Teias*
A complexidade do sistema financeiro, nome atribuído ao manto com que se cobre, e onde se enrola muito enroladinho para que tudo continue a passar entre os pingos da chuva, tem destas coisas.
Com a resolução que há seis anos, feitos esta semana, o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa, cozinhou com a União Europeia, poderia pensar-se que o BES ficaria morto e enterrado sob o nome de banco mau. E que teria nascido um banco bom, para fazer vida como Novo Banco, até que alguém o aperfilhasse e lhe desse um nome porventura mais apelativo.
Hoje sabemos que o banco bom era tão mau como o mau, e que ninguém o quis aperfilhar. Acabou por ter que ser dado a uma família de acolhimento que, para ficar com ele, exigiu uma pesada pensão de alimentos, que nos custa os olhos da cara.
E sabemos que o banco mau, em vez de jazer tranquilo, continuou a sua vidinha, a escavar o buraco em que o deixaram. De tal forma que o buraco já triplicou. E hoje o BES não tem capacidade para responder por mais que 2,8% do buraco em que está metido. Parece que já há que lá meter uns 6,5 mil milhões de euros.
Não se sabe muito bem por quê. Sabe-se que paga salários, e que o salário médio é superior a 4 mil euros mensais, provavelmente porque, num banco a jazer estendido, há grandes decisões a tomar e pesadas responsabilidades a remunerar.
A dívida do seu fundo de pensões cresceu ao mesmo ritmo, e também já triplicou desde 2014. Essa já é mais fácil de perceber, basta lembrar que, só a Ricardo Salgado, continua a pagar uma pensão de 90 mil euros por mês.
Não se indignem. Tem mesmo que ser assim. É preciso pagar-lhe todos os meses 90 mil euros para que ele possa pagar, também todos os meses, os 39 mil que dessa pensão lhe foram arrestados em 2017.
Deixa um terço do que tira. Mas, de outra forma, Ricardo Salgado não pagaria nada. Nem teria por onde…
* A minha crónica de hoje na Cister FM