Tour 2014 III
Por Eduardo Louro
Tínhamos deixado o Tour na quinta etapa, a do abandono de Froome. Regressamos hoje, com a décima, a do abandono de Contador (na foto). Estão fora as duas figuras maiores do Tour, de quem tudo se esperava!
A sexta e a sétima etapas não tiveram grande história. A sexta foi ganha ao sprint por outro alemão – Greipel, com o seu compatriota Kittel a passar por problemas e a ficar sem possibilidade de discutir o sprint final. E a sétima pelo italiano Matteo Trentin, de novo com Kittel eclipsado, a ter agora de esperar pela última etapa, em Paris.
No sábado correu-se a oitava etapa, que anunciava a chegada da montanha. Contador mostrou-se, e mostrou que era aquele o seu terreno. Atacou, mas a verdade é que os principais adversários responderam. Nibali e Richie Porte, agora no papel de Froome, não se deixarm ficar. O italiano reagiu mesmo em grande estilo…
Ganhou o francês Blel Kadri – primeira vitória francesa –, isolado, único sobrevivente na meta de um grupo que esteve em fuga durante muito tempo, com Contador em segundo logo seguido de toda a concorrência – Nibali, Porte, Pinault e Valverde, separados por pouquíssimos segundos uns dos outros. Rui Costa teve algum azar, saltou-lhe a corrente na altura decisiva e, mesmo que subindo ao oitavo lugar da classificação, perdeu algum tempo, passando a ficar a quase 3 minutos de Nibali. Que, ao contrário do que aqui cheguei a admitir, despiria a amarela na nona etapa, ontem, a cobrir os 170 quilómetros entre Gérardmer e Mulhouse, pela Alsácia, com seis montanhas para subir.
Foi uma corrida extraordinária de um corredor extraordinário, o crónico campeão do mundo de contra-relógio Tony Martin. Fez mais de 140 quilómetros em fuga, os últimos 70 sozinho, num contra-relógio individual só ao alcance dos sobredotados. Ganhou o que havia para ganhar, incluindo todas as contagens da montanha, e ganhou quase três minutos a um numeroso grupo perseguidor, que integrava os portugueses Sérgio Paulinho e Tiago Machado e o francês Toni Gallopin, e mais cinco ao pelotão. Com esta vantagem de 5 minutos o francês Gallopin tirou a amarela a Nibali – em boa verdade foi o italiano que preferiu entregar-lha – e, notável, o Tiago Machado subiu ao terceiro lugar. Rui Costa caiu de oitavo para décimo-primeiro!
Hoje, à décima etapa, no dia nacional de França – comemora-se a tomada da Bastilha - foi um francês a trazer vestido o maillot jaune. No dia da França, mas também numa das mais difíceis etapas desta edição do Tour. Que voltou também a ser a das quedas, quando se pensava que isso era coisa da primeira semana!
Muitas pequenas quedas e pequenos incidentes, que subir e descer com chuva e mau tempo dá nisso. Mas também quedas graves. Primeiro foi o Tiago Machado, que nem teve tempo de desfrutar do seu extraordinário terceiro lugar. Foi ainda dada a notícia da sua desistência, depois desmentida. Depois Contador, que ainda fez por regressar à corrida, mas acabou mesmo por desistir.
Não se ficou por aqui a história desta etapa. Que, claro, é feita pela vitória – categórica e já a segunda – de Nibaldi, que regressa à amarela, na afirmação clara de que é o grande favorito. Está num grande momento de forma, e será injusto lembrarmo-nos que já lá não estão Froome nem Contador.
É também feita do festival de Joaquim Rodriguez, a sprintar pelas montanhas fora para conquistar a camisola da montanha, a das bolinhas vermelhas. Que parecia estranha no corpo de Tony Martin, que mais parecia estar com varicela. Das sete, o espanhol, discutiu seis e ganhou cinco. Foi batido por Vockler – com batota – na primeira e já não teve força para discutir a última, e a etapa, com Nibali.
Mas foi, acima de tudo, feita de novo pelo alemão Tony Martin. Que, indiferente ao esforço de ontem, pegou no seu colega Kwiatkowski e levou-o por ali acima. Chegou a um grupo de 7 corredores já em fuga e rebocou aquilo tudo durante quilómetros e quilómetros e cinco montanhas. Encostou para o lado na penúltima subida, dizendo ao seu jovem colega de equipa que fosse e aproveitasse bem o que ele tinha feito. Não aproveitou, e acabou até por cair na classificação, mas nem por isso é menos épico. Mais que nova fantástica corrida, o alemão deu um fantástico exemplo: um campeão que faz isto é mais que um campeão!
Rui Costa esteve sempre onde devia estar. Cedeu ao ataque – fulminante – de Nibali, para quem perdeu perto de 2 minutos mais. Mas subiu dois lugares, para nono: os que Tiago Machado (terceiro) e Contador (nono) deixaram vagos.