Um clássico cheio de clássicos
O clássico de hoje. uma quinta-feira, às seis e meia da tarde - sem público e no actual contexto, todos os dias e todos os horários servem, desde que sirvam à televisão - arrancou com o Benfica já irremediavelmente afastado da luta pelo título pela soberana Matemática, a três jornadas do fim.
Começou bem antes, como quase sempre, por cá. Ainda o Sporting não tinha jogado em Vila do Conde, e ainda a Matemática não era definitiva.
Sérgio Conceição, o treinador do Porto, estava castigado - suspenso por 21 dias. Mas cedo se percebeu que isso era coisa de fazer de conta, e que estaria hoje no banco, na Luz. Ontem, claro, chegou a confirmação oficial, e hoje lá esteve. No banco, na flash e na sala de imprensa, é que não. Para compor o ramalhete, o árbitro escolhido foi Artur Soares Dias, o tal.
Um clássico!
Depois veio o jogo. E Soares Dias não quis deixar de justificar por que é sempre o escolhido para estes jogos. Manhoso e cínico, como sempre. E como ninguém. A ponto de até ter marcado dois penaltis a favor do Benfica, como que a dizer: "vejam bem que até marquei dois, quando ninguém assinala penaltis para o Benfica".
O jogo arrancou nos moldes habituais destes jogos. Sérgio Oliveira e Octávio distribuíam fruta a torto e a direito. O primeiro cedo foi amarelado, e … remédio santo. A partir daí ganhou carta branca - para lhe não voltar a mostrar o amarelo, o árbitro deixou de lhe assinalar faltas. O Octávio, não. Como nunca viu amarelo pôde ir acumulando faltas, umas atrás das outras. Quando começaram a ser de mais, Soares Dias começou também a deixar de as assinalar.
Mas havia umas que assinalava sempre, não falhava uma. Sempre que, depois da falta, a bola sobrava para jogadores do Benfica, com possibilidade de saírem rapidamente para o ataque, lá saía o apito. Fosse a meio campo, fosse à saída da área portista. Chama-se a isso beneficiar o infractor, mas que importa? O que lhe importa é levar o barco a bom porto!
O Pepe, o Sérgio Oliveira, o Octávio lá continuaram, sempre na impunidade. Aos 80 minutos, com aquela entrada do Pepe sobre o Seferovic, e ao anular a marcação rápida do livre, que até acabou em golo, a coisa passou todas as marcas. E então não foi de meias medidas - de rajada, amarelou tudo o que mexia no Benfica. E até saiu vermelho para o Rui Costa.
E é esta a estória do jogo. Um clássico, também.
O resto é um jogo com pouca história, pouco bem jogado na sua maior parte. Um jogo levado para os despiques individuais, como é característico nestes jogos, onde os jogadores do Porto se sentem como peixe na água, e ganham normalmente a maior parte dos duelos, das bolas divididas e das segundas bolas. Enfadonho, que só se soltou, e ganhou verdadeira emoção nos últimos dez minutos, depois do Porto ter chegado ao empate. Até porque, naquelas circunstâncias, o futebol do Benfica dependia muito da explosão de Rafa que, depois de tanta pancada, teve de abandonar por KO de Pepe, naquela entrada à Pepe. Um clássico.
O Benfica tinha-se adiantado no marcador, pelo Everton, a meio da primeira parte, mesmo sem ter conseguido contrariar aquele jogo do Porto, e sem se ter conseguido superiorizar. Já no fim da primeira parte surgiu o primeiro penalti, sobre o Rafa. Que não foi, dizem as tais linhas que o Rafa estava em fora de jogo, no início da jogada. Como não foi o segundo, sobre o Diogo Gonçalves, a meio da segunda parte.
Nos últimos minutos o Porto quis partir o jogo, e o Benfica, mesmo já sem Rafa, teve então oportunidade de se superiorizar e ganhar o jogo. A festa do golo chegou já no tempo de compensação, numa bela jogada de ataque excepcionalmente concluída por Pizzi, pouco depois de uma bola na barra, rematada pelo Taarabt. Mais uma vez as tais linhas descobriram que, no inico da jogada, o Darwin estava por não sei quantos centímetros em fora de jogo, e anularam a festa, e o golo.
E lá fica mais um empate, num jogo que, porque teve mais e as melhores oportunidades de golo, o Benfica merecia ter ganhado. Mas em que, mais uma vez, ficou muito aquém do exigível. Também um clássico desta desastrada época, talhada exclusivamente à medida da reeleição de Vieira. Que não é para esquecer. É para nunca mais esquecer!