Teorias
Há uma vasta série de teorias para explicar o fulgurante sucesso eleitoral do Chega - melhor, de André Ventura. Em 6 anos, afinal e apenas o tempo de uma legislatura e metade de outra, surgiu e passou de 1% de expressão eleitoral, e um deputado, para 23%, 60 deputados, e líder da oposição.
Não consta de qualquer teoria mas, isso - quatro actos eleitorais no espaço onde ainda se deveria estar apenas a meio da legislatura do segundo - também faz parte da explicação.
A mais clássica das teorias geralmente apresentadas reporta para os vencidos da globalização. É clássica, comum a várias geografias, e não apenas portuguesa. Os operários das regiões industriais - que acabaram com o desaparecimento das fábricas, deslocalizadas para regiões do globo de mão de obra mais barata -, que antes votavam comunista e socialista, migraram o seu voto para a extrema direita.
Com isso se explicaria a votação do Chega no distrito de Setúbal, e na cintura industrial de Lisboa. Mas só explica uma parte!
A transição do voto comunista no Alentejo para o Chega tem o mesmo sentido, mas já carece de outra teoria. E aí surge a imigração, também ela no centro da propaganda política da extrema-direita.
Os imigrantes são culpabilizados pela insegurança - mesmo que as polícias digam o contrário -, pelo aumento dos preços, são acusados de invadirem o SNS, e de encherem as escolas com os seus filhos, subvertendo o quadro de valores nacionais.
E isso explicaria o domínio eleitoral a sul do Tejo, no Alentejo e no Algarve.
Depois há ainda a teoria dos deserdados do regime, aqueles que os governos terão sucessivamente deixado ficar para trás, a empobrecer. Dados ainda ontem dados a conhecer indicam que três em cada cinco portugueses dizem que não ter dinheiro para as necessidades básicas, e que Portugal é o país europeu onde mais cidadãos dizem ter dificuldades financeiras. Toda esta gente pobre canalizaria o seu o voto para a extrema direita como forma de protesto.
Provavelmente a explicação não estará tanto nestas realidades sociais, para as quais, em boa verdade, a extrema-direita nunca apresenta soluções realistas, mas na exploração dessas realidades em ambiente de seita, num registo de desinformação, e de manipulação emocional, de potenciação de ódio. Até encontrar bodes expiatórios fácil e rapidamente assimilados através dos mecanismos das redes sociais, treinados e testados por todo o mundo. O resto é deixado para as televisões.
Na América, Trump teve para isso uma televisão - a Fox. Em Portugal, o mestre André, teve-as todas. Servilmente prontas para transmitir em directo todas as suas encenações messiânicas.