causas da inovação e do empreendedorismo, e Jorge Costa Oliveira, com grande trabalho na internacionalização da economia e, em especial, no estabelecimento de sinergias com os gestores portugueses espalhados pelo mundo.
Poderá sempre acusar-se a Justiça por excesso de zelo nas pequenas coisas quando, por incapacidade ou desleixo, deixa passar os elefantes da corrupção, Pode. Mas não se pode é esquecer que não é possível combater a corrupção deixando passar incólumes as más práticas enraizadas na sociedade portuguesa. Que, não configurando - nem de perto nem de longe - actos criminosos de corrupção, abrem-lhe muitas vezes o caminho!
Sugere-se para esta rubrica - foi isso que me foi pedido, e é isso que se confirma na margem, aqui à esquerda - a partilha de sensações vividas em viagens que possam reverter em ideias para região. Por isso me lembrei de uma viagem à Noruega. E de Oslo, e do Parque Vigeland!
Oslo é, mesmo para capital europeia, uma cidade relativamente pequena. Bem organizada e bem infra-estruturada, multicultural e multi-ética, mesmo cosmopolita, bem à medida de tudo o que nos vem à ideia quando se fala da Noruega, tido como um dos melhores, se não mesmo o melhor país para viver. Apesar do histórico estigma de uma das mais caras cidades do mundo, de alguma turbulência numa conflitualidade étnica que começa a notar-se – mais de um quarto da população, de um pouco mais de meio milhão de habitantes (1,4 milhões no todo da área metropolitana), é imigrante, das mais diversas origens e etnias - e da tragédia de Julho de 2011, Oslo é uma cidade tranquila e acolhedora.
Mas é pelo seu ex-libris, o Parque Vigiland, que trago Oslo a este espaço. São 320 hectares de um gigantesco jardim, com centenas de estátuas em tamanho natural, parte delas a dar forma a monumentos de invulgar envolvimento sensorial e de impressionante sentido estético, que Oslo e a Humanidade devem a Gustav Vigeland, o escultor que ali se instalou e ali mesmo trabalhou a pedra (a pedra – granito – é o material largamente dominante) durante 35 anos, até ao último dos seus dias, em 1942. Mais do que provavelmente o maior museu de escultura do mundo, impressiona a nua (literalmente) e crua dimensão humana das esculturas de homens, mulheres, jovens e crianças, donde salta à vista o e(terno) fascínio pela relação entre homem e mulher, recorrente na obra do escultor francês Auguste Rodin que, sabe-se, inspirou Vigeland .
Pois… Vivemos numa região de pedra, onde a pedra é já um recurso natural de extraordinária expressão económica. Pode ter ainda maior expressão. E mais expressões…
*Publicado hoje no Jornal de Leiria, integrado na série com o mesmo nome.
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