Coitado… Valha-lhe que o Pinto da Costa já não acha que só os burros é que falam de arbitragem…
Não sei se a estratégia irá produzir os resultados que visa. O ano passado resultou, pelos vistos está confiante que volte a resultar. Há más estratégias que resultam e boas que falham…
Esta até poderá resultar, mas não merece. É pobre de mais - tão pobre quanto o próprio estratega - e nem o desespero a desculpa.
Porque é de desespero que se trata, à porta de um jogo que tem de correr bem para voltar a encostar no rival. E à porta de outro, teoricamente de elevado grau de dificuldade para o rival. Onde ganhou com a ajuda da arbitragem que lhe perdoou um penalti, num daqueles lances – jogar a bola com a mão dentro da área - apenas permitidos aos seus jogadores. Mas onde se não passou nada, nenhuma voz de Braga foi ouvida, ao contrário do último jogo, onde o tal Paulo Vinícius foi expulso no maior escândalo dos últimos dez anos, nas palavras do presidente Salvador. Afinal apenas carregou um adversário que ficaria isolado em frente ao guarda-redes, nada de mais.
Um escândalo, aquela expulsão! Um escândalo, que Paulo Assunção – vejam bem - tenha agora chegado ao quinto amarelo. Um escândalo que Matic, com quatro amarelos, não tenha cometido uma única falta para lhe poder ser mostrado o quinto…
E isto leva Vítor Pereira ao desespero. Isto e as consistentes exibições do Benfica. E a forma como vai ganhando sucessivamente os jogos. É certo que a sua equipa também os vai ganhando mas… sofre-se. E depois lá sai um golo por engano que ajuda a resolver a coisa. Mas que não dá grande confiança. Nota-se!
O Porto está fora da Taça. E perdeu o primeiro jogo da época!
Quiseram os sorteios que Braga e Porto se defrontassem duas vezes na Pedreira no espaço de cinco dias. No passado domingo o Porto foi feliz (e não só!) e ganhou. Ganhou, nos últimos minutos e com muita sorte, um jogo bem disputado mas também muito bem jogado!
O jogo de hoje surgia assim como uma espécie de encore, merecido pelo espectáculo de domingo. Mas teve pouco a ver com esse jogo do campeonato!
Por culpa do Porto – um Porto medíocre durante mais de 80 minutos – e por culpa de Vítor Pereira, que denotou alguma arrogância – mesmo soberba, mais parecendo um deslumbrado com sucesso precoce - na abordagem ao jogo, deixando de fora muitos dos titulares habituais e confirmando que não tem, na realidade um grande plantel. O treinador do Porto achou que a estrelinha que o vem acompanhando, e que ainda no domingo brilhara intensamente, a par da equipa de arbitragem nomeada – Olegário Benquerença, depois de Carlos Xistra no domingo, é uma nomeação de se lhe tirar o chapéu - daria para ganhar o jogo, independentemente de quem pusesse a jogar.
A estrelinha até apareceu. Logo aos 13 minutos, no primeiro remate à baliza, o Porto marcou. E o árbitro Olegário Benquerença também não se fez rogado: começou a poupar alguns amarelos, poupou claramente a expulsão ao lateral direito Miguel Lopes e voltou, também ele, a não assinalar um penalti claro a favor do Braga. O segundo em dois jogos. Consecutivos!
Mas nem assim! Aquele Porto era tão medíocre que não havia estrelinha nem Olegário Benquerença que lhe valesse. E acabou mesmo por, a 20 minutos do fim, ficar reduzido a 10 jogadores, porque Benquerença não podia, como já fizera com Miguel Lopes, voltar a fechar os olhos à óbvia expulsão de Castro. E, logo a seguir, por reparar que também a estrelinha se apagara com aquele auto golo de Danilo, que entrara para substituir o Miguel Lopes, que não podia por muito mais tempo continuar a escapar à expulsão.
O futebolês acaba de enriquecer com mais um léxico: bloqueio. Este é pois bem fresquinho!
Curioso é que este novo nado tenha o pai que tem: nada mais nada menos que o trapalhão treinador do Porto. Como me parece que o adjunto mais adjunto do futebol nacional não tem capacidade natural para tamanha criação, desconfio que este não tenha sido um golpe de génio – que não tem – mas antes o resultado de uma sessão de formação acelerada e mal amanhada, tipo novas oportunidades, ministrada pelo chefe máximo.
