Tour de France 2021 - III
Chegou-se hoje ao fim da segunda semana do Tour, com a 14ª etapa, entre entre Carcassone, e Quillan, de aproximação aos Pirinéus. Andou ali à volta, a mostrá-los, ameaçadores, para o que aí vem nos próximos dias.
Para trás, depois do primeiro dia de descanso, na passada segunda-feira, ficou uma semana com muito para contar.
Tudo (re)começou na terça-feira, com a10ª etapa que Cavendish, que já estava na reforma, voltou a ganhar. A terceira!
No dia seguinte, a 11ª etapa foi a da desistência de Toni Martin, sobre-castigado de quedas. Foi até o primeiro da primeira, naquela primeria etapa. Foi ele que foi embater na rapariga placard a saudar os avós que provocou aquilo tudo.
Mas foi a etapa do mítico e assustador Mont Ventoux, subido por duas vezes Na primeira passagem, Pogacar, no pelotão comandado por Rui Costa, mas até aí sempre puxado pela Ineos, estava a quase 5 minutos dos da frente, onde já seguia Van Aert, agora liberto da vassalagem a Roglic, que já lá não está, mas ainda obrigado a prestar serviço a Vingegaard.
A segunda vez é que era verdadeiramente assustadora, e mudou tudo. Van Aert, talvez o mais completo ciclista da actualidade (sprinter, contra-relogista e trepador, tudo num só ciclista) deu espectáculo e, lá atrás, a Ineos o litro, a procurar recuperar e a endurecer o que já era duro. Com Pogacar tranquilo, a agradecer porque, com isso a Ineos arrumou com O`Connor (como sofreu, e lutou, o australiano!), que ganhara nos Alpes e era segundo classificado. E por isso o mais próximo do esloveno.
A cerca de 3 Km lá do alto Vingegaard atacou e só Pagacar reagiu, para depois - pasme-se - não o conseguir acompanhar. E o dinamarquês tornou-se no primeiro a bater o imbatível. Valeu a descida de 20 km até à meta, que os juntou de novo. Mas também Uran e Carapaz, os primeiros a ceder ao ataque de Vingegaard, pouco mais de minuto e meio depois de Van Aert.
Quem ganhou ainda mais foi Pogacar, que mantendo os mesmos mais de 5 minutos para Uran, alargava para os mesmos mais de 5 minutos a vantagem para o segundo, agora o colombiano. Com o jovem Vingegaard em terceiro, e com a camisola branca. porque Pogacar só pode vestir uma.
Na quinta-feira a 12ª etapa. a da desistência de Sagen. Tudo começou com uma fuga, bem cedo, de um grupo numeroso de gente importante, como Alaphilipe, Froome ou Greipel, que rapidamente conquistou uma vantagem grande, superior a 10 minutos. O grupo desfez-se, e à meta chegou isolado o alemão Politt, com mais de 16 minutos de vantagem sobre o pelotão ~ onde Cavendish ganhou mais um sprint que ainda lhe valeu mais uns pontinhos - e o tempo suficiente sobre os vários grupos em que a fuga acabou para ir festejando ao longo do último quilómetro.
A 13ª etapa, entre Nimes e Carcassone, plana e a segunda mais longa, não tendo tido grande história - as quedas que voltaram a acontecer já quase fazem parte da normalidade deste Tour - foi histórica. Cavendish voltou a ganhar, pela quarta vez neste Tour, e cometeu o feito histórico se atingir 34 vitórias em etapas na Volta a França, igualando o recorde de Edy Merclx, o mito histórico do ciclismo mundial, e indiscutivelmente o nome maior (e mais limpo) da sua História.
Fica o feito histórico, por mais sensacional que seja, e por mais inesperado que tenha sido, mas o sprint de Cavendish acabou por ter como adversário ... o colega de equipa que o lançou. Não se pode tirar brilho a este desempenho do ressuscitado Cavendish, aos 36 anos, e dois depois de praticamente afastado. mas só é possível porque os melhores sprinters da actualidade já lá não estão. E pelo trabalho irrepreensível da equipa, a Deucenic. Que já leva cinco vitórias em etapas.
A etapa de hoje, com quatro contagens de montanha, mesmo que nenhuma das duas mais altas categorias, foi ganha por Bollema, depois de abandonar o grupo da grande fuga do dia, e pedalar sozinho durante 40 quilómetros para a vitória.
Foi uma etapa bastante movimentada, com os cilcistas a cruzarem a meta em sucessivos grupos e grupetos, à excepção do neerlandês, que chgou sozinho. Cavendish viu-se grego para chegar dentro do tempo de controlo, mas resistiu para segurar a camisola verde. Valeu-lhe mais uma vez a ajuda da equipa, que já não tem mais nada por que correr. O canadiano Wodds, apesar de lhe ter cabido em sorte a queda do dia, roubou a camisola das bolinhas, a da montanha, a Quintana, mais uma vez decepcionante. Guillaume Martin, que integrou a fuga do dia e chegou à meta no terceiro grupo, foi quem mais ganhou com ela, subindo de nono a segundo.
Não deixa de ser curioso que o segundo lugar da classificação tenha sido o que mais tem variado desde o ínício da competição. E que por lá tenham sempre passado nomes secundários, daqueles que nada preocupam Pogacar. nem mesmo o de Rigoberto Uran, que lá chegou depois da etapa do Mont Ventoux. Tem sido sempre assim, e assim voltou a ficar hoje.
Não deixará certamente de assim ser, no que respeita a preocupações para Pogacar. Mas a partir de amanhã, mesmo que essa volatilidade se mantenha, será diferente. Irá certamente oscilar, mas já entre nomes com outro peso que não o deste francês, que não deixará de ser mais um segundo meramente circunstancial.