Tour de France 2018 - III
Da última vez que daqui espreitamos o Tour estavam os ciclistas nos Alpes, à beira da subida ao Alpe d´Huez.
Foi, como sempre é, uma etapa com história. Porque é uma etapa mítica, e ainda mais espectacular quando, como foi o caso, passa pelo Croix de Fer. Mas também porque foi recheada de incidentes, com particular e indesejável relevo no mau comportamento do público, que não só vaiou - e até, ao que dizem, cuspiu - os dois britãnicos da frente, Thomas e Froome, como provocou a queda, e o posterior abandono, de Nibali a 4 quilómetros da meta. Um dos raros ciclistas vencedor das três grandes competições - Giro, Tour e Vuelta - e, sempre, um dos principais favoritos à vitória.
Nibali ainda se recompôs e cortou a meta, perdendo apenas 13 segundos para o vencedor, Geraint Thomas, o primeiro ciclista na História do Tour a ganhar no Alpe d´Huez com a camisola amarela. Com uma vértebra partida, Nibali rumou directamente para o hospital, deixando a competição muito mais pobre.
Como já se percebeu, ganhando lá no alto, na sua segunda vitória consecutiva, Thomas reforçou nos Alpes a liderança conquistada nos Alpes. E começou a deixar perceber que, ao contrário do que garantira, não tem grandes ideias de entregar a camisola amarela ao seu colega Froome.
Seguiram-se quatro etapas, cada uma com a sua história, mas nenhuma que mudasse grandes coisas. Apenas uma - a 13ª - plana. Que Peter Sagan, também já sem adversários e também já virtual vencedor da camisola verde - basta-lhe chegar a Paris - não deixou fugir. As restantes três eram todas de montanha, de média montanha, à excepção da última, ontem, de entrada nos Pirinéus, e com uma incursão em Espanha, na única vez em que o Tour deste ano passou fronteiras.
Todas etapas com fugas - madrugadoras, numerosas e bem sucedidas. E com um protagonista - o francês Allaphilipe, que integrou todas as fugas, e que, para além de ganhar a etapa de entrada nos Pirinéus, se fartou de ganhar metas de montanha, a ponto de quase ter garantido já a camisola das bolas vermelhas. Bom ... o italiano Gianni Moscon também foi protagonista. Na etapa anterior, a 15ª, que chegou a Carcassone, armou-se em pugilista e foi mais cedo para casa, desfalcando a Sky de uma peça chave para os Pirinéus.
Hoje correu-se uma etapa inédita na História do Tour. Esta sim, a mais curta de sempre, com apenas 65 quilómetros. Mas sempre, sempre a subir. Não teve a espectacularidade que se esperaria, mas também não desiludiu. Nem fez grandes diferenças, essas ficam agora a engrossar o role das expectativas para a decisiva etapa de sexta-feira, a etapa rainha dos Pirinéus com o Col d´Aspin, o Tourmalet e o d`Aubisque.
Surgiu finalmente Nairo Quintana, que ganhou a etapa. Mas não ganhou muito com isso - valeu-lhe apenas a subida ao quinto lugar. E Thomas, terceiro, depois de Daniel Martin, reforçou a liderança arrumando, provavelmente de vez, com Froome. Que foi ainda ultrapassado por Tom Dumoulin, agora segundo da geral.
Froome já está a mais de 2,5 minutos do seu colega de equipa, mas apenas a pouco mais de meio minuto do holandês. Mas as dificuldades que evidencia contrastam claramente com as facilidades que Tomas revela. E que, se não enganam, tornam-no no rosto do vencedor deste Tour!