Quis a criatura, cuja única especialidade é encontrar culpas alheias e desculpas próprias para o insucesso, matriz de uma casa pouco habituada a ele, encontrar nessa sua invenção a justificação para uma derrota que podia e devia ter sido bem mais expressiva. Mas quis mais – e é duvidando dessa sua capacidade de ver mais além que me parece que a lição tenha sido encomendada – quis, fundamentalmente, intervir no desenrolar do que resta do campeonato através do lançamento de um pseudo-anátema sobre um determinado tipo de lance, de forma a condicionar os árbitros. Nesse tipo de lance como, de uma maneira geral, nas arbitragens que tão bem sabe condicionar e manipular.
Vem nessa linha a reclamação – essa sim já a cargo do boss – de um fora de jogo a Hulk. Que nem existiu nem sequer o jogador estava isolado na cara do guarda-redes em condições de fazer golo, como quis fazer crer.
Bom. Mas isso já não é bloqueio. É querer bloquear os outros!
Quem for leitor habitual do futebolês, e ainda esteja nesta altura a ler esta 120ª edição (já sabem, este tem o número 119 mas o primeiro teve o número 0), estranhará que a prosa já vá aqui sem que tenha sequer sido dado um cheirinho que fosse de uma definição de bloqueio.
A verdade é que eu não sei dá-la. Eu não sei definir o este bloqueio do Vítor Pereira! Porque, bloqueios, tem ele muitos: os mais comuns dão-se na altura das substituições, e são já famosos. Simplesmente porque este, que ele deu à Luz – em sentido literal – não existe. É, mais do que uma invenção, uma desculpa de … mau perdedor. E, como já ficou dito, uma estratégia manhosa!
Confesso que cheguei a admitir que esta estratégia manhosa pudesse vir a transformar-se numa espécie de tiro a sair pela culatra. Ao chamar a atenção dos árbitros para as movimentações dos jogadores do Benfica na área adversária nas bolas paradas, eu tive a ingenuidade de pensar que, com a atenção bem centrada nesses lances, os árbitros passassem a ver todos os agarrões, puxões e empurrões com que os avançados do Benfica são sistematicamente brindados. Pura ingenuidade minha, como confirmaria logo na primeira oportunidade: o jogo de ontem em Olhão!
Afinal o árbitro, apesar da atenção que certamente colocou nesses lances, não viu nada de anormal. Nem os empurrões e puxões a Cardozo e a Javi Garcia. Mas viu, num lance que Aimar e um jogador do Olhanense disputaram – ambos - de pé alto, uma agressão do benfiquista a justificar a expulsão… O mesmo árbitro que já tinha visto razão para expulsar o Cardozo no jogo com o Sporting: é só por isso, porque já o fizera antes, que não posso concluir que tenha já sido o resultado da estratégia de bloqueio lançada na passada terça-feira e desenvolvida ao longo de toda a semana.
A verdade é que esta do bloqueio é apenas uma nuance - e por acaso a mais recente – de uma estratégia mais abrangente e bem mais antiga. E que resulta sempre!
O Benfica não ficou com o caminho para o título bloqueado em Olhão – já se tinham visto bloqueios em Guimarães, Coimbra e na Luz, com aquele golo em fora de jogo - pela manobra da expulsão de Aimar. Já antes havia sinais de algum bloqueamento, mas ela impediu qualquer jeito de ultrapassar os bloqueios da equipa.
E começam a não ficar muitas dúvidas sobre a frequência com a equipa bloqueia nas alturas cruciais.
A época competitiva é longa e exigente? É, mas onde é que está surpresa?
Há algumas disciplinas que fazem parte integrante da gestão de uma equipa de futebol de alta competição: planeamento, gestão da condição física da equipa, distribuição de cargas, curvas de rendimento individual e colectivo, gestão dos índices de motivação, gestão psicológica e mental, etc. Quanto mais competente e criterioso for o uso destas disciplinas menos serão os bloqueios, sejam eles quais forem.
Não sei porquê, mas vem-me frequentemente à cabeça uma famosa frase do Prof. Manuel Sérgio, por sinal dado como assessor de Jorge Jesus. Já a aqui trouxe pelo menos uma vez: “um treinador que saiba muito de futebol, se só sabe de futebol, nem de futebol sabe”!
