Mark Rutte, o Secretário-Geral da NATO, não é o funcionário que defende o patrão. É o funcionário que defende o patrão apenas para defender o seu lugar.
Se calhar é este o grande problema das instituições actuais. É um problema de funcionalismo, com funcionários bem pagos que vêm no seu umbigo a razão de ser de tudo o resto. Não se movem pela missão das instituições que lideram, mas apenas pela sua sobrevivência ... No ordenado chorudo no fim do mês!
O presidente ucraniano viajou para os EUA. Para - pensaria ele - estabelecer as garantias de segurança para o seu país nos acordos de paz que Trump garante prosseguir. Mas na verdade para - único pensamento de Trump - assinar um acordo sobre a exploração dos recursos minerais do seu país.
A conversa até parecia começar bem, mas rapidamente derivou para um cerco a Zelensky. De repente o presidente ucraniano viu-se cercado pelo presidente, pelo vice-presidente, pelo secretário de Estado, pelo secretário da Defesa, entre outros elementos da administração norte-americana, e pela plêiade de jornalistas e repórteres que Trump passou a escolher para o acompanhar.
Logo que realizaram que presidente ucraniano não estava ali simplesmente para assinar de cruz a entrega dos recursos naturais do seu país, Trump e Vance passaram ao achincalhamento e ao bullying. Como Zelensky não se conformou passou a ser considerado desrespeitoso, e acabou acusado de responsável pela terceira guerra mundial.
Quando já nada havia para salvar, um imbecil feito repórter na sala Oval, em tom jocoso, perguntou-lhe por que não usava fato. Ou se tinha sequer um fato.
No fim, não sobra qualquer surpresa. Trump e o seu gang já não surpreendem ninguém. Só quem andava mesmo muito distraído é que não percebeu que mundo mudou, e não é mais o mesmo. Tanto que é muito provável que Zelennsky tenha agora a cabeça a prémio...
Ontem foi dia de Zelensky, duas semanas depois da programada visita à península Ibérica. Depois de, no dia anterior, ter estado em Madrid, e de, pela manhã, ter dado um salto a Bruxelas, o líder - e ícone - ucraniano passou a tarde em Lisboa.
Poucos minutos depois de ter partido de Figo Maduro iniciou-se o último debate televisivo entre os principais cabeças de lista às Europeia do final da próxima semana. O único com todos - os oito - contra todos, em que Sebastião Bugalho aproveitou para declarar "dia de festa": "Parece-me que hoje é um dia feliz, a democracia portuguesa no seu 50º receber um Presidente de um país pelo PM e PR. Hoje é um dia de festa"!
Estranha noção de festa, de imediato atacada pelos oponentes à esquerda. O "puto" fez beicinho e partiu para a emenda, pior que o soneto: festa, mesmo, "é quando a Ucrânia derrotar a Rússia". À inocente noção de festa, o Sebastião acrescentava infantilidade.
O que diria o Sebastião, prodígio dos comentadores, do Sebastião político?
Se calhar diria que toda a gente sabe que o apoio à Ucrânia, o que Zelensky cá veio pedir, e o que pede, e é parcimoniosamente dado pelo Ocidente, apenas pode ter, como melhor dos objectivos, encaminhar a guerra para o impasse que permita abrir caminho para negociar os termos do seu fim.
Mas Sebastião já não é comentador. É político. E, para já, pára-raios de Montenegro.
Ou para que data marcará a festa da vitória da Ucrânia face à parcimónia belga que, mesmo restringindo - evidentemente - a utilização dos F16 ao território ucraniano, apenas entregará um este ano, deixando os restantes 29 para entregar faseadamente até ao final de 2028?
Em vésperas de 10 meses de guerra, e às portas do Natal, Zelensky foi a Washington, na sua primeira saída do país depois da invasão russa. Foi uma visita de "charme", para conquistar corações americanos. Democratas, e acima de tudo republicanos, bem mais frios...
De lá, trouxe promessas de mais apoio militar, incluindo os mísseis Patriot. Promessas de amor para toda a vida e avisos para Putin...
Mas foi acima de tudo uma visita para voltar a "dar gás" à causa ucraniana. Para voltar a colocá-la no topo da actualidade mundial. Zelensky sabe que deixar cair a guerra das primeiras páginas dos jornais, e do "prime time" noticioso das televisões, é o primeiro passo para o esquecimento.
Isso vai muito para além de todas as promessas. E conseguiu-o!
