Trocas e trocos
Por Eduardo Louro
Vasco Graça Moura, visivelmente debilitado pela doença, foi publicamente homenageado no final da semana passada, e de novo condecorado, desta vez com a Grã-Cruz da Ordem de Santiago da Espada, pelo Presidente da República.
Foi uma justa homenagem. A um vulto da cultura portuguesa como Vasco Graça Moura faltarão sempre, sem que nunca sobrem, homenagens. É um dos maiores intelectuais portugueses vivos, de uma inteligência fora do comum, um virtuoso das letras, ensaísta de méritos imensos, seguramente o maior tradutor literário do país e um dos maiores do mundo. Ímpar na tradução de poesia!
Tive sempre uma enorme admiração por este intelectual. Maior mesmo só a desilusão provocada pela sua intervenção política. Muitas foram as vezes em que me interrogava como poderia um homem intelectualmente tão superior ser politicamente tão limitado.
Não estranhei por isso que Cavaco tenha ido procurar na dimensão política de Vasco Graça Moura a justificação para a homenagem e o motivo da condecoração. Que Cavaco tenha distinguido a “figura do intelectual, do cidadão empenhado, que ao longo das últimas décadas tanto contribuiu para a valorização da nossa vida democrática, que tem representado um papel da maior importância para a consolidação, entre nós, de uma sociedade que preza os valores da liberdade e da cultura”!
Porque, na verdade, de Cavaco não se esperam outras coisas. Perde-se em trocas. E com trocos. É mesmo o homem dos trocos!