PS: Não fiz qualquer referência à foto do cabeçalho. Os mais velhos lembrar-se-ão certamente. Para os outros: são imagens de uma célebre Supertaça (Coimbra, 1995) com o Benfica, e eram bloqueios frequentes na década de 90. O árbitro bloqueado é José Pratas!
À saída para o intervalo, com o resultado em 2 a 2 e depois de três bolas no ferro - duas bolas do Luisão e uma do Aimar – tantas quantos os remates do Porto - um deles contra o Javi, que desvia a bola para a baliza e dá no primeiro golo – o narrador da SIC pergunta ao comentador Joaquim Rita: resultado justo, Joaquim?
- Sim, é um resultado justo: respondeu o Joaquim!
Melhor que isto só Vítor Pereira. E Pinto da Costa!
O Benfica foi superior em três quartos da primeira parte. No único quarto em que o Porto se superiorizou, quando passou do 1 a 1 para o 2 a 1, chegou a pairar a ideia de que o Benfica voltava a ser vítima da síndrome que ultimamente tem passado pela Luz. Que faz galvanizar o Porto e encolher o Benfica. E que faz com que os remates do Benfica morram nas costas dos jogadores do Porto, enquanto os do Porto batem nas costas dos jogadores do Benfica apenas para encontrar o caminho da baliza e trair o guarda-redes.
Mas foi sol de pouca dura. Rapidamente o Benfica dá a perceber que só com muito mais azar deixaria de ganhar o jogo, tal a superioridade que só o Joaquim não viu.
A segunda parte foi menos intensa e mais repartida e, no fim, um resultado simétrico do do último clássico. Só que com golos legais!
E sem casos, mas com bloqueios nas bolas paradas, segundo o Vítor Pereira. Que perdeu o jogo porque o árbitro marcou muitas faltas, a proporcionar bolas paradas, em que o Benfica é superior pelos tais bloqueios sistemáticos, de que é preciso avisar os árbitros. E porque há um fora de jogo a Hulk.
Ele afinal vê coisas. Mas há coisas que não vê: não vê que a equipa foi abaixo fisicamente, nem vê que não estão a jogar nada. É já um clássico!
Mas Pinto da Costa está a ver. Pareceu-me demasiado nervoso… O que não é um clássico!
Sendo o futebol jogado com os pés é natural que esta parte dos membros inferiores seja frequentemente chamada à conversa. À conversa em linguagem própria, em futebolês evidentemente!
Fiquemos hoje pelo levantar o pé. Levantar o pé na disputa da bola pode não querer dizer que se levante o pé. Pelo contrário, é normalmente sinal de que se não levanta o pé!
Confuso? Sim, mas exactamente como o futebol, o futebolêsé isso mesmo!
Levantar o pé - quando acima de determinada altura, o chamado pé alto, que é punido pelas leis do jogo - é um gesto normalmente tido como sinal de entrega ao jogo e de empenhamento máximo na disputa de cada bola. Significa disputar cada bola como se fosse a última!
Ora isto é precisamente o inverso de levantar o pé. De tirar o pé do acelerador, a imagem automobilística de que o futebolês se apropriou!
Levantar o pé é, neste sentido, sinal de baixar a guarda. De descompressão competitiva! Ora, quem levanta o pé sem receio e apenas porque é lá que está a bola e é lá que tem de ser disputada, não está a negligenciar nem a regatear esforços. Isto é, não levanta o pé!
A tendência para a descompressão é uma inevitabilidade da própria condição humana. Em competição, seja num jogo de futebol ou noutro confronto qualquer, exigem-se níveis de concentração competitiva capazes de superar aquela tendência natural e é a gestão dessa concentração competitiva que faz a diferença. É decisiva!
É por isso que há jogos que mudam por completo quando o resultado começa a atingir determinado desnivelamento. O avolumar do resultado permite tirar o pé do acelerador – levantar o pé - e, daí até à perda completa da concentração competitiva, é um passo muito curto. Daí que, levantar o pé, só mesmo quando o adversário está sob controlo absoluto.
O Benfica, por exemplo, não está a dar hipóteses. Não levanta o pé!
