Chegamos a um ponto, 45 anos depois de termos conquistado o direito de votar em eleições democráticas e livres, por que muitos lutaram com sacrifício da própria vida, em que apenas muito pouco mais de 30% de nós - cidadãos portugueses com mais de 18 anos inscritos nos cadernos eleitorais - usa esse direito para cumprir o seu dever de voto.
E isso, por mais voltas que se dêem, é o que mais ressalta - e que mais preocupa - destas eleições europeias. Tudo o resto é verdadeiramente marginal. Até porque, como na campanha, também na noite eleitoral tudo continua na mesma - ninguém perdeu. O PSD não perdeu. O CDS, quase apanhado pelo PAN, não perdeu. Nem o novo Aliança perdeu... Mesmo que o PCP tenha final e surpreendentemente perdido.
E porque os que ganharam, ganharam pouco com isso. O PAN, ganhando muito em expressão eleitoral, com 5% dos votos ganhou apenas um deputado. O Bloco de Esquerda, com 10% dos votos, passou a terceira força política e duplicou a sua representação, mas ganhou apenas mais um deputado. Ao invés, ganhando por pouco, apenas poucochinho mais que o poucochinho de há 5 anos, o PS ganhou muito. Porque foi quem mais deputados acrescentou à sua representação mas, acima de tudo, o governo saiu reforçado pela derrota em toda a linha da oposição. E renovou as energias para as legislativas que aí vêm.
Talvez por isso o Pedro Marques tenha chamado uma vitória estrondosa a uma vitória por poucos.
Lanças realmente muita coisa para o caldeirão da discussão, e esse é um debate interessante que merece um tratamento com alguma sistematização. Para isso talvez fosse de começar por definir um quadro para medir a abstenção. Quando os mortos continuam por abater aos cadernos eleitorais - sem qualquer tipo de justificação aceitável numa altura destas - ,onde os emigrantes passaram a entrar a partir da emissão do cartão de cidadão, teremos sempre uma assinalável abstenção técnica. Tal como o conceito de pleno emprego comporta uma taxa de desemprego de 6 ou 7%, também a de abstenção não pode ser um qualquer quociente bruto. Também não alinho pelo voto obrigatório. Mas nunca me passaria pela cabeça atribuir prémios a quem for votar...Embora pudesse sugerir que se transferissem os barris de cerveja e os porcos no espeto das campanhas partidárias para as assembleias de voto e, depois da entrega do boletim de voto na urna, na devolução do cartão de cidadão, se juntasse um "voucher" para uma sandes de carne assada e uma imperial.
Tem de haver uma forma rápida de levar as pessoas a votar, as mudanças legais demoram e com este défice arriscamos a falta de validação. A democracia é para ser vivida por todos e não deve obrigar ninguém, mas se não for alimentada morre - há que distinguir entre quem a alimenta e entre quem apenas recolhe o que ela dá. Todos os organismos têm mecanismos de defesa, mas a democracia esqueceu-se de criar um contra as hemorragias...
Entretanto, o caldeirão fervilha - e redesenham-se novos e bons planos de trabalho ;)