Os falcões da guerra salivaram, e no extremo leste da NATO gritou-se em uníssono pelo artigo 5º. Biden puxou de imediato de um copo de água, que serviu de imediato ao Sr Jens (falcão) Stoltenberg.
Se o copo de água serviu para lhe limpar a saliva, ou para meter lá dentro a tempestade, é a dúvida que sobra.
Um copo de água pode estar meio cheio. Ou meio vazio. Mas também pode partir-se.
No copo meio cheio, podemos ver sinais de esgotamento. São já nove meses meses de duro e exigente teste à sua resistência física e mental. No copo meio vazio podemos ver simplesmente um sinal de deslumbramento. Mais preocupante é que o copo se tenha partido e entornado toda a água se, no fim de contas, ele tiver razão, e o míssil seja mesmo russo!
A participação de Zelensky na sessão solene da Assembleia da República, especialmente concebida para o efeito, não frustrou as expectativas. Foi a sua 26ª intervenção em parlamentos democraticamente eleitos, pelo mundo fora. Já havia por isso uma matriz: o objectivo de mobilização internacional para a causa ucraniana substanciava-se na excelência comunicacional, com um discurso bem estruturado e de forte carga emocional, robustecido por referências históricas, geográficas ou até de carácter civilizacional ao país e ao povo a que se dirigia.
Era esta última vertente da sua intervenção a que maiores expectativas suscitava. O resto não seria muito diferente, por muitos mais dados - e mais chocantes ainda - que a continuação da guerra infelizmente lhe permitiria acrescentar ao seu relato. Até apostas se faziam …
Não desiludiu, também nessa vertente mais ansiosamente aguardada. Referiu a dimensão populacional de Lisboa e do Porto para reforçar a imagem a passar sobre cidades completamente destruídas, e referiu-se à ditadura que vivemos e ao 25 de Abril, que vamos festejar por estes dias.
A referência geográfica ao Porto e a Lisboa não mereceu qualquer contestação ao Partido Comunista, que deixou as suas cadeiras vazias, mas não quis deixar de comentar a intervenção que não aprovara. Ainda admiti que o PCP se tivesse sentido insultado por Mariupol ser "tão grande quanto Lisboa", mas não. O insulto foi Zelensky referir-se à revolução dos cravos.
Não, senhora deputada Paula Santos. A senhora, porque foi a senhora que se prestou ao serviço, os seus outros cinco colegas de bancada, e os outros todos que mandam em vós os seis, é que hoje insultaram o 25 da Abril. E seguramente mais de 10 milhões de portugueses.
Hoje tenho mais um neto. Nasceu o Pedro, o meu quinto neto, e por isso estou em festa!
Ainda deu para assistir ao debate entre Macron e Marine Le Pen. E para perceber que foi Putin, a Rússia e a guerra na Ucrânia que mais "enterrou" a Senhora que ilumina extrema-direita na Europa. Para ficar a conhecer as razões por que o PCP vai amanhã estar ausente da sessão na Assembleia da República onde vai "tele-participar" Zelensky e para, sem surpresa, perceber como são tão "iguaizinhas" às da Senhora Le Pen.
Nada que me estragasse este dia de festa. Mesmo longe do melhor dos mundos...
Zelensky virá discursar na Assembleia da República, por videoconferência, se não ainda na próxima semana, pelo menos na que se segue.
Tarde de mais, dirão uns ... Lembrando-se que já passou, desta mesma forma, por grande parte dos Parlamentos nacionais dos principais países que fazem da democracia a sua forma de vida, pretendendo lembrar que costumamos chegar sempre atrasados a esta coisas, e esquecendo-se que o nosso só agora começou a funcionar.
Cedo de mais, dirão outros ... que andam sempre atrasados, presos não se sabe bem a quê. Nem cedo, nem tarde, diz o PCP, ao som cadenciado do martelo descravado da foice a espetar os últimos pregos no seu caixão. Que simplesmente não o quer ver por cá, sabe-se bem porquê... depois de tudo o que têm sido as suas inacreditáveis posições públicas perante a invasão russa e esta guerra.
Coerência? A tão apregoada coerência do PCP?
Talvez. Mas apenas a coerência de quem se agarra ao passado sem conseguir ver o que está a mudar, e o que há muito mudou. A coerência de quem fecha os olhos e se recusa a ver. A coerência da incoerência. Da mais absurda e hipócrita incoerência!
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