Joga mais e melhor que todos os adversários e por isso já leva um avanço que começa a ser apreciável. Tanto que começa a perturbar os rivais, em especial o principal rival dos últimos anos, levando o seu treinador - exorbitando mais as suas capacidades que propriamente as suas funções, para as quais, de resto, também não revela especiais aptidões – a confundir o conforto da competência com o do colo. São coisas diferentes, Sr Vítor Pereira!
As coisas complicaram-se um bocado no último fim-de-semana. Tudo fora feito, como aqui se deu conta na última semana, para que o Benfica fosse jogar naquela caixa de fósforos que é o campo do Feirense: sem espaço (menos 4 metros de comprimento e menos 3 de largura, o que levou um comentador da RTP a dizer, sem se rir nem corar de vergonha, que não podia haver razão de queixa das dimensões do campo que teria apenas menos 12 metros quadrados) e sem adeptos benfiquistas. Não resultou: o Benfica ganhou enquanto o Porto perdia, sem apelo nem agravo, com o Gil Vicente. Como não resultou, o Benfica ganhou porque o árbitro ajudou, anulando uma jogada por fora de jogo inexistente que, já depois de interrompida pelo árbitro, daria em golo. Não contava que o árbitro assistente não tivesse assinalado um fora de jogo mas sim um pé alto do jogador do Feirense. Ou que o mesmo árbitro tivesse deixado por assinalar dois penaltis as favor do Benfica. Ou que o Benfica tivesse jogado muito mais, e criado inúmeras ocasiões de golo sucessivamente anuladas pela fantástica exibição do guarda-redes adversário!
Consta por aí que, com o vencimento do regressado Lucho (a custo zero? Seria interessante saber quantas prestações o Marselha ainda teria por pagar...), o João Moutinho e mais uns quantos irão passar a levantar o pé um pouco mais. Acredito que sejam as habituais más línguas...
Quem agora não quer levantar o pé é o Sporting. Não tanto os jogadores dentro do campo, que esses ainda andam à procura do pedal do acelerador, mas o seu presidente. À procura de investidores internacionais! De alguém que pague as contas…
Olharam para Inglaterra e miraram-se em Londres - lá para os lados de Stamford Bridge – e em Manchester, no City of Manchester. Aqui mais perto, para os lados da Costa del Sol, a imagem também já não era má: também se via por ali um árabe cheio de massa que ficara com o Málaga. E acham que o futebol em Portugal é tão atractivo para gente dessa como em Inglaterra ou em Espanha. Por acaso as duas principais ligas do mundo!
Mas, se calhar, também já ouviram falar em lavagem de dinheiro! Não havia, nas últimas eleições, um candidato que tinha uns russos em carteira? Vá lá: pé no fundo, rapazes!
Hoje sim, houve nota artística. E golos! Golos como ainda se não tinha visto!
Jorge Jesus havia dito que a equipa estava próximo do óptimo. Quem ouviu e se lembrava das últimas exibições achou que era mais uma das suas… Mais uma tirada daquelas com que trava um duelo particular com o seu rival Vítor Pereira. Que, no campeonato da asneira em comunicação, ainda consegue levar-lhe uns bons pontos de avanço!
A verdade é que – sim senhor – isto hoje esteve mesmo próximo do óptimo. Logo agora, que aí esta originalidade do futebol português que são as férias de Natal. Uma espécie coitus interruptus!
Vítor Pereira, já com a cabeça no cepo, conseguiu ver o cutelo passar ao lado. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas, diz o povo, e pensará o macambúzio treinador portista. Ou … desta já me safei!
O Leonardo Jardim pode esperar… Ainda vai ao Dragão como treinador do Braga!
Não é por este ser o Futebolês nº 100, que não a centésima edição – essa foi na passada semana, como se viu – que vou inventar o que quer que seja.
Inventar é o expoente máximo do processo criativo e o ponto de partida para os maiores saltos da civilização e da História da Humanidade. Se no português corrente a palavra é frequentemente usada em circunstâncias que pouco têm a ver com essa super dimensão criativa servindo, ao contrário, para caricaturar muitas das fraquezas humanas, no Futebolês restringe-se praticamente à caricatura do ridículo.
