Tour de France 2019 II
Volto ao Tour, como prometido, agora no final da segunda das três semanas da prova. E no final da passagem pelos Pirinéus que, se não decide tudo, deixa sempre muito para contar.
Mas a história desta segunda semana do Tour não se esgota nestes dois dias de Pirinéus, ontem e hoje. Antes pelo contrário, foi uma semana cheia.
Tida à partida como uma etapa sem História, na véspera do dia descanso, a décima etapa, entre Saint-Flour e Albi, de 218 km, acabou por se transformar numa das estapas decisivas deste ano, graças ao vento, aos famosos ventos laterais, que sempre fazem estragos. Mais uma vez muitos foram os que ficaram desde logo irremediavelmente atrasados, ou os que, não tendo sido o caso, foram fortemente penalizados, como Thibaut Pinot (Groupama FDJ), Richie Porte (Trek-Segafredo), Rigoberto Uran (EF Education First) e Jakob Fuglsang (Astana), gente com fortes aspirações que logo ali perderam quase dois minutos, que não é coisa pouca na hora das decisões finais.
Depois veio o único contra-relógio individual da prova, em Pau, ali na base dos Pirinèus, onde todos perspectivavam que Julian Alaphilippe fosse obrigado a entregar a camisola. Nada disso, e o francês não se limitou a resistir. Ganhou mesmo, foi surpreendentemente o melhor, numa especialidade que não era tida pelo seu ponto forte. Ganhou em toda a linha, e reforçou a liderança, aumentando bem para lá dos dois minutos a diferença para Geraint Thomas, o principal favorito.
E depois vieram os Pirinèus, com a subida ao Tourmalet logo no primeiro dia, ontem, com Alaphilippe a resistir e a acabar mesmo, com o segundo lugar na etapa, atrás de Pinault, o vencedor - dobradinha francesa - a voltar a reforçar a diferença para o britânico, ganhando-lhe mais 30 segundos, e ganhando-lhe claramente o duelo.
Mesmo sem o mítico Tourmalet, a etapa de hoje, a décima quarta, não era menos difícil. E se não teve uma história completamente diferente - já lá vamos - foi diferente o destino do duelo entre os ainda dois primeiros, já que o francês, que no final do dia de ontem era já apontado como o vencedor deste ano, talvez levado por essa onda, cometeu um erro grave: esqueceu-se que Thomas era ainda o principal adversário e, já sem protecção da equipa, repondeu a ataques a que não podia responder. Acabou por pagar a imprudência e perdeu tudo o que ganhara ao britânico nas duas vezes em que o batera, no contra-relógio e no Tourmalet, e por deixar tudo em aberto.
O vencedor dos Pirinéus, onde chegou em sétimo, a mais de 3 minutos, e donde parte no quarto lugar, mas a poucos segundos do sóbrio kruijswijk, o holandês da Jumbo-visma, terceiro, e de Thomas (Ineos), segundo, e como forte candidato ao triunfo em Paris, foi claramente Pinault, primeiro no Tourmalet e segundo hoje, em Foix Prat D’Albis, atrás de Simon Yates.
Os vencidos são muitos, especialmente o francês Romain Bardet (Ag2r-La Mondiale), um habitué do pódio, e quase dramaticamente o colombiano Nairo Quintana (Movistar), depois do notável trabalho que a sua equipa desenvolveu nos Pirinéus em seu proveito. Na etapa de ontem o colombiano falhou rotundamente, depois da sua equipa ter destruído praticamente todo o pelotão, num esforço inglório que Quintana não soube respeitar (exigia-se, no mínimo, que informasse a equipa que não estava em condições de corresponder a todo aquele esforço dos colegas). Na de hoje ficou no grupo da frente, com o apoio de mais dois colegas de equipa, numa fuga que o chegou a deixar como líder virtual, e acabou em vigésimo, a 3 minutos de Simon Yates. Entrou nos Pirinéus como favorito, até porque, à excepção do contra-relógio, sempre o seu calcanhar de Aquiles, tudo lhe tinha corrido bem. E saiu na 13ª posição, a oito minutos e meio de Alaphilippe.
Dos portugueses não reza a História deste Tour. Nem tanto pela classificação geral: Rui Costa (UAE - Emirates) em 57º, Nelson Oliveira (Movistar) em 96º e José Gonçalves (Katusha) em 127º. Mas porque não têm feito nada que valha história. Rui Costa o melhor que fez foi o oitavo lugar na 12ª etapa, depois de finalmente conseguir entrar numa fuga (numerosa) mas de não acompanhar os que de lá sairam para a meta. Já o melhor de Nelson Oliveira foi o 11º lugar no contra-relógio, a sua especialidade, 13ª etapa.
Amanhã é dia de descanso. O segundo e último. Seguem-se duas etapas para roladores e sprinters e, depois, os Alpes, em três dias que tudo se decide. Se nada de anormal acontecer entre Pinault, kruijswijk, Thomas e Alaphilippe.
Há dois franceses que podem chegar a Paris de amarelo. Há muitos anos, mais de trinta, que os franceses não vêm uma coisa dessas!