Tour 2014 VI
Por Eduardo Louro
Depois deixar os Alpes, da etapa de transição (15ª) para os Pirinéus – com o australiano Jack Bawer e o suíço Martin Elmiger a morrerem na praia, engolidos pelo pelotão a 10 metros da meta, e nova vitória do norueguês Kristoff, da Katusha que, com Greipel a não corresponder e Kittel desaparecido em combate, passou a dominar as escassas oportunidades que o Tour tem agora para dar aos sprinters – e do segundo e último dia de descanso, correu-se hoje a primeira das três etapas pirenaicas que arrumarão a classificação final.
A notícia do dia é, no entanto, anterior e exterior à etapa. É, evidentemente, o abandono de Rui Costa, vencido pela bronquite que, conta o próprio na sua presença diária nas redes sociais, evoluiu para pneumonia. É o culminar de um Tour de que tanto se esperava, mas que tinha tudo para correr mal… A começar pela equipa!
A 16ª etapa, e primeira dos Pirinéus era, com perto de 240 quilómetros, a mais longa deste Tour, com quatro contagens de montanha de segunda, terceira e quarta categorias, e uma, a última, de grande dificuldade - a escalada de Port de Balès, com quase 12 quilómetros de alta montanha, de categoria especial, a escassos vinte quilómetros da meta. Que foi abordada por um grupo de vinte e um corredores, entre os quais o polaco Kwiatowski, o terceiro classificado da juventude, com mais de doze minutos de vantagem sobre o pelotão.
Pela montanha acima o grupo desfez-se por completo, com o jovem polaco a ser um dos primeiros a ceder, como vem sendo habitual – não se esquece como traiu aquele esforço épico e inglório de Tony Martin, na décima etapa –, sobrando na frente apenas o colombiano José Serpa, da Lampre, colega de Rui Costa de que já aqui falamos, o francês Thomas Voeckler e o australiano Michael Rogers, por esta ordem na contagem de montanha.
Lá atrás sucedeu o mesmo, e o pelotão esfrangalhou-se completamente, não resistindo ao inevitável Nibali, que desta vez se limitou a responder aos poucos ataques dos adversários. Um ou dois de Valverde, sempre bem acolitado por três colegas de equipa, e uns esticões de Pinault, que não se destinavam directamente ao líder da corrida mas, antes, ao seu compatriota Bardet, portador da camisola branca da juventude, e terceiro classificado. Tudo – e não é pouco – o que lhe interessava. O também francês Péraud, limitou-se a segui-los, completando o grupo do camisola amarela.
A louca descida de vinte quilómetros até à meta fez autênticos milagres. Por exemplo, Kwiatkowski recuperou do imenso tempo perdido na subida e chegou à meta em sétimo lugar, a apenas 36 segundos do vencedor, o australiano Rogers que também aproveitara bem a descida para ganhar a etapa, com perto de 9 minutos sobre NIbali. Ou o bielorusso Kiryenka, que depois de fraquejar na subida seria terceiro, atrás de Voeckler. Ou o americano Van Garderen, que não resistira no grupo de Nibali, ficando muito para trás para, no fim, chegar praticamente com eles.
Quem tirou grandes dividendos de tudo isto foi Kwiatkowski que, com os 9 minutos recuperados, regressou ao top ten, no nono lugar. E Péraud, que trocou tudo com o seu compatriota Bardet. Mas tudo isso está preso por apenas 36 segundos!