Os jogadores ainda conseguem inventar alguma coisa de jeito. Embora em regra saia asneira, e se exponham ao ridículo quando inventam, alguns jogadores conseguem por vezes inventar coisas fantásticas: um golo, um passe, um remate, uma finta ou um drible, e até espaços. Os grandes jogadores, os Messis, os Ronaldos e mais um ou outro fazem-no naturalmente com mais frequência. Outros, eventualmente de menor capacidade inventiva, não lhes querendo ficar atrás, inventampenaltis. Nas garagens das Antas, e agora nas do Dragão, trabalha-se afincadamente nestas invenções, com preciosas colaborações de alguma gente de fora. Agora também em Alvalade há jogadores com esses atributos inventivos. Bem úteis, como se tem visto, para garantir notáveis séries de vitórias… Parou na décima, mas apenas porque encontraram um adversário romeno de respeito, daqueles que só o nome deixa os adversários a tremer!
Os treinadores é que, coitados, não têm sorte nenhuma. Para eles inventar é mesmo asneirar! “Lá está o JJ a inventar” – é frequente ouvir-se na Luz. E sai asneira!
Nem vale a pena lembrar algumas das suas mais famosas invenções… Quem não lhe fica muito atrás nesta arte de inventar é o Paulo Bento. Mas inventam de forma muito diferente. Enquanto Jorge Jesus inventa em cima das suas próprias sebentas de mago da táctica, e a partir de congeminações que só ele consegue perceber, Paulo Bento é bem mais linear: inventa exclusivamente a partir da sua teimosia. Enquanto toda a gente percebe o Paulo Bento a inventar, ninguém consegue apanhar a ideia quando o Jesus inventa!
Ninguém percebeu qual foi a ideia de lançar o miúdo - Luís Martins - num jogo decisivo da Champions. A ideia até se percebia, o que se não percebia muito bem era que fosse lançado às feras assim, sem qualquer ensaio em competição, quando não faltaram oportunidades: um jogo da taça e dois do campeonato. Mas o que se não percebeu de todo foi a sua substituição, que tinha deixado programada: mais uma invenção!
Já, por exemplo, toda a gente percebeu quando Paulo Bento inventa, não um, mas dois laterais direitos melhores que Bosingwa. É uma birra teimosa e está tudo dito! Não sabemos o que é que o Bosingwa terá feito ao Paulo Bento, mas sabemos que o seleccionador não vai com a cara dele. E por isso inventa um Sílvio e um João Pereira melhores, nem que para isso tenha que inventar critérios… Condição mental, não é?
Mas é a Vítor Pereira que eu tiro o chapéu. E não pensem que é por ele ter inventado a maneira de transformar uma grande equipa do futebol europeu num conjunto de jogadores perdidos dentro do campo, que nem a uma equipa de Chipre consegue ganhar. Não é por isso, até porque ele também conseguiu inventar maneira de, por cá, mesmo sem jogar nada, continuar a ganhar. Coisa que, como em Paulo Bento, também não temos grande dificuldade em perceber…
Não! É por uma invenção á séria, o tal expoente máximo do processo criativo de que falava acima, bem enquadrada numa estratégia de criação de valor. Inventar por inventar não tem grande sentido; inventar apenas contribui para os grandes saltos civilizacionais num quadrado estratégico sustentado. Sabe-se que Vítor Pereira desenhou um quadro estratégico que tem por objectivo exclusivo salvar a pele, tudo vai dar aí. Lançou-se à sua matriz SWOT e, no lado das ameaças – o lado das oportunidades ainda está em branco – lá estava, logo em cima, o problema de mexer na equipa. As substituições, onde nunca acertava! Foi aí que nasceu a sua grande invenção, que há-de revolucionar o futebol mundial e cuja patente já registou. Que, como todas as grandes invenções que revolucionaram a civilização, nasce de uma ideia muito simples. Esta: “sendo o meu problema acertar nas substituições, resolvo-o se deixar de fora os três melhores jogadores. Quando tiver que fazer substituições, saia quem sair, os que entram são sempre melhores”!
E pronto, era só passar a deixar de fora o Guarin, o João Moutinho e o James. Brilhante! Como é que ninguém se tinha lembrado disto antes?
Mexer é tocar. Também pode ser apalpar, agitar ou até misturar. Depende das circunstâncias, e às vezes da hora e do local. Mexer na equipa é futebolês, o que quer dizer que não é nada disso!
E é caso para dizer que ainda bem. Quando os adeptos – mais as adeptas, deve dizer-se – se empurram e se esticam todos, em ambiente de maior ou menor histeria, pretendem a penas tocar nos jogadores. Admitamos que um(a) ou outro(a) possa mesmo querer apalpar este ou aquele, mas nunca mexer na equipa!
Mexer na equipa é privilégio único do treinador. Por muita que seja a tentação de alguns presidentes este é, entre muitos outros, um privilégio do treinador. Mesmo que, para muitos, isso se transforme num autêntico calvário!
Alguns treinadores são mesmo tentados a tocar nos jogadores, não por qualquer tendência ou orientação mais íntima, mas porque, às vezes, se comportam mesmo como adeptos. Lembrar-se-ão, pelo menos alguns dos menos jovens, de Quinito – um setubalense de gema que, depois de uma interessante carreira como jogador, por cá (Académica, Belenenses e Braga, que me recorde) e por Espanha (integrou aquela primeira vaga – se é que se pode chamar vaga – de emigração para o lado de lá da fronteira, onde jogou no Santander), teve uma curta carreira de treinador, onde se celebrizou mais pelas suas expressões patuscas (muitas entraram directamente no léxico do futebolês) que pelo sucesso dos seus resultados – que, quando Pinto da Costa o contratou para treinador do Porto, apareceu nos jornais a dizer que a primeira coisa que faria era pedir autógrafos aos jogadores. Correu mal, um mês depois estava desempregado e, se não estou em erro, nunca mais voltou a treinar!
Na verdade o Quinito não pretendia portar-se como adepto. Ele não queria tocar nos jogadores, queria tocar os jogadores! Com aquilo ele não pretendia exactamente mexer na equipa mas, aumentando-lhes o ego, mexer com a equipa. Que é outra coisa, e esta já não exclusiva do treinador!
Quando o treinador mexe na equipa está, na realidade, a mexer na sua constituição, a introduzir alterações. A substituir jogadores mas também a substituir ideias, a corrigir posições individuais ou posicionamentos colectivos, ou a emendar opções tácticas, seja no decorrer do jogo seja entre jogos, no decorrer da competição. Quando mexe com a equipa está a entrar no domínio mental e psíquico da equipa, introduzindo-lhe, se bem sucedido, factores de motivação. Ou destruindo-os quando, como aconteceu ao Quinito, as coisas, por erro de cálculo – na circunstância o ego dos jogadores encheu em demasia e roubou a autoridade ao treinador - não correm bem!
Em equipa que ganha não se mexe - é o axioma mais dogmático do futebol! Ninguém o discute. Mas foi isso que tramou Paulo Bento no jogo da selecção na Dinamarca: a equipa não tinha jogado nada no Dragão, com a Islândia. A defesa fora miserável, sofrendo três golos de uma equipa da terceira divisão europeia. Mas, como a equipa tinha ganho, o seleccionador nacional seguiu a regra e não lhe mexeu! Foi o que se viu…
Quem já não consegue dormir só de pensar em mexer na equipa é Vítor Pereira, o treinador do Porto. É cada tiro cada melro! Quando chega a hora de mexer na equipa invariavelmente retira do campo o que estiver a jogar melhor. Quem estiver menos mal, assim é mais bem dito.
Claro que estas coisas têm muito de sorte e azar, ao ponto de muitos treinadores gostarem de comparar as substituições aos melões. Só depois de abertos… E o Vítor Pereira não tem realmente sorte!
Reparem: integrava uma equipa técnica de onde saiu apenas o seu membro mais mediático. O mais competente – ele próprio, que ensinava o miúdo Vilas Boas e que, por isso, foi de imediato a primeira opção do infalível Pinto da Costa – e a restante equipa ficaram. Do quadro de jogadores apenas saiu um. Um único, e entraram mais uns dez, num plantel que acabara de ganhar quase tudo o que havia para ganhar. Tudo perfeito, nada havia para mexer! Era só continuar, a inércia faria o resto!
É mesmo preciso ter azar! Com tudo tão perfeito, só mesmo com muito azar seria obrigado a mexer na equipa! E isso não de lhe poderia acontecer. Logo a ele que, caramba, pode não ter muito jeito para mexer na equipa, mas sabe mexer com a equipa. Nota-se logo num discurso colado com cuspo ao de Mourinho. Ou ao de Vilas Boas? Ele que até sabe como se recortam jornais para colar